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terça-feira, 17 de julho de 2012

Jon Lord, a vida, o universo e tudo mais




OK.

Tomei aqui minha taça de vinho em homenagem a Jon Lord. Era de vinho tinto que ele gostava, e o homenageei com um Malbec. Aguentei calado e sem chorar uma lágrima sequer enquanto assisti ao mais privilegiado DVD de Jon Lord que eu tenho: a gravação bruta da minha entrevista com ele, em 2009, que inclui trechos do ensaio de "Soldier of Fortune". Eu dava risada vendo ele rir comigo.

Tudo o que valia a pena dizer ao público em geral sobre a carreira do Jon Lord eu escrevi no obituário que fiz para o site da Folha: "Jon Lord foi um pioneiro na fusão entre o rock e o erudito". Sim, Jon Lord me ensinou que não existem gavetas na música - existe música boa e existe música ruim. Música ruim você sabe o que é, ela abunda. Mas música ruim não me interessa, só me interessa música boa e é dela que eu falo quando falo de música.

Aqui no Purpendicular, porém, estamos entre amigos. Mais do que isso: entre órfãos. Noves fora Tommy Bolin, que morreu na cabalística idade de 27 anos, Jon Lord foi apenas o primeiro dos membros do Deep Purple a nos abandonar por complicações decorrentes da vida. É triste pensar nisso, mas ele é apenas o primeiro. Nos próximos anos, a fila deve andar - tomara que demore, mas infelizmente vai. E saber que a gente também está na fila é assustador.

Como dizia Jorge Luis Borges, morrer é um costume que sabe ter toda gente. Quem tem quem? A gente tem o costume ou o costume que tem a gente? Tendo a achar que é ele.

A música de Jon Lord ("To Notice Such Things", especialmente "Afterwards", cujo poema está aqui e a música está abaixo) me ajudou a aceitar a morte do meu tio favorito, quase um pai pra mim, quando ele morreu de câncer no ano passado. Por isso e por tudo mais, minha primeira reação quando soube da morte do Jon foi de incredulidade.



A segunda reação foi de inconformismo. Escrevi no Facebook que nossos heróis, porra, nossos heróis não deviam ter esse direito. Deviam ser todos como aqueles meus heróis de papel, como os Supermen e os Batmen e os Capitães América, que morrem e poucos meses depois acham um roteirista mentiroso o suficiente pra encontrar uma desculpa pra trazê-los de volta.

Só que não tem jeito. Por mais geniais que sejam nossos mestres, e Jon Lord era uma das cabeças mais brilhantes com as quais tive o privilégio de aprender (seja em discos, seja em DVDs, seja assistindo ao vivo, seja nos curtos minutos da nossa entrevista de 2009), todos um dia nos abandonarão e deixarão este planeta mais burro, mais imbecil, mais boçal.

Eu estava vendo o Concerto for Group and Orchestra de 1999 e filosofando um pouco no ouvido da minha mulher quando conseguia completar uma frase sem me desfazer. Demorou um pouco.

Somos muito egoístas com esses que admiramos. Egoístas demais. Vemos Ian Gillan no palco e decretamos: "não canta mais nada". Vemos Blackmore tocando como coadjuvante da patroa e cobramos: "pombas, cadê a Fender?". Vemos Jon Lord morrer de câncer, uma doença dolorosa, cruel, e não nos conformamos. Não damos a eles o direito de seguir o curso da vida, de envelhecer, de ficar de saco cheio, de morrer.

Na nossa cabeça, nossos heróis deviam viver pra sempre.

Na nossa cabeça, nossos heróis deviam ter pra sempre vinte e poucos anos, como os heróis dos gibis.



Neste momento, na tela de LCD à minha frente, Jon Lord é um moleque mais jovem que eu e faz dueto com Blackmore na melhor fase do Deep Purple. Neste momento, aqui na minha sala, um fragmento da noite de 21 de agosto de 1970 vive na gravação de "Speed King" em "Doing Their Thing".

Mas ainda hoje à tarde eu estava no trabalho, incrédulo ao saber da morte de Lord aos 71 anos.

Ainda ontem, eu tinha 14 anos de idade e descia a Plínio Brasil Milano ouvindo Deep Purple no meu walkman paraguaio. Cantando junto a cada passo. Esses 21 anos voaram perante meus olhos e quando vejo o Jon Lord está morrendo de complicações trazidas pela idade. Num flash, de repente eu tenho 35 anos, 103 quilos e gastei uma fábula com discos e DVDs dos meus mestres.

Poucos minutos atrás, eu tinha 25 anos de idade e abri um blog especializado em Deep Purple. A banda estava numa fase de indefinição - parecia que Jon Lord ia se aposentar. Será que iria? Lembro como se fosse ontem dos meus amigos reclamando no meu velho blog do tanto que eu falava do Deep Purple. Lembro da minha ansiedade de saber cada movimento da banda. Faz poucos minutos, mas faz 10 anos.

Minutos antes, eu tinha 20 anos de idade e trabalhava à noite. Estava nervoso. Não comprava mais discos do Deep Purple desde a saída de Blackmore, mas eles foram tocar em Porto Alegre. Um colega do jornal foi cobrir o show e mandava avisar que músicas eles haviam tocado. Eu espiava sobre o ombro da editora de Variedades. Corrigi: não é "Black In Night", é "Black Night". Ela pergunta como eu sei, digo que tenho todos os vinis da banda. "Por que tu não tá lá?", ela pergunta. "Não tinha grana, e tinha que trabalhat", respondo. Ela me dá seu próprio ingresso de cortesia - número 0002 - e dinheiro para o táxi. Quando chego ao Opinião, quem faz solo? Jon Lord.

Lembro como se tivesse sido esta noite, mas foi há 15 anos.

Eu fecho meus olhos só por um momento e aquele momento se foi, já cantava o Kansas. Tudo o que somos é poeira no vento.

Quando eu assistia ao Concerto, hoje, eu pensava: não, Jon pode ter morrido, mas sua obra está aí. Na hora em que eu quiser, aperto um botão no controle remoto e estou de volta ao dia 23 de setembro de 1999, no Royal Albert Hall. Ou ao dia 7 de maio de 2009, dez anos depois, na galeria Olido, onde eu tenho três anos a menos de idade e Jon me diz pra cuidar e não bater com o microfone em seu nariz. Viajo no tempo e no espaço, como se tivesse um Delorean.



Sua obra está aí. Seu corpo podia ser frágil, como são todos os nossos corpos. Ele sofria com o câncer, como todos nós corremos o risco de sofrer caso vivamos o suficiente. Devia ser muito dolorido. Ele livrou-se desse sofrimento, e eu não me conformava até me dar conta do egoísmo dessa ideia.

