sexta-feira, 27 de março de 2009

Três resenhas

Recebi na última semana dois discos que eu estava esperando. Também ouvi um terceiro, que ganhei inesperadamente. Ouvi os três com bastante calma nos últimos dias, então estou pronto pra fazer a resenha pra vocês. Duvido que qualquer um deles saia no Brasil, infelizmente.

1) STORMBRINGER (Remaster)

    Nunca esperei tanto tempo por um remaster do Purple. Este estava por sair desde 2005. Eu já estava roendo as unhas, porque o vinil de Stormbringer foi o disco que me apresentou ao Purple. Valeu a pena a espera? Acho que sim, especialmente porque, com a cotação atual da libra, importá-lo saiu mais ou menos o preço de um CD duplo nacional. Fosse mais caro, meu bolso teria doído. A remasterização desabafou todas as faixas. O som é mais claro, não apenas mais alto. Dá pra ouvir bem todos os instrumentos (ouça "Love Don't Mean a Thing", por exemplo). As faixas extras são mais ou menos no mesmo nível das de Burn: acrescentam apenas detalhes saborosos ao que a gente já sabia. Não há papo de estúdio, não há faixas inéditas. Há alguns vocais novos. A escolha das faixas, remixadas pelo Glenn Hughes, realça a contribuição dele ao álbum: nenhuma delas nunca foi tocada pelo Purple ao vivo, porque são exatamente as que o Blackmore julgava funkeiras demais para a idéia dele do que o Deep Purple devia ser. O Rasmus Heide, do The Highway Star, diz que elas realçam os motivos pelos quais o Blackmore saiu da banda - o que faz sentido. Ao mesmo tempo, são as mais improváveis de ouvir versões diferentes. Não são óbvias. Não fizeram uma nova versão da faixa-título, que sempre levanta a galera nos shows de tributo, por exemplo. Holy Man, posta em primeiro lugar entre os remixes, não traz absolutamente nenhuma novidade que eu tenha notado. Mas é o grande momento da carreira do Hughes, seu primeiro número-solo no Deep Purple. You Can't Do It Right está com um baixão mais agressivo, gostoso de ouvir. Diz o livreto do Simon Robinson que essa foi a primeira faixa que foi descoberta nos arquivos profundos da EMI - e quem descobriu achou que era Earth, Wind and Fire. Love Don't Mean a Thing trouxe um pandeiro e um tecladão mais alto no final, sobre o "looking for lovin'... I need a livin...". Apesar de o teclado ser genial, ele abafou o solo de guitarra, que eu acho mais genial ainda. No livreto, diz que essa letra na verdade vem de um cantor de rua que parou o Blackmore pra cantar pra ele um negócio que tinha composto. Aí, o Blackmore levou o cara pro Starship 1 e chamou o Hughes pra compor. O nome do cantor de rua nunca apareceu. Hold On ficou muito legal, com alguns versos cantados de um jeito diferente. Instigante. High Ball Shooter é instrumental - pra você e eu e todo mundo cantar junto. Se preferir não cantar, preste atenção no baixo funkeado. Acho que foi por isso que o Hughes remasterizou essa.


2) ONE EYE TO MOROCCO (Ian Gillan)

    O Ian Gillan tem uma coisa que eu acho muito legal nos discos dele fora do Purple: ele realmente SAI do Purple nesses discos. Mais ainda: ele não tem a mínima preocupação em seguir um estilo definido. Pra pegar só os discos que ele assina com o próprio nome (sem ser uma banda), Naked Thunder é de um jeito, o Toolbox é de outro, o Dreamcatcher é de outro, Gillan's Inn é de outro e One Eye to Morocco é de outro diferente. A faixa-título começa com um floreado meio árabe, cítaras e um riff que bem podiam estar na novela da Juliana Paes. Mas o Marrocos do título é uma referência obscura - é uma expressão comum na República Tcheca pra se referir aos distraídos. O disco traz uns rocks bem vigorosos, como "No Lotion for That" e "Change My Ways" (que aliás é a que mais parece Purple, mas é diferente). Três faixas são compostas pelo guitarrista Michael Lee Jackson, incluindo "Texas State of Mind", que também está no DVD "Live in Anaheim". O que me chamou mais a atenção nesse disco é que ele enfatiza o novo jeito que o Gillan descobriu de cantar pelo menos desde 2002/2003. Ele não tem mais os agudos dos anos 70, e seria covardia exigir isso dele. Em outras resenhas eu observei que ele saboreia mais as palavras. Ouvindo esse disco é que me caiu a ficha: hoje, ele canta mais com os recursos da boca do que com os da garganta.


