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terça-feira, 23 de agosto de 2011

1991+20: os vídeos

Hoje faz 20 anos do dia do show do Deep Purple no Gigantinho, em Porto Alegre - aquele que eu perdi porque tinha só 14 anos. Separei bastante material aqui pra escrever um bom post sobre a turnê brasileira, mas não consegui tempo ainda. Calhou de o vintenário coincidir com uma mudança importante no trabalho.

Então, pra não deixar a peteca cair enquanto tento arrumar um tempinho, publico aqui os quatro vídeos que estão no YouTube com músicas do segundo show da turnê brasileira. Foi no ginásio do Ibirapuera, em 17 de agosto de 1991. Meus comentários seguem antes de cada um dos vídeos.

A Mk5 foi a única formação que homenageou praticamente todas as anteriores, tendo na média o mais representativo setlist de toda a história do Deep Purple. Faltou uma tiradinha de chapéu para a Mk4, mas o Blackmore não toparia (como o Gillan não topa tirar o chapéu pra Mk3). Turner também é mais respeitoso com as formações anteriores do que Coverdale e Hughes foram com seus antecessores durante a Mk3. Ao vivo, eles eram excelentes com material próprio mas baixavam de qualidade quando tocavam (poucas) músicas de antes do seu tempo.

Em sua crítica dos shows para a Bizz, meu mestre André Forastieri resumiu: "Pô, qualquer show que começa com Burn, acaba com Smoke on the Water e tem no meio Perfect Strangers é maravilhoso", ainda que o Forasta ponderasse que "o novo vocalista Joe Lynn Turner tem menos voz que a Xuxa".

Nos comentários dos vídeos que estão na internet, mesmo fãs de Turner estranham o quanto sua voz está ruim. E, embora seu estilo não feche bem com o do Purple, ao menos em estúdio ele não é um mau cantor. Basta ouvir sua voz no disco "Slaves & Masters".

O show abriu com Burn. Todo mundo nervoso pra testemunhar esse momento histórico enquanto rolava uma gravação e um show de laser. Blackmore e Paice tinham uma combinação: o guitarrista fica sentado atrás dos amps e dá o sinal para o baterista começar a música quando ele, Blackmore, estiver pronto. Nesse show funcionou, embora num dos últimos não tenha funcionado (falo no próximo post). O que não funcionou foi o microfone do Turner.



Repare que os aplausos ao final da primeira música são bem menores do que os aplausos antes de ela começar.

A segunda música foi Black Night, que fazia medley com Child in Time e Long Live Rock'n'Roll. Child in Time empolgou mais antes de Turner efetivamente cantá-la (sem os gritos). Na gravação em áudio do show da noite anterior, dá pra ouvir gente questionando a masculinidade do Turner e chamando o Gillan de volta.



Como Turner não toca congas e tampouco sai do palco, ele fica meio perdido durante os solos dos colegas. Fica na frente da bateria, brinca com o pedestal do microfone.

A seguir, vem a primeira música nova da noite: Truth Hurts. Sério? Sério. Ao vivo tem um arranjo diferente, mais lento, aproveitando mais o feeling do Blackmore. E a música acaba indo por nove minutos. Abstraia a voz e letra sertaneja ("I wanna know who you've been loving in my place") e a experiência é quase hipnótica.



Se você assistiu tudo, deve ter notado a falta de jeito ampliada do Turner aqui. Mas confesso que achei simpática aquela parte lá no final, com o Turner, o Blackmore e o Glover sentados na frente da bateria, Glover quase consolando o Turner, "calma, esse negócio de chifre não existe, é só uma coisa que colocaram na sua cabeça". Aí eles levantam abruptamente, como quem diz "CORRE QUE A CANA VEM VINDO!"

No setlist daquele ano, logo depois vinha Hey Joe. Não encontrei esse vídeo nos shows brasileiros. E na verdade o último vídeo que encontrei é do que vem depois de Hey Joe: um medley entre The Cut Runs Deep (minha segunda favorita daquele disco, depois de Fire in The Basement) com Hush. O engraçado é que o Turner apresenta The Cut Runs Deep como sendo de "um ex-amigo meu", mas nos créditos do disco constam apenas membros da banda. Será que ele está se referindo a Blackmore, de quem até hoje se diz amigo, ou a Jon Lord, com quem nunca se bicou?



