MK2


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A segunda formação do Deep Purple foi tão marcante que foi a única a voltar duas vezes: em 1984 (Mk2a), na primeira grande volta de uma banda marcante que havia acabado, e em 1993 (Mk2b), para comemorar os 25 anos do grupo.

Em 1969, Blackmore e Lord estavam descontentes com a sonoridade do grupo. Ambos queriam experimentar mais com volume e eletricidade, mas consideravam que a voz de Evans não acompanharia as mudanças. O terceiro disco do grupo, chamado Deep Purple , reflete a tensão de uma banda que tinha os pés no rock inglês dos anos 60 e a cabeça em algo que ainda estava por ser criado. Sob convite do baterista Mick Underwood, em 24 de junho, Blackmore e Lord foram conferir uma apresentação do grupo Episode Six , de cujo vocalista (Ian Gillan) o ex-colega de Blackmore havia falado muito bem. Os dois membros do Deep Purple chegaram a subir ao palco para uma jam. Começou aí o mês mais tenso e criativamente decisivo em toda a carreira do Deep Purple.

Blackmore, Lord e Paice combinaram um teste com Ian Gillan, que a princípio estava meio cabreiro.

"Desde o primeiro momento, os caras vieram com força; quer dizer, eles pareciam muito 'ricos', confiantes, bem-vestidos, com aquele cabelo bufante. Fiquei meio assim de ir ao encontro deles, e me preparei pegando emprestadas as melhores roupas de Roger Glover pra usar com algumas minhas, e comprei dez cigarros pra me ajudar a acalmar os nervos e pra oferecer pros outros, num gesto de amizade. Saí só com o dinheiro contado pra comprar os cigarros e voltar pra casa, e também estava com uma gripe do cão e o bolso cheio de lenços de papel. Aí nos encontramos, e minha primeira impressão daqueles caras estava certa. Tentei causar boa impressão oferecendo cigarros, e os lenços usados e úmidos caíram do meu bolso. Com a garganta e o nariz entupidos, eu me baixei pra juntar a bagunça toda, e todo mundo me olhando. Eu estava num momento ridículo, e mais adiante eu diria que me senti menor que uma formiga, mais sujo que um pedaço de merda de cachorro e querendo ser mais invisível que a menor parte do universo. Mas eles foram gente finíssima e me ajudaram na organização. Falamos de rock'n'roll e me ofereceram o emprego", diz o Gillan em sua biografia.

O ensaio seria no estúdio De Lane Lea, em Kingsway Street - cujas instalações mais tarde seriam compradas por Ian Gillan pra virar o Kingsway Studio. O cantor levou seu amigo Roger Glover, baixista também do Episode Six. Juntos, os cinco gravaram o single Hallellujah, no dia 7 de junho. Aprovados os dois, criou-se quase um problema político. Gillan foi falar com Gloria Bristow, a empresária do E6, avisando que iria trocar de emprego mas cumpriria as últimas datas do calendário do grupo original. Nick Simper e Rod Evans só ficaram sabendo que estavam demitidos no dia 9 de julho.

Assim, durante pouco mais de um mês, a partir do início de junho, a Mk2 era uma formação clandestina. Eles ensaiavam de dia no Hanwell Community Centre, onde Charles Chaplin estudou. Foi lá que esboçaram Kneel and Pray (mais tarde Speed King) e Child in Time (Jon Lord brincava tocando "Bombay Calling", do It's a Beautiful Day, e o Gillan começou a gritar em cima). À noite, eles se dividiam: Blackmore, Lord e Paice pra um lado, tocando com a Mk1, e Gillan e Glover pro outro, fazendo os shows finais do Episode Six. No dia 10 de junho, exatamente um mês antes da estréia ainda calhou de as duas bandas tocarem no mesmo festival, em Cambridge. Mesmo depois de a Mk2 estrear nos palcos, Gillan e Glover ainda passariam duas semanas intercalando shows entre as duas bandas.

Em 10 de julho de 1969, num barzinho apertado chamado Speakeasy, na Margaret Street, em Londres, Ian Gillan e Roger Glover estreavam no Deep Purple. Foi o começo público da fase mais criativa da história da banda. E até hoje o Gillan diz que foi o melhor show da vida dele, embora tivesse só umas 20 pessoas. O lugar hoje é um salão de cabeleireira.

A primeira música que eles gravaram foi Hallellujah, em 7 de junho. Ela também foi o tema do primeiro vídeo gravado por eles, em 2 de agosto, na TV alemã:



Os projetos que já vinham ocorrendo, porém, continuaram. O terceiro disco tinha acabado de ser lançado na Inglaterra quando a nova formação, com sua proposta sonora mais ousada, estreou. Jon Lord também estava finalizando seu Concerto for Group & Orchestra , que seria apresentado no Royal Albert Hall, com a Royal Philharmonic Orchestra, no dia 24 de setembro. O trabalho mostrava um novo tipo de composição, idealizado por Jon Lord. Ele unia as linguagens suas duas paixões musicais, a música erudita e o rock.

Naquele dia, também, os ingleses de todas as classes sociais conheceram Child in Time, composta ainda em Hanwell. A composição acabou sendo uma vitrine que mostra tudo o que a nova formação trazia de novo em relação à anterior: mudanças de ritmo, solos poderosos, gritos de banshee. Com o passar do tempo, a canção se tornou a glória e a maldição de Ian Gillan, que atribui ao esforço feito para atingir seus agudos algumas idas ao hospital.


