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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mary Long, quem diria, deixa saudades hoje



A música "Mary Long", do Who Do We Think We Are, é uma crítica a dois paladinos do moralismo britânico nos anos 70, Mary Whitehouse e Lord Longford. Pois a vida de Mary Whitehouse, essa tia aí em cima, virou tema de uma telessérie da BBC2. O blog Comment is Free, do The Guardian, pergunta:

    Numa época em que piadas sexuais na televisão são um dado, em que músicas como "promiscuous girl" tornam-se sucessos imediatos ou em que um blog de fofocas picantes atrai milhões de acessos todo dia, perguntamos: será que precisamos de outra Mary Whitehouse? Será que aceitar a transmissão de conteúdos arriscados foi um erro ou deveríamos ter cuidado com qualquer tentativa de censurar a mídia?

Eu, pessoalmente, acho que brincar com a liberdade de expressão é um perigo: tanto em termos de abusar dela quanto em termos de querer controlá-la demais. Mas acho que a promíscua tem o direito de cantar sua promiscuidade, desde que quem não gosta tenha o direito de desligar o rádio ou não comprar o disco.

Mandei um e-mail para o Gillan perguntando o que ele acha do docudrama sobre a velhota. Vamos ver o que ele diz.

Mary Whitehouse morreu em novembro de 2001, pouco tempo antes de este Purpendicular ser criado. Tinha 91 anos. Quando soube disso, escrevi um "Clássicos Purpendicular" contando a história da tia:

    Morreu em novembro a professora britânica Mary Whitehouse, uma ferrenha moralista inglesa dos anos 70. Aos 91 anos, informava o "The Guardian" de 24/11. A, hã, simpática vovó aí em cima foi a fundadora da "National Viewers and Listeners Association", uma Senhoras de Santana inglesa. Para terem uma idéia da simpatia da véia, vejam o subtítulo do editorial do Guardian sobre a morte: "Nós não merecíamos Mary Whitehouse".

    "Mary Long é uma hipócrita. Ela faz todas as coisas que diz para não fazermos." Esse era o começo da letra de "Mary Long", gravada em 1973. A canção era um libelo contra a censura moralista da Inglaterra do começo dos anos 70. O nome era composto por MARY Whitehouse e Lord LONGford. "Auto-escolhidos guardiães da moral pública", classifica Ian Gillan, o compositor da música. Gillan, na letra, chegava ao requinte de fazer uma sugestão sobre o que ela deveria fazer: "vai procurar teu amigo caralho, cava um buraco em ti e pula em cima dele". A tradução é livre.

    A segunda metade da letra, lorde Frank Longford, morreu em agosto do ano passado, aos 95 anos, e também mereceu um obituário do Guardian, sem editorial. Para vocês terem uma idéia de quem era a figura, Longford foi padrinho de casamento do sequestrador Charles Bronson e tinha o costume de visitar prisões desde os anos 30. Não, não como hóspede: ele lutava pelo direito de os presos incompreendidos serem ouvidos. Até hoje permanece inédito um manuscrito escrito por esse tiozinho aí da foto, cujo singelo título é "Hitler -- ele não pode ter sido tão mau, pode?" Apesar disso, ele se dizia socialista e católico, fervoroso em ambas as crenças como um certo governador bigodudo que eu conheço.

    "Eles eram os fascistas politicamente corretos e conscientes da publicidade naqueles dias; não mudou muito hoje, exceto pelo fato de os atuais soldadinhos do passo certo usarem a palavra 'não-apropriado'", escreveu Gillan em uma explicação da letra. Ele termina a explicação com a melhor frase sobre moralismo que já li na vida: "há e sempre houve um sinistro bafo de hipocrisia emanando do púlpito dos pios." Tanto pios de direita quanto pios de esquerda; tanto os religiosos como os laicos, percebam --púlpito nem sempre é um palco na frente da cruz.

    Mary e Long metiam o dedo em tudo. Principalmente nos roteiros da BBC, emissora pública britânica (Mary told Johnny not to write such trash, she said it was a waste of public money...). Mrs. Whitehouse ficou na ativa até o ano passado, apesar de estar oficialmente aposentada desde 1984 (juro que é só coincidência, acho). Lord Longford também continuou cumprindo sua tarefa cristã de visitar os presos até meses antes de sua morte, e até lançou um diário sobre suas andanças pelo mundo do sol quadrado.

    Não seria exagero, acho, dizer que eles abriram o caminho do conservadorismo de Maggie Thatcher (Thatcher! Thatcher! Milk snatcher!), outra professorinha sinistra que passou a tomar conta do país a partir de 1979.

    Mas a figura mais odiada era a tia Whitehouse. Na descrição do Guardian, ela era "uma personalidade pública única, que brilhantemente usou e manipulou a BBC e outros meios de comunicação, apenas para castigá-los. Seu sorriso metálico e benevolente, óculos barrocos e frases prontas a tornaram mais conhecida que muitos ministros de Estado."

    Ela começou a agir em 1963. Professora de artes e de educação sexual, ficou escandalizada quando viu um casal de alunos fazendo de conta que estava trepando. "Eles disseram a ela que estavam imitando Christine Keeler e Mandy Rice-Davis, que haviam visto na TV." O Guardian, em artigo de Richard Hoggart, afirma que os argumentos válidos dela se perdiam em uma obsessão por sexo.