Destaque pra brincadeira entre bateria e guitarra. Turner é competente em chamar a platéia com o "Ô, ooô, ô". Mas eu preferia mais brincadeira entre bateria e guitarra. Até porque depois do ooô entra uma versão meio matada da letra de Hush.

Na biografia do Blackmore, Turner conta que "The Cut Runs Deep" foi a sua primeira colaboração criativa no Purple. Quando ele entrou no estúdio, Blackmore começou a tocar "Hey Joe" (a que vem logo antes no set) e ele agarrou o microfone e saiu cantando. Aí começaram as novidades. Eles começaram a tocar o riff dessa música e ele bolou o refrão na hora, no melhor estilo protoemo: "e quanto à mágoa? E quanto ao vazio por dentro?"

E assim terminam os vídeos do segundo show do Purple no Brasil que encontrei no YouTube. Segundo o The Highway Star, o restante do setlist daquele ano era este:

Perfect Strangers
Fire In The Basement
(incluindo) Bass solo
King Of Dreams
Stand By Me (Ben E King) only occasionally
Love Conquers All
Ritchie's Blues instrumental
Difficult To Cure
(incluindo) Keyboard Solo
Knocking At Your Back Door
(incluindo) Teddy Bear's Picnic instrumental
Tutti Frutti (Little Richard)only occasionally
A Whiter Shade Of Pale (Procol Harum)only occasionally
Yesterday (The Beatles)only occasionally
That'll Be The Day (Buddy Holly)only occasionally
Lazy
Wicked Ways
Highway Star
(incluindo) Bourree from Sarabande (Jon Lord)
Smoke On The Water
(incluindo) Drum Solo
(incluindo) In The Hall Of The Mountain King
(incluindo) Woman From Tokyo

Você conhece mais vídeos de shows do Brasil naquele ano? Mande aqui nos comentários. E conte mais sobre os shows que viu!

terça-feira, 16 de agosto de 2011

1991+20: Você estava lá?

Vários leitores do Purpendicular têm lembranças dos shows históricos de 1991, que a partir de hoje completam 20 anos.

Conte aqui nos comentários a sua lembrança e até domingo eu amarro tudo num post especial.

1991+20: Gillan deu o primeiro gostinho

Esta é a série especial sobre os 20 anos do primeiro show do Deep Purple em solo brasileiro. Que se completam HOJE, aliás, mas o post sobre essa turnê é o próximo. Neste terceiro post da série, vemos como Ian Gillan foi o primeiro ex-membro do Deep Purple a atiçar a sede da brasileirada tocando coisas do Deep Purple.

No final dos anos 80, Gillan estava gordo, bebendo demais... e desempregado. Sua demissão do Deep Purple, em 1988, foi algo muito chato.

O clima não estava bom havia muito tempo. Além das brigas com o Blackmore, que o acusava de viver esquecendo letras (e esquece até hoje, mas com elegância), Gillan chegou a dizer numa coletiva que o empresário deles, Bruce Payne, era um babaca ("dickhead"). Em sua biografia, Gillan diz que sacou que estava tudo indo pro ralo na banda quando o baterista Ian Paice lhe disse que não chegava perto do instrumento quando não tinha show.

Apesar de todo o clima ruim, o estopim da demissão mesmo foi a discussão sobre como gravar um disco para o qual a banda há havia composto algumas coisas - o sucessor de House of Blue Light. Gillan insistiu que a banda fizesse uma baita produção desse disco, num grande estúdio de Nova York. Jon Lord foi o mais vocalmente contra. Então, Gillan pegou a questão dos estúdios pra chamar Bruce Payne de "inútil pra caralho". Silêncio sepulcral. Os membros da banda foram embora, um por um.

"Sobrou Roger. Roger, meu querido amigo de tantos anos, se inclinou sobre a mesa, de punho cerrado, e olhou na minha cara. 'Ian', ele disse, 'desta vez você foi longe demais'." Dias depois, o cantor estava no estúdio de sua casa quando recebeu um telefonema de seu empresário, Phil Banfield, informando formalmente o inevitável.

Com o apoio da sua mulher, Bron ("Gubbins, agora você pode fazer o que realmente quer"), Gillan juntou um grupo de músicos e começou a se apresentar em 1989, sob o nome Garth Rockett and the Moonshiners. O guitarrista, Steve Morris, compunha coisas - e disso veio o disco Naked Thunder, lançado em julho de 1990.

Foi para promover esse disco que Ian descobriu a nova geografia do mundo pós-queda do Muro de Berlim.

Ele começou sua turnê pela ainda União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em maio. Passou pela Armênia, Geórgia e Ucrânia, países do outro lado da Cortina de Ferro que mal estavam conquistando a liberdade de ouvir rock e rezar. Em sua turnê por esses países, Gillan foi anunciado como o cantor que fez o papel de Jesus Cristo (Superstar), o que lhe atraiu narizes torcidos e momentos de reverência indevida. Na Geórgia, celebrou pela segunda vez seu casamento com Bron, numa cerimônia encomendada pela agência de notícias russa Tass.

Foi em agosto que ele chegou ao Brasil, vindo direto da Dinamarca. Tocou em quatro datas, segundo seu site:

03.08.90 Sao Paolo Projeto SP, Brazil - broadcast on radio.
04.08.90 Sao Paolo Projeto SP, Brazil
06.08.90 Rio Teatro Nacional, Brazil
08.08.90 Porto Alegre, Brazil or Curitiba Aluba Pavilion


(Certamente essa foi Curitiba. Porto Alegre não foi.)

Veja, estávamos em pleno Plano Collor. O Brasil estava com os pés afundados numa economia dos diabos. Poucos grandes shows ainda vinham ao Brasil. O do Gillan, no Projeto SP, foi aparentemente o maior show que São Paulo recebeu em 1990.

O jornalista André Forastieri resenhou os shows na Bizz. Diz ele que o Projeto SP ficou "abarrotado" para ouvir pela primeira vez "Strange Kind of Woman", "Knocking at your Back Door" e "Smoke on the Water" na voz original, ainda que com guitarra, baixo e bateria emprestados. "Gillan - recém-chegado de seis semanas excursionando pela URSS - misturou clássicos do Purple, velharias da Ian Gillan Band e novidades do álbum solo Naked Thunder", escreveu.

O vídeo abaixo é de um desses shows. Gillan canta "No Good Luck", do então disco novo.



Em sua passagem pelo Rio, Gillan chegou a gravar imagens muito das canastronas para um clipe da mesma música:



Ian Gillan abriu as comportas, e no ano seguinte viriam os outros quatro quintos da Mk2.

A essas alturas, o Deep Purple estava gravando o primeiro disco da Mk5, entre Orlando (Miami) e Nova York. A banda tinha um novo vocalista, Joe Lynn Turner, que veio cheio de ideias. Segundo o próprio Turner admitiu em entrevista para a biografia de Ritchie Blackmore, Turner já chegou puxando briga com Jon Lord. "Você é o passado, eu sou o futuro", disse o novo cantor no meio de um discurso em defesa da gravação de "power ballads" como Love Conquers All.

Foi com esse "cantor do futuro" que o Deep Purple começou sua turnê mundial pela Hungria, em fevereiro de 1991. Essa turnê começaria por um país ex-comunista e terminaria em meio à Guerra do Golfo. Quase no finzinho, pisou no Brasil - e é essa perna que completa 20 anos hoje e será assunto do próximo post.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

1991+20: Coverdale, o primeiro a pousar aqui

Esta é a série especial sobre os 20 anos do primeiro show do Deep Purple em solo brasileiro. O segundo post da série dá um salto de dez anos e chega ao Rock in Rio, onde o primeiro ex-membro do Deep Purple tocou no Brasil. Foi David Coverdale, com o Whitesnake.

A banda foi convidada meio que de improviso. Originalmente, quem tocaria seria o Def Leppard - só que o baterista da banda, Rick Allen, teve um acidente de carro e precisou amputar o braço esquerdo. Ele voltaria a tocar depois, muito bem, mas com menos de um mês para o show a banda precisou ser substituída. Os organizadores do Rock in Rio trocaram então o leopardo surdo pela cobra branca.

Olha a companhia em que o Whitesnake ficou:



Coverdale chegou no dia 9 de janeiro de 1985. No primeiro dia, segundo a Folha, o som foi "tão baixo que decepcionou os mais destemidos metaleiros".

Sim, "metaleiros". Essa era a palavra usada na época. E olha como era a matéria do Fantástico sobre a noite dos metaleiros.



Parou de rir? OK, vamos em frente.