Domingo, tive a sorte de conversar com meu amigo Paulinho Oliveira. Um dos homens mais sábios que conheço, sempre acabamos conversando sobre a vida, o universo e tudo mais. Sempre.

Ele me disse ter lido em Eduardo Galeano ou José Saramago que existem dois tipos de morto: o morto apenas e o morto bem morto. Morto bem morto é aquele que se foi e aos poucos se foram também todos aqueles que lembravam dele. Morto é aquele que, embora nos falte, deixa sua memória entre os que sobrevivem a ele, dos que lembram dele ou de sua obra. Jon Lord é desse tipo - eu vou morrer um dia e a obra de Jon Lord ainda estará por aí para ser lembrada.

Até ontem, a privilegiada cabeça de Jon Lord ainda podia nos trazer novos concertos, novas peças, novas ideias. Vai ser doloroso viver sabendo que não virá nada novo dele. E é cada vez mais presente a ideia de que meus outros heróis de carne e osso também não são como o Batman. Porque essa ideia me lembra que eu também não sou como o Batman, e é isso que me apavora.



Mas sua obra está aí. O 21 de agosto de 1970 está vivo na minha tela. Assim como o 24 de setembro de 1969 e o de 1999. Assim como o 7 de maio de 2009. E todas as outras datas em que os dedos mágicos de Jon Lord foram registrados e permanecem vivos. E é esse Delorean de imagens e música que nos mantém pra sempre cientes de que ninguém morre para sempre se deixar o que de melhor tiver na forma de uma obra.

E aí vem outro problema: qual é a SUA obra?

Eu ainda estou tentando descobrir qual é a minha. Leitores generosos podem dizer que este blog é uma obra. Mas blogs se apagam e somem no éter. Tudo o que eu escrevi em jornais já embrulhou peixe. Eu sei a minha obra, mas se eu um dia vier a faltar, ninguém mais sabe.

Qual é a sua obra? Qual é a minha obra? De que lembrarão sobre nós quando, tal como Jon Lord, repetirmos o triste costume de morrer?

Não sei. Mas não é tarde para saber. E a vida de gênios como Jon Lord nos lembra da importância disso.

Muito obrigado, Jon. Por tudo.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Um minuto de silêncio: Jim Marshall morreu


Fiquei sabendo agora pela manhã, no Facebook do guitarrista Bernie Torme, que Jim Marshall morreu. Uma lástima. Há uma página no Facebook para postar condolências.

Não existe som mais bonito, no rock, que o de uma Fender Stratocaster amplificada por um Marshall valvulado. Talvez só o de um Hammond amplificado por um Marshall se compare. A graça do Deep Purple desde o início era combinar os dois. Mas não só eles. Boa parte do rock britânico dos anos 60 e 70 deve sua existência e genialidade a Marshall.


Marshall era baterista de uma big band antes de abrir uma loja de instrumentos em Hanwell, no comecinho dos anos 60. Músicos de toda a região do Oeste de Londres se encontravam lá pra bater papo, testar equipamento, comprar fiado e, todo sábado, dar canjas. Mais ou menos como as que costumavam rolar numa das lojas da Teodoro Sampaio. (Entrevistado para uma biografia do Blackmore, Marshall disse que não lembrava das canjas.)

O Oeste de Londres é pertinho da região onde cresceram Ian Gillan, Ritchie Blackmore, Jimmy Page e outros gênios. Heathrow, onde fica o aeroporto internacional, é um pouco adiante - o que significa que esse povo precisava TOCAR ALTO pra ser ouvido. Belo lugar pra surgirem guitarristas, vocalistas e os melhores amplificadores do mundo.

Jim Marshall era amigo de Bert Kirby, professor de música de Nick Simper. Foi na loja dele que Simper comprou sua primeira guitarra - fiado.  Custava 20 libras, e ele parcelou em uma libra por semana. Quando metade das prestações estava quitada, Marshall escreveu no cartão: "PAGO".

Simper não era o único agraciado por essa generosidade. Mais tarde, quando Marshall começou a construir amplificadores, essa generosidade se traduziu em uma clientela leal formada pelos lisos do passado. Parte dela ficou famosa, amplificando a fama de seus equipamentos para o mundo inteiro.


Três momentos cruciais de Marshall com o Deep Purple:
  • Em 1968, quando a primeira formação do Deep Purple estava sendo criada, os empresários bancaram a compra de 7 mil libras em equipamentos na loja de Jim Marshall. Isso incluía o primeiro Hammond próprio de Jon Lord e, claro, os amplificadores.
  • No ano seguinte, os empresários do Deep Purple toparam a ideia excêntrica de Jon Lord de fazer um concerto juntando banda de rock e orquestra. Marcaram uma data no Royal Albert Hall para isso. Além do problema da composição, havia um outro: como fazer para que TODOS fossem ouvidos? A acústica do RAH dava conta da orquestra, mas com a amplificação da banda poderia ser impossível ouvir os instrumentos sinfônicos. Por acaso, Jim Marshall tinha acabado de criar um sistema de mixagem de 600 watts. Ele colocou um anúncio nos jornais ingleses informando que o show seria a "World Premiere" do seu novo sistema. O resultado? Este:

  • Em 1973, quando Blackmore não pôde tocar num show lotado em Amsterdã e a banda deixou o bis de lado, a plateia ficou tão violenta que detonou os amplificadores que estavam no palco.  Para poder fazer o show seguinte em Copenhagen, dali a três dias, eles estariam em apuros se não fosse a agilidade de Marshall para fazer a entrega - com toda a precariedade de comunicações do começo dos anos 70. 
Minhas mais sinceras condolências, portanto.

E, caso algum leitor do Purpendicular ganhe na Mega-Sena um dia, aceito como presente um frigobar assim:

terça-feira, 20 de março de 2012

Tungcast Deep Purple, parte 1

No final do ano passado, o grande Diogo Salles me convidou pra gravar um Tungcast especial sobre o Deep Purple. Passamos uma tarde num estúdio em Perdizes batendo papo sobre um dos meus assuntos favoritos e o resultado foi muito legal.

A primeira metade foi ao ar hoje. Em pouco mais de uma hora, está lá a primeira vinda do Deep Purple, de 1968 a 1976, em toda a glória de suas quatro formações. Muitas curiosidades e muitos trechos pouco óbvios de músicas do Deep Purple.

Aliás, se você reparar bem, não toca Smoke on the Water nem uma vez. Se você sentir falta, é só ligar em qualquer rádio de classic rock e esperar meia hora.

Para ouvir e baixar o Tungcast, clique aqui.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Homenageie Ritchie Blackmore tocando em vídeo


Pelo segundo ano, abre dia 20 de março o concurso "Ritchie Blackmore Protégé Shred Off".

É mundial, e visa apoiar a indicação do genial e genioso fundador do Deep Purple para o Hall of Fame do rock, segundo o BraveWords. O vencedor, que vai ganhar uma placa comemorativa, será anunciado dia 14 de abril, aniversário de 67 anos do guitarrista.

Para participar, você precisa gravar um vídeo com uma banda e baixar o santo de Ritchie Blackmore nos estilos do Deep Purple, Rainbow ou Blackmore's Night. Mas atenção: tem que ser coisa própria, não pode ser cover.

(Acho, porém, que vale fazer interpretação de músicas dos outros em estilo do Blackmore, tipo tocar Brasileirinho como o Blackmore fez com a Nona do Beethoven.)

Grave seu vídeo, suba para o YouTube e poste nesta página do Facebook até dia 7 de abril - que, aliás, é aniversário do dia em que o Blackmore deixou o Deep Purple pela primeira vez, em 1975.

Participe. Grana não tem na jogada, mas a Candice Night está toda hora no Twitter, possivelmente tuitando enquanto o mestre lava a louça. Vai que você ganha, ela assiste, acha genial e mostra para o mestre. Uma oportunidade e tanto, não?


Se você postar o link do seu vídeo aqui nos comentários, posto aqui no Purpendicular também!

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Smoke on the Water, 40 anos - 1

Acabo de bolar aqui uma nova seção comemorativa para o Purpendicular.

Dia 9 de março, vai fazer 40 anos que "Smoke on the Water" estreou ao vivo nos palcos do Deep Purple. Foi nos estúdios da BBC, naquele show que está no "In Concert 70-72".

Até lá, vamos postar aqui várias versões em vídeo da música. Serão três por post: uma original, do próprio Deep Purple, uma excelente, dos outros, e uma exótica (divertida, vergonhosa ou de outro tipo). Se você tiver dicas, especialmente das excelentes e exóticas, mande aqui nos comentários.

Começo hoje.

Original
Deep Purple ao vivo na Universidade de Hofstra, em maio de 1973. É a primeira versão em vídeo conhecida (ao menos completa) de Smoke on the Water. Aí, já fazia mais de um ano que a música estava no setlist.


Excelente
Cover do Metallica, enviado numa comunidade do Facebook pelo cantor Abdalla Kilsam. Vale lembrar que o baterista do Metallica é fã da banda. O primeiro show a que assistiu na vida foi também o primeiro show da terceira formação do Deep Purple, em Copenhague.



Exótica
Em 1992, fiquei furioso ao saber que o Kid Abelha havia gravado uma versão de Smoke on the Water em seu mais novo disco de então. Ouvi e achei uma porcaria aguada. Outro dia estava fuçando no YouTube e descobri a pérola abaixo. São eles no Programa Livre, do Sérgio Groismann, fazendo cover da música em português em 1993. O causo contado, porém, é deles mesmos. Troque Frank Zappa and the Mothers por Paralamas do Sucesso e incêndio no cassino por um piti em que a Paula Toller se mandou de Montreux e foi para Portugal. Acrescente os versos "se eu ficasse em Montreux/ teria sido mais feliz". Diversão garantida.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O placar da procrastinação

Segundo o Something Else Reviews, o guitarrista do Deep Purple vai participar da gravação de um disco em tributo à banda Supertramp. Rick Wakeman, Richard Page, Mickey Thomas e Billy Sherwood também estarão lá.

Enquanto isso, Ian Gillan e Alice Cooper são jurados de um concurso de talentos, o Rock the House.

Até agora, portanto, o placar da procrastinação em gravar o novo disco do Deep Purple - nome que dei à série de compromissos que os mestres assumiram antes de gravar o novo disco - está assim:

Steve Morse
  • Tributo a Tommy Bolin (Glenn Hughes também estará lá) 
  • Flying Colors 
  • Tributo ao Supertramp
Ian Gillan 
  • Tributo a Dio (Glenn Hughes também estará lá) 
  • Rock the House
Don Airey 
  • Homenagem às vítimas do tsunami no Japão 
Ian Paice 
  • Álbum em trio com Rick Wakeman e Tony Levin

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Ian Paice vai gravar com Rick Wakeman?


Até agora, o Ian Paice era o único dos membros do Deep Purple que não estava gravando como convidado nos discos dos outros ou não gravou disco solo (Glover gravou). Rick Wakeman acaba de mudar isso.

Quem viu no blog do tecladista foi o The Highway Star:
Tem muitas outras coisas que eu vou tentar levar a cabo neste mês, que incluem um possível álbum em trio com Tony Levin e Ian Paice. Ainda estão no início as discussões com todos os envolvidos, mas parece muito promissor. 
Em julho do ano passado, Wakeman foi convidado pra tocar na Sunflower Jam, o show beneficiente anual promovido pelas esposas gêmeas de Paice e Jon Lord. Coloquei um vídeo do momento histórico neste post. Paice e Wakeman já tinham se encontrado antes, dando uma entrevista juntos em 1982. Este é o vídeo de onde saiu a imagem acima.

No dia 2 de abril, Paice também dará uma canja num show em homenagem a Buddy Rich, nos 25 anos da morte do baterista. Será no Reino Unido. Aí, pelas minhas contas, o Deep Purple já estará em férias e poderá finalmente começar a gravar seu disco.

E o disco novo? Nada de novo, quase.

Em entrevista publicada ontem num jornal canadense, o Ian Gillan disse que realmente houve uma sessão de composição no ano passado, mas que eles dificilmente vão aproveitar alguma coisa dela.
Nada aconteceu de verdade, e não estávamos muito no pique. Então, acho que vamos começar do zero e ver o que acontece. Eu imagino que a coisa vai rolar bem, porque não escrevemos nada há algum tempo.
Razoável. Bananas e Rapture of the Deep foram compostos assim. Eles se acertam melhor tocando juntos, ouvindo um o que o outro faz e sacando na hora como reagir.

***

Apenas pra atualizar a lista de participações especiais de outros membros do Deep Purple em discos dos outros ainda por sair:

Steve Morse

  • Tributo a Tommy Bolin (Glenn Hughes também estará lá)
  • Flying Colors
Ian Gillan
  • Tributo a Dio (Glenn Hughes também estará lá)
Don Airey
  • Homenagem às vítimas do tsunami no Japão
Ian Paice
  • Álbum em trio com Rick Wakeman e Tony Levin

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Steve Morse grava tributo a Tommy Bolin. E o disco novo do Purple, cadê?