    Dave Hodgkinson, editor do site oficial do Deep Purple, ao registrar a morte de Mary Whitehouse, informou: o lorde Frank Longford, que inspirou a segunda metade de "Mary Long", morreu aos 95 anos em agosto de 2001.

    No texto matreiro do Dave:

    "Há algumas semanas, Mary Whitehouse, terror dos pornógrafos e praticamente qualquer um que não se enquadrasse em sua conformidade de mente estreita, levou sua última reclamação a seu criador aos 91 anos. Lord Longford, a outra metade da música, bateu as botas aos 95 anos em agosto. Eles viveram muito ou foi só impressão?"

    Em homenagem a esses personagens da infame história da censura, o Purpendicular publica a letra completa de Mary Long, no original. Adeus, Mary. Adeus, Long. Já vão tarde.

    Mary Long
    (Blackmore, Gillan, Glover, Lord, Paice)

    Mary Long is a hypocrite
    She does all the things that she tells us not to do
    Selling filth from a corner shop
    And knitting patterns to the high street queue
    She paints roses even makes 'em smell good
    And then she draws titties on the khazi wall
    Drowns kittens just to get a thrill
    And writes sermons in the Sunday Chronicle

    How did you lose your virginity, Mary Long?
    When will you lose your stupidity, Mary Long?

    Mary told Johnny not to write such trash
    Said it was a waste of public money
    She made a fuss they made apologies
    But everybody thought the show was funny
    When the nation knew you had children
    It came as such a surprise
    We really didn't know you'd had it in you
    How you did it we can only surmise

    How did you lose your virginity, Mary Long?
    When will you lose your stupidity, Mary Long?

    Mary Long you're not alone
    But you're a long way behind our times
    What we do in full frontal view
    Is more honest than your clean up mind
    What I'm saying Mary Long is
    When you can spare a minute
    Go find your friend the Porny Lord
    Dig yourself a hole and jump in it

    How did you lose your virginity, Mary Long?
    When will you lose your stupidity, Mary Long?

domingo, 11 de abril de 2004

Clássicos Purpendicular - California Jam



Semana passada fez 30 anos. Era 6 de abril de 1974. Em dezembro do ano anterior, o Deep Purple havia inaugurado em Copenhague sua terceira formação: mantinha o tripé original (Blackmore, Lord e Paice) e apresentava seus dois novos membros, David Coverdale (voz, no lugar de Ian Gillan) e Glenn Hughes (baixo, voz e gritinhos, no lugar de Roger Glover). São os primeiros meses da famosa Mark 3, que gravou os discos "Burn" e "Stormbringer".

Depois de algumas apresentações iniciais da nova formação na Europa, o Deep Purple foi convidado para ser a principal banda a tocar no festival California Jam --com a fantástica duração de 12 horas!!! Outras bandas poderosas que estariam lá: Black Sabbath, ELP, Eagles. Mas o Deep Purple seria o prato principal e o show mais polêmico do ano. Eram meados da primeira turnê americana da nova formação, quando o Deep Purple era a banda mais lucrativa do mundo e havia entrado no Guinness havia pouco tempo como a banda mais BARULHENTA do mundo.

Muito nervosismo, da banda e da organização do show. O guitarrista do grupo, Ritchie Blackmore, era conhecido por fazer misérias com suas guitarras no palco. Não chegava a tocar com os dentes ou botar fogo na guitarra, como o Jimi Hendrix, mas como bom discípulo do glorioso Screaming Lord Sutch, ele fazia lá suas balacas. Coisas como tocar com os pés, fazer longas seções de "bending" nas cordas, jogar a guitarra ao redor do corpo e voltar a tocar. O magrinho era um malabarista.

Josh White, diretor de filmagens do evento, lembra de como ele, pensando nessa fama do Blackmore, pode tê-lo induzido à cena mais famosa do evento:

"Eu falei com ele na noite anterior. O Deep Purple fez um ensaio técnico, e eu perguntei se ele ia quebrar a guitarra dele. E Richie disse: 'sim, talvez. Sei lá, que merda'. Ele estava meio puto com várias coisas que não tinham nada a ver comigo. E eu disse: 'Veja, se você for quebrar a guitarra, privilegie a câmera. Vou fazer uma bela filmagem e vai ficar genial'. E ele privilegiou bem a câmera, gerando US$ 8 mil de prejuízo."

Mais de 200 mil fãs estavam na platéia, e eram esperados no máximo 60 mil. Todos queriam ver a estréia do "novo Deep Purple", depois do fim da mais perfeita formação deles, aquela com o Gillan e o Glover. Todos os membros estavam no topo de sua energia: Jon Lord, o mais velho de todos, tinha apenas 32 anos. Coverdale e Hughes, os mais jovens, estavam excitadíssimos com o estrelato e com a primeira vez em que pisavam em solo americano.