No show, nada de músicas do Deep Purple. Nem "Soldier of Fortune", que faz parte do repertório do Whitesnake até hoje. Mas o guitarrista John Sykes fez um sucesso enorme. A apresentação abriu com uma composição feita quando Jon Lord estava na banda: "Walking in the Shadow of the Blues".



Em sua passagem pelo Rio, o Whitesnake ganhou fama de mulherengo, como informava a Folha:


Coverdale ainda teve tempo de improvisar uma letra sem pé nem cabeça, que teria sido gravada com membros do Roupa Nova e do Rádio Táxi para uma propaganda de cigarro:



Também no Rock in Rio, só que agora na banda do Ozzy Osbourne (o "rock-horror", como diria Sérgio Chapelin), viria um futuro membro do Deep Purple: Don Airey, compositor da célebre introdução de "Mr.Crowley".



Enquanto isso, lá fora, o Deep Purple já tinha voltado à ativa.

Com a reunião da Mk2, eles faziam shows pela Europa reciclando o repertório do Made in Japan e incluindo material do Perfect Strangers. O clima na banda estava excelente, a ponto de Gillan e Blackmore saírem do palco abraçados em algumas noites. Mas isso duraria pouco. Em 1987, o programa "Old Grey Whistle Test", da BBC, foi a Paris com uma caravana de fãs do Purple. Um desses fãs chegou a vir do Reino Unido até o Brasil só pra ver a noite dos metaleiros, a noite do rock-horror do Chapelin.

Nisso, a BBC conseguiu captar o momento em que, pra sacanear tanto o Blackmore quanto a BBC, Gillan, Lord, Paice e Glover não voltaram ao palco pra tocar Smoke on the Water. O vídeo inteiro tem 9 minutos, mas vale ver.



Ao final da turnê de "House of Blue Light", Blackmore sofreu um acidente com a guitarra e quebrou o mindinho. Ficou um tempo de molho. Nesse meio-tempo, decidiu defenestrar Ian Gillan da banda, por julgar que ele estava cantando mal.

Foi exatamente por conta disso que tivemos no Brasil o show de Ian Gillan um ano antes dos outros quatro quintos da Mk2. É esse o assunto do próximo post.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

1991+20: Quando o Deep Purple esqueceu de vir ao Brasil

Esta é a série especial sobre os 20 anos do primeiro show do Deep Purple em solo brasileiro. Começamos com o show que esqueceu de acontecer em 1975. O sonho da primeira vinda do Purple durou exatamente um mês.

Em 1974, o rock estava numa fase áurea e o Deep Purple estava entrando com os dois pés na Mk3. Foi um ano em que a indústria de shows de rock estava começando a chegar ao Brasil. Vieram Alice Cooper, Miles Davis e Jackson Five (era considerado rock, não me olhem assim). Na época, a revista Visão classificava aquele ano como "a primeira tentativa brasileira de trabalhar o show business como indústria".

Foi também o ano em que a Folha de S.Paulo inaugurou sua página dedicada ao rock - e o colunista Carlos A.Gouvea também falava no lado "business" do rock ao lado dos lançamentos. Como o acervo da Folha está todo online, pude dar uma olhada no que aconteceu naquele ano - e tive grandes surpresas.

"Burn" foi lançado por aqui em julho de 1974, três meses depois da performance literalmente incendiária do Blackmore no California Jam. A resenha na Folha veio junto com a de "Bang", o disco do James Gang em que Tommy Bolin tocou. E olha que surpresa: para Gouvea, o som do disco "chega a lembrar um pouco o Deep Purple".



Em setembro, os fãs do Deep Purple deviam socar o ar como Pelé ao fazer um gol, ao ler a resenha do show de Jackson 5. Gouvea em certo ponto passou a falar sobre os empresários que os trouxeram, os "capitalistas do rock". A mesma empresa que trouxe Michael Jackson e seus irmãos também prometeu trazer outras grandes bandas da época, inclusive... o Deep Purple. A nossa banda favorita estava marcada para vir em janeiro de 1975, segundo a Folha, trazida por uma joint-venture entre um brasileiro e um francês:



O sócio brasileiro da empreitada era George Ellis, que Gouvea faz questão de dizer que era empresário de espetáculos de primeira viagem e havia vendido sua fazenda para financiar a aventura.