Você já quis ouvir Steve Morse tocando músicas do Tommy Bolin? Eu sempre quis, mas meu mestre Ian Gillan não canta nada da Mk4 - e tem lá suas razões. Pois agora o guitarrista atual do Deep Purple vai participar do disco "Great Gypsy Soul", um tributo ao segundo guitarrista da banda, morto em 1976. (Depois de o Deep Purple mesmo morrer temporariamente.)

Fico curioso para saber que faixa ele tocará. Eu adoraria que fosse algo do disco "Spectrum", que Bolin gravou com Billy Cobham. Uma palhinha de "Quadrant 4":


Além de Morse, participam do disco os guitarristas Peter Frampton, Brad Whitford (Aerosmith), Derek Trucks e Warren Haynes (ambos da Allman Brothers Band).

É a segunda participação especial do Morse anunciada em poucos dias. A primeira foi na banda Flying Colors. Também já foi anunciado que Ian Gillan vai participar de um disco em homenagem a Ronnie James Dio, junto com Glenn Hughes. Atualmente, o vocalista do Deep Purple está em turnê na Europa com uma orquestra. Ian Paice, o baterista, está preparando shows com um tributo ao Deep Purple. Don Airey gravou uma homenagem às vítimas do terremoto e tsunami japonês de 2011 e participou de um disco do irmão Keith Airey. Roger Glover tem filha pequena pra cuidar e netos para babar.

Só do disco novo do Deep Purple que ninguém anuncia nada. Na folguinha do começo do ano, estão aparentemente todos ocupados demais pra pôr a mão na massa e finalizar disco novo. Em fevereiro já tem turnê o mês inteiro (17 dos 28 dias) e aí geralmente a banda já entra na roda viva das turnês - embora ainda não tenha nada anunciado para o período entre março e novembro.

Torço para que eles dêem uma paradinha com todos os projetos paralelos nesse período e gravem o disco. Adoraria que a turnê europeia, que começa em Luxemburgo no dia 8 de novembro, já fosse a do sucessor de "Rapture of the Deep".

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Gillan e Hughes fazem tributo a Dio


Wendy Dio, a viúva do baixinho com pulmão de gigante, chamou alguns amigos do ex-cantor do Rainbow e do Black Sabbath para gravar um tributo. Eles incluem Ian Gillan (foto) e Glenn Hughes. Também estarão lá Lemmy Kilmister, Alice Cooper, Dave Grohl, Rob Halford e Sebastian Bach. Cada um escolherá as canções que vai cantar.

Gillan substituiu Dio por duas vezes na história do Deep Purple. A primeira foi em 1975, quando uma turnê do Rainbow impediu que Dio fizesse a voz do simpático Froggy em "Sitting in a Dream" na apresentação ao vivo de Butterfly Ball. Gillan estava aposentado do rock, mas atendeu ao chamado do amigo Roger Glover para sair da toca pela primeira vez após sair do Deep Purple. A segunda foi em 1983, quando Ronnie deixou o Black Sabbath.

Em 1999/2000, o Deep Purple fez a turnê dos 30 anos do Concerto para Grupo e Orquestra. Aproveitaram e homenagearam as carreiras-solo dos membros. De Glover, entraram duas músicas do Butterfly Ball, ambas cantadas por Dio - "Love is All" e "Sitting in a Dream". Dio foi convidado para o show e acabou entrando na turnê. Ao final, cantava "Smoke on the Water" com Gillan. Em 2006, Gillan chamou Dio para gravar vocais em "A Day Late and a Dollar Short", no disco Gillan's Inn.

Hughes também foi do Black Sabbath, depois do Ian Gillan, mas sua amizade com Dio é mais da brodagem mesmo. Dio morava em Los Angeles, onde Hughes mora até hoje. Na véspera de Natal de 2011, Hughes tuitou que estava indo com a patroa dar um abraço na Wendy Dio.

Minhas apostas?

Eu gostaria de ver Gillan cantar "Sitting in a Dream" de novo, depois de tantos anos. Já Hughes eu não sei. Acho que ele cantaria algo do Black Sabbath, talvez queira cantar "Heaven and Hell". Não sei o quanto a religião de Hughes permite cantar sobre o inferno. Mas a letra permite interpretações mais afeitas a ele, talvez.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Dez anos de Purpendicular!

Este blog entrou no ar no dia 13 de fevereiro de 2002.

Aquele começo de ano foi um período curioso na história do Deep Purple. A banda fazia uma turnê marcante no Reino Unido, onde Ian Gillan até cantaria Child in Time. E havia o boato de que Jon Lord poderia se aposentar do Deep Purple.

Eu tinha um outro blog, onde eu falava sobre política, guerra, economia e qualquer outro assunto que me viesse à cabeça. Tão empolgado eu andava que comecei a falar MUITO sobre Deep Purple lá. Meus amigos não aguentavam, então resolvi criar um blog só sobre o assunto. Valeu a pena: são dez anos de uma experiência muito interessante. Visite os arquivos para ver.

Fiquei tão empolgado no dia em que criei o blog, e tinha tanto assunto, que pus SETE posts no ar. Se for contabilizar este post, o sétimo mais recente é de mais de um mês atrás. Um dos sete posts era a confirmação de que Jon Lord se aposentaria ao final da turnê inglesa, interrompida por conta de uma gripe do Gillan.

Para comemorar os 10 anos do blog, num ano que aparenta prometer muita coisa boa, fiz uma pequena alteração no layout. Abaixo do logo temos o link para uma página dedicada a cada formação, uma dedicada à discografia, uma aos DVDs e uma aos shows. Até agora, só botei a página da Mk1. Estou puxando do Wikipurple, onde vou manter as páginas dos membros da banda.

Jon Lord foi o motivo da criação do blog. Jon Lord também é o motivo da nova empolgação: em sua mensagem de feliz ano novo aos fãs, ele disse que está melhor de saúde e que deve ter boas notícias na semana que vem. Suponho que seja uma turnê com sua banda pela Europa. Pelo que ouvi por alto de boa fonte, possivelmente Paris em abril.

E tem muita coisa aí a caminho: 40 anos de Machine Head, possível disco novo a caminho e tudo mais. O remaster de Perfect Strangers, que devia ter saído no ano passado, pode ser que saia neste ano.

O que você espera do Deep Purple em 2012?

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um conto de Natal

 Nesta noite, sonhei que estava dando bronca no Ian Gillan. Bronca mesmo, dessas de o mestre fazer cara de cachorro com a cauda entre as pernas.

"Porra, Ian. Eu sei que não tem mais jeito de você tocar com o Blackmore. Pena, eu queria ter visto pessoalmente vocês dois tocando juntos, mas entendo que o cara é difícil. Você também não é fácil. Só que eu acho que você devia retribuir o favor a ele", eu disse. "Sabe como é, Natal."