O setlist foi mais ou menos o mesmo do Live in London, que seria gravado mais de um mês depois: Burn (com Hughes gritando "You know we had no tiiiiiiime!!! Aaah, aaah, aaah, aaaah!!!"), Might Just Take Your Life, Smoke on the Water (num esquema de jogral). Algumas cenas interessantes: Coverdale literalmente comendo mosca, uma interação simpática entre Hughes e Lord (dois anos depois, Lord "roubaria" a ex-namorada de Hughes, mas essa é outra história), Hughes tocando seu baixo e dando gritinhos. Mas a coisa ficou realmente quente depois, durante Space Truckin'.

A música era, desde os tempos de Gillan, o veículo para os solos de cada um deles. Todos faziam performances quase literalmente pirotécnicas, de quase meia hora (um amigo meu, na época do vinil, dizia que não tinha curiosidade de ouvir o Purple porque alguns discos --como o Made in Japan-- tinham "só uma música num dos lados").

Naquele dia, Blackmore se estranhou com os jornalistas, que estavam lá embaixo na platéia, bem na frente do palco. Eles queriam ângulo para tirar fotos dele, e ele só fazia caretas. Para complicar, um câmera da TV americana ABC estava lá em cima do palco querendo pegar também o melhor ângulo.

Lá pelo 17º minuto da música, ele começou seu verdadeiro show.

Quebrou duas guitarras e as atirou violentamente nos jornalistas. Bateu violentamente numa câmera com sua guitarra. Dançou sobre as cordas de guitarras inteiras e quebradas. Fez uma barulheira dos infernos. Até que o verdadeiro lance pirotécnico foi tentado.

Quando foi buscar sua terceira guitarra, Blackmore cochichou meia dúzia de palavras com um dos roadies da banda, e se posicionou. Inocentemente, começou a tocar sua guitarra e a caminhar para a frente de um grande amplificador. Lá na frente, começou a dançar sobre as cordas da guitarra.

O técnico jogou gasolina lá dentro, riscou um fósforo, saiu correndo e...



Essa é uma das cenas mais lindas da história do rock. Merece ser vista em vídeo - em áudio não tem graça nenhuma. O clipe dessa parte em especial pode ser baixado clicando aqui.

Blackmore ficou fazendo coreografias na frente do fogo, até que foi retirado de lá pelos bombeiros. Mais tarde, passou a jogar os amplificadores queimados nos jornalistas também.

Depois ele pegou outra guitarra e tocou mais um pouco até o final da música. Mas os caras do Deep Purple, todos, tiveram que ser tirados do palco de helicóptero, logo depois do show. Para não serem presos.

O show está disponível em vídeo e em CD --este lançado em 1996. Prefira o vídeo, já que o CD tem no final uns 15 minutos de barulheira completamente sem sentido... só faz sentido com a imagem junto. A vantagem do CD é o sempre providencial livretinho escrito pelo Simon Robinson, o homem que mais entende de Deep Purple no mundo. Mas nem o Robinson recomenda esse CD, e até por isso lançou no ano passado uma nova versão completa, chamada Ontario Motor Speedway 1974.

terça-feira, 9 de setembro de 2003

Clássicos Purpendicular: Hallellujah

CLÁSSICOS PURPENDICULAR: HALLELUJAH

Gently borrowed from the DPAS websiteHallelujah foi gravada na calada da noite, sorrateiramente, em 1969.

O Deep Purple já era uma banda mais ou menos estabelecida, ainda em sua primeira formação. Já tinha dois discos lançados (Shades of Deep Purple e The Book of Taliesyn) e um pronto pra lançar (Deep Purple). Já tinha emplacado um hit nos EUA (Hush) e já tinha ido ao Novo Mundo para abrir a última turnê do Cream.

Ocorre que o Jon Lord andava com umas idéias de puxar a banda prum lado mais clássico, mais jazzístico, enquanto o Ritchie Blackmore andava com umas idéias de puxar a banda prum lado mais pesado, mais de jam, e o Ian Paice topava todas. Lord, inclusive, já estava começando a compor o Concerto para Grupo e Orquestra, em que ninguém acreditava muito na época (coisa de hippie). O mínimo múltiplo comum disso tudo perigava ser interessante, mas eles consideravam que não tinham nem voz e nem baixo pra segurar essa sonzeira toda. Principalmente voz, e o cara também tinha que ter dons de composição.

É neste ponto que a história do Deep Purple entra num de seus pontos mais fascinantes. Não canso de ouvir piratarias dessa fase (1969). Em 4 de junho daquele ano, Ritchie Blackmore é convidado pelo cantor Mick Underwood (com quem tocou nos Outlaws) para assistir em Woodford Green a um show do Episode Six, uma banda sensacional dos anos 60 na qual Gillan cantava e Glover tocava baixo. Ian não andava muito contente com os rumos da banda, que parecia estar andando em círculos. Pensava em formar uma banda com Underwood e Glover quando o Purple apareceu, nas pessoas de Blackmore e Lord.

Blackmore e Gillan tocaram telefonemas, Ritchie inclusive subiu no palco com o Episode Six, e o estrago já estava feito.

