quinta-feira, 14 de março de 2002

Here be friends, here be heroes



Mestre Jon Lord, fundador do Deep Purple e conhecido como TOMATO (The Old Man At The Organ), pode estar se aposentando. Ele fez 60 anos no ano passado. Os rumores estão cada dia mais fortes. O Deep Purple deve lançar um disco este ano. Deverá ser o terceiro da formação atual. Ele participou da primeira parte da turnê britânica, mas deve ser substituído a partir da Rússia por Don Airey. Ninguém sabe dizer se o tecladista de sólida formação clássica que esteve em todas as formações do Deep Purple vai se aposentar de vez agora, sem dizer nem um tchau, ou se ele vai participar ainda da gravação do disco do Purple. O vocalista Ian Gillan foi evasivo quando recebeu uma pergunta sobre isso em seu website. Ele reafirmou a importância de Lord para o grupo mas disse que, mesmo sem ele, o Deep Purple continuaria --nada de "sim" ou "não".

Em agosto do ano passado, Lord pediu licença do grupo por um tempo para fazer uma cirurgia no joelho. Ele foi substituído durante 23 shows por Don Airey, um bom tecladista que fez parte do Rainbow (de Ritchie Blackmore, ex-guitarrista do Purple). Lord também parou de responder e-mails de fãs --só eu mandei três nos últimos meses, e anteriormente ele sempre respondia-- e de participar dos fóruns de discussão sobre o grupo. Mandei mais um email para ele, só para testar.

Jon Lord, para mim, pode ser considerado um gênio da música. E não é por ser fã, não. Seu Concerto para Grupo e Orquestra, que ele começou a compor quando tinha a minha idade e apresentou aos 27 anos, é uma obra-prima. Foi apresentado no mês passado na Austrália, pela primeira vez sem o mestre. É o primeiro passo para que ele se torne um compositor à altura de Beethoven ou Mozart. Quem regeu o concerto foi Paul Mann, da Sinfônica de Londres. Ainda este mês, deve ser lançado o CD duplo com o set completo do Concerto.

Sim, o Concerto é uma obra-prima, mal-falado até hoje por quem não ouviu e não sabe o que está perdendo. Foi o primeiro dos dois trabalhos de banda/orquestra que Lord criou. O segundo foi Gemini Suite, dois anos depois. É bom também. Para vocês terem uma idéia, o Concerto foi uma das inspirações de Paul Mann, o maestro que conduziu a versão recuperada da partitura, para ser maestro. Mann conta que ele era criança e brincava de maestro na frente do espelho quando ouvia o Concerto (seu tio era um dos caras da administração do Purple, o lendário Colin Hart).

Voltando à formação atual do Purple: a banda está no sétimo ano de uma de suas melhores fases. Não há atritos entre seus membros como os que ocorriam durante a gestão de Ritchie Blackmore (também fundador do grupo) na guitarra. Eles fizeram a volta ao mundo várias vezes desde 1995, passando três vezes pelo Brasil, mas gravaram apenas dois discos de estúdio. Ambos muito bons, superiores a toda a produção dos anos 80 e começo dos anos 90. A atual gestão também viu o restauramento da partitura do Concerto para Grupo e Orquestra, reinaugurada no Royal Albert Hall no trigésimo aniversário da primeira apresentação.

Se o Lord realmente se aposentar, vou ficar muito chateado. Não só porque gosto muito de seu trabalho e tenho todos seus discos, mas porque perdi, por be$teira, o último show que ele fez no Brasil, em setembro de 2000, em São Paulo. O ingresso mais barato que achei para a noite em que poderia ir (nas outras eu estava trabalhando) custava R$ 110. Já estava chateado porque era a única turnê na minha vida em que eles tocariam o Concerto --isso cansa os músicos, e eles não pretendem repetir a dose. Posso acabar tendo motivos para ficar ainda mais chateado. Aliás, já estou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário