terça-feira, 25 de outubro de 2005

Setlist mexicano

Ontem, no México:

1 Fireball
2 Strange Kind of Woman
3 Wrong man
4 Kiss Tomorrow goodbye
5 Demon´s eye
6 Rapture of the deep
7 Contact lost (incluye partes de somebody stole my guitar)
8 Don Airey solo (jarabe tapatio, star wars, 2001 space odissey)
9 Perfect Strangers
10 Intro- Highway star
11 Space Trucking
12 Smoke

Encore

13 Lazy
14 Hush (incluye solo de Ian Paice)
15 Black nite (incluye solo de Roger Glover)

And the Address

Nick Simper, o primeiro baixista do Deep Purple, abriu seu próprio site. Deleitem-se!

sábado, 22 de outubro de 2005

Meu time de futebol favorito

Eu sempre disse que acompanho o Deep Purple com o mesmo interesse com que qualquer outro marmanjo acompanha seu time de futebol favorito. Mas esta é a do ano. Na revista Flashback que está nas bancas (com o DVD dos Trapalhões e capa sobre videogames), página 52, está uma das maiores pérolas purpleanas que eu já vi. Rivaliza com a foto do Ian Gillan recebendo o George Harrison com uma meia no pinto, e fica pau a pau com o clipe de Call of the Wild.

É simplesmente uma foto de Ritchie Blackmore, Roger Glover e um grandão bigodudo que eu tenho dúvidas sobre se é o Jon Lord, mais alguns caras, todos com camisetas do Grêmio pra jogar em São Paulo. Isso na turnê de 1991, em que o Turner ("coitado, tem menos voz que a Xuxa", nas sábias palavras de André Forastieri) fez fiasco e o Blackmore bancou a maior prima-donna no palco.


Eu sempre ouvi falar nessa foto. Nunca tinha visto, então achava que non eczistia. Primeiro, porque eu sou colorado - ainda que não praticante. Depois, porque em Porto Alegre, terra do time, eu vi de longe o genioso gênio entrando no Gigantinho pra passar som, e ele não usava camiseta do Grêmio (no Celeiro de Ases, também, seria temerário). Ainda assim, eu tinha dúvidas: no encarte do vinil de Slaves & Masters, o disco que eles estavam promovendo com a turnê, além do instrumento ainda era informada a posição em que cada um deles jogava. Pois.

Além de publicar a foto, o jornalista André Barcinski conta a história do insólito encontro e bate o martelo:

"Ritchie Blackmore é uma das pessoas mais intratáveis e antipáticas que já conheci. (...) [No jogo,] Blackmore comportou-se como uma mistura de Hitler e Eurico Miranda - escolheu os times, as posições de cada um e o lado do campo. (...) Nesse jogo, aconteceu uma coisa inédita no futebol: quando o zagueiro do time adversário deu uma entrada maldosa em Blackmore, foi aplaudido - pelo próprio time de Blackmore!"

Vale a pena desembolsar uns caraminguás pra ler a história na íntegra. Por R$ 29,90 (eu sei, é salgado), o cidadão ainda leva um DVD com os melhores momentos dos Trapalhões. Eu não tenho DVD, então dei uma chorada e paguei R$ 14,95 só pela revista.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

It's Alright - you're safe in my hands

Mestre Ian Gillan deu ontem uma entrevista na rádio 5 da BBC, apresentando trechos de Rapture of the Deep. Ela pode ser ouvida online, clicando nesse link.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Improvisando no palco

Fala Glover:

"Às vezes, um dado solo será de um certo tamanho, e o improviso será daquele tamanho; outras vezes, ele é aberto, e o sinal geralmente vem do solista. Não temos líder no palco, e sempre que há algum erro, ou o que chamamos de colisão de trem, há vários olhares desesperados no palco. Nessas ocasiões, geralmente cabe a mim ou ao Paicey ajeitar a banda.

A gente não costuma ensaiar muito, quanto menos melhor. Colocar na fita o que rola na sua cabeça é um dos grandes mistérios do universo. O melhor conselho que posso dar é não ter um resultado pré-determinado em mente, ou senão você acaba lutando batalhas demais. Esteja aberto ao momento e desfrute dos acidentes e da espontaneidade. Em outras palavras, use o coração e não a cabeça."

sábado, 15 de outubro de 2005

Poetinha superstar

Em 1970, Ian Gillan gravou os vocais de Jesus Cristo no disco conceitual "Jesus Christ Superstar", de Andrew Lloyd Weber, que viraria peça logo a seguir e filme em 1974. Dois anos depois da gravação da obra original, Vinicius de Moraes seria chamado para traduzir as letras para o português. Quer ouvir? Clica aqui. E acompanha as letras assim.

A primeira vez em que ouvi foi numa fita emprestada pela professora responsável pela biblioteca do colégio onde eu estudava no segundo grau. Ela tinha visto a peça na Broadway nos anos 70 e comprado a fita na saída. Aí começamos a comentar sobre a voz do sujeito e coisa e tal... e no fim acabei emprestando uma fita do Deep Purple pra professora (que não conhecia, mas pra minha surpresa até gostou). Era muito legal, porque a gente tinha altos papos sobre literatura - foi sentado em frente à mesa da professora que eu comecei também a ouvir jazz.

Ao gravar a versão original das letras, Ian bolou a forma de cantar ao lado do piano, com Andrew Lloyd Weber e Tim Rice. Mas ficou todo encucado. "Meu único problema era Jesus Cristo. Tendo sido criado como cristão, mas (na época) tendo sido confirmado no paganismo, fiquei intrigado com a ética da coisa. Tim resolveu o problema me dizendo como ver Cristo... não como um ícone religioso, mas como uma figura histórica... e funcionou muito bem."

Acompanhem com atenção as letras originais de JCS. São muito legais. Críticas, mas sem afronta. Modernas, mas mantendo trechos tirados direto da Bíblia. Por mais que eu seja agnóstico, ESSA interpretação de Jesus Cristo é a que eu admiro. O José Saramago fez algo semelhante em "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". Em ambas as histórias, de certa forma, o herói não é o personagem-título, e sim o Judas.

Uma das grandes virtudes que eu sempre achei nas letras de JCS foi a mistura de passagens literais da bíblia - ou pelo menos com um tom e vocabulário solenes o suficiente para terem vindo de lá - com gírias de hippie ("Take this cup away from me/for I don't want to take its poison/ (...) You're far too keen on where and how but not so hot on why"). O Poetinha mantém a métrica perfeita, mas pra isso abusa da gíria.

Vinicius nessa fase era um ripongo velho e safado. A tradução de JCS chegou a ser encenada em teatros paulistas em 1972, com orquestra e tudo mais. A gravação estava perdida (sequer se sabe se chegou a ser lançada comercialmente na época), até que as masters foram encontradas nos porões da gravadora Universal, há quatro anos, e relançadas numa caixa caríssima. Ficaram perdidos no tempo os nomes dos instrumentistas e cantores.

"Heaven on their Minds", o belíssimo petardo com que Judas abre o disco criticando a postura do personagem-título, virou "Céu na Cuca" na tradução do Vinicius. O poetinha toma liberdades tipo dizer "você deu uma de Cristo". No duelo entre os dois personagens principais, ele tascou um "Vai, imbecil! Engrena e vai. Chega de papo! Você já encheu, vai!". (Sim. É a hora em que o Gillan dá seu maior agudo no original.)

Tomei a liberdade de comparar uma estrofe, frase por frase, no original, na tradução do Vinicius e em uma tradução minha (sem métrica e sem rima, mas mais fiel ao original). Vejam só:

a) Listen Jesus I don't like what I see
b) Eu não estou gostando disto, Jesus
c) Olha, Jesus, não estou gostando do que vejo

a) All I ask is that you listen to me
b) Você deu uma de Cristo, Jesus
c) Tudo que eu peço é que você me escute

a) Please remember - I've been your right hand man all along
b) Nem se lembra eu era bom pra tudo, Jesus.
c) Por favor, lembre - eu fui seu braço direito o tempo todo

a) You have set them all on fire
b) Estão todos com a mania
c) Você acendeu o fogo de todos eles

a) They think they've found the new messiah
b) De que você é o Messias
c) Eles acham que descobriram o novo messias

a) And they'll hurt you when they find they're wrong
b) Em que fria você se meteu...
c) E vão feri-lo quando descobrirem que erraram


ERRATA: Foi Carlos Drummond de Andrade quem traduziu as letras do Álbum Branco. A tradução pode ser conferida aqui. Salve mestre Rui Goiaba.

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Prêmio Classic Album

Dia 4 deste mês, o Deep Purple ganhou da revista inglesa Classic Rock o prêmio "Classic Album", por "In Rock". Neste mês, a revista traz uma matéria com os bastidores da gravação do disco. Vou começar a bater nas bancas da Paulista desde agora. Os sites de revistas inglesas são uma bosta.

A foto abaixo mostra os meliantes no local do crime. Estava com saudade do moço da esquerda.



Mais algumas:

1) Os mestres fizeram ontem à noite um show secreto de uma hora e cinco minutos no Hard Rock Café de Londres. Poucas centenas de sortudos assistiram. A novidade no setlist é "Kiss Tomorrow Goodbye". As outras duas músicas do disco novo, "Wrong Man" e "Rapture of the Deep", já estavam no setlist desde o começo de setembro. Este o setlist inteiro:

Fireball
I've Got Your Number
Strange Kind Of Woman
Kiss Tomorrow Goodbye
Rapture Of The Deep
Wrong Man
Lazy
Perfect Strangers
Highway Star
Smoke On The Water


2) Nesta quinta, na rádio 2 da BBC, o Gillan vai apresentar trechos do "Gillan's Inn", o disco que celebra seus 40 anos de carreira com a participação especial de vários amigos, no programa "Masters of Rock". O programa é apresentado pelo Bruce Dickinson, que é um fã do Gillan ("I wanted to scream like a Banshee..."). Deve ir ao ar nesta quinta, às 9 da noite inglesas ou meia-noite brasileira. Quer ouvir pela internet? O link é este.

3) Na notícia do Blabbermouth, também ficamos sabendo que o disco que comemora a carreira do Gillan só sai lá por fevereiro do ano que vem. Antes disso, porém, o Purpendicular deve ter uma cópia (cortesia do mestre).

4) O DVD Live In Concert 72/73, que tem o show de Copenhagen e o de Hofsfra e que foi resenhado na Playboy deste mês, já é disco de ouro na Austrália. Bom, né? Saiu uma notinha sobre ele também na VIP.

5) O Jon Lord está gravando um disco de Natal com a cantora pop norueguesa Maria Arredondo. Sai no final de novembro.

6) A patroa do Blackmore faz uma participação especial em uma balada do próximo CD do Helloween.

DIA DE JOHN PEEL

Dia 13, quinta-feira, o mesmo dia em que o Gillan vai dar entrevista, a BBC vai comemorar o primeiro "Dia de John Peel". Pra quem não sabe, Peel foi o cara na BBC que "descobriu" o Deep Purple. Foi o primeiro a chamá-los ao ar. A emissora botou um baita de um site no ar, homenageando boa parte do que ele fez na carreira.

Entre os recursos do site, já encontrei o programa de duas "Peel Sessions" com o Deep Purple: 18/jun/1968 (a primeira aparição da banda no rádio, com Hush, One More Rainy Day e Help) e 14/jan/1969 (Hey Joe, Hey Bop a Roo Bop, Emmaretta e Wring That Neck). Todas essas músicas já saíram oficialmente no Brasil, nos remasters dos três primeiros discos do Purple e no especialíssimo "Deep Purple - The Early Years".

Também tem uma página especial sobre o Deep Purple, onde fico sabendo que Child in Time esteve entre as mais tocadas de 1976.

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Uma palhinha em vídeo

Tá no ar um vídeo de 30 segundos dos mestres tocando Rapture of the Deep.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

O êxtase das profundidades

O site da Edel colocou no ar uma entrevista com os mestres Gillan e Glover sobre o disco. Algumas pérolas:

1) Gillan fala sobre o título do disco, "Rapture of the Deep" (algo como "êxtase das profundidades")

"É uma expressão criada pelo Jacques Cousteau pra definir o estado confuso em que um mergulhador fica quando desce três atmosferas, o que dá uns 30 metros. Você passa por um sentimento de euforia; dá um efeito fisiológico estranho na sua mente e na sua função mecânica. É um pouco como estar bêbado ou chapado - não que eu já tenha estado assim, claro (risos).