Perto da véspera do Natal de 1978, Ian Gillan já estava fora do Deep Purple havia cinco anos, e a banda estava acabada havia dois. Era tarde da noite e o cantor estava em casa se abrigando da neve que caía lá fora quando ouviu batidos na porta.

"Lá, de pé, a uns dois ou três passos, estava o guitarrista com seu chapéu bobo de peregrino", escreveu Gillan em sua biografia.

-- O que você quer? - perguntou Gillan.

-- Estou procurando um cantor - respondeu Blackmore.

Após o convite para entrar, Blackmore perguntou se podia levar a então patroa Amy Rothman pra participar da visita. Claro que podia. A preocupação de Blackmore era evitar que a mulher estivesse por perto caso Gillan ficasse agressivo. Que nada: segundo uma entrevista de Blackmore, Gillan repetia: "Rich, estou tão feliz. Tô alegre pra caralho de você estar aqui."

Seguiu-se uma conversa agradável. Os dois secaram uma garrafa de vodca e tentaram contratar um ao outro para suas respectivas bandas. Estavam os dois fazendo mudanças no Rainbow e na Ian Gillan Band, enfim.

A Ian Gillan Band era uma banda diferente. Tocava uma espécie de jazz-rock, muito elaborada, e fazia o circuito das universidades inglesas. Estava feliz sendo pequeno. Tocava o que queria, para quem quisesse ouvir. Dificilmente dava muita gente, mas azar. Já Blackmore queria o contrário: ele queria diversão e bolo, queria tudo e mais um pouco, como cantava o Nei Lisboa. Queria juntar a direção pop do Rainbow com o peso do nome do ex-colega. Glover já estava a bordo.

Quando viram que não poderiam contratar um ao outro, Blackmore deu o presente de Natal de Ian Gillan. Foi um conselho:

"Ian, você está fazendo tudo errado. Devia estar tocando era nos grandes estádios."

Blackmore topou dar uma canja num show do Gillan, no Marquee. Lucille, Woman From Tokyo e - salvo engano - Smoke on the Water. Não há vídeo, mas há áudio:




A banda do Gillan estava mudando, assumindo um som mais pesado e inclusive cortando duas palavras do seu nome. Poucos meses depois, entrariam a bordo o guitarrista Bernie Tormé e o baterista Mick Underwood - aliás, ex-colega de Gillan no Episode Six e o sujeito que falou de Gillan para o Blackmore uma década antes.

Desde o primeiro disco dessa formação, "Mr. Universe", a banda foi com fome ao pomar e quebrou tudo. De todas as bandas de ex-membros que surgiram após o final do Deep Purple, foi certamente uma das mais interessantes. Seguindo o conselho de Blackmore, eles foram com sede aos grandes estádios.


Troquei mensagens de final de ano hoje com Tormé e Underwood, no Facebook. Os dois têm excelentes lembranças das turnês da banda, especialmente dos festivais de Reading.

A banda acabou sendo desmanchada por causa da volta iminente de Gillan para o Deep Purple, lá por 1982. Mais ou menos por essa época, chegou a haver reuniões pra tentar bater o martelo na volta do Purple. Demoraria ainda mais um pouco, mas resta uma foto da segunda canja de Blackmore com a banda do Gillan:


Gillan foi fazer uma cirurgia nas cordas vocais, e ao se recuperar foi passar uns meses no Black Sabbath pra depois pular para a volta do Deep Purple. Isso, somado a problemas com grana, fez com que os músicos da Gillan nutrissem uma raiva do ex-chefe pelas três décadas seguintes.

Meu desejo de Natal é que Gillan fosse retribuir o favor a Blackmore. Batesse na porta do castelo dele, sei lá, pegasse um copo e dissesse:

"Ritchie, você está fazendo tudo errado. Devia estar tocando era nos grandes estádios."

Não precisa nem se vestir de figurante do Senhor dos Anéis pra dar canja na banda do ex-colega. Não precisa nem convidar pra tocar junto - não deu certo da segunda vez, não deu certo ainda mais rápido da terceira vez, dificilmente daria certo uma quarta vez.

Mas será uma pena se dois dos músicos que eu mais admiro no mundo - dois músicos tão marcantes na vida um do outro que vivem se mencionando em entrevistas e biografias - deixarem os anos que lhes restam passarem sem voltarem a conversar uma vez que seja. Cresçam, seus velhos malas. *risos*

Aos amigos que leem o Purpendicular, um excelente final de ano. Em 2012, o Purpendicular faz 10 anos. Espero conseguir manter um ritmo de atualizações melhor do que o de 2011.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Oh, Aranea, you're so divine

Nasceu a segunda neta de Roger Glover, segunda filha da cantora Gillian Glover. Chama-se Aranea, segundo o orgulhoso vovô. O nome tem tantas implicações musicais e familiares que é impossível não escrever um post a respeito.

"Aranea" é uma faixa do disco Butterfly Ball, composto por Glover depois de sua saída do Deep Purple. O disco é um musical em torno de um popular livro infantil inglês, com ilustrações clássicas. Glover escreveu uma música para cada personagem e chamou seus amigos para gravar. Ronnie James Dio pôs a voz na faixa mais conhecida, "Love is All", e na arrepiante "Sitting in a Dream". David Coverdale cantou "Behind the Smile". Glenn Hughes soltou os pulmões em "Get Ready". Jon Lord fez os teclados, junto com Tony Ashton.

Quando foram apresentar a obra ao vivo, no Royal Albert Hall, isso virou uma grande celebração da família Deep Purple. Em nenhum outro show da banda você veria Glover tocando baixo ao lado de David Coverdale, por exemplo. E foi nessa apresentação que Ian Gillan saiu da toca depois de dois anos, cantando "Sitting in a Dream". Dio não pôde participar do show porque o chefe dele era um tal de Ritchie Blackmore. E a apresentação de Hughes foi como que um teste depois de um surto químico, pra ver se ele ainda conseguia se apresentar antes da turnê mundial da Mk4. Que, aliás, seria a última da primeira grande era do Purple.