3) A LIGHT IN THE SKY (Don Airey)

    Este eu ganhei autografado do próprio tecladista, depois de um duelo de máquinas fotográficas no backstage do Purple (ele disparou primeiro e ganhou). É um material quase completamente instrumental, focado nos teclados. E Airey usa vários teclados. Alguns efeitos saem direto das brincadeiras sonoras que ele faz durante seus solos que fazem tremer o chão dos shows do Deep Purple. Se você ouvir o disco casualmente, apenas botar e ouvir, ele é um ótimo disco de tecladista. Você pode dizer: "pombas, esse Airey toca bem pra cacilda". Mas experimente ouvi-lo prestando atenção nos títulos das músicas. Pense neles enquanto ouve faixas como "Ripples in the fabric of time" (rasgos no tecido do tempo) e "Space troll patrol" (patrulha dos trolls do espaço). As faixas são altamente evocativas de imagens de viagens no tempo, monstros espaciais, odisséias no espaço. Algumas faixas têm vocal. Elas lembram um pouco o Purple, um pouco o Rainbow, com seus riffs pesadões. O poderoso pulmão do cantor Carl Sentance lembra o do Dio. Gosto muito de música instrumental. Conhecia muito pouco do trabalho solo do Airey. Isso me estimulou a ir atrás de "K2", o álbum anterior dele. Mas não percam de jeito nenhum o site pessoal do tecladista. É uma experiência visual e tanto.

domingo, 22 de março de 2009

A razão já era, mas a briga continua

Em outubro, o Gillan deu uma entrevista em que fazia várias críticas ao Blackmore - especialmente sobre o processo que o ex-guitarrista moveu contra o Deep Purple supostamente pra ter seu rosto tirado de uma camiseta de Machine Head.

Agora, cinco meses depois, os advogados de Blackmore respondem. Dizem que a briga do Blackmore era pelo fato de não estar recebendo sua parte nos direitos de imagem.

Mas a parte mais divertida é a frase final do comunicado, que dá o verdadeiro motivo dele:

    "Ritchie está francamente surpreso com os comentários infantis de Gillan sobre outras questões que ele discute na entrevista. Já não é hora de ele agir como adulto?"

Eu pessoalmente acho que os dois deviam crescer de uma vez e parar de birra besta. Mas não pude deixar de reler a entrevista pra ver que comentários infantis seriam esses.

Imagino que o Homem de Preto deva estar se referindo a este trecho:

    Rockpages.gr: Acho que você já sabe que a empresária do Blackmore é a sogra dele, agora...

    Ian Gillan: É...

    Rockpages.gr: E ela raramente deixa ele dar uma entrevista sozinho.

    Ian Gillan: Sério?

    Rockpages.gr: Tem que ter a Candice Night junto, e ela também nunca deixa ele dar entrevistas pra revistas de rock e perguntas sobre o Deep Purple não são permitidas...

    Ian Gillan: Bom, eu não sei por quê... eu tenho umas fotos dela pelada... (dando uma risadinha).

    Rockpages.gr: (Chocado!) De quem? (risos).

    Ian Gillan: Da sogra dele. Fabuloso!?

    Rockpages.gr: (risos) E ela também acha que a melhor cantora que já trabalhou com o Blackmore é a Candice...

    Ian Gillan: Bom, é uma opinião, né? Quer dizer, eu podia dizer que o Bob Dylan é o melhor de todos os tempos, por causa da emoção, mas alguém podia responder "É, mas ele sempre desafina", enquanto um fã devoto deve acreditar que ele é absolutamente fantástico. Eu defenderia que o Bob Dylan é um grande cantor, porque cantar toca as pessoas. Se você quiser ser técnico e dizer que a Candice quer ser a melhor cantora, tudo bem. Mas eu tenho fotos da mãe dela pelada.

    Rockpages.gr: (risos) Você podia me emprestar algumas delas pra eu publicar junto com a entrevista...

    Ian Gillan: São muito pornográficas (risos).

    Rockpages.gr: A gente podia borrar um pouco as fotos... por falar em fotos, o que houve com a camiseta do Machine Head? Teve um boato...