Gently Borrowed from the DPAS"Desde o primeiro momento, os caras vieram com força; quer dizer, eles pareciam muito 'ricos', confiantes, bem-vestidos, com aquele cabelo bufante. Fiquei meio assim de ir ao encontro deles, e me preparei pegando emprestadas as melhores roupas de Roger Glover pra usar com algumas minhas, e comprei dez cigarros pra me ajudar a acalmar os nervos e pra oferecer pros outros, num gesto de amizade. Saí só com o dinheiro contado pra comprar os cigarros e voltar pra casa, e também estava com uma gripe do cão e o bolso cheio de lenços de papel. Aí nos encontramos, e minha primeira impressão daqueles caras estava certa. Tentei causar boa impressão oferecendo cigarros, e os lenços usados e úmidos caíram do meu bolso. Com a garganta e o nariz entupidos, eu me baixei pra juntar a bagunça toda, e todo mundo me olhando. Eu estava num momento ridículo, e mais adiante eu diria que me senti menor que uma formiga, mais sujo que um pedaço de merda de cachorro e querendo ser mais invisível que a menor parte do universo. Mas eles foram gente finíssima e me ajudaram na organização. Falamos de rock'n'roll e me ofereceram o emprego", diz o Gillan em sua biografia.

Gillan foi falar com Gloria Bristow, a empresária do E6, avisando que ia trocar de emprego mas ia cumprir o calendário do grupo original.

Três dias depois, Blackmore, Lord e Paice se encontram furtivamente com Gillan, que trouxe seu amigo Glover, no estúdio De Lane Lea, em Kingsway, Londres.

Naquele dia 7, alguém puxou uma partitura inédita de Roger Greenaway e Roger Cooke. Ian já conhecia o trabalho da dupla de compositores, porque o Episode Six tocara "Something's Gotten Hold of My Heart" na BBC quatro dias antes, e então soltou o gogó:

I am a preacher, with a message for my people
Over the world, scratching beyond the ground
Looking for the peace that nobody has found
I am a spokesman, for a better way of living
Love is the word, and it can be heard
If you are young the message can be sung
Let me hear you sing..

Hallelujah, Hallelujah, Hallelujah

Oh tell it to the man who's power is the sermon on the wall
Tell it to the man, the Jew, who says you can't misjudge them all
Tell it 'till it can be heard above the wailing of the crowd
Tell it on the field of war and hope you'll soon be justified
There is a better way of life and it's not so hard to find
If you live and let the people in your world speak its mind

I am the pupil, who sells his life for freedom
All over the world, and it can be heard
If you are young the message can be sung

Hallelujah, Hallelujah, Hallelujah


Foi a gravação terminar e o Jon Lord ofereceu o emprego para os dois novos membros. A música, que nunca seria tocada ao vivo pelo Purple, foi lançada num single, ao lado de um pedaço instrumental de April (uma longa composição em três fases do terceiro disco). No dia 2 de agosto, em Bremen (Alemanha), seria gravado o vídeo de Hallellujah que saiu há pouco no Brasil em um DVD.

Ian e Roger acharam a escolha da música completamente bizarra. Quase tanto quanto os cabelos dos caras do Purple - aqueles penteados altos, que pareciam ter sido moldados com um balde sobre a cabeça.

Quando foi feita a gravação de Hallellujah no estúdio, nem The Book of Taliesyn havia saído na Inglaterra. Isso foi no dia 7, e apenas no dia 24 de junho iria ao ar a última sessão ao vivo da Mark 1, na BBC. Desde o dia 16, porém, a nova formação do Deep Purple já ensaiava no Hanwell Community Centre, mas as duas bandas - Purple e E6 - faziam suas últimas apresentações com as formações pré-Purple Mk 2. Perdendo dois importantes membros, o E6 acabaria indo pras cucuias.

Nick Simper só soube do que estava ocorrendo quando leu seu nome na edição européia do New York Times. Numa reunião no escritório da HEC (os empresários do Deep Purple), ele e Rod Evans souberam que tinham levado um pé na bunda. Evans resolveu casar com uma americana, mudar-se para os EUA e começar a banda Captain Beyond. Simper ficou puto e processou o Purple. Pouco tempo depois, fundaria o Warhorse.

Gently borrowed from the DPASNo dia 10 de julho seria a grande estréia do novo grupo, no Speakeasy Club. A única gravação ao vivo que se tem desses primeiros dias é a de Amsterdam, do dia 24. Uma apresentação imensamente enérgica, muito mais do que o que se tem registrado da primeira fase do Purple. O single de Hallellujah com April Part 1 saiu ainda naquele mês, mas não chegou às paradas. Aquela formação ainda atrairia atenção com o Concerto antes de chegar às paradas com o single de Black Night, no ano seguinte.

Muitos fãs ficaram confusos na época com isso, especialmente no Concerto, apresentado em setembro no Royal Albert Hall - ué, aquele cantor não é o que está no disco que tinha acabado de chegar às lojas (Deep Purple)? Não, não era.

Hallellujah hoje pode ser encontrada mais facilmente em Singles As & Bs - tanto no vinil de 1978 quanto no CD de 1993. A música tem alguns covers bem interessantes. O mais famoso é o do Blind Guardian. Mas já em 1970 foi gravada na Alemanha pelo grupo People, e em 1991 o grupo Derek Lawrence Statement fez a sua versão. Derek Lawrence, diga-se, era produtor do Deep Purple até 69.