Uma das faixas, "Aranea", foi composta especialmente para Judi Kuhl - então mulher de Glover. Ao cantar no Royal Albert Hall, ela exibia uma barriguinha grávida. Dentro dela estava Gillian Glover, a orgulhosa mãe de Aranea. Com uma cajadada só, Gillian ao escolher o nome da filha homenageou seu pai, sua mãe e a primeira vez em que pisou no palco. Veja aqui embaixo:


O fim desse show acabou virando uma emocionante festa da família do Deep Purple:

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Cinco bravos jovens sem respeito por limites

Mestre Jon Lord colocou em seu site a carta que Ian Paice leu no mês passado, quando o Deep Purple ganhou da revista Classic Rock o prêmio de inovadores. Nela, ele definiu tudo o que eu admiro no Deep Purple, especialmente na Mk2:

"Agradeço do fundo do coração este prêmio, por reconhecer que aquilo que fizemos - quando éramos apenas cinco bravos jovens sem respeito por limites mas um amor dedicado por escrever e tocar música - era de fato inovador. Também era alto, grave e sujo, subversivo e perigoso, intrincado ainda que muitas vezes enganosamente simples, muito empolgante de tocar e acima de tudo mais era uma diversão espantosamente boa. E, sim, nós 'dançamos e cantamos e subimos ao topo da montanha' [trecho de No One Came]. Ah, foi mesmo. Agradeço do fundo do coração, também, aos cavalheiros no palco por fazerem parte da mudança na minha vida e por tocarem como heróis. Ah, e por favor não esqueçam de quem foi o primeiro a forçar vocês a tocar com uma orquestra!"

Aniversário no palco

Roger Glover fez aniversário anteontem, no meio de um show na Alemanha. Com direito a orquestra tocando parabéns.



Já mandei os parabéns no blog dele, onde ele anuncia que será avô pela segunda vez. Gillian Glover, sua filha cantora, teve o primeiro filho em 2009 e já encomendou o segundo. No dia do aniversário, chegou meu exemplar do novo CD do Glover. Vou resenhar depois.

Em 1984, num dos primeiros shows da reunião do Deep Purple, também houve aniversário do mestre. Gillan pegou o microfone e anunciou - avisando que Rog pagaria drinques pra todo mundo depois do show. O @brunoalsantos lembrou de um pirata do Rainbow, de 1979, chamado "Perfect Roger's Birthday Party"

Outras comemorações no palco:

* 29 de junho de 1973. Último show de Gillan e Glover antes de deixarem o Deep Purple. Também era aniversário de Ian Paice. No meio de Space Truckin', Jon Lord deu um jeito de tocar o parabéns. Quem não sabia a data ficou achando que era algo como o Blackmore tocando Jingle Bells no meio de Wring that Neck em qualquer época do ano.



* 17 de dezembro de 1997. Pouco antes de começar o show do Deep Purple na House of Blues de Chicago, Ian Gillan pega o microfone e anuncia que tinha um momento muito especial: o casamento de Steve Morse. Entra um padre no palco e casa o Steve com Jackelyn. Detalhe fabuloso: Jon Lord toca a marcha nupcial. Só caso de papel passado nessa situação.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Um mestre faz 70 anos

Eu já pensei que um homem de 60 anos era um velho. Quando mudei de ideia, por conta dos meus mestres do Deep Purple, passei a pensar que velho mesmo é com 70. Recentemente mudei de ideia de novo - 70 era quase a idade do Jon Lord. É a idade que o mestre faz hoje.

Sou fã de todos os membros e ex-membros do Deep Purple, até daqueles a quem critico. Mas o Lord tem um lugar especial na minha admiração. (OK, tem mais uns três de quem eu diria o mesmo.) Foi por conta da ansiedade em torno de sua aposentadoria do Deep Purple que este blog foi criado, aliás.

Primeiro, porque desde que vi suas primeiras fotos ele sempre me pareceu um pouco com meu tio favorito - alto, magro, com um bigodão e aquela cara de bonachão. Mais ou menos numa época da vida em que esse tio fazia o nobre papel de dar os empurrões, puxões de orelha, gargalhadas e copos de cerveja de que um jovem precisa. Tinham mais ou menos a mesma idade, embora meu tio fosse mais maltratado pela vida. Então, sempre que eu via o Jon Lord fazer alguma micagem, eu lembrava das micagens do tio Nelson. Quando meu tio morreu, em janeiro, minha trilha sonora pessoal era "To Notice Such Things", que mestre Lord compôs em memória do amigo Sir John Mortimer.

Segundo, porque foi a partir de suas intervenções, influências e improvisos que muita música boa me foi apresentada ao longo da vida. Foi Jon Lord quem me consolidou a ideia de que existem apenas dois tipos de música: boa e ruim. Sou-lhe extremamente grato por isso. Sem falar que a história de ele se aposentar do rock para virar compositor de música erudita quase full-time é sensacional.

Terceiro, porque foi o primeiro membro do Deep Purple que recebeu (E RESPONDEU!) um e-mail meu, em 1999. Imaginem minha alegria.

Quarto, porque ele tinha meros 27 anos quando compôs o Concerto for Group and Orchestra. Quando fiz 27, eu ficava me martirizando, me perguntando se eu conseguiria fazer algo tão grandioso com tão pouca idade. Ganhei um prêmio de jornalismo aos 29, quase 30, e na época me contentei: aquele era o meu Concerto. Posso fazer melhor, mas Jon Lord também fez melhor depois do Concerto.

Quinto, porque embora não tenha sido o primeiro membro do Deep Purple que conheci pessoalmente, nem o primeiro que entrevistei, Lord foi o primeiro que eu entrevistei pessoalmente (saiu até no site dele). E tenho o vídeo para provar.



Nessa entrevista, para a MTV, brinquei: "vida boa, essa sua; você toca o que quer, faz os shows que quer, viaja pelo mundo e ainda pode voltar a tocar com seus amigos quando dá". E ele: "você acaba de fazer minha vida parecer maravilhosa".

Jon Lord, meu mestre, lhe desejo muito mais anos de uma vida maravilhosa.

(O que eu acho que é velho hoje? Talvez minha avó, que tem 92 anos. Mas ainda posso mudar de ideia. Tudo depende da longevidade dos membros do Deep Purple.)

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Jon Lord agora vai ser DOUTOR Jon Lord


A Universidade de Leicester, cidade onde Jon Lord nasceu, vai dar a ele o título honorário de Doutor em Música. A cerimônia vai ser no dia 15 de julho, uma sexta-feira.

A justificativa do título é a seguinte:

Jon Lord, Leicester-born jazz and rhythm and blues musician, who played with the Bill Ashton Combo, Red Blood and his Bluesicians, the Artwoods, The Flowerpot Men and Deep Purple. He now pursues a solo career and retains a deep affection for Leicester, having first had piano lessons just off University Road. (DMus – Doctor of Music)

A concessão do título vem exatamente um dia antes do show do Deep Purple no Festival de Jazz de Montreux, na comemoração dos 40 anos do incêndio do Grand Hotel. Jon Lord até hoje não prometeu se vai ou não. Eu gostaria que fosse. Mas ele tem um ótimo motivo pra não ir, se não for.

