domingo, 17 de dezembro de 2006

30 anos, já faz

Há 30 anos no dia 4 de dezembro, morria o guitarrista Tommy Bolin, primeiro norte-americano a fazer parte do Deep Purple. Sua passagem pelo grupo durou pouquíssimos meses e foi tumultuada. Em março de 1976, o grupo estava tão bagunçado pelos excessos - especialmente os protagonizados por Bolin e pelo baixista/vocalista Glenn Hughes - que implodiu. Em vários shows, como o registrado em "Last Concert in Japan", Bolin não conseguia tocar porque seu braço estava anestesiado pelas drogas. Apesar de todo seu talento, sofria de insegurança e baixa auto-estima, o que alavancou todos os problemas que levaram à sua morte.

Por tudo isso, demorei um tempão na vida pra conseguir levar o guitarrista a sério e ouvir o que ele tinha a dizer com os dedos. Quando abri a guarda, fiquei de queixo caído. "Come Taste The Band" foi o último disco antigo do Deep Purple que comprei. Eu tinha ouvido na adolescência e não tinha gostado. Ouvi alguns anos depois e achei interessante. Quando comprei, eu já achava o disco genial - em que pese sua sonoridade ser um tanto diferente do Deep Purple a que eu estava acostumado. Desde então, me acostumei com a idéia de que a grande marca do Deep Purple é a mudança.

Bolin era um cara jovem - morreu com 25 anos -, tocava guitarra como poucos e tinha idéias avançadas para a criação musical. Sua guitarra ácida não se restringia a um gênero específico, como o rock. Era um músico instintivo: não sabia ler partituras, tocava apenas de ouvido. Antes de morrer, vinha conversando com Hughes e outros sobre a possibilidade de criar um grupo de jazz elétrico. Quando morreu, estava despontando como um músico importante nessa cruza de gêneros.

Nos fóruns de discussão na internet, muita gente se pergunta o que Bolin produziria hoje, caso não tivesse morrido. Acho esse tipo de questão uma mistura de chutologia com ilusão. Era difícil ele não ter morrido, dada a forma como vivia. Mas em sua curta carreira produziu muita coisa boa. Vale a pena ler a última entrevista do guitarrista, publicada pela Guitar Player americana três meses após sua morte.

Uma das maiores preciosidades que já ouvi de seu trabalho fora do Deep Purple é sua colaboração com o baterista Billy Cobham, no disco "Spectrum" (1973), aos 22 anos. Cobham fizera parte do grupo de jazz elétrico de Miles Davis. Gravou com o gênio o disco "Bitches Brew", em 1969. A família de Bolin vem lançando, aos poucos, tudo o que o guitarrista produziu.

Ouça abaixo o que era o talento desse triste personagem da história da música. São as faixas "Quadrant 4" e "Anxiety, Taurian Matador", gravadas com Cobham. Logo depois, ouça a faixa "Wild Dogs", composta e cantada por Bolin, emoldurada por imagens da curta porém prolífica carreira do guitarrista.



quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Live in Montreux 1996

Ando babando pelo show Live in Montreux 1996, cujo DVD comprei recentemente. Gosto especialmente de dois momentos:

- "69", do Abandon, no show de 2000, por lembrar o quanto aquele disco é subestimado e pelo solo que lembra os longos solos de 1969-70, com pitadas de The Book of Taliesyn;

- "Speed King", pelos improvisos. Que incluem esta pérola:

In 1814 we took a little trip along
with colonel jackson down the mighty mississipi
we took a little bacon and we took a little beans
and we fought the bloody british in the town of New Orleans

We fired our guns and the british kept a-comin
there wasnt as many as there was a while ago
we fired once more and they began to runnin'
on down the mississipi to the gulf of mexico

O show

Estou ficando velho. Fui a apenas um show do Purple em São Paulo nesta turnê (o de terça) e não apenas pra mim já estava bom como também estou demolido até agora. Devo ter perdido uns dois quilos de tanto suar (tomara, tomara).

Foram seis horas em pé - três delas esperando o pessoal do Tom Brasil encontrar meu passe. Que estava havia muito tempo me esperando na bilheteria, mas só descobriram cinco minutos antes do show. Por causa disso, não consegui ir ao backstage, como havia sido convidado para ir. Desorganização da casa é a única explicação em que consigo pensar pra definir o que aconteceu. Não pretendo voltar a pisar naquela lonjura sem um motivo muito bom.

O show em si foi muito bom. Acho que nunca vi o Gillan cantando tão claramente num show em que eu estivesse presente. Já vi em DVD, já vi em pirataria. Pessoalmente, não. O repertório foi quase o mesmo do ano passado e exatamente o mesmo de Porto Alegre. É muito engessado o setlist do Deep Purple, varia pouco além da meia dúzia de músicas do Machine Head, uma ou duas de Fireball, uma ou duas do In Rock, uma ou duas do Perfect Strangers e três do disco da vez. Mas, embora varie pouco o repertório, a interpretação é sempre muito boa e varia bem.