Quer saber mais sobre aqueles wild days? Segue o roteiro do Ian Gillan pra decifrar a letra da música "69", do Abandon. Sim, não tinha nada a ver com boca naquilo e aquilo na boca.

segunda-feira, 4 de março de 2002

Clássicos Purpendicular 4: Smoke on the Water

Baixei no Audiogalaxy e acabei de ouvir um pedaço da história do rock. Um pedaço da história do jazz. Um pedaço da história de Montreaux. É uma gravação pirata do mais famoso fim de show do Frank Zappa.

Bom, boa parte da turma aqui deve conhecer a música "Smoke on the water", do Deep Purple. Alguns dentro dessa boa parte devem saber que, além do "duh, duh, duh" do riff clássico, a música conta uma história real. Poucos, pouquíssimos, conhecem os detalhes da história - que nunca, até hoje, tinha sido escrita com tantos detalhes como esta que vocês estão lendo.

Em 4 de dezembro de 1971, o Deep Purple havia chegado a Montreaux com um caminhão de equipamentos dos Rolling Stones, para compor e gravar um disco de estúdio em condições de disco ao vivo. Eles usariam o palco do cassino local, depois de um show do Frank Zappa.

Frank Zappa, uma das figuras mais malucas da história do rock'n'roll, estava fazendo um show por lá com sua banda (os Mothers of Invention), e depois da apresentação o lugar seria todo do Deep Purple. O lugar estava cheio de gente. Zappa calculava algo entre 2500 e 3000 guris --"bem acima da capacidade do lugar". E tinha mais gente querendo entrar.

Mas só que o palco começou a pegar fogo antes do final da apresentação. Pelas memórias de Ian Gillan, "foi soberbo: um cara apareceu com um lança-chamas e atirou no teto". Há quem duvide dessa versão: como é que iam deixar alguém entrar com um lança-chamas? O próprio Roger Glover, que estava lá, admite que ninguém viu quem ou como foi. Mas tudo bem.

A energia do lugar é cortada. O pessoal começa a gritar "fogo, fogo!". Alguém da banda do Zappa (não ele) grita "Fogo! Arthur Brown, em pessoa!" (clique para saber o motivo). Zappa pede para as ladies and gentlemen saírem calmamente e em ordem. Todos estavam calmos. "É surpreendente como pessoas que falam só francês podem te entender bem quando é uma questão de vida ou morte", disse Zappa sobre o caso em sua biografia.

Um dos funcionários de Zappa pegou uma caixa de equipamento e quebrou uma janela grande para ajudar a escoar o pessoal. A banda escapou por um túnel subterrâneo, por trás do palco, que acabava em uma garagem. "Não havia pânico, exceto por algumas janelas quebradas e alguns guris presos no porão, felizmente resgatados por Claude", lembra Roger Glover, baixista do Deep Purple. Claude Nobs, que até hoje organiza o Festival de Jazz de Montreaux, era na época o administrador do cassino.

A coisa estava tão calma, no começo, que Glover até se deu ao luxo de aproveitar que não tinha ninguém por lá para verificar os sintetizadores, a novidade usada pelo Zappa --US$ 48 mil perdidos no fogo. Mas logo... "Dentro de minutos, o lugar estava um inferno, e eu não uso essa palavra em vão", afirma o baixista. As chamas alcançaram quase cem metros de altura, segundo a revista Circus. Pela manhã, o prédio não existia mais. Segundo Zappa, o prédio valia US$ 13 milhões. Todos os valores são da época; lembrem-se de que teve muita inflação aí no meio (até em dólar).



A fumaça foi vista no céu, sobre as águas do lago Genebra, por um bom tempo. "Estávamos sentados num bar-restaurante a um quarto de milha do Cassino, e ele estava em chamas. O vento descia as montanhas e levava a fumaça para cima do lago, e a fumaça parecia uma cortina sobre o lago", lembra Gillan. A visão era exatamente aquela que está no começo desta nota.

Destruído o lugar em que eles gravariam o disco que ficou conhecido como Machine Head, eles tentaram vários lugares para gravar até que encontraram um hotel abandonado e frio.

Um dia, o baixista Roger Glover acordou de manhã e disse algo como "sonhei com as palavras 'Smoke on the Water' (fumaça sobre a água)". Gillan teria respondido: "parece uma música sobre drogas; não vamos usar". Um quarto de século depois, Glover brincou: "Já que éramos uma banda devotamente de bêbados, deixamos de lado". Mas no final acabou passando. Foi a última letra a ser escrita, e nem foi pensada para ser o destaque. "Decidimos escrever sobre nossa experiência ao fazer o disco, e justificamos o título pensando na cortina de fumaça sobre o lago no dia em que o cassino foi destruído. Cada linha da letra é verdadeira", diz Glover.

A música que conta a história do cassino queimado virou o maior sucesso do Deep Purple, por acaso. Só em 1973 é que eles foram perceber o sucesso e tentar ganhar em cima, lançando um compacto tendo de um lado a versão de estúdio e do outro a versão ao vivo gravada no Japão em 1972. "Só sei que desde então eu sempre ouvi meus pensamentos aleatórios", escreveu Glover em 1996.