Ellis associou-se ao francês Albert Koski, que segundo a Folha levou os Rolling Stones para a França, e também ao lendário empresário de espetáculos americano Howard Stein. A ideia era trazer artistas gringos para o Brasil e levar artistas brasileiros lá pra fora. A sociedade com o americano foi anunciada na Billboard uma semana antes de o show do Deep Purple ser anunciado:



George Ellis também foi empresário do cantor Ney Matogrosso, mas a parceria foi rompida em 1975. Hoje, ele é o sócio-fundador da empresa IdeiasNet, conceituado no ramo digital. Embora eu tenha deixado recados para ele no Twitter e no LinkedIn, ainda não rolou de conversarmos. Mas espero que role. Será uma satisfação imensa ouvi-lo.

Bom, voltando ao show: a empreitada dos Jacksons deu prejuízo. Imagina a economia brasileira em meio à ditadura militar e em pleno choque internacional do petróleo. Dólar lá em cima e tal. Mesmo assim, a empresa anunciou que traria o Paul McCartney.



Em outubro, quando seria a vez de o Traffic tocar no Brasil, a coisa furou. Na coluna "Traffic: o sonho acabou", Gouvea dizia que não tinha mais chance de o Deep Purple rolar em janeiro. E vai mais além: diz que os empresários anunciavam King Crimson mesmo com a banda tendo acabado dois meses antes. E que Ellis entendia era de fazenda (esta foi golpe baixo, eu diria).



Dia 21 de outubro, Gouvea estava mais de cabeça fria, numa reportagem sobre o fato de o Brasil estar começando a descobrir o mercado do rock. Fala da produção do show do Alice Cooper e diz o seguinte sobre as empreitadas de Ellis:



Ele dá o benefício da dúvida com o "vamos esperar". Mas já não havia esperança. O sonho de ver o Deep Purple no Brasil em janeiro de 1975 já havia caído por terra.

Naquele mês, a Koski Ellis Produções ganhou uma projeção grande na MPB, ao produzir o show Elis & Tom. Ele rendeu um dos melhores discos da história da MPB.

E o Purple?

Por essa época já estava gravado o Stormbringer (que chegaria aqui em fevereiro de 75) e, embora a imprensa daqui não soubesse, o Blackmore já estava cada vez mais distante da banda. No começo de 1975, eles se apresentariam apenas no festival de Sunbury, na Austrália, em 25 de janeiro - pra depois entrar em férias até a turnê europeia em que Blackmore deixou a banda, dia 7 de abril.

O primeiro show do Deep Purple, então, esqueceu de acontecer. Meros 14 meses depois da data marcada, a banda estava acabada e entraria num recesso de 8 anos.

O primeiro pedacinho do Purple a se ouvir em solo brasileiro viria só em 1985, com a chegada de David Coverdale para tocar no Rock in Rio com o Whitesnake. É o assunto do próximo post especial.

ARE YOU READY????

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os 20 anos da primeira vinda ao Brasil

Dia 16, faz 20 anos que o Deep Purple tocou no Brasil pela primeira vez.

Eu ainda lembro da minha ansiedade lá em Porto Alegre. Tenho até hoje os recortes dos jornais de lá e revistas de rock da época sobre os shows.

Em homenagem a esse aniversário, agora em agosto vou escrever alguns posts especiais sobre as vindas do Deep Purple ao Brasil.

O primeiro será sobre a vinda deles em janeiro de 1975. A vinda que esqueceu de ocorrer.

Comequié? Aguarde e confie.

sábado, 22 de outubro de 2005

Meu time de futebol favorito

Eu sempre disse que acompanho o Deep Purple com o mesmo interesse com que qualquer outro marmanjo acompanha seu time de futebol favorito. Mas esta é a do ano. Na revista Flashback que está nas bancas (com o DVD dos Trapalhões e capa sobre videogames), página 52, está uma das maiores pérolas purpleanas que eu já vi. Rivaliza com a foto do Ian Gillan recebendo o George Harrison com uma meia no pinto, e fica pau a pau com o clipe de Call of the Wild.

É simplesmente uma foto de Ritchie Blackmore, Roger Glover e um grandão bigodudo que eu tenho dúvidas sobre se é o Jon Lord, mais alguns caras, todos com camisetas do Grêmio pra jogar em São Paulo. Isso na turnê de 1991, em que o Turner ("coitado, tem menos voz que a Xuxa", nas sábias palavras de André Forastieri) fez fiasco e o Blackmore bancou a maior prima-donna no palco.


