quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Glenn Hughes, a poet and a prophet

Da Billboard:

O ex-cantor e baixista do Deep Purple Glenn Hughes está se preparando para gravar seu próximo álbum solo com a ajuda do guitarrista John Frusciante e do baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers. O disco, que ainda não tem título, será gravado em janeiro e deve sair em maio.

'Escrevi mais músicas do que nunca para esse disco', disse Hughes ao site Billboard.com. '(Há) talvez 25 canções no total e 12 vão para o disco. É funk, rock, soul e pop, tudo misturado. Esse, e eu cito o Chad aqui, vai ser o álbum mais variado que já fiz.' "

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Desentendimentos entre gênios

Os amigos devem ter acompanhado a declaração do Blackmore de que ele gostaria de se juntar com o Deep Purple para um show apenas, só para fãs. Pois, em entrevista ao Metalshrine, o Gillan joga areia na idéia (que nunca levei a sério porque sei o tamanho dos desentendimentos internos):

"Eu também li sobre isso, sim. Ele está é sonhando! Por que diabos iríamos fazer alguma coisa com o cara que levou a banda à beira da ruína? É simplesmente ridículo! Passamos os últimos dez anos reconstruindo a reputação, o estilo e a qualidade da nossa música. De jeito nenhum isso vai acontecer!"

É chato. Muito chato.

Na minha opinião, os dois são gênios e respeitam o talento um do outro, embora não se biquem. Quem lê a biografia do Gillan vê isso muito claramente - o que há é um ressentimento por eles não conseguirem trabalhar juntos. Por besteira. O Gillan compara o Deep Purple a um belo prato de comida, onde ele e o Blackmore são o garfo e a faca, cada um puxando para um lado.

No final dos anos 70 (acho que no natal de 79 pra 80), o Blackmore foi à casa do Gillan pra convidá-lo pra cantar no Rainbow. O Gillan disse que estava bem com a Ian Gillan Band e tudo mais. O Blackmore sacudiu a cabeça e disse: "não, não, você está fazendo tudo errado. Você devia estar cantando é nos grandes estádios, em uma grande banda de rock". Isso abriu a cabeça do Gillan pra arriscar o Black Sabbath e depois a volta do Deep Purple.

Já o Blackmore ouviu conselhos semelhantes de todos os caras do Deep Purple, enviesadamente ouviu do Gillan, e o produtor Bruce Payne certa vez se queixou na internet de ter dito o mesmo ao Blackmore e ele não ter ouvido.

Acho legal pra caramba a força que o Homem de Preto está dando pra patroa nessa fase new-age. Ele continua tocando pacas em outro estilo (embora eu não suporte ouvir os vocais de eu-acredito-em-duendes e ver o mestre fantasiado de figurante de Senhor dos Anéis). Mas podia estar muito melhor dando sua experiente contribuição continuada ao rock.

E podia estar melhor ainda se sua geniosidade não tivesse se colocado na frente de sua genialidade, causando tanta briga com os músicos que melhor trabalharam com ele e mais lhe trouxeram glórias em toda sua carreira.

Grandes frases da história do Deep Purple

-- Hello, I'm Ritchie Moreblack!

MICHAEL BRADFORD, o primeiro guitarrista negro do Deep Purple (cobrindo licença do Morse), se apresentando a um produtor de TV

Para desfazer mal-entendidos

Saiu há pouco tempo o DVD que tem o show do Deep Purple em Copenhague, em 1º de março de 1972. É o primeiro lançamento oficial disso que já circulava em vídeo pirata, em mpg e em DVD semipirata de banca. Ao mesmo tempo, saiu lá fora (mais) um DVD que afirma ser de Made in Japan. Atenção: cuidado pra não comprar gato por lebre. O show de Copenhague é o único show do verdadeiro Deep Purple da Era de Prata de que sobraram imagens em vídeo do espetáculo inteiro.

Para desfazer alguns mal-entendidos, observem atentamente a argumentação abaixo:

1) Não havia câmeras apontadas para o palco nem em Osaka e nem em Tóquio em agosto de 1972. Levem em conta a tecnologia disponível na época. Era muito mais complicado (e caro) levar todo um aparato de câmera para o palco há 33 anos. Hoje, até com celular se grava. [CORRIGINDO: HAVIA, SIM. AS IMAGENS MAL ESTÃO SENDO RESGATADAS.]