E quer saber duas dessas maluquices e coincidências da história do rock? Uma semana depois, Zappa quebrou a perna depois de levar um soco de um fã e cair. Gillan soube disso quando estava gravando "Smoke on the Water", e tanto na versão remixada dos 25 anos quanto no ao vivo que eles fizeram na BBC em 1972, Gillan grita "Break a leg, Frank!" perto do final da música. A segunda: foi exatamente num 4 de dezembro, 22 anos depois, que Frank Zappa morreu, de câncer na próstata.

Utilidade pública: no Audiogalaxy, a faixa que tem TODO o final do show do Zappa, com fogo e tudo, está com o nome "frank zappa - Wino Man, Sharleena, Cruisin For Burgers, King Kong, FIRE! and the crowd evacuates (Live Montreaux)". Para saber mais sobre a influência de Zappa fora do rock, clique aqui. Também achei um site com análises das letras dele.

O disco Machine Head foi relançado há alguns anos, em versão remasterizada e dupla (a segunda tem as mesmas músicas mas com algumas diferenças nos solos). Smoke on the Water é tocada em todos os shows do Deep Purple desde 1972, e conheço alguns malucos mais malucos que eu que têm mais de 30 versões da música. Eu tenho só 19, contando covers.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2002

Clássicos Purpendicular 3: Speed King

Vejam no site do Purple o especial que traça a história de Speed King desde os tempos da letra "Kneel and Pray", composta no Hanwell Community Centre. Outras duas músicas também estão explicadas por lá (Ted the Mechanic e Long Time Gone), mas Speed King é uma das minhas favoritas. Até por causa da incrível mudança de letra.

Abaixo, a minha pesquisa anteriormente publicada no Cabide sobre a música. Rendia um Clássico Purpendicular, mas o especial do The Highway Star é melhor.

O REI DA VELOCIDADE



"Good Golly, said the little miss Molly while she was rocking in the house of blue light..."

Speed King, a primeira música do disco "In Rock" (de 1970, onde o Deep Purple levou o rock ao extremo possível na época), nem sempre começou assim. O riff foi composto pelo Roger Glover, inspirado pela música "Fire", do Hendrix. Blackmore queria algo rápido daquele jeito. Foi composta no Hanwell Community Centre. A estrutura se manteve a mesma, mas a letra mudou desde a composição até o disco.

A letra original era mais sacana. O título original era "Kneel and Pray", ajoelhe e reze, que não tinha nada a ver com religião. Possivelmente era inspirada na groupie conhecida como Dirty Doreen, que fazia trabalhos de sopro para o Gillan nos bastidores da gravação e é possivelmente a personagem de Strange Kind of Woman. (O telefone dela era 01 576 3381, informa um dos dados da minha pesquisa.)

Baixei aqui em MP3 duas das primeiras versões dessa música, mais algumas covers e ao vivo, e fiz uma coletânea com as que eu já tinha. Abaixo, a lista:

1) Kneel and Pray - Gravada em agosto de 1969, na BBC (há uma versão ao vivo, gravada no Clube Paradiso, de Amsterdã, no dia 24 de agosto --era o quarto show da formação clássica do Purple).

2) Speed King 1 - De setembro de 1969, gravada na BBC. Tem a letra com a qual a música ficou conhecida, mas lá no meio o Gillan insere a "ponte" da letra antiga: "kneel down, turn around, look at the ground, tell me what you've found..." Ele também brinca com a bobeirada da letra que ficou sendo oficial, dando uma ênfase de quem não leva a sério na segunda vez em que canta "take a little rice, take a little beans, gonna rock'n'roll down to New Orleans"

3) Piano Version - Não tenho a data. É de 14 de outubro de 1969, de quando o Purple chegou ao estúdio IBC para gravar as músicas do In Rock. É mais lenta e menos elétrica --Jon Lord substitui o clássico Hammond que o caracteriza por um piano. É mais curta que a versão final. Tinha aparecido, por engano, nos dois Singles As & Bs --foi usada em um single norueguês. Foi incluída na edição de aniversário do In Rock.


4) Speed King - Esta é a versão que ganhou o disco. tem uma introdução que classifiquei como "caos sonoro" em uma resenha que escrevi em 1998. Essa introdução é chamada de "Woffle" nas fitas do estúdio.

Há algumas versões ao vivo, feitas pelo Deep Purple --uma das mais interessantes delas tem o Gillan cobrindo com a voz o solo do Blackmore que foi colocado no lugar da ponte antiga. Steve Morse, antes de ser o guitarrista da banda, gravou uma versão instrumental. Muito boa, parece surf music. Queria ouvir o Morse tocando a música com o Purple, principalmente depois do que eles fizeram com "Bloodsucker". Ouvi em 10 de março de 97, no Opinião, mas não lembro mais.

Speed King tem nove covers (incluindo uma do Van Halen e uma de um japa chamado Osama --não é aquele--, que gravou um disco com músicas do Purple em japonês). Em lançamentos oficiais do Deep Purple, há cinco versões de estúdio (duas editadas) e 11 ao vivo.

Clássicos Purpendicular 2: Mary Long

A música "Mary Long", de Who Do We Think We Are, faz parte da nova e cancelada turnê do Deep Purple. Sua inclusão chegou a ser elogiada pelo The Times. Mas vocês sabem de onde vem a música, com suas palavras fortes? Sabem quem é Mary Long, a hipócrita que faz tudo o que ela diz para não fazermos? Sabiam que as duas personalidades que inspiraram a música morreram no ano passado --de velhice?