    Ian Gillan: Ah, é muito simples, é hilário. Quando você está no Deep Purple, está no Deep Purple, assina tudo, etc. Aí, o Ritchie estava recebendo, recebia por tudo e às vezes até ganhava mais do que qualquer outro. Ele mandou o advogado dele dizer pro Bruce Payne: "Não pode usar minha imagem do Machine Head, eu não quero estar nisso". Aí, o Bruce disse: "Tudo bem, então a gente borra o rosto dele pra ele sair fora". Foi isso que ele pediu. Aí, o Ritchie começou a processar o Bruce, porque ficou bravo e eu acho que já foi a tribunal várias vezes.

    Rockpages.gr: Então, foi parar no tribunal...

    Ian Gillan: No tribunal não, mas teve uma audiência prévia com um juiz antes de ir pro tribunal. Mas o juiz vive dizendo "que besteira, você pediu pra sua imagem não ser usada e eles tiraram fora, borraram. O que você vai fazer?" É uma bobajada.

    Rockpages.gr: Às vezes, parece que o Ritchie não é ele mesmo...

    Ian Gillan: Bom, provavelmente quem mandou foi a sogra pelada dele. Acho que o Ritchie nem sabia disso.

    Rockpages.gr: Exatamente o que eu acho...

    Ian Gillan: A culpa é da sogra pelada. (risos)

domingo, 15 de março de 2009

O dia em que o Deep Purple acabou, em 1976


Há 33 anos, neste mesmo dia, o Deep Purple acabava. Segundo Glenn Hughes, foi por um misto de sexo, drogas e rock'n'roll. Ele e o guitarrista Tommy Bolin andavam com sapatos de jaca, Coverdale bebia como nunca e Paice e Lord seguravam as pontas. Havia alguns shows ótimos e outros horríveis.

Em certo ponto, Lord e Paice chegaram à triste conclusão de que os shows daquela formação haviam virado "uma pálida imitação do Deep Purple". Isso apesar de ela contar com ótimos músicos e de ter gravado um disco fabuloso.

Naquele 15 de março de 1976, o Deep Purple subiu ao palco do Empire Theatre, em Liverpool, como uma banda que existia. Ao final do show, Coverdale chegou para o Lord pedindo pra sair do Deep Purple. "Não existe mais Deep Purple pra você sair", respondeu o tecladista. A banda acabou DURANTE o show, ao contrário do que houve em todas as outras mudanças em sua formação. E continuaria acabada durante oito anos.

O que houve durante aquela hora e meia para levar a banda a acabar?

Antes de mais nada, já estava combinado entre os únicos dois membros fundadores remanescentes, Lord e Paice, que seria o último show. Só que o Coverdale não sabia disso e também decidiu ali. Para isso, ouvi o show.

A gravação não é grande coisa. É chiada.

Nela, Bolin faz barulhos com os efeitos de sua guitarra nos solos. Entra atrasado nas músicas. Perde o pé em Lazy. Hughes abusa da goela em Georgia - gosto da voz dele, mas ao vivo ele era um mala. Durante o solo de Homeward Strut, Bolin faz uma barulheira danada. Noutro solo, após "Owed to G", alguém grita: "Queremos o Ritchie!" Isso vira uma multidão. Todos pedindo o Blackmore de volta. Em Stormbringer, ele recupera a forma. O bis, Highway Star, foi no padrão da Mk4 - enérgica, mas absolutamente nada a ver com a música herdada da Mk2.

Glenn Hughes chegou a voltar ao palco para um segundo bis, diz um resenhista que estava no show. Ninguém mais veio. Puto, ele jogou o baixo pro alto e foi embora. Consta que o barulho foi horrível.

É um espetáculo triste, esse de ouvir uma banda boa acabar. Ainda mais pelos motivos com que acabou. Eu acho os momentos ruins da Mk4 especialmente deprimentes.

(A foto vem do site do Glenn Hughes)

Made in Japan

O The Highway Star publicou um pedaço do rolo de fita restaurado do Made in Japan, com o Gillan cantando Highway Star. Deleitem-se:

sexta-feira, 13 de março de 2009

Santo graal

O The Highway Star dá o furo:

HAVIA, SIM, câmeras apontadas para o palco em um dos shows do Made in Japan. O filme encontrado tem 26 minutos, é mudo e tem apenas trechos de várias músicas.