2) O único show completo gravado em vídeo da Mk2 de que se tem notícia é o gravado em Copenhague, em 1º.mar.1972. Fora isso, existem trechos de aparições na TV e de outros shows (como o da universidade de Hofsfra, em Nova York, que aparece no DVD de Copenhague lançado oficialmente há pouco).

3) Made in Japan é um dos discos ao vivo mais bem-sucedidos de toda a história do rock. Por isso, quando o videocassete se popularizou, passou a ser grande a demanda por um vídeo dele. Na falta disso, alguns espertos pegaram outras gravações em vídeo do Purple (como o show de Copenhague e o Doing Their Thing, de 1970) e espalharam por aí como se fossem "Made in Japan".

4) A versão mais comum é a que dá o nome de "Made in Japan" ao show de Copenhague. Isso porque o setlist é bastante parecido com o de Made in Japan. Mas atenção: o show de Copenhague é o último antes da introdução de "Smoke on the Water" no setlist. Isso aconteceu nove dias depois, em um show na BBC (que está no disco "In Concert 70-72").

5) Ainda não acreditou? Pois veja lá em Highway Star. Se o Gillan começa a brigar com a platéia no meio de uma estrofe ("oy! oy!!!"), é Copenhague. Em um dos shows do Made in Japan ele briga com a platéia também, mas é em Speed King. (Isso está no CD duplo e remasterizado de MiJ.) Parece que o rolo foi ainda mais feio do que o que houve em Copenhague, mas não existem imagens disso pra saber o quanto foi feio. Apenas a palavra do Glover de que houve um qüiproqüó.

5) O show de Copenhague também circula com os nomes de "Machine Head Live" (bastante descritivo) e "Scandinavian Nights" (que é o mesmo nome de um CD com um show de 1970).

6) Fiquem ligados. Esse novo DVD que se anuncia como "Made in Japan" é na verdade uma colagem de músicas do Gillan solo, que já haviam aparecido em outras gravações antes. A entrevista do Blackmore também é coisa velha. Não que Gillan solo seja ruim, mas evitem comprar gato por lebre. Mais ainda: boicotem as picaretagens.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Bradford substitui Steve Morse

Michael Bradford, que produziu os últimos dois discos do Deep Purple, está substituindo o Steve Morse nas próximas aparições do Purple na televisão, na Europa. Parece que o Steve precisou resolver umas broncas pessoais nos EUA.

Já há dois anos Bradford é informalmente o "sexto Purple". Mesmo sendo apenas substituto, como o foi Randy California em alguns shows dos anos 70, Bradford é o primeiro negro a fazer parte do Deep Purple. Ele aparece ao fundo nesta foto de estúdio publicada em 2002 no site do Glover:



Bradford, que já esteve no palco tocando guitarra nas últimas duas turnês do Purple, é amigo do pessoal do Charlie Brown Júnior (ia produzir um disco deles, não sei se produziu, e os considera "the biggest rock band in Brazil", para nosso desespero) e já tocou com Kid Rock. Nos anos 70, quando teve sua primeira banda, adorava tocar Smoke on the Water.

terça-feira, 22 de novembro de 2005

Lançado California Jam completo em DVD



Sai hoje, mundialmente, o DVD definitivo de California Jam. Além de toda a filmagem que já conhecíamos, há Lay Down, Stay Down e duas músicas com ângulos alternativos de câmera. Quer mais? Tem entrevista com Ian Paice, comentários da época, galeria de imagens, filmagem da banda chegando no histórico Starship One e imagens em super-8 dos bastidores e torre de controle.

É um granicídio que vale a pena.

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Satch Boogie

Em entrevista à BBC, Satriani fala sobre seu período no Deep Purple:

Foi difícil, porque todo guitarrista é na verdade muito idiossincrático nessas horas, e embora eu estivesse substituindo o Ritchie Blackmore, meu cérebro dizia: "Peraí, ninguém substitui Ritchie Blackmore!" Eu olhava pra platéia e via os rostos deles, completamente fascinados com a banda, e percebi que eu na verdade era quase como um deles. Eu olhava ao redor do palco e pensava: "meu deus, é o Deep Purple!"

