domingo, 28 de novembro de 2004

O sonho de um coroa

Há muitos meses, pouco depois de se aposentar do Deep Purple Jon Lord disse numa entrevista que o seu sonho era fazer um grande show de homenagem ao Deep Purple, colocando no palco em sistema de rodízio todos os ex-membros ainda vivos (ou seja: todos menos Tommy Bolin, que faleceu mesmo, e Rod Evans, que morreu pra fins de direitos sobre seu quinhão da memória purpleana).

Sempre achei que seria inviável, principalmente por causa do clima pouco amigável entre Ian Gillan e Ritchie Blackmore, o homem de preto. Mas agora em dezembro sai uma edição especial da revista Record Collector, com uma imensa matéria sobre o Purple e entrevistas com dez membros e ex-membros da banda. Nessas entrevistas, Blackmore e Lord dizem que ainda se falam bastante e não descartam uma volta aos palcos para alguma coisa especial.

Desde 2002, quando o Jon Lord se aposentou, as turnês do Deep Purple têm tido convidados especiais no palco. Joe Satriani, que substituiu Blackmore, subiu ao palco já duas vezes para trocar licks com seu sucessor Steve Morse. Glenn Hughes andou passando pelos bastidores. Coverdale e Lord já andaram trocando abraços no aeroporto de Los Angeles. Semana passada, como botei aqui no Cabide, Lord subiu ao palco pra ver se o Don Airey está cuidando bem de seu Hammond.

A única grande incógnita é o Blackmore, mas depois dessa entrevista me parece que só falta combinar com os russos (leia-se: Gillan). Nunca entendi direito a briga deles, e olha que eu já li tudo sobre o assunto. Li os argumentos de ambos os lados em várias entrevistas e na autobiografia do Gillan. Quanto mais eu leio, mais me soa infantil a briga. Tomara que os dois coroas voltem a se falar. Depende mais do Blackmore, parece. "You know I loved you once and I wanna love again, but you don't give nothing", gravou o homem da goela de prata em 1973. Tem muita mágoa em trinta anos, incluindo principalmente as duas saídas do Gillan do Deep Purple, um copo d'água jogado na patroa do cantor (no vídeo Come Hell or High Water) e uma história malcontada de algo feio que o Blackmore teria feito à filha do Gillan há muitos anos. Mas eu, como otimista e pacífico que sou, acho que não é nada que uma cervejada e um bate-papo sincero não resolva. Pombas, são dois senhores de 59 anos. Mais do que maduros. Torço por isso.

Juro que, se sair o concerto dos sonhos do Jon Lord, eu quebro o porquinho, me endivido até o último fio de cabelo e saio voando para onde quer que seja.

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Deep Purple em férias, mas gravando

Em 2005, o Deep Purple vai meio que tirar férias. Vai haver poucos shows, mas eles voltam ao estúdio com o Michael Bradford pra gravar um novo disco. O Gillan vai gravar um novo disco solo e vai ganhar um documentário em sua homenagem. Stormbringer deve ter seu remaster lançado.

Enquanto isso, no dia 2 de dezembro, o Bruce Dickinson apresenta seu Masters of Rock especial sobre o Ian Gillan, na Radio 2 da BBC. Pra ouvir, no dia, clica aqui. Pra saber mais sobre os especiais Masters of Rock, clica aqui. Gillan também fez uma participação especial no disco de Dean Howard (que fez com ele a turnê Repo Depo, em 1990/91). O véio canta e toca harmônica na música "Smokescreen".

O DVD duplo Living Loud, do Steve Morse, saiu no Brasil em 10 de novembro. O guitarrista com mãos-aranha fez um contrato com uma grande rede de telefonia celular (não descobri qual) para criar dois catálogos de 10 a 12 toques em true tone. O primeiro será "Killer Riffs" (riffs "matadores", como o de Smoke on the Water e Whole Lotta Love) e o segundo será "Sizzling Solos" (solos de cair o queixo).

Estão encenando Jesus Christ Superstar na Coréia. O cara que canta o papel de Judas disse que sempre quis participar de uma montagem na ópera-rock mais sensacional de todos os tempos porque era fã do Deep Purple. O Judas rouba a atenção sobre o Gillan (personagem-título) no álbum conceitual de 1971.

Dezoito anos depois de Seventh Star, Tony Iommi (do Black Sabbath) e Glenn Hughes voltam ao estúdio para gravar um disco. Recentemente, os dois também lançaram "The 1996 DEP Sessions", com gravações de umas jams que eles fizeram dez anos depois do disco que era pra ser um solo do Iommi e acabou sendo marquetado como disco do Sabbath.

E a última notícia é tipo Vera Fischer, velha mas boa. Semana passada, na turnê inglesa, Jon Lord subiu ao palco pra brincar com seu velho Hammond e ver como o sucessor Don Airey está cuidando do seu brinquedão. Olha a prova:

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Blackmore's patroa



Achei ontem em promoção o "Ghost of a Rose", do Blackmore's Night. Eu já havia comprado o primeiro deles, "Shadow of the Moon", fora de promoção, e não me agradou. Depois, em promoção (R$ 11,99), comprei "Under a Violet Moon" e "Fires at Midnight". Mas ainda não tinha tido coragem de ouvir, botei hoje.

A impressão é a mesma que eu tive com o primeiro: os instrumentais, com o Homem de Preto mostrando no violão o que sabe fazer com seis cordas, são fenomenais. As canções, com a patroa do Blackmore em tom de Enya, têm clima de som ambiental de carro de balzaquiana que acredita em duendes. Não me fecha com o gosto. No primeiro, deu a impressão de que o Blackmore havia feito uma ironia em "Greensleeves", metendo no meio o riff de "Anya" (do The Battle Rages On). Daí cunhei a frase "Blackmore's Night é uma mistura de Anya com Enya".

Isso só me reforça uma percepção positiva em relação ao Blackmore: o homem é um cavalheiro romântico.

Blackmore já teve tudo. Foi um dos grandes guitarristas dos anos 70, época que gerou gigantes como Eric Clapton, Jimi Hendrix e Jeff Beck. Inspirou gerações posteriores. Criou duas das maiores bandas de rock que já houveram. Adaptou Beethoven para a guitarra. Botou fogo no palco. Fez fama e, certamente, alguma fortuna. Ele já tem e já criou tudo o que poderia querer ter e criar.

Desde 1997, ele vem apostando nesse projeto com a patroa, vários anos mais nova que ele. Ela tem boa voz, até, mas não me faz o gênero. O material é certamente diferente de tudo o que o Blackmore fez antes. Ele se submete ao mico de ele e seus colegas se vestirem feito personagens de O Senhor dos Anéis, o que é ridículo especialmente para um senhor dessa idade (ele completa 60 no ano que vem).

A grande impressão que me dá é que ele está investindo seu nome, talento, recursos e contatos na carreira da patroa, dentro de um nicho que tem mercado e para o qual ela leva jeito.

Blackmore é um sujeito que desenvolveu ao longo dos anos 90 uma em boa parte justificada fama de estourado, antipático, egoísta, ególatra, misantropo e - vamos ser claros - mau-caráter. Eu me decepcionei muito com ele (que sempre foi meu guitarrista favorito) na década passada.

Mas essa demonstração de cavalheirismo e de paixão pela patroa o redime na minha consideração, embora não muito aos meus ouvidos. Não é qualquer um que faz uma coisa dessas por uma mulher.