Um pedaço de Highway Star, mudo e com 90 segundos, pôde ser recuperado e sincronizado com o som. Ele vai estar no DVD duplo que eu mencionei ontem.

Os outros 24 minutos e meio devem ser usados num documentário sobre o Made in Japan, tipo o genial "Classic Albums: Machine Head".

O The Highway Star também fala que o vídeo completo de Rises Over Japan deve sair oficialmente em DVD junto com o remaster de Come Taste the Band - possivelmente em 2010. Preparem seus bolsos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Baú do tesouro

Está pra sair em junho um DVD duplo com imagens raras (e outras nem tanto) do Deep Purple. Ele inclui, segundo a DPAS:

DVD 1:

Help (Mk1) - Inédita. Gravada numa cobertura na Dinamarca, à la Beatles, logo nos primeiros dias do Deep Purple. Eles estão dublando, mas a preciosidade é que se trata da mais antiga filmagem que existe do grupo.

Hush (Mk1) - No Clube Playboy, em 1968. Todo mundo já viu isso no Heavy Metal Pioneers e no YouTube.

Wring That Neck (Mk1) - Inédita. Gravada no começo de 1969, por uma equipe de filmagem canadense, no estúdio De Lane Lea.

Hallelujah (Mk2) - No Beat Club. Isso já está no DVD "Master from the Vaults"

Mandrake Root (Mk2) - Inédita oficialmente. Possivelmente no South Bank Summer Festival, em 1970. Você já viu no YouTube, porque eu já pus aqui.

Speed King (Mk2) - Possivelmente do programa alemão Ich Bin Vicky Leandros, de 1970. Tem de má qualidade no YouTube.

Black Night (Mk2) - Inédito oficialmente. No Top of the Pops, acho que é aquele com o Paice usando camiseta do Super-Homem. Você já viu no YouTube.

Child In Time (Mk2) - Possivelmente é do Doing Their Thing. Você já viu no "Master from the Vaults" e no YouTube. Com alguma sorte, recuperaram a performance inteira.

Lazy (Mk2) - Possivelmente, você já viu no "Machine Head Live" e no YouTube.

Strange Kind Of Woman (Mk2) - Inédito oficialmente. Nem a DPAS sabe.

Composição de Fireball (Mk2) - Filme ruim gravado durante a gravação do disco. Já vi trechos disso.

Fireball (Mk2) - Inédita oficialmente. É provavelmente um vídeo engraçadíssimo em que eles estão dublando e o Blackmore toca a guitarra com as cordas na barriga. Eu já pus aqui, direto do YouTube.

Demon's Eye (Mk2) - Inédita oficialmente. É provavelmente um vídeo da TV alemã de 1971, onde eles mostram o mais antigo duelo conhecido entre Gillan e Blackmore. Você já viu no YouTube e aqui.

No No No (Mk2) - É a versão Mickey Mouse, do Beat Club. Já saiu no "Master from the Vaults" e você já viu no YouTube.

Into The Fire (Mk2) - Inédita. Possivelmente do mesmo programa de Demon's Eye. Eu acho que ainda não vi.

Never Before (Mk2) - Montajão de imagens. Está disponível no "Classic Albums: Machine Head".

Highway Star (Mk2) - Beat Club, provavelmente. Você já viu na MTV, no "Master from the Vaults" e no YouTube.

Smoke On The Water (Mk2) - Provavelmente é a mesma da universidade de Hofstra, única performance de Smoke on the Water conhecida em vídeo com a Mk2 original.

Burn (Mk3) - Inédita oficialmente. Estudantes ingleses da Leeds Polytechnic gravaram um show inteiro em 1974. Isso esteve no YouTube por um tempo mas sumiu.

Mistreated (Mk3) - California Jam. Manjadão.

Love Child e You Keep On Moving (Mk4) - Inéditas oficialmente em DVD. São do "Rises Over Japan". Você já viu no YouTube.


DVD 2:

And The Address (Mk1) - Inédita oficialmente. Na TV Playboy. Você já viu no YouTube.

Wring That Neck (Mk2) - Inédita oficialmente. No Bilzen Jazz Festival. Você já viu no YouTube.

Mandrake Root e Wring That Neck (Mk2) - Inédita oficialmente. No Pop Deux, em Paris. Você já viu no YouTube.

Black Night (Mk2) - Inédito oficialmente em DVD. Diz que é "promo". É o mais manjado de todos os vídeos do Purple.