Tinha algumas músicas que o Ritchie tinha preparado tão bem que era um caso de me perguntar por que tocar outra coisa. Mas, com o apoio de fitas ao vivo que a banda me deu, percebi que em outras músicas o Ritchie mudava sua parte tão dramaticamente de noite pra noite que até ele estava procurando a melhor forma de interpretá-las. Por isso, tomei a licença artística de modernizar o material, especialmente o material novo que a banda mal tinha tocado ao vivo. Eles gostaram da minha abordagem, e foram uma banda ótima de trabalhar.

Musicalmente, foi muito satisfatório. O setlist vinha direto do paraíso do classic rock. E a banda era genial. Seu timing era fantástico. Seu tom era fabuloso. Eu não cabia em mim.

Eles me pediram pra entrar na banda, mas eu precisava mesmo pensar. Eu ainda devia gravar discos em meu contrato da época, e seria difícil largar disso e me tornar parte da banda. E, embora eu odeie dizer isso, tinha uma coisa na banda que sempre me bateu como britânica. Eu me sentia um ítalo-americano pegando carona. Então, quando eu somei tudo, embora fosse muito legal, não parecia certo pra mim. Achei que eles precisavam achar alguém que estivesse mesmo a fim de se tornar um membro permanente. Como se viu, eles acabaram chamando um americano (Steve Morse), o que foi ótimo.


Na biografia do Ian Gillan, o mestre lembra do primeiro ensaio do Satriani com o Deep Purple. Ensaiam tudo e no final chega a vez de Smoke on the Water.

-- Você não precisa ensaiar essa música, né, Joe?
-- Como assim? Vamos ensaiar, sim. Cara, quase não acredito que vou tocar Smoke on the Water com o Deep Purple.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Blackmore e Morse em revista alemã



A revista Guitar alemã deste mês tem matérias com o Blackmore e com o Steve Morse. Seria imperdível pra qualquer um que curta Deep Purple... se não estivesse em alemão.

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Deep Purple é como os X-Men, diz artista da capa

Ioannis, o autor da capa de Rapture of the Deep, comenta o significado da capa de Machine Head na vida dele:

"Roger Glover, Ian Gillan, Ian Paice, Jon Lord e Ritchie Blackmore eram deuses para mim. Eles eram super-heróis como Conan, Homem-Aranha, Motoqueiro Fantasma e os X-Men dos gibis que eu lia na élica. A misteriosa imagem metálica só acrescentava ao mito."

Saiba tudo aqui.

Blackmore's Night prepara novo disco ao vivo

A Blackmore's Night, do lendário Ritchie Blackmore e sua patroa, está pra lançar mais um disco de estúdio, chamado "The Village Lanterne". Em entrevista à BBC, o genioso gênio manifestou alguma saudade do Deep Purple e deu um bem-humorado conselho para novos músicos.

"Eu até pensaria em fazer um ou dois shows com o Deep Purple, mas os empresários deles não poderiam se envolver. Não seria pra gravar - só para os fãs, por nostalgia."

"É irônico que se leve anos pra poder tocar bem um instrumento e que, mesmo assim, todas as bandas de hoje têm 17 anos e conhecem três acordes. Nós não ouvimos rádio - as bandas em que estamos interessados tocam música por honestidade, não pra aparecer na MTV."

O conselho: "Depois de aprender os primeiros dois acordes, arranje um bom advogado."

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Não fui ao show

Não pude ir, mas pelo que me disseram o setlist foi bem parecido com o do dia 1º. Com a diferença de que começou com Pictures of Home (em vez de Fireball) e terminou com Speed King (em vez de Black Night). E Speed King durou uns 15 minutos, segundo o Bento, do Poeira Zine. Ainda teve uns medleys com músicas dos anos 50.

Eu queria ter estado lá.

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Fotos do show

O Ricardo Zupa botou no ar umas fotos do show. Deliciem-se.

No jornal - 2

No Estadão de hoje, encimado por uma bela foto do Gillan segurando a bandeira do Brasil:

"Há pouco a acrescentar sobre a competência da banda - os brasileiros já a conhecem de cor e salteado, de quatro visitas anteriores, e ela é inequívoca. Steve Morse é um monstro - tudo o que ele não consegue expressar em palavras, já que os diálogos com ele são um tanto elípticos, expressa magnificamente com solos de guitarra (alguns dos melhores que já ocuparam um palco por estas terras).

(...) O vocalista Ian Gillan, vestido como um praticante de tai-chi-chuan, descalço e de calça larga de tecido fino, mantém o carisma, embora a voz já não seja tão potente [mal sabia o autor...]. Levanta os pés alternadamente, fingindo pisar em brasas. Heróico, ele canta sozinho, sem vocais de apoio na maior parte do show. E ainda faz scats junto a Morse, em solos de guitarra inimitáveis.