Um fã mandou uma foto: num vilarejo inglês tinha um lago e tinha uma placa dizendo 'Danger - Deep Water' (cuidado - águas profundas) e alguém tinha riscado o 'water' e escrito 'Purple' no lugar. E isso ficou na cabeça da gente, e a expressão 'Rapture of the Deep' descreve muito bem o que eu estava pensando na época: se você está numa condição dessas, começa a pensar nas coisas de um jeito diferente. E tem um grande conteúdo espiritual subjacente às letras de quatro ou cinco músicas, certamente. Não se deve levar literalmente - é uma imagem com palavras."


2) Gillan sobre as rádios de classic rock:

"(A música 'MTV') é na verdade sobre as rádios de classic rock. Cheguei à conclus"ao de que mais acidentes de trânsito são causados por essas rádios do que por dirigir bêbado - porque o pessoal dorme no volante de tanta chatice, porque elas tocam as mesmas músicas antigas o tempo inteiro! E tem outra história por trás dela: o Roger estava dando uma entrevista pra uma rádio de Nova York, durante meia hora, e ele queria falar sobre o disco Bananas, mas as meninas queriam saber coisas velhas e históricas do rock, e no fim da entrevista ela disse: 'Boa sorte com o novo disco, e muito obrigado por ter vindo. E agora, um pouco de Deep Purple, yeah! Smoke on the Water!' - e não tocaram o disco novo. Acho que é uma atitude muito saudável desrespeitar essas coisas e tirar um pouco de sarro delas."

3) A versão do Glover:

"Tradicionalmente, não somos muito bons em escolher singles. Sempre fazemos a escolha errada. (...) De qualquer forma, obviamente nunca tocam nada nosso no rádio, exceto nas estações de classic rock nos Estados Unidos, onde de qualquer jeito só tocam Smoke on the Water. Então, tocar no rádio não é prioridade pra gente - fazer músicas que signifiquem algo para nós é uma prioridade, músicas que ficarão bem ao vivo."

4) Gillan sobre Money Talks:

"Isto se baseia no princípio, acho, de que o dinheiro como moeda corrente é uma ferramenta essencial na civilização. Entretanto, quando o dinheiro se torna uma commodity, ele ganha uma complexidade muito chata. Se as pessoas estão apenas interessadas em usar o dinheiro pra ganhar mais dinheiro, alguém acaba pagando por isso! Então, quando se fala nisso, fala-se sobre corrupção. Quer dizer, não tem nada errado em ganhar dinheiro, não tem nada errado em curtir a vida, mas eu sou contra a ganância e a corrupção que surge quando só se quer acumular riquezas às custas de outras pessoas, e por isso há referências aí sobre ter mais comida no prato do que o necessário e não se preocupar, porque tem guardas na porta. O dinheiro sempre volta pro dinheiro, dinheiro faz dinheiro e cochicha no meu ouvido, ri da minha cara - isso corrompe!"

5) Gillan compara com Bananas:

"Adoro o Bananas. Ele tocou mais do que qualquer outro disco do Deep Purple na história da minha casa e dos meus amigos! Mas foi outra transição, porque foi o primeiro disco feito com Don Airey, e acho que na época a gente o considerava mais como o cara que veio no lugar do Lord. E eu acho que neste novo disco ele pega muito mais forte. Ele deu uma grande contribuição no Bananas, mas acho que sua personalidade emergiu ao longo dos últimos dois anos na estrada, e consequentemente teve o efeito de levantar os outros caras na banda. Isso criou aquele maravilhoso equilíbrio entre o órgão do Airey e a guitarra do Steve Morse. Talvez o disco anterior favorecesse mais a guitarra - este está mais balanceado, acho."

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Ouça trechos do novo disco

Eu sei que tem muita gente boa querendo ouvir o Rapture of the Deep. A Edel Records, gravadora do Deep Purple, botou no ar versões em real audio de todas as músicas. Inteiras e pedacinhos.

