domingo, 30 de abril de 2006

Raridade

Apresento-lhes... Ritchie Blackmore.



Sim, ele é o rapaz mais empolgado à esquerda. Isso é em 1963, com os Outlaws.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Desacorrente sua cuca

Acabo de receber o Gillan's Inn, o disco que comemora os 40 anos de carreira do mestre Ian Gillan, com um bilhetinho de cumprimentos. A nova versão de Trashed está a todo volume nos meus ouvidos exatamente neste instante. Melhor do que o original, assim como Hang Me Out to Dry e Unchain your Brain. When a Blind Man Cries ficou bem pessoal, intimista mesmo.

Com o perdão da má palavra, pau no cu de quem diz que o Gillan não canta mais nada. Ele evita gritar como gritava aos 20 anos (embora dê um grito gillanesco em "No Worries"), o que é saudável pra um senhor de 60, mas está cantando melhor do que nunca. Tem um controle muito maior do que faz com a voz e da entonação que dá às palavras. Musicalmente, ele recria as composições do passado de um jeito muito maduro. When a Blind Man Cries mostra bem isso. É diferente do original, mas de um jeito surpreendente, com o Jon Lord no teclado e o Jeff Healey (que é cego como o título da música) na slide guitar. O Gillan saboreia mais as palavras.

Pessoalmente não gostei de Smoke on the Water, achei a guitarra do riff muito crua e o eco da voz muito artificial, muito Rita Lee. (Só curti o coro cantando o refrão e os dois solos.) Mas todo o resto está fabuloso. Do que ouvi até agora, eu fiquei impressionadíssimo com todas as faixas. Algumas, como Hang Me Out to Dry e Trashed, ficaram melhor do que o original. E Loving on Borrowed Time está de arrepiar a espinha.

terça-feira, 18 de abril de 2006

meu maestro soberano foi Antonio Brasileiro

Eu sei que muitos de vocês não devem ser fãs do Tom Jobim. Mas ele tinha algumas idéias muito interessantes sobre a música. Pensem em Deep Purple enquanto lêem:

"Um [sintetizador] DX7 reproduz quase perfeitamente o som de qualquer instrumento. Mas não será jamais o instrumento. Daí que a música que toca no rádio é chata, toca na TV é chata, aqui ou em qualquer parte do mundo: é pasteurizada, repetitiva, sempre igual, sem imaginação. Chata. Hoje, no Brasil, para ser músico, a primeira coisa que você tem de fazer é arranjar um contrabandista que lhe traga estes teclados todos. Isto é revolucionário? Não acho. Beethoven ainda é mais revolucionário do que todas estas novidades. Para mim, a música reflete os movimentos da alma: aquele achado feliz, o sair de uma tonalidade e encontrar um caminho novo para chegar a outra... enquanto se raciocina em termos de decibelagem."

TOM JOBIM, em entrevista ao O Globo em 1987

"Música é um negócio que já é difícil de você falar sobre. Falar sobre música é difícil. Desde o Wagner é que eles estão falando se o robe de chambre do Wagner é púrpura ou é roxo, não sei o quê. Umas conversas que não tem nada a ver com a música. E depois o cara acaba falando mal do próprio compositor, diz que ele é aquilo, aponta defeitos físicos. Ora, a vida de um compositor não é isso absolutamente, né. Eles estão interessados em apontar defeitos e coisa e tal. E dizer que isso é crítica musical. Nem por um instante eles falam de música, nunca."

"Nós só conhecemos as músicas editadas, as músicas inéditas nós não conhecemos. Eu conheço Beethoven, Ravel, Bach, Charlie Parker, George Gershwin, mas são músicas editadas, né. E às vezes eles estão esperando que seja tudo inédito. Perguntaram ao Baden Powell: 'Escuta, o seu novo CD tem músicas inéditas.' Ele disse: 'São dezesseis inéditas de sucesso.' Bem, aqui também você faz a música um ano atrás, dois anos atrás, três, dez anos atrás, e (dizem) 'Música velha!' 'Ih, essa música tava na novela do ano passado ("Querida"), é uma coisa antiguíssima.' É
uma música de uma ano, quer dizer, é um neném. Eu toco música aí nesse piano de trezentos anos."

"A grande coisa do revolucionário do moderno é que ele vira clássico. Como Debussy virou um clássico. O Stravinsky foi dar uma conferência em Harvard, ele já estava meio velho, e ele chegou lá, tinham aqueles alunos jovens. (Um deles disse) 'Maestro, o senhor fez uma revolução completa na música'. Ele pega um objeto na mesa (Tom pega um objeto na mesa) e disse: Ólha, meu filho, uma revolução completa é isso. (girando o objeto em 360 graus) Porque se você fizer meia revolução, aí fica tudo de cabeça pra baixo, é o pau-de-arara. A revolução completa são 360 graus, volta tudo para o mesmo lugar! O cara vai pensar que vai revolucionar botando de ponta-cabeça. Aí fica tudo ao contrário."

"Eu não defino linhas de fronteira entre a música popular e a música erudita. Inclusive Chopin, Villa-Lobos, está cheio de temas populares dentro da música erudita. Essa divisão é falsa, não leva a nada também. Certas pessoas gostam de dar nome às coisas. E dar nome às coisas impede a compreensão. Eu chamo Maria de Maria e aí penso que conheço Maria. Mas Maria é uma outra coisa. É essa coisa de fazer enciclopédia, botar todos os nomezinhos lá. Quando aparecer um nome novo, fazer mais um volume pra completar a teoria. Catalogar, né."

"Mas porque essa obrigação de compor sempre? Eu nunca entendi isso bem. E as músicas inéditas, eu vou mantê-las inéditas pra que ninguém possa saber. Ninguém possa achar nada. Senão eles acabam pondo as músicas obscenas, os hinos do clube de futebol, acabam botando tudo, fazendo disco, você sabe. Os poemas eróticos do Drummond, por exemplo, eu não sei se ele gostaria... Não sei, duvido. E depois só se vê bem com o coração. O que acontece é que fica esse negócio de 'Olha lá ele! Tá com uma barriga! A roupa...O chapéu tem uma aba curta!' Não adianta. O robe de chambre do Wagner se era púrpura ou se era roxo. Fica exatamente o que não é, o que não interessa."


IDEM, em sua última entrevista, de novembro de 1994

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Sobre Tommy Bolin

Pra não dizerem que abandonei o Purpendicular, colo aqui um texto que escrevi na comunidade Deep Purple Brasil, do Orkut:

O Bolin era um grande guitarrista que se destruiu cedo demais. Mas o Deep Purple não acabou por causa dele, em si - acabou porque chegou ao topo em 1973/74. Ficou grande demais. Perceba: em cinco anos, a banda passou de pequenos clubes a uma platéia do tamanho absurdo de California Jam. Isso, grana e ego têm tudo a ver.

Os "novos" membros - especialmente o Hughes e o Bolin - eram moleques talentosos de vinte e muito poucos anos que de repente estavam tocando numa das maiores bandas do mundo, uma máquina de chamar dinheiro, mulher e fama. Se o cara não tem o pé MUITO no chão, ele perde o equilíbrio. Imagina o contexto da banda na época com isso.

O Bolin e o Hughes, logo de cara, ficaram amicíssimos de química. O Bolin deu no que deu. O Hughes chegou perto. Só nos últimos 15 anos é que ele conseguiu se livrar de vez das drogas. O Coverdale era gordinho, aí os produtores deram uns remédios pra ele emagrecer, que davam barato. O Blackmore virou estrela chiliquenta nessa fase. O Paice pegava o avião Starship 1, caríssimo, que todas as bandas usavam, pra ir jantar na Califórnia se desse na telha (no caminho, ficava vendo filme pornô). O Jon Lord roubou a namorada do Hughes, irmã gêmea da então namorada do Paice. Ambas hoje são as respectivas mães dos filhos dos dois tiozinhos, mas o Hughes nunca superou isso (não faz dois anos que eu li uma entrevista em que ele se queixava de "wife-swapping" nessa fase do Purple).

O Bolin tinha um agravante: baixa auto-estima. Não importa que fosse um gênio da guitarra (ouça o Spectrum, do Billy Cobham) e fosse comparado ao Hendrix - auto-estima é foda e sem razão. Exatamente por causa dessa genialidade é que ele foi chamado por duas grandes bandas pra substituir seus guitarristas: primeiro a James Gang, depois o Deep Purple. Mas ele não suportava ser comparado pelos fãs. No Purple, ele até xingou gente no palco. Quando o Deep Purple acabou, oito meses antes da morte do Bolin, ele queria mais era fazer projetos-solo. Coisa que não deixa de ser muito mais segura do que encarar as multidões que seguiam o Purple.

É uma fase deprê, mas de uma complexidade humana única. Canso de escutar os shows, mas não de ler sobre essa época. Rendia um filmaço.

(Cá pra nós: em 1975, após a saída do Blackmore, o Deep Purple não tinha como NÃO acabar em muito pouco tempo. Em 1994, o Blackmore contou com isso e quebrou a cara. O que mudou em 19 anos? Todos os quatro remanescentes, mais o substituto, eram muito maduros e não corriam mais o perigo de ficarem embriagados com o sucesso.)

quarta-feira, 5 de abril de 2006

O mestre no estúdio

Que tal o Ian Gillan no estúdio gravando Bluesy Blue Sea pro Gillan's Inn? Não viu? Tá aqui.