(...) O fã mais ensimesmado pode pensar: afinal, qual é o combustível que move esses veteranos? Bom, esta reportagem vai tentar uma pista: 8 cervejas alemãs do lado esquerdo do palco. Do lado direito, 4 Heineken, 4 Budweiser e 1 garrafa grande de San Pellegrino. É pouco? Então, vamos ao aquecimento, nos camarins: 2 garrafas de vodca, 1 de Remy Brandy, 2 de Johnnie Walker, 2 de Jack Daniel's, 3 de vinho cabernet sauvignon, 24 garrafas de Beck's, 6 de San Pellegrino, 12 copos e 26 toalhas.

Claro, também havia umas garotas brasileiras felizes dançando lá atrás das coxias. O rock'n'roll envelhece, mas não perde a voracidade."

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Uma noite pra não esquecer jamais

Ian Gillan me mandando email pra prestar satisfações logo pela manhã? Ian Paice me servindo uísque e exorcizando um clone do Blackmore? Steve Morse conversando com o Spigha no meu celular? Roger Glover dizendo que tá velho e precisa dormir no dia de folga? O que é isso? É apenas o dia mais inesquecível da minha vida.

Estava eu conversando com a digníssima no MSN quando vejo lá embaixo um aviso de nova mensagem. Subject: “from ig”. Abri. “Hello Marcelo, Espero que você receba isto a tempo. Infelizmente, estou em uma quarentena, e por mais que eu esteja muito a fim de tomar uma cerveja com você depois do show, minha equipe vai me levar correndo de volta pro hotel no que eu sair do palco.” O mestre teve uma gripe no México, e por motivos de seguro (sério) precisou fazer isso. O pior, pra ele, é que a goela de prata ESTAVA boa e mesmo assim ele precisaria escapar. “Isso me irrita muito, porque eu na verdade não estou me sentindo mal e o show deve estar quente nesta noite”, prometeu ele. E cumpriu.

Saí do trabalho lá pelas 5. Fui ao show com o mestre Fauze Abdalla, vocalista da banda Fireball. Meu nome era o primeiro da lista de convidados VIP. Lá no Credicard Hall, encontramos outros três caras da banda: André Carvalho, André Gonzales (cujo pai, que também estava no show, é um dos mais antigos fãs do Deep Purple no Brasil) e Alexandre Spigha. Também estava por lá o Márcio, um amigo músico que me apresentou a Fireball há uns três ou quatro meses. Logo na entrada, eu e o Abdalla nos mijávamos de rir com um magrão que passou por lá. Tinha a cara e a roupa do Blackmore com uns 40 anos de idade. “Meu, parece aqueles caras que imitam o Michael Jackson!”, disse o Abdalla. Voltaríamos a topar com essa figuraça.

O lugar é longe pra burro - e pra inteligente desmotorizado mais ainda, e olha que estávamos em dois. O estacionamento, pros motorizados, é uma facada. A cerveja é MUITO cara (R$ 5 a latinha). A acústica não é lá essas coisas. A seleção musical pré-show não tem nada a ver. O sem-noção que cuidava da iluminação acendia a luz no intervalo entre as músicas, e por alguma coincidência infeliz o refletor batia bem nos meus olhos. Nada disso, porém, impediu o show de ser simplesmente fabuloso. O setlist foi o mesmo do México.

Ian Paice é o primeiro a entrar no palco. Reverencia a platéia, senta em seu banquinho, pega as baquetas e bota os pigmeus que tem escondidos na manga pra trabalhar: é Fireball começando. O Gillan começa a cantar enquanto vai caminhando pra dentro do palco. Boa parte do público cantando junto, o que pra mim é algo muito tocante. Do meio pro final, alguém joga uma bandeira do Brasil no Gillan. Ele levanta a bandeira e o aplauso é geral.

Todo mundo canta junto Strange Kind of Woman. No final tem um leve duelinho entre o Gillan e o Morse, mas bem amistoso. Logo em seguida, duas do novo disco: Wrong Man (“bela música para um baterista”, comentou o Vitão Bonesso com o Ian Paice) e Kiss Tomorrow Goodbye. A música seguinte, nas palavras do Gillan, foi inspirada em uma ocasião em que alguém tomou uns martinis a mais e ficou andando pra trás, se é que eu entendi direito. Era Demon’s Eye, e boa parte do pessoal cantou junto. O mestre tropeçou um pouco na letra, mas ele pode.