Conheça um pouco mais sobre duas personalidades tristemente importantes na cultura britânica do século 20 ouvindo Deep Purple e lendo o Purpendicular.



Morreu em novembro a professora britânica Mary Whitehouse, uma ferrenha moralista inglesa dos anos 70. Aos 91 anos, informava o "The Guardian" de 24/11. A, hã, simpática vovó aí em cima foi a fundadora da "National Viewers and Listeners Association", uma Senhoras de Santana inglesa. Para terem uma idéia da simpatia da véia, vejam o subtítulo do editorial do Guardian sobre a morte: "Nós não merecíamos Mary Whitehouse".

"Mary Long é uma hipócrita. Ela faz todas as coisas que diz para não fazermos." Esse era o começo da letra de "Mary Long", do disco "Who Do We Think We Are" (1973). A canção era um libelo contra a censura moralista da Inglaterra do começo dos anos 70. O nome era composto por MARY Whitehouse e Lord LONGford. "Auto-escolhidos guardiães da moral pública", classifica Ian Gillan, o compositor da música. Gillan, na letra, chegava ao requinte de fazer uma sugestão sobre o que ela deveria fazer: "vai procurar teu amigo caralho, cava um buraco em ti e pula em cima dele". A tradução é livre.

A segunda metade da letra, lorde Frank Longford, morreu em agosto do ano passado, aos 95 anos, e também mereceu um obituário do Guardian, sem editorial. Para vocês terem uma idéia de quem era a figura, Longford foi padrinho de casamento do sequestrador Charles Bronson e tinha o costume de visitar prisões desde os anos 30. Não, não como hóspede: ele lutava pelo direito de os presos incompreendidos serem ouvidos. Até hoje permanece inédito um manuscrito escrito por esse tiozinho aí da foto, cujo singelo título é "Hitler -- ele não pode ter sido tão mau, pode?" Apesar disso, ele se dizia socialista e católico, fervoroso em ambas as crenças como um certo governador bigodudo que eu conheço.

"Eles eram os fascistas politicamente corretos e conscientes da publicidade naqueles dias; não mudou muito hoje, exceto pelo fato de os atuais soldadinhos do passo certo usarem a palavra 'não-apropriado'", escreveu Gillan em uma explicação da letra. Ele termina a explicação com a melhor frase sobre moralismo que já li na vida: "há e sempre houve um sinistro bafo de hipocrisia emanando do púlpito dos pios." Tanto pios de direita quanto pios de esquerda; tanto os religiosos como os laicos, percebam --púlpito nem sempre é um palco na frente da cruz.

Mary e Long metiam o dedo em tudo. Principalmente nos roteiros da BBC, emissora pública britânica (Mary told Johnny not to write such trash, she said it was a waste of public money...). Mrs. Whitehouse ficou na ativa até o ano passado, apesar de estar oficialmente aposentada desde 1984 (juro que é só coincidência, acho). Lord Longford também continuou cumprindo sua tarefa cristã de visitar os presos até meses antes de sua morte, e até lançou um diário sobre suas andanças pelo mundo do sol quadrado.

Não seria exagero, acho, dizer que eles abriram o caminho do conservadorismo de Maggie Thatcher (Thatcher! Thatcher! Milk snatcher!), outra professorinha sinistra que passou a tomar conta do país a partir de 1979.

Mas a figura mais odiada era a tia Whitehouse. Na descrição do Guardian, ela era "uma personalidade pública única, que brilhantemente usou e manipulou a BBC e outros meios de comunicação, apenas para castigá-los. Seu sorriso metálico e benevolente, óculos barrocos e frases prontas a tornaram mais conhecida que muitos ministros de Estado."

Ela começou a agir em 1963. Professora de artes e de educação sexual, ficou escandalizada quando viu um casal de alunos fazendo de conta que estava trepando. "Eles disseram a ela que estavam imitando Christine Keeler e Mandy Rice-Davis, que haviam visto na TV." O Guardian, em artigo de Richard Hoggart, afirma que os argumentos válidos dela se perdiam em uma obsessão por sexo.

Dave Hodgkinson, editor do site oficial do Deep Purple, ao registrar a morte de Mary Whitehouse, informou: o lorde Frank Longford, que inspirou a segunda metade de "Mary Long", morreu aos 95 anos em agosto de 2001.

No texto matreiro do Dave:

"Há algumas semanas, Mary Whitehouse, terror dos pornógrafos e praticamente qualquer um que não se enquadrasse em sua conformidade de mente estreita, levou sua última reclamação a seu criador aos 91 anos. Lord Longford, a outra metade da música, bateu as botas aos 95 anos em agosto. Eles viveram muito ou foi só impressão?"

Em homenagem a esses personagens da infame história da censura, o Purpendicular publica a letra completa de Mary Long, no original. Adeus, Mary. Adeus, Long. Já vão tarde.