(Pessoalmente, tenho um ótimo motivo pra não ir: o ingresso mais barato sai por 370 euros.)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

43 anos atrás

Em 20 de abril de 1968, o Deep Purple estreava oficialmente em Tastrup, na Dinamarca. O vídeo abaixo, com "Help", foi feito possivelmente em Copenhague, dias depois. Esse e outros vídeos das quatro primeiras formações do Deep Purple saiu no DVD "History, Hits & Highlights".



Parêntese: em suas primeiras encarnações, o Deep Purple sempre iniciava suas turnês pela Escandinávia. Todas as bandas, aliás. Sabe por quê? Porque antes da internet ficava longe demais de tudo e a imprensa inteira era escrita em línguas esquisitas. Se fosse fiasco, não queimava o filme em casa.

Segundo o livro "Smoke on the Water - The Deep Purple Story", de Dave Thompson, a banda não sabia se conseguiria chegar ao lugar do show.

"Desembarcando da balsa em Esbjerg, sob o peso de um palco inteiro de equipamentos novos em folha, os membros da banda e dois roadies contratados para esta viagem inaugural ficaram lívidos ao descobrir que seus vistos de trabalho não estavam corretos. Embora o grupo tenha perdido não mais do que duas horas antes de a situação ser resolvida, ainda havia muito tempo para cada um dos músicos ficar cheio de visões sobre deportação peremptória - ou coisa pior."

Já no livro "Black Knight", uma biografia de Ritchie Blackmore, o autor Jerry Bloom conseguiu entrevistas com Nick Simper e Ian Paice, mais o roadie Ian Hansford. Segundo o roadie, Jon Lord ficava dizendo: "Não vou entrar naquele Land Rover com alsacianos!". Ian Paice lembra que o grupo foi levado das docas à delegacia numa van usada pra transportar cachorros da polícia. "Quando eu saí, estava com um cheiro meio canino". Nick Simper dizia que já na balsa, antes de ir pra delegacia, Blackmore estava tão apavorado que não lembrava como é que começava "Hush". O segredo pra vencer o branco: duas doses de uísque.

Só às 5 da tarde, pouquinho antes do show, é que eles conseguiram chegar ao hotel.

O primeiro show do Deep Purple teve um público de 500 pessoas. Parece pouco para uma banda desse calibre, mas lembre que era uma banda que estava começando, estava num país estrangeiro e o show era num saguão de escola. O show, de 45 minutos, começou com "And The Address" (instrumental, própria), depois umas covers - "Hush" (Joe South), "I'm So Glad" (Skip James/Cream), "Help" (Beatles), "Paint it Black" (Rolling Stones) e "Hey Joe" (Jimi Hendrix). Também teve a estreia de "Mandrake Root".

Ou seja: em sua primeira aparição, o Deep Purple era praticamente uma banda de covers variados, pouco diferente dessas que tocam nos bares de rock de São Paulo nos finais de semana. A diferença é que, como o promotor era o mesmo que levou os Artwoods à Escandinávia, a banda foi anunciada como "a nova banda de Jon Lord, ex-Artwoods".

Como a plateia reclamou do barulho, Lord pegou o microfone pra explicar. Jerry Bloom pega uma frase dele:

"Eu sei que tocamos alto no palco, mas precisa ser assim pra atingir a juventude de hoje. Não tocamos alto só por tocar alto. É que temos que garantir que o pessoal não pense que está num chá das cinco, porque senão eles perdem o interesse."

Logo depois dessa turnê, o Deep Purple gravou seu primeiro disco: "Shades of Deep Purple". O resto, como dizem, é história.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Parabéns a Ritchie Blackmore

Ritchie Blackmore, meu guitarrista favorito, faz 66 anos hoje. Ainda quando este blog estava ativo, ele casou de papel-passado com a Candice Night, sua parceira há tantos anos. No recesso, teve uma filha, chamada Autumn, e lançou o disco "Autumn Sky".

Blackmore é um sujeito difícil. Genial e genioso em medidas semelhantes. Mas nos últimos anos, com Candice, o homem que explodia amplificadores por farra virou um carneirinho. No último vídeo que ele fez com Blackmore's Night, ele é coadjuvante. Acho triste a coadjuvância, mas fico feliz que Blackmore esteja bem. O que todos nós queremos é chegar aos 66 tranquilos e felizes.

Ontem, saiu a lista das faixas que o ator William Shatner (o comandante Kirk de Star Trek, ou o coroa desbocado de "Shit my dad says") vai gravar em um disco de covers cheio de convidados especiais. É a trilha sonora de um filme sobre viagem no espaço. Ele chamou dois ex-membros do Deep Purple, Ritchie Blackmore e Ian Paice. Infelizmente, porém, eles não tocam juntos. Paice faz a bateria de "Space Truckin'" - provavelmente a mesma que me fez achar que o disco Machine Head estava arranhado na primeira vez em que o ouvi - e Blackmore toca com Alan Parsons na faixa "Space Oddity". Eu adoraria ouvir uma nova colaboração entre os dois, mas acho que não rola. Nem a maturidade faz milagres.

Meus parabéns ao mestre, de qualquer maneira. Abaixo, alguns vídeos para você.





sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Yes, they can

Conhece o Obamicon? Ele faz ícones com qualquer foto, baseado naquele photoshop clássico do Obama em vermelho e azul. Apresento-lhes minha banda favorita.









domingo, 16 de novembro de 2008

Quinze anos depois

Nesta segunda, completam-se 15 anos do último show do Blackmore no Deep Purple. Ele ocorreu no Icehall, em Helsinki (Finlândia). Naquele ponto, há muito tempo não rolavam mais as colaborações criativas que ganharam a imaginação dos fãs duas décadas antes em duelos como este:


Em 1993, nos 25 anos do Deep Purple, Blackmore topou a contragosto reformar a Mk2 por uma segunda vez - o que significava voltar a dividir o palco com seu ex-melhor amigo Ian Gillan, com quem não se bicava direito desde os anos 70. Cinco anos antes, Blackmore havia proposto e os outros membros do Purple haviam topado demitir o vocalista, que andava abusando da cachaça e não tinha mais o mesmo controle nem da voz, nem da memória. Só que a formação que viera depois, com Joe Lynn Turner, não havia agradado nem à crítica e nem ao público.

Com o jubileu de prata a caminho, basicamente foi uma imposição da gravadora trazer o Gillan de volta, pra um disco e uma turnê. Para fazer o disco, gravado entre novembro de 1992 e fevereiro de 1993, o Purple puxou da gaveta algumas faixas compostas com Turner e com o instrumental já pré-gravado. Não encaixaram 100% na voz do Gillan, mas o disco saiu com algumas coisas bem boas, embora sempre com um leve travo de amargor. Blackmore, por exemplo, não gostou do jeito como ficou "Time to Kill". Segundo a biografia do Gillan, ele teria dito:

    "Não gostei da letra, não gostei do tom e não gostei do título! Quer dizer, a palavra 'kill' (matar) não fecha exatamente com aquele acorde, fecha? Pra ser honesto, eu preferia que você usasse a letra que o Joe escreveu."