Boa audição!

terça-feira, 4 de outubro de 2005

As letras de Rapture of the Deep

O The Highway Star botou no ar as letras do Rapture of the Deep. Tem pérolas assim:

Money goes to money
Yes it always returns
Finds its way back to the big house
Where it lives all alone
Wraithlike silent partners
Operators of the system
Give words of quiet assurance
To an otherwise healthy victim
- Money Talks

It wasn't meant that way
I was only having fun
She looked me in the eye
But the damage was done
I got the vague impression
She was under my thumb
I looked the other way
And I had to succumb
- Girls Like That

I plead not guilty to the charges you've laid out on your desk
I know what you're thinking "Oh yes - this is a DSF"
I think I'm prime ministerial material but I can't lie to you
- Wrong Man

We're all the same but then again we're all quite different in our own peculiar ways
We've come so far and now we're going through another phase
But it's alright
We made it so far
- Rapture of the Deep

How many words we waste
To justify a crime
Compare it to an act of love
That really takes no time
Why not take a moment
Of your time
Inside your mind
- Clearly Quite Absurd

You always sleep with a smile on your face
Much as I want to put myself in your place
Not my business I've got dreams of my own
I try to recall but when I wake up it's gone
- Don't Let Go

I read in the news that the average man
Is uplifted five times a day
I'm confused, I have to confess
My feeling never goes away
I know it's right:
They asked the average man
In a survey across the nation
I can't understand how the average man
Keeps losing his concentration
- Back to Back

Yes I piss in the water and burn down trees
I watch as the creatures fall to their knees
They ain't got a clue as disaster looms
They're too busy choking on toxic fumes
They got no hope and there's no point running
No matter what they do I keep on coming
- Kiss Tomorrow Goodbye

I was driving through the night
Into an endless tunnel of fog
When it dawned upon me something was wrong
Was in a trance, hypnotised, bored beyond belief
I was listening to the same old song
I know every lick, every word, every nuance
I’m on first name terms with the crew
But I’d better get used to this tout du jour
Sure as hell they won’t play anything new

(...)Let’s not talk about MTV
I don’t even want to start
I want to take a look at classic rock radio
We’re talking about the state of the art
- MTV

Mangy old dog scratching in the dust
Burned out Mercedes surrendering to rust
All this stuff was good for something
But here it is now, good for nothing
- Junkyard Blues

For the first precious few it's time to go
What might have been we'll never know
All those bad ideas became the law
Oh yes, we've forgotten what we're looking for
All of you angels it's time to gather your wings
Leave it all behind you won't need any of those things
We're going on through the darkness hand in hand
To step into the future
Before time began
- Before Time Began

sábado, 1 de outubro de 2005

Rapture of the Deep - A Resenha

Finalmente, depois de uma semana ouvindo o disco, sai a resenha do Rapture of the Deep nesta revista eletrônica.

Nas primeiras 24 horas, ouvi o disco meia dúzia de vezes, geralmente sem muito método (trabalhando, tomando banho, comendo, lendo jornal). Esperei mais uns dias pra ouvir de novo, sem os ouvidos estarem viciados. Passei dois dias sem ouvir, depois ouvi uma vez ontem e uma hoje, antes de voltar à resenha.

A primeira ouvida é curiosa. A segunda levanta uma sobrancelha. Na terceira, o fã-nático já se empolgou. De ponta a ponta, é impossível não reconhecer o Deep Purple.

Ian Gillan está cada dia mais Gillan. As letras são ótimas, a voz é muito mais clara do que em The Battle Rages On, por exemplo, e ele até arrisca mais gritos que nos últimos três discos (praticamente em todas as músicas). O baixo do Glover aparece bem e faz toda diferença. Ian Paice não faz o rolo compressor com que estamos acostumados, mas ouça com carinho o feeling da bateria. Don Airey está cada dia mais Jon Lord - e ele mesmo disse que anda brincando mais com o Hammond e estudando o estilo do aposentado mestre. E Steve Morse brilha principalmente na composição como um todo. Desta vez, ele parece estar pegando melhor o jeito de bolar riffs eficientíssimos. Eles só precisam ser mais curtos pra grudarem melhor na cabeça.