Mary Long
(Blackmore, Gillan, Glover, Lord, Paice)

Mary Long is a hypocrite
She does all the things that she tells us not to do
Selling filth from a corner shop
And knitting patterns to the high street queue
She paints roses even makes 'em smell good
And then she draws titties on the khazi wall
Drowns kittens just to get a thrill
And writes sermons in the Sunday Chronicle

How did you lose your virginity, Mary Long?
When will you lose your stupidity, Mary Long?

Mary told Johnny not to write such trash
Said it was a waste of public money
She made a fuss they made apologies
But everybody thought the show was funny
When the nation knew you had children
It came as such a surprise
We really didn't know you'd had it in you
How you did it we can only surmise

How did you lose your virginity, Mary Long?
When will you lose your stupidity, Mary Long?

Mary Long you're not alone
But you're a long way behind our times
What we do in full frontal view
Is more honest than your clean up mind
What I'm saying Mary Long is
When you can spare a minute
Go find your friend the Porny Lord
Dig yourself a hole and jump in it

How did you lose your virginity, Mary Long?
When will you lose your stupidity, Mary Long?

domingo, 17 de fevereiro de 2002

Clássicos Purpendicular 1 - California Jam



O ano é 1974. O mês, abril. Meses antes, o Deep Purple havia inaugurado sua terceira formação: mantinha o tripé original (Blackmore, Lord e Paice) e apresentava seus dois novos membros, David Coverdale (voz, no lugar de Ian Gillan) e Glenn Hughes (baixo, voz e gritinhos, no lugar de Roger Glover). São os primeiros meses da famosa Mark 3, que gravou os discos "Burn" e "Stormbringer".

Depois de algumas apresentações na Inglaterra, inclusive na BBC --onde eles gravaram o disco Live in London, lançado em 1980--, o Deep Purple foi convidado para tocar no festival California Jam, em 6.abr.1974 --com a fantástica duração de 12 horas!!! Outras bandas poderosas que estariam lá: Black Sabbath, ELP, Eagles. Mas o Deep Purple seria o principal.

Mais de 200 mil fãs estavam na platéia (eram esperados no máximo 60 mil). Todos queriam ver a estréia do "novo Deep Purple", depois do fim da mais perfeita formação deles, aquela com o Gillan e o Hughes. Todos os membros estavam no topo de sua energia: Jon Lord, o mais velho de todos, tinha apenas 32 anos. Coverdale e Hughes, os mais jovens, estavam excitadíssimos com o estrelato e com a primeira vez em que pisavam em solo americano.

O setlist foi mais ou menos o mesmo do Live in London: Burn (com Hughes gritando "You know we had no tiiiiiiime!!! Aaah, aaah, aaah, aaaah!!!"), Might Just Take Your Life, Smoke on the Water (num esquema de jogral). Algumas cenas interessantes: Coverdale literalmente comendo mosca, uma interação simpática entre Hughes e Lord (dois anos depois, Lord "roubaria" a ex-namorada de Hughes, mas essa é outra história), Hughes tocando seu baixo e dando gritinhos. Mas a coisa ficou realmente quente depois, durante Space Truckin'.

A música era, desde os tempos de Gillan, o veículo para os solos de cada um deles. Todos faziam performances quase literalmente pirotécnicas, de quase meia hora (um amigo meu, na época do vinil, dizia que não tinha curiosidade de ouvir o Purple porque alguns discos --como o Made in Japan-- tinham "só uma música num dos lados").

Naquele dia, Blackmore se estranhou com os jornalistas, que estavam lá embaixo na platéia, bem na frente do palco. Eles queriam ângulo para tirar fotos dele, e ele só fazia caretas. Para complicar, um câmera da TV americana ABC estava lá em cima do palco querendo pegar também o melhor ângulo.

Lá pelo 17º minuto da música, ele começou seu verdadeiro show.

Quebrou duas guitarras e as atirou violentamente nos jornalistas. Bateu violentamente numa câmera com sua guitarra. Dançou sobre as cordas de guitarras inteiras e quebradas. Fez uma barulheira dos infernos. Até que o verdadeiro lance pirotécnico foi tentado.

Quando foi buscar sua terceira guitarra, Blackmore cochichou meia dúzia de palavras com um dos roadies da banda, e se posicionou. Inocentemente, começou a tocar sua guitarra e a caminhar para a frente de um grande amplificador. Lá na frente, começou a dançar sobre as cordas da guitarra.

O técnico jogou gasolina lá dentro, jogou um fósforo e...



Essa é uma das cenas mais lindas da história do rock. Merece ser vista em vídeo. O clipe dessa parte em especial pode ser baixado clicando aqui.

Blackmore ficou fazendo coreografias na frente do fogo, até que foi retirado de lá pelos bombeiros. Mais tarde, passou a jogar os amplificadores queimados nos jornalistas também.

Depois ele pegou outra guitarra e tocou mais um pouco até o final da música. Mas os caras do Deep Purple, todos, tiveram que ser tirados do palco de helicóptero, logo depois do show. Para não serem presos.

O show está disponível em vídeo e em CD --este lançado em 1996. Prefira o vídeo, já que o CD tem no final uns 15 minutos de barulheira completamente sem sentido... só faz sentido com a imagem junto. A vantagem do CD é o sempre providencial livretinho escrito pelo Simon Robinson, o homem que mais entende de Deep Purple no mundo.