O novo Deep Purple era elétrico e explosivo, e isso ficaria muito claro no primeiro disco da nova formação - In Rock , lançado em abril de 1970. Os ingleses puderam conhecer faixa por faixa do novo disco via BBC durante os vários meses que levaram ao lançamento. Conheceram inclusive faixas inéditas, como Jam Stew, e uma versão primitiva de Speed King chamada Kneel and Pray, com uma letra completamente diferente e muito mais maliciosa do que a conhecida e cantada até hoje.


Naquele ano, eles ainda tocavam ao vivo três faixas da Mk1: "Hush", "Mandrake Root" e "Wring That Neck". Todas elas adaptadas ao novo estilo da banda, como aqui:


O segundo disco da Mk2 foi Fireball , que mantém a eletricidade mas envereda por um caminho mais experimental. Até um country ("Anyone's Daughter") o disco inclui, ao lado de longos instrumentais como os de "Fools" e rocks mais próximos dos que havia no disco anterior, como "Strange Kind of Woman". Os shows da turnê de 1971, disponíveis apenas em gravações piratas, mostram uma banda mais madura e mais ousada. É nessa turnê que Ian Gillan começa a fazer duelos de sua voz com a guitarra de Blackmore, por exemplo.


O passo seguinte na experimentação do Deep Purple seria gravar um disco de estúdio feito nas mesmas condições de uma apresentação ao vivo. Todos juntos, num mesmo ambiente, criando e gravando juntos como nas longas jams instrumentais que eles faziam no palco. Eles já tinham algumas músicas quase prontas: "Highway Star" começou a ser criada dentro de um ônibus, quando um jornalista perguntou como eles criavam suas músicas. Blackmore disse: "assim", e começou a tocar um riff agitado. Gillan entrou na farra e começou a improvisar uma letra: "We're on the road, we're on the road, we're a rock'n'roll ba-and!". Em setembro, a primeira versão do que seria Highway Star já estava começando a ser experimentada no palco e no programa de TV alemão Beat Club. É dessa apresentação que vem o clipe de Highway Star em que Blackmore usa um chapéu de bruxo e Gillan balbucia palavras sobre Mickey Mouse e Steve McQuinn.


Em dezembro de 1971, eles haviam achado o local certo para criar e gravar esse disco: Montreux, na Suíça, onde até hoje ocorre um famoso festival de jazz. O melhor lugar para gravar seria o grande cassino da cidade, onde tradicionalmente havia apresentações musicais. O cassino ainda não estava liberado para o Deep Purple quando eles chegaram - faltava uma última apresentação, de Frank Zappa, para encerrar a temporada. O grupo, então, foi assistir ao show.

Zappa sempre foi um inovador do rock, e naquela apresentação em especial ele usava um sintetizador de última geração. No meio do show, alguém põe fogo no cassino. A música pára. Zappa grita: "FOGO! Arthur Brown, em pessoa!" e orienta os presentes a deixar o cassino calmamente. Por incrível que pareça, EXISTE áudio gravado desse show:


Em entrevistas, Roger Glover conta que todos realmente estavam calmos - o suficiente para que ele próprio ainda pudesse dar uma olhada no sintetizador antes de sair do prédio.

O grupo foi transferido para o Grande Hotel de Montreux. No inverno, ele estava vazio, era frio e todos os móveis estavam guardados. Eles estacionaram do lado de fora a unidade móvel de gravação dos Rolling Stones, puxaram alguns fios, instalaram confortavelmente seus instrumentos nos corredores do hotel e começaram a ensaiar. O resultado é que até hoje todos os shows do Deep Purple contêm ao menos quatro das sete músicas do disco Machine Head . A história inteira da gravação é contada em poucas palavras na música "Smoke on the Water", a última a ser gravada no disco.

O ano de 1972 é movimentadíssimo, e nele o Deep Purple chegou pela primeira vez ao Japão, onde foi gravado seu mais famoso disco ao vivo, Made in Japan . Na Itália, o grupo também preparava a gravação de Who Do We Think We Are. O ritmo de trabalho da banda, porém, custou caro a eles. Por diversas vezes, membros do grupo ficaram doentes. Randy California chegou a substituir Blackmore em um show, e Roger Glover substituiu Gillan em outro. Os relacionamentos entre os membros - e especialmente entre Gillan e Blackmore - não iam bem também. Em dezembro, Gillan entregou seu pedido de demissão, avisando que deixaria o grupo no final de junho de 1973, dando aos empresários e aos colegas seis meses para decidir o que fazer do grupo. A letra de "Smooth Dancer", desse disco, é cheia de críticas veladas a Ritchie Blackmore.


Em 29 de junho de 1973, na segunda viagem do grupo ao Japão e após um show impecável, em que Jon Lord incluiu o "Parabéns a você" para Paice em seu solo de teclado (era o aniversário do baterista), Ian Gillan volta ao palco e avisa que seria o último show do Deep Purple. Durante o show, não havia nenhum outro sinal de desgaste. Em retrospecto, o silêncio de Gillan na hora de cantar o verso "no matter what we get out of this" ("não importa o que possamos tirar disso") em "Smoke on the Water" podia indicar que tudo o que ele poderia tirar daquilo já havia acabado. Glover também deixou o grupo, contra sua vontade, passando a se dedicar à produção, no departamento artístico da Purple Records - a gravadora do grupo.