Eu sempre ouvi falar nessa foto. Nunca tinha visto, então achava que non eczistia. Primeiro, porque eu sou colorado - ainda que não praticante. Depois, porque em Porto Alegre, terra do time, eu vi de longe o genioso gênio entrando no Gigantinho pra passar som, e ele não usava camiseta do Grêmio (no Celeiro de Ases, também, seria temerário). Ainda assim, eu tinha dúvidas: no encarte do vinil de Slaves & Masters, o disco que eles estavam promovendo com a turnê, além do instrumento ainda era informada a posição em que cada um deles jogava. Pois.

Além de publicar a foto, o jornalista André Barcinski conta a história do insólito encontro e bate o martelo:

"Ritchie Blackmore é uma das pessoas mais intratáveis e antipáticas que já conheci. (...) [No jogo,] Blackmore comportou-se como uma mistura de Hitler e Eurico Miranda - escolheu os times, as posições de cada um e o lado do campo. (...) Nesse jogo, aconteceu uma coisa inédita no futebol: quando o zagueiro do time adversário deu uma entrada maldosa em Blackmore, foi aplaudido - pelo próprio time de Blackmore!"

Vale a pena desembolsar uns caraminguás pra ler a história na íntegra. Por R$ 29,90 (eu sei, é salgado), o cidadão ainda leva um DVD com os melhores momentos dos Trapalhões. Eu não tenho DVD, então dei uma chorada e paguei R$ 14,95 só pela revista.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2003

Direto do distante ano de 1991

Em 1991, o ano em que eu comecei a curtir o Deep Purple, a banda foi um dos grandes assuntos da imprensa musical brasileira. Gillan estava demitido havia pouco tempo, e eles haviam contratado um novo vocalista - Jue Lynn Turner, que participara com Blackmore e Glover do Rainbow. Eles lançavam um disco novo, o "Slaves & Masters". Gillan também arriscava lançando seu disco solo, "Naked Thunder". Tenho tudo documentado.

A crítica da Bizz sobre os discos:

Se os velhos fãs já ficaram céticos com a volta do Purple em 84, imaginem como estão agora com o grupo tendo como vocalista Joe Lynn Turner (ex-Rainbow e banda de Yingwie Malmsteen), nunca muito bem-visto pelas hordas metálicas. Dizer que este é um LP interessante é muita bondade. Na verdade, só 'King of Dreams' aparece um pouco, graças ao órgão de Jon Lord. Uma desonra ao nome do Deep Purple, que, assim como o desrespeitado Black Sabbath, devia ser melhor preservado. Por sua vez, o ex-vocalista do grupo, Ian Gillan, retoma sua carreira solo com um belo disco, pautado em suas origens musicais (vide o arranjo para o tema tradicional 'No More Cane on the Brazos') e em levadas purpleanas ('Nothing to Lose', 'Gut Reaction' e 'No Good Luck'). L.R."

Será que esse LR é o Lúcio Ribeiro? Não lembro mais. Faz séculos que eu retalhei essas Bizz. Essa aí eu acho que é de janeiro ou fevereiro de 1991. Na edição de março, uma entrevista de duas páginas com Joe Lynn Turner. O melhor trecho:

"Bizz - Falando a respeito do disco novo, Roger Glover disse que houve uma mudança dramática de direção.
JLT - Não concordo, a não ser que isso queira dizer que o Purple tenha voltado ao lugar de onde veio. Essa foi a mudança de direção. E há também um som dos anos 90 que foi por insistência minha. [NM: Ah, bão, isso explica tudo...] Mas acho que as raízes hard rock e r'n'b continuam as mesmas. Faixas como 'Fire in the Basement' soam como 'Lazy', só que modernizadas, com uma atitude mais irônica."

Do alto dos meus 14 anos, eu até achava o disco bonzinho. Relevem, era guri novo.

Em agosto de 1991, os véios vieram ao Brasil. No Fundilho D'Askhalsa, tenho o pôster da turnê. Pois é. Lembro das árduas madrugadas de chuva em que eu ficava arrancando pôsteres na rua! *risos* Era um barato. Tenho aqui o do show do Ian Gillan, em 9 de maio de 1992.