No No No Take 1 e No No No Take 2 (Mk2) - Inédito oficialmente. É o ensaio pro Mickey Mouse do DVD anterior. Um deles circulava pelo YouTube.

"Jt Nuit" (Mk3) - Inédito. Na TV francesa, em 1974

Burn, Space Truckin' e duas entrevistas (Mk3) - Inédito oficialmente. Da Leeds Polytechnic. Andavam pelo YouTube. Agora, só se acha as entrevistas.

Documentário da TV da Nova Zelândia (Mk4) - Inédito oficialmente. Acho que já vi no YouTube, mas não tenho certeza.

Smoke On The Water (Mk4) - Inédito oficialmente. Da TV da Nova Zelândia.

Uma entrevista com Tony Edwards, de 1976. Inédito oficialmente. Edwards era o E da HEC, e foi um dos homens que puseram o Deep Purple de pé.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ian fala

Logo após o show de sábado, mestre Ian Gillan gravou um vídeo pra explicar que estava com gripe. Outros membros da banda já tiveram problemas de saúde antes, mas ninguém notava - Paice tocando bateria depois de uma operação de fígado, Steve Morse com tendinite. Ele é o mais visível.

"Estou um pouco gripado. Quando eu escapo pro meu canto atrás da bateria, é pra dar uma tossida e coisas assim. Não é pra cheirar cocaína, nada disso. O único motivo pelo qual meu nariz anda escorrendo é que eu estou gripado."

No fim, talvez tenha sido eu quem pautou o vídeo do mestre. Quando o cumprimentei, disse que estava um pouco preocupado e ele ficou todo cheio de dedos, disse que não era nada. Como se viu, a gripe não o impediu de cantar muito, muito bem.

Os mestres na ilha

O LucasRRR gravou o primeiro show da história do Deep Purple em Florianópolis. Pra quem quiser baixar, este é o link.

domingo, 8 de março de 2009

Em Montreux, antes do incêndio

O Rasmus Heide, do The Highway Star, encontrou no YouTube um vídeo do Deep Purple tocando em Montreux em abril de 1971 - oito meses antes de voltarem à cidade a tempo de presenciarem o incidente que gerou "Smoke on the Water".

Segundo minha planilha, eles tocaram lá em 16 e 17 de abril daquele ano, logo depois de uma turnê na Alemanha que gerou vários bootlegs.

Em 1971, o Deep Purple tinha o costume de tocar ao vivo uma versão de "Yodel", aquela música dos montanheses, antes de começar a botar pra quebrar. Há um bootleg famoso, gravado na Dinamarca dias depois desse show de Montreux, em que caiu a luz. Chama-se "Danish Yodel - Beware". "Beware" é um poema de autoria do Gillan, que ele leu ao final do show.

O vídeo também inclui uma entrevista com os mestres. A repórter insiste em perguntar ao Gillan e ao Lord se a música do Purple era um produto de consumo, como a Coca-Cola. Eles riem. Lord fecha a questão: "Não. Não bebemos muita Coca-Cola." Gillan nega que a música deles tenha atitude política, e todos definem música como "diversão". Interessantíssima entrevista, apesar de a repórter ser mala.

Nunca imaginei que pudesse haver vídeo disso - ainda mais nessa qualidade. Também há trechos de todas as outras músicas do show, inclusive uma Child in Time poderosíssima. O som é poderoso, apesar de uns cortes chatos. Fora isso, deliciem-se.

Ian Gillan, o Cavaleiro do Púrpura


    Percebi aquilo só uma vez, durante a noite toda. Ele deu um bocado de ordem e todo mundo se mandou. Então, quando ficou só... Batman se curvou sobre a sela... feito um velhinho... Mais do que depressa, ele se ergueu e sorriu pra mim como se fosse engraçado.

O trecho acima vem de perto do fim de "Batman: o Cavaleiro das Trevas", um clássico dos quadrinhos dos anos 80. Um Batman de 60 e tantos anos volta a patrulhar Gotham City. Por baixo do capuz ainda é um senhor de idade, mas a motivação o mantém em pé. Ele leva tiro de bandido e da polícia, apanha feito cachorro ladrão, mas ainda assim segura as pontas com firmeza. Consegue até regenerar uma gangue e liderar uma cavalgada heróica para dar um choque de ordem no blecaute nuclear de Gotham City. Afinal, ele é o Batman.