Enquanto Bananas começava com um chute na porta (“House of Pain”), este começa com um teclado climático pra só depois de alguns segundos entrar com um riff poderoso de guitarra e baixo (“Money Talks”). Até derruba a porta, mas dá a impressão de ter virado a chave na fechadura antes de chutar. De resto, belo riff, embora meio comprido. Belas pontes, que lembram bastante o clima de coisas do disco Perfect Strangers. A produção está bastante interessante. Tem silêncios densos ao fundo da guitarra/baixo/bateria, especialmente no começo, que lembram MUITO o clima de discos gravados nos anos 70. Destaque absoluto para o dueto do Gillan consigo próprio na ponte - um canta, o outro declama. Poucas vezes ouvi o Gillan tão senhor das entonações de sua voz.

A segunda faixa, “Girls Like That”, começa com uma guitarra que lembra “Summer Song”, do Satriani (que também já foi guitarrista do Deep Purple), sobre uma base de teclado, depois entram devagarinho Paice, Glover e o Hammond do Airey. Aí entra um riff muito purpleano: baixo, guitarra e teclado em uníssono. Preste atenção na malandragem toda do Glover ao fundo enquanto o Gillan canta as estrofes. No solo de teclado, eu fecho os olhos e enxergo um rabinho de cavalo branco na nuca do Airey. Acho que o Morse canta o refrão com o Gillan (parece a mesma voz que canta junto o rap de “Doing It Tonight” no disco anterior).

”Wrong Man” andou sendo tocada na Alemanha, no início do mês. Provavelmente eles a tocarão aqui também. Riff pesadão, chuta a porta, pega legal na espinha, embora seja meio comum. O pano de fundo instrumental do refrão lembra muito o clima de The Battle Rages On. O truque do Steve Morse de esmerilhar as cordas durante o solo é meio manjado, mas ele segura legal o solo. Não acho ruim, gosto - da primeira vez em que ouvi um disco do Purple com ele, arregalei os olhos quando ele fez isso. Mas o Morse é um guitarrista bom demais pra repetir tanto um truque a ponto de ele ficar manjado.

A faixa-título do álbum, “Rapture of the Deep” tem um baixa climão, e nela os mestres mostram tudo o que sabem fazer. Começa com um dueto de guitarra e teclado que lembra muito coisas árabes. Isso se repete por várias vezes ao longo da música. O Don Airey afunda os dedos nas brancas e pretas o tempo inteiro, dando um climão solene à música, tipo “Perfect Strangers”. Sim, o Gillan repete a brincadeira dos últimos dois discos de cantar algo parecido com rap em uma passagem da música, e o Morse repete o truque do solo mais uma vez. A música cresce, fica cada vez mais e mais intensa. Isso ao vivo - e VAI tocar ao vivo - vai ser de ver um marmanjo crescido, gordo e de óculos amassar as pontas do blazer e ranger os dentes, de olhos arregalados. Dá muita margem a solos. E ouve só o Gillan cantando a arabice junto com o teclado e a guitarra, logo antes do solo do Morse.

”Clearly Quite Absurd” é uma baladinha. O título é completamente Gillan (e quem lê o que ele escreve no site dele sabe do que estou falando). Já compararam a guitarrinha que abre essa música com o tema de “Sometimes I Feel Like Screaming”. Parece um pouco. Não muito. Não sou muito fã de baladinhas pop. Acabei entrando numa polêmica sobre essa música, na internet. Tem quem ache que é a melhor balada que o Deep Purple já fez. Eu acho dispensável e fiquei até tentado a comparar com “Love Conquers All”, do infame Slaves & Masters. Tudo por causa dos efeitos que lembram arranjos de cordas ao fundo. Mas achei interessante um efeito que dá um “eco” aos sibilos da voz do Gillan. Parece até que é outra letra por trás. Prato cheio para os teóricos da conspiração.

Se você terminou a música anterior meio deprê, não esquente. ”Don’t Let Go” te faz abrir um sorriso. A voz do Gillan está claríssima, é um passeio pra ele. Há sete anos, quando resenhei Abandon pra uma disciplina da faculdade, escrevi que a gente ouve a guitarra do Morse sorrindo quando ele toca. É exatamente essa a impressão que dá. Puxa um pouco pro lado do blues, mas o Glover garante o peso. O Morse não repete aquele truque. Airey, ao fundo, segura que é uma beleza - mas ele sobressai mesmo é quando liga o piano elétrico pra fazer um solo. Gosto pra caramba desse efeito. Isso é música pra pôr o povo pra dançar na platéia. Será que incluem no setlist?