Mas aí os véios vieram a Porto Alegre. O equipamento de som ficou trancado na alfândega, então eles mexeram em todo o calendário. Eles passaram primeiro pelo Olympia, em São Paulo (12 e 13), Ginásio do Ibirapuera (16 e 17), Curitiba (18) e tinham marcado o show de Porto Alegre para o dia 20. Só que, com o problema na aparelhagem de som, eles remarcaram o show para o dia 23. Nos dias anteriores, eles circulavam por Porto Alegre, especialmente pelo centro. Blackmore chegou depois. Diz que o Blackmore ficou apaixonado pelo Gruta Azul. Vi Jon Lord e Roger Glover na loja de instrumentos na frente do hotel Plaza São Rafael (onde, no ano seguinte, acabei bancando o intérprete do Roxette).

Eu fui pra frente do Gigantinho, junto com uma galera. Subindo nas costas de outro Marcelo (que subiu nas minhas), consegui ver o Ritchie Blackmore jogando bola com alguém no Gigantinho vazio. No dia 24, sai a resenha do show na Zero Hora:

"Por mais experiente e competente que seja, o Deep Purple, carismático, cheio de hits cravados na memória da maioria das oito (ou por aí) mil pessoas que estiveram no gigantinho, ontem, sofreu da falta de um som apropriado para o local. O Gigantinho, é bom dizer, não oferece essas condições para ninguém. Mas engenheiros de som mais antenados sabem contorná-lo. Não aconteceu isso com a equipe do Deep Purple. O quinteto inglês tocou todas as músicas que se poderiam esperar, com um punch próximo, mas nem tanto, do passado. Os efeitos do canhão de raio laser são interessantes, mas longe de substituir a verdadeira garra da velha banda. O vocalista sofre das maiores restrições. Coitado, não teve a ajuda nem da equipe técnica. O som foi sofrível. Tire-se esses pontos desfavoráveis, o show do Deep Purple foi intenso. Não poderia ser de outra forma. Quem tenha vivido um pouco dos anos 70 sabe do que se fala. O show teve seus problemas. Mas quem ousaria, destes que sempre enxergaram a banda como uma espécie de paradigma, dizer algo contrário?"

Mas quem deu a real foi o lendário André Forastieri, na Bizz:

"Os bundões bem-pensantes que fiquem com REM e Lenny Kravitz. Deep Purple é para quem tem culhão, sacou? Música de macho, meu - apesar de o novo vocalista, Joe Lynn Turner, ter menos voz que a Xuxa. Pô, qualquer show que começa com 'Burn', acaba com 'Smoke on the Water' e tem no meio 'Perfect Strangers' é maravilhoso. Em que outro show um cara da minha idade pode tocar guitarra no ar sem vergonha de estar sendo ridículo? Ritchie, Ian, Jon, Roger - está tudo perdoado, inclusive os dois últimos discos e a infame e injustificada demissão do Ian Gillan. Long live rock'n'roll."

Depois de Porto Alegre, eles tocaram no Maracanãzinho. O Blackmore já andava de ovos virados e aprontava aquelas birrinhas dele no meio do show. Três shows depois, eles mandaram o Turner embora, em Tel Aviv (Israel).

segunda-feira, 4 de março de 2002

A turnê do Joe Lynn Turner

O ano é 1991. O dia: 23 de agosto. O lugar: centro de Porto Alegre, na frente do hotel Plaza São Rafael.

À noite, haveria show do Deep Purple no Gigantinho. Era uma formação muito fraca: apesar de ter quatro membros da formação clássica (Blackmore, Lord, Paice e Glover), o vocalista era o Joe Lynn Turner. Na Bizz do mês seguinte, o André Forastieri teve um raro lapso de genialidade e definiu: "Turner, coitado, tem menos voz que a Xuxa". E era a primeira vez em que o Purple vinha ao Brasil. O Gillan já havia vindo em 1990 e voltou em 1992 (em outro show memorável da minha carreira de roqueiro, quando o Araújo Vianna ainda não era coberto); mas o Purple só esteve aqui com uma formação decente a partir de 1997 (10 de março de 1997, no Opinião; grande show). Mas eu estou comentando sobre a fase negra do Purple.

Eu tinha 14 anos na época. Estava no primeiro ano do segundo grau. Na frente do Plaza, encontrei uma turma de outros fãs do Deep Purple (sim, eles existem) --incluindo o Fábio, que morava perto da escola em que eu estudava e apresentou um especial sobre o Purple na rádio Ipanema meses depois, e o Marcelo Gross, de Canoas, que por acaso era amigo de uma amiga minha (a Vanderlise, que está se formando em História na Ufrgs) e outro dia vi que era baterista em uma banda.