Lembrei do Cavaleiro das Trevas ao ver agora há pouco o show do Purple em São Paulo. Amanhã devo escrever uma resenha decente. O rascunho que fiz no calor da hora está no Twitter. Fui enviando música a música pra não perder o setlist, e aproveitei pra incluir outras observações.

Só escrevo isto às três da manhã porque preciso contar a vocês quem realmente é o Ian Gillan. Ao longo da semana, vi gente reclamando da postura profissional dele. Vi gente achando um desrespeito ele cantar gripado desse jeito. Quem fala isso tem seus motivos, com base no que viu.

Porém, o Gillan que eu vi, do ponto de vista privilegiado de quem assiste o show lá da coxia, foi outro. Imensamente profissional. Fabulosamente respeitoso com seu público. Tossindo, mas à altura da lenda.

Acompanho o Deep Purple com freqüência suficiente pra não esperar do Gillan os agudos de 1970. Isso não é demérito, é um fato da natureza: o Pelé também não ganharia uma Copa hoje, com a idade que tem, e sei lá se ele ainda sequer cabeceia a bola de olhos abertos. Mas isso já é de alguns anos. O fato novo é que desde a chegada à América do Sul o Gillan estava gripado. Perdeu muito a voz noutros shows. Tossia muito.

Conversei com ele aqui. Ele estava bem rouco, mas garantiu que estava bem: "Acho legal que você se preocupe, mas é só uma gripe mesmo", ele disse. OK, mas um cantor gripado é mais ou menos o mesmo que um escrevinhador com tendinite.

Embora a coisa parecesse bem feia, ele estava bom o bastante pra cantar bem, embora sem arriscar muito. Um amigo ouviu uma nota desafinada em Into the Fire, mas fora isso nada além. Ele tossia de quando em vez entre um verso e outro. Mas as cenas que fizeram meu já imenso respeito por ele crescer ainda mais ocorreram deliberadamente longe da vista do público.

Atrás da bateria havia uma espécie de penteadeira preparada para o Gillan. Ali havia o setlist, toalhas, garrafas e lenços de papel. Foi ali que ele deixou seus crocs para entrar no palco como gosta: de pé no chão. E era ali que ele se refugiava na hora dos solos.

Ali, Ian apoiava os braços magros sobre a penteadeira, fechava os olhos e baixava a cabeça. Meditava. Respirava fundo, e sua camiseta ondulava.

Por um instante, estava ali um velhinho - um respeitável senhor de mais de 60 anos. Mas era só um instante. Quando o solo estava por terminar, Ian tomava um bom gole do que tivesse na frente (fosse água, cerveja ou pinga), respirava fundo e voltava para o palco.

Ao ultrapassar a bateria, ele batia o olho na platéia e abria seu sorriso mais sincero. Abria os braços, como que querendo abraçar os milhares de espectadores, e a galera delirava. Ele estava novo em folha, revigorado, como o Popeye depois de comer espinafre. Aí, puxava o microfone do bolso traseiro da calça e fazia o que sabe fazer melhor: cantava, batia palmas, regia a platéia, pulava, chacoalhava o pandeiro. Estava pronto para o combate. Afinal, ele é o Ian Gillan.

Lembrei das vezes em que deixei de trabalhar por estar muito gripado. Foram poucas, e não prejudicaram ninguém. Mas, quando vi o Ian Gillan daquele jeito, e além de tudo levantando daquele jeito, me senti um tremendo dum bunda-mole pelo mero motivo de faltar ao serviço por conta de gripe.

Termino com uma citação da primeira parte do Cavaleiro das Trevas:

    Onde está a dor? Eu deveria ser uma massa de músculos exaustos e doloridos... fracos, desgastados, incapazes de se mover. Se eu fosse velho, com certeza estaria assim... mas hoje eu sou um homem de trinta anos... não, vinte. A chuva em meu peito é um batismo. Eu nasci outra vez.

terça-feira, 3 de março de 2009

Você foi ao show? Conte aqui!

Minhas amigas lá de Porto Alegre contam que o Gillan estava gripado e tossindo o tempo todo no show de ontem. Tomara que ele melhore hoje e siga melhorando até sábado.

Você foi? Conte o que achou!

Novo disco este ano?

Don Airey, em entrevista ao Classic Rock Revisited:

    Vamos fazer um disco, provavelmente este ano, O último que fizemos nos manteve na estrada pelos últimos três anos, que é a duração dessa turnê.