”Back to Back” já começa com o Ian Paice mandando muito bem com a força que tem. Logo depois, Glover, Morse e Airey criam um climão pesado e suingado. Gostei pra caramba. O riff lembra um pouco coisas dos últimos três discos - é puro Deep Purple fase Steve Morse. No solo, o guitarrista faz aquilo de novo. Mas manda muito bem. Mas deixa o Airey entrar pra tu veres que legal. Fica quase cósmica a coisa, parece que é um theremin. No começo parece que é o Gillan uivando, mas são os dedos do Airey. Sensacional.

A música seguinte, ”Kiss Tomorrow Goodbye”, é peso puro. A abertura com a bateria parece que baixou o santo no Paice. Sério. E o caboclo fica no corpo do cara pela música inteira. O riff inspira. Gillan com a voz claríssima. O primeiro solo de teclado lembra um pouco algumas coisas de Bananas. Mas depois o Airey detona, com a malandragem do Glover ao fundo. O solo do Morse não repete “aquele” truque, mas você já ouviu esse solo antes em outros discos.

Por sorte, a cópia que eu consegui tinha a faixa “MTV”, que eu estava doido pra ouvir. Esta eu ouvi três vezes pra resenha. O ritmo da música já faz neguim abrir um sorriso. A letra tira um sarrinho das rádios de classic rock, que até têm música de verdade, mas repetem sempre as mesmas coisas. Tem uma hora em que o Gillan imita (até no tom da voz) os coleguinhas burróides que o entrevistam como se fosse apenas um roqueiro velho que vive de glórias passadas e esqueceu de se aposentar. O começo do solo do Morse me lembra o riff de “Anya”. Depois lembra um pouco alguns solos de Abandon, antes de ele fazer aquilo de novo. O Airey manda muito bem no solo.

”Junkyard Blues” não é um blues. Nem lembra. É peso. Coisa muito boa. Mas muito boa mesmo. O Morse brilha no fundo das estrofes. Don Airey manda muito bem no piano elétrico, e começa ainda enquanto o Morse faz aquilo de novo no solo.

Tal como em Bananas, a última música é pra deixar o cidadão pensando. ”Before Time Began” é sobre a cegueira da fé: “every day of my life I discover/ someone murdering my sisters and brothers/ in the name of one god or another”. A composição inteira é de arrepiar a espinha, e nem precisa ser agnóstico pra isso. Já disseram que essa música tem um clima “épico”. Tem.

Disneylândia purpleana

Por obra e graça do mestre Abdalla, fui parar no início da noite de sexta em uma loja de discos numa galeria da 7 de abril, em São Paulo. Chama-se Mafer Records. É uma disneylândia purpleana: eles têm pilhas de vinis raros do Purple, importados de toda parte do mundo. Pior: muitos autografados. Pior: tem Episode Six assinado pelo Gillan e pelo Glover, Artwoods assinado pelo Lord, um vinil raro de Gemini Suite com a Yvonne Elliman nos vocais, uma pilha imensa de Gillan e Gillan Band e singles do Purple, Gillan, Rainbow e Jon Lord solo. Se eu fosse comprar tudo que me deu vontade, teria morrido em mais de mil reais. Por sorte, não tenho como tocar vinis em casa, porque senão teria comprado alguma coisa de R$ 30 ou R$ 40.

Conta o meu xará dono da loja que o tio dele costumava ser o maior colecionador de Deep Purple no Brasil. Largou de mão há alguns anos, depois de casado, com filhos, essa coisa toda. Conhece os caras do verdadeiro Deep Purple da era de prata pessoalmente, já pegou autógrafo de todos eles uma carrada de vezes em discos brasileiros, americanos, ingleses, japoneses, russos e outros.

Juro: desde que substituí meus vinis pelos CDs comemorativos de In Rock, Fireball, Machine Head e Who Do We Think We Are na Galeria do Rock, em 2001, nunca me senti tão propenso ao granicídio. Por sorte, eu não tinha nem dinheiro e nem onde tocar os vinis.