Logo depois, vem Rapture of the Deep, a faixa-título do novo disco, pra fechar o conjunto de músicas novas. Acho que eu ouvi mais gente do que eu e o Abdalla cantando. O riff arabesco agradou ao pessoal. Segundo o Roger Glover, essa foi apenas a quarta vez em que eles tocaram essas músicas novas ao vivo.

Pra descansar a garganta do mestre, nada melhor que um bom intervalo instrumental. Tem Contact Lost? Tem, sim senhor. Tem Well-Dressed Guitar? Tem, sim senhor. Tem solo do Don Airey com direito a citações de Aquarela do Brasil e do tema de Star Wars? Tem, sim senhor. E isso tudo leva a Perfect Strangers, com o Airey afundando os dedos no teclado.

Logo depois, começa Highway Star. Paice batendo na bateria. Glover pega o baixo e vira de frente pro Steve Morse. Um olha pra cara do outro, tocando. Trocam solos fabulosos, mas a coisa parece demorar tempo demais. Distraindo a platéia pra esperar a volta do Gillan? Talvez. Várias vezes, parecia que ia começar mas não começava. Aí o mestre entrou no palco e começou a introdução da música. O Credicard Hall em peso cantando, o que é uma coisa de fazer cair o queixo. “Da estrada (highway) do rock’n’roll, vamos agora direto para o espaço”, anunciou o Gillan. E dê-lhe Space Truckin’. Novamente, ele usou sua prerrogativa de tropeçar na letra. Mas ele, como eu disse, pode.

O primeiro set terminou com Smoke on the Water. Finalmente, o Steve Morse desistiu de fazer aquela brincadeira de citar vários riffs famosos antes de entrar no famoso riff deles. Sem frescura. Todo mundo cantando junto, e tinha neguim ameaçando ter infarto.

O bis começou com Lazy. Ao final da música, Ian avisa que o número seguinte fora descoberto dentro de uma caverna, e lá estava havia 20 mil anos. É Hush, gravada em 1967 por Joe South e no ano seguinte pelo Purple. Ao final, o Paice estraçalha em um solo de bateria. O set fechou com Black Night, em que novamente o mestre faz uso de sua prerrogativa. Ele pode. “Cara, se ele subisse no palco e só dissesse boa noite, eu sairia feliz igual”, disse o Abdalla.

Ao final, fomos ao camarim. Depois de alguma espera, fomos chamados. No caminho, meu celular toca. Engraçado: o toque é Black Night, mas tenho quase certeza de que ouvi Lady Double Dealer. Enfim: estou ficando velho e sem paciência.

Ian Paice nos recebe e pergunta se eu quero beber alguma coisa. “Tá tomando o quê?”, perguntei. “É um suco de laranja com vodca. Mas tem o que você quiser: isto, Coca-Cola, scotch...” Pedi um uísque. O próprio Paice, o cara que há 37 anos castiga bumbos e pratos no Deep Purple, colocou uma pedra de gelo no copo e serviu. “Eu juro que se fosse comigo eu mijava nas calças”, disse o André Gonzales, baterista da Fireball. Tomei até a última gota do uísque e ainda mastiguei o gelo. Assim que o Roger Glover apareceu, ele assinou um desenho dele que eu imprimi a partir do site dele. “Conhece isto?”, perguntei. “Claro que conheço. Era um quarto de hotel onde eu fiquei.” Vai pra parede, claro.

Momento inesquecível: o cover do Blackmore também tinha um passe VIP e entrou lá. Quando ele entra, o Paice olha pra cara dele, dá um grito e faz uma cruz com os dedos. “Pô, o de verdade é assustador assim?”, perguntei. “Pior!!!”, respondeu ele. O Roger não quis desenvolver muito a história do infame jogo de futebol que postei aqui outro dia. Pena. Diz ele que não lembra mais.