Fomos todos para a frente do Gigantinho ainda à tarde, para ouvir a passagem do som. Eu e o Gross começamos a subir um nas costas do outro para espiar pelas janelas, e lá estava o Blackmore jogando futebol com uns caras da equipe enquanto os técnicos montavam o palco. O resto da turma exibia seus discos recém-autografados. Cheguei a ver, na frente do Plaza, um carro com o Lord e o Paice. Cheguei ao requinte de conseguir um pôster da turnê, que era pendurado nas farmácias Panvel (que vendiam os ingressos).

Não pude ir ao show por motivos adolescentes e financeiros: a entrada custava seis mil cruzeiros. Até meados do ano passado eu conseguia calcular exatamente quanto isso valia comparando com o preço do gibi. Mas comparando com a passagem do ônibus (na época era Cr$ 100 e hoje é R$ 1,10), o preço hoje seria equivalente a R$ 66. Provavelmente seria arredondado para R$ 65. Caro demais para um guri que apenas fazia bicos eventuais. E minha mãe não deixou que eu ficasse lá do lado de fora por muito mais tempo (liguei para casa para avisar, era um bom menino).

Na época eu nem era muito fã do Purple. Tinha três discos deles, apenas: Stormbringer, que herdei da minha prima, Slaves and Masters, que era o disco da turnê, e Burn, que comprei num balaião do supermercado.

Toda essa contextualização para dizer que ouvi agora há pouco uma gravação daquela turnê em MP3. Provavelmente feita dois dias antes, em São Paulo, ou na pior das hipóteses cinco apresentações depois, em Israel (no último show daquela formação, em 29 de setembro). A música é The Cut Runs Deep, uma das fraquinhas compostas pelo Turner, em que ele engasga em sua própria letra e intercala Hush e Rat Bat Blue.

O cara simplesmente não tem voz. Não levanta o povo. Falha a torto e a direito.

Mas o melhor de tudo é ver, na seção dele no site dos Voices of Classic Rock, como ele descreve o período:

"Para a turnê mundial de Slaves and Masters, em 1991, a banda mudou a lista de músicas mais do que havia mudado nos 20 anos anteriores. Enquanto favoritas dos fãs como 'Smoke on the Water' e 'Highway Star' permaneceram, a banda abriu com 'Burn', que não era tocada desde que David Coverdale saiu do grupo, em 1975 [Nota do Marcelo: o grupo acabou em 75, voltou só em 1984, com o Gillan --que não canta nada do Coverdale; então, foram só sete anos sem que a bruxa mandasse queimar tudo]. Com a versatilidade vocal de Joe [NM: sim; vai do silêncio aos tons médios, passando pelos tons roucos e uns gritinhos histéricos] e sua habilidade de improvisar [NM: algo como chamar o público para repetir "Say hey, ay, ay, yeah! Oh, oh, oh, oh! Yeah yeah yeah! Oh oh oh! Hey! Oh! Hey! Oh! Hey hey! Oh oh!"], a banda sentiu-se confiante o suficiente para ampliar o repertório e tocar 'Hush' [NM: que eles tocam desde 1968] ou mesmo explodir em covers que vão de 'Whiter Shade of Pale', de Procol Harrum [NM: uma baladinha xumbrega e melosa, que não tem nada a ver com Deep Purple], a 'Hey Joe', do Jimi Hendrix [NM: que também estava no primeiro disco do Purple, então a única inovação foi a baladinha]."

Em outro trecho memorável de seu release autobiográfico, ele afirma que, quando se preparavam para gravar o disco seguinte (que viria a ser "The Battle Rages On"), "o resto dos membros do Purple decidiu que uma mudança na banda era necessária devido à pressão da gravadora e à política interna da banda. Eles decidiram recontratar Ian Gillan..." Em bom português: "fui chutado".

Acho que, se eu tivesse ido àquele show, nunca teria virado fã. E não teria cometido, há alguns meses, os granicídios que cometi com os CDs importados, remasterizados e o diabo a quatro. Quem define esse sentimento muito bem é Doug MacBeath, em seu especial sobre a turnê de 1991 no site do Purple --aquele foi o primeiro show dos velhos a que ele assistiu: "Depois do show, entrei no Bar dos Estudantes, e um amigo comentou que eu parecia ter levado um chute nas bolas, dado pelo meu melhor amigo..."