No DVD "Highway Star", que comemora os 40 anos de carreira do Gillan, Roger Glover diz: "foi o melhor disco que pudemos fazer naquele momento". É uma boa definição dele.

Aí, viria a turnê. Originalmente, ela começaria no final de julho de 1993, nos Estados Unidos. Mas 24 shows, nos EUA e no Canadá, foram cancelados. A turnê só começou em 24 de setembro, em Roma. Empolgou os fãs por incluir novo material velho praticamente inédito no palco, como "Anyone's Daughter". Mas os ensaios eram tensos, como se pode ver neste vídeo de 21 de setembro:



A caravana purpleana passaria pela Alemanha, França, Suíça, Espanha e Áustria sem notícias de stress visível. Mas, ao encerrar-se o show em Praga, no dia 30 de outubro - 37 dias e 28 shows após o início da turnê -, Blackmore pediu que Colin Hart entregasse aos colegas uma carta em que apresentava os termos de sua demissão. Ele teria rasgado seu passaporte para não ir tocar no Japão após a turnê européia. Seu último show seria duas semanas depois, em 17 de novembro. Nada de novo no Purple: Gillan já fizera isso em 1973, dando seis meses de antecedência. Jon Lord o faria mais tarde, em termos muito mais amigáveis.

Quando houve o incidente da água, em 9 de novembro, apenas os fãs não sabiam que o Blackmore já tinha pedido o boné. Sabendo disso, e revendo o gestual e as trocas de olhares entre Gillan e Glover no vídeo de "Come Hell or High Water", fica claro que eles comentavam um com o outro que o homem de preto estava especialmente chato porque já havia ligado o foda-se.

Como o primeiro show no Japão seria em 2 de dezembro, a banda teria menos de um mês para achar e treinar um substituto. Teria de ser um excelente guitarrista, não apenas para dar conta do repertório (quase 50% formado por material novo ou raro), mas também pra ser aceito pelos fãs no lugar do gênio que criou todos os riffs do Purple. Udo, o promotor japonês, propôs Joe Satriani - e o fã do Surfista Prateado topou. Nesse meio tempo, enviaram uma fita do show de Stuttgart, considerado um dos melhores da turnê (lançado comercialmente há alguns anos), para que ele fosse ensaiando.

No dia 14, um domingo, a BBC anunciou que Blackmore deixaria a banda. Então, Helsinki era uma data obrigatória para todos os fãs que pudessem ir. Antes do show, Glover deu uma entrevista a uma revista finlandesa confirmando a saída do guitarrista.

Naquela noite, Blackmore subiu ao palco e tocou soberbamente bem (aqui estão os links para baixar o boot inteiro). Estava até simpático. Conta o Rasmus Heide sobre o duelo de guitarra e teclado em Speed King:

    um ocupado Blackmore tentava sem sucesso alcançar seu velho parceiro Jon Lord em uma complexa caçada de guitarra e órgão. O senso de humor de Blackmore emergiu quando, depois de um tempo, ele desistiu e pôs as mãos nos quadris, brincando como quem diz: "quem você pensa que é?"

Ao sair do show, Blackmore foi para o hotel fazendo mistério. Uma rádio finlandesa fez uma reportagem a respeito, na hora, mas eu não entendi nada do que eles disseram exceto a única frase que Blackmore teria dito aos repórteres: "Have a nice day". Gillan, ao sair do Icehall, anunciou que a turnê continuaria com Satriani.

Na manhã seguinte, Blackmore partiu de volta para casa e Gillan deu uma entrevista à TV finlandesa. Ele anuncia a saída do guitarrista e responde a uma provocação do repórter dizendo que topou a segunda reunião porque seu empresário ameaçou pedir demissão se ele não topasse. E reclama do agora ex-colega: "Não tem muita fricção. Blackmore é o problema. Ele é muito difícil, não escuta ninguém, quer tudo do jeito dele, não deixa ninguém dar contribuições à música, cancela turnês no último minuto. Essas coisas são difíceis, e eu não gosto disso. O único motivo pelo qual o Deep Purple pára de tempos em tempos é essa dificuldade dele." Gillan também promete que o Deep Purple continuaria rolando até que o óleo acabasse.

O programa também mostra o Blackmore faceiro, fazendo seu último solo de Highway Star com o Purple:


Depois disso, Ritchie primeiro falou em gravar um disco só seu. Retirou-se para sua casa em Long Island e jogava futebol todo domingo às três da tarde num parque da cidade. Até o final de 1994, porém, Blackmore tirou um tempo pra si próprio.

Ex-colegas se aproximaram. Glenn Hughes convidou Blackmore para fazer uns solos em shows seus. Não rolou. Com o fim da parceria entre David Coverdale e Jimmy Page, chegou-se a anunciar uma participação do Blackmore em shows do Whitesnake, e até gravações dele com Coverdale. Os shows nunca rolaram. Se gravações houve, nunca apareceram. Nem o disco solo chegou a sair.

No final de 1994, era certo que sairia uma nova formação do Rainbow, com o vocalista Doogie White. Em 1995, saiu o álbum "Stranger in Us All", com participações especiais da então desconhecida namorada do Blackmore. Antes de iniciar a turnê, a banda já tinha mudado de baterista. O primeiro show foi em 30 de setembro. Sabe onde? Helsinki, na Finlândia. A turnê chegou a passar pelo Brasil, em julho de 1996 - começando pelo Opinião, em Porto Alegre, em 2 de julho, e seguindo para mais quatro datas. O show anunciado no Rio foi cancelado.

Tal como acontecera com a formação do Turner, menos de um mês após os shows no Brasil aquela formação do Rainbow tinha terminado. Mas naquele ponto já se falava no tal projeto medieval do Blackmore. O nome seria "Medieval Moons And Dances". A primeira menção que vi a Blackmore's Night foi no final de 1997, quando ele deu uma entrevista à Guitar Player brasileira.

Fez bem ao ânimo de Blackmore sair do Deep Purple. Fez bem ao ânimo do Deep Purple a saída do Blackmore. Mas sempre fica um travo no fundo da garganta pensar que nunca mais veremos Blackmore e Gillan dividindo o palco criativamente. Mas, também, nunca mais veremos o Pelé fazendo gols pela Seleção. Vivamos com isso. O importante é nossos mestres estarem felizes e compondo.