Precisava dividir aquele momento com alguém que compreendesse a magnitude daquilo. Tive uma idéia: liguei pro celular do Spigha, que estava do lado de fora esperando. Pra quem não conhece, ele é um baita guitarrista, tem uma banda cover de Steve Morse e a partir dela é que se formou a Fireball. “Cara, güenta aí que assim que o Steve chegar aqui eu passo o celular pra ele”, eu disse. Assim fiz. “Oi, aqui é o Steve. Cara, muito obrigado - o show foi ótimo, tudo por causa de vocês da platéia”, disse o Morse no meu celular, no ouvido do Spigha. Ele só acreditou depois que eu saí de lá e insisti umas três vezes em que era o próprio cara. Era bom demais pra ser verdade, e o pior de tudo é que ERA verdade.

Eu confesso que eu me sentia um babão bobalhão. Eu tinha milhares de coisas pra perguntar a eles. Milhares de coisas pra dizer a eles. Milhares de coisas pra agradecer-lhes. Mas não saía nada. Eu apertava as mãos deles, dizia que é um prazer imenso, e só. Estava me sentindo um mala sem-noção. Completamente sem-noção. Não sabia o que fazer. Caralho, eu sou jornalista. Minha função é fazer perguntas. Sou treinado pra isso. Conheço esses entrevistados como a nenhum outro. Mas ainda assim não saía nada. É exatamente por conhecê-los e admirá-los tanto que eu travei. Não devia. Isso só reforça minha posição de evitar escrever profissionalmente sobre um assunto em que eu esteja tão envolvido.

Quase não tive coragem de apresentar alguma coisa pra eles assinarem. Queria puxar papo sobre alguma coisa legal, mas não saía. Eu de vez em quando imaginava como deviam estar vendo a expressão babona no meu rosto e pensando que só faltava eu me ajoelhar e gritar “I’m not worthy”, como naquela cena do Alice Cooper em “Quanto Mais Idiota Melhor”. Não me senti à vontade pra abraçar nenhum deles (só apertei mãos), e as pilhas da máquina digital que levamos foram confiscadas na entrada. De vez em quando eu lia algum desconforto no rosto deles. Por mais que eles estejam acostumados, imagino que seja um saco receber aquele bando de babões toda noite, em toda cidade de todo lugar do mundo.

De qualquer forma, trouxe o ingresso e o quadro do Glover autografados. Foi uma noite pra nunca mais esquecer. Se eu não sofri um infarto desta vez, nada mais me derruba.

(Atenção: dia 4, no Blackmore Rock Bar, tem show da Fireball. Quem levar o ingresso do show do Purple paga a qualquer hora o preço pago por quem entrar antes das 23h.)

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Deu no jornal

Na Folha (numa entrevista com o duvidoso título "Idoso, Deep Purple se diz contemporâneo"):

"Nossos fãs sabem que há mais de 15 anos não tomcamos músicas como Child in Time. Se tocarmos, a turnê acaba. Cantá-la me manda direto para o hospital e eu passaria meses falando com a voz completamente rouca. Desde muito novo eu não podia nem falar depois de cantá-la, hoje eu não tenho mais idade mesmo. A banda ainda é contemporânea e tentamos balancear tudo o que fizemos ao longo do tempo."

"Claro que eu gosto muito (de cantar Smoke on the Water), senão não estaríamos tocando. Mas digo que, se fossem apenas essas músicas, eu já teria largado esse emprego há muito tempo. A principal razão de ser prazeroso tocar as clássicas é o fato de haver as novas. Se não fosse assim, estaríamos falando de cabaré do rock and roll, e isso não me interessa."


No Estadão ("Gillan, a voz sessentona do Purple"):

"Passamos muito tempo juntos em ônibus de turnês, em quartos de hotéis, e ao mesmo tempo nossa amizade só cresce. É curioso: esses caras têm senso de humor, temos idéias políticas e sociais parecidas, temos divergências esportivas e artísticas e, no entanto, nada é mais forte do que a nossa amizade. É cada vez mais forte e feliz. Posso dizer uma coisa a você: é uma família, mais do que uma banda."

"(A música MTV) trata-se de uma completa piada, algo divertido para alfinetar o radicalismo de algumas pessoas e um certo jeito de pensar. Mas é muito mais para exaltar o trabalho heróico das rádios de classic rock, as únicas que tocam nossa música."

Autógrafos amanhã

Da Folha Online:

Os músicos do Deep Purple vão participar de uma sessão de autógrafos nesta quarta-feira (2), das 13h às 14h, na loja da Saraiva no shopping Ibirapuera, em São Paulo.

Serão distribuídas 150 senhas, sendo que cada pessoa poderá autografar apenas um CD, para permitir que os demais fãs também cheguem perto dos ídolos.