Os cinco estavam completamente à vontade. Don Airey estava em casa, não tinha mais aquele jeito calouro de quem pede licença pra entrar. O Ian Paice aumentou a quantidade de pigmeus escondidos em suas mangas, em relação ao ano passado. Glover cada vez mais rouba a cena quando faz seus solos. Coordena bem com o Steve Morse, que voltou a fazer homenagens a riffs famosos em seu solo. Desta vez, foram Whole Lotta Love, Sweet Child O'Mine e Little Wing. Só que esse "riff parade" não acontece mais antes de Smoke on the Water, e sim entre Contact Lost e Well-Dressed Guitar. A única foto que tirei e ficou boa foi esta, do Morse tocando Contact Lost:



Eu estava ao lado do Abdalla, vocalista da banda Fireball, que faz tributo ao Deep Purple. Deu orgulho: presenciei mais de 20 pessoas vindo cumprimentar meu amigo. O público entrou aos borbotões e todos os que pude ver adoraram cada segundo. Claro que havia os imbecis de sempre - perto de onde eu estava, um sujeito soltou a bexiga no chão. Deve ter pago no mínimo R$ 100, e mesmo assim cometeu tal porquice. Ridículo, mas azar o dele. Não chamei a atenção do porco - tinha coisa muito mais interessante pra olhar no palco. E como tinha.

Show do Deep Purple é sempre pra mim como final de campeonato do meu time favorito, com a diferença de que ninguém perde.

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Os mestres no Jô

Vejam o que é o tal chapéu de Pinochet do Generalíssimo Gillan. Primeiro, Rapture of the Deep; depois, Smoke on the Water:



segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Datapurple geográfico

O Deep Purple já visitou 71 países ao longo de sua carreira.

Nos dez anos com Steve Morse, a banda visitou 68 deles. A nova fase do Deep Purple desbravou 36 países onde o Deep Purple nunca havia pisado antes.

Nos 17 anos com Blackmore, foram 30 países. Com a Mk1, ele visitou apenas 6 países.

David Coverdale conheceu com o Deep Purple 18 países. Eles incluem a Iugoslávia (Belgrado e Zagreb, em março de 1975) e uma tentativa frustrada de ir a Hong Kong, em dezembro do mesmo ano. Três meses depois do show cancelado, acabaria o Deep Purple.

Joe Lynn Turner foi a 20 países. Eles incluem dois shows em Israel, onde o Deep Purple nunca tinha ido e aonde nunca mais voltou. Foram os últimos shows da banda antes da volta do Gillan.

Hoje em dia, o Deep Purple faz em média a mesma quantidade de shows que fazia no auge dos vinte e poucos anos dos mestres. É possível ver exatamente em que fase eles andavam apenas pela quantidade de shows dos anos mais movimentados:

1) 1972 - 123 apresentações (lançamento do Machine Head, primeira turnê no Japão, auge do sucesso da banda)
2) 1970 - 119 apresentações (lançamento do In Rock, Deep Purple toda hora na BBC, matando a pau)
3) 1996 - 116 apresentações (entrada do Steve Morse, lançamento do Purpendicular)
4) 1969 - 112 apresentações (duas formações, entrada do Ian Gillan e do Roger Glover, Concerto...)
5) 2004 - 110 apresentações (turnê de Bananas)

Até o final do ano, 2006 deve ultrapassar a quantidade de apresentações de 2004. Lembre que esses dados são até o dia 14 de novembro.

Ao final da turnê do Deep Purple no Brasil, dia 3, o Bananão passará a ser o nono país onde o Deep Purple mais tocou em toda sua carreira, com 45 shows - empatado com o Canadá. Na ordem:

USA - 542
UK - 334
Germany - 234
France - 65
Italy - 63
Japan - 61
Australia - 57
Canada - 45
Sweden - 41


17 países viram o Deep Purple uma só vez. Isso inclui a Província Cisplatina, o Peru, a Romênia, a Bolívia e Belarus.

O nome mais comum de lugares onde o Deep Purple tocou em toda sua existência é Stadthalle. Por 26 vezes, estádios assim chamados em cidades alemãs abrigaram os mestres. Logo em seguida vêm os lugares chamados "Coliseum" e "Entertainment Centre" - 19 vezes. Nas "House of Blues", o Deep Purple tocou 13 vezes.

Há nove shows em lugares chamados Olympia - do lendário clube parisiense à extinta casa de shows de São Paulo. Se somarmos os "Olympiahalle", são 18.

Serviço

Músicas que não vão tocar no show, nem que caia um raio na cabeça do Gillan:

Burn, Stormbringer, Mistreated (são do Coverdale) e Child in Time (ele caiu doente depois de cantar na turnê de 2002).

Músicas que provavelmente não vão tocar desta vez e nem nas próximas turnês:

Sometimes I Feel Like Screaming, Ted the Mechanic, Any Fule Kno That, Don't Make Me Happy, Bananas, House of Pain, Haunted (infelizmente, das músicas de House of Blue Light pra cá eles só tocam as do disco da vez)

Um gostinho

O pessoal que esteve no show de Porto Alegre no sábado já postou no YouTube dois trechinhos do show - um pedaço de Lazy e uma fatia de Fireball. Tó:



Blackmore's Christmas

Ritchie Blackmore e seus alegres amigos da floresta prepararam um vídeo com uma canção acústica de natal. Destaque para as batidinhas que o homem de verde-escuro dá no violão pouco antes de um minuto. E a cara que ele faz quando manda com um aceno de cabeça os ajudantes cantarem junto com a patroa.

(O Batman era meu ídolo aos 10 anos; o Blackmore, aos 14. Hoje, vejo que os dois só não são a mesma figura porque o Blackmore não usa máscara.)

Sem galinhagem: preste atenção em como ele toca a segunda parte, fazendo fundo pra cantoria da patroa. Dá vontade de ir à janela e gritar "BLACKMORE VIVE!!!"

O setlist portoalegrense

01. Pictures Of Home
02. Things I Never Said
03. Into The Fire
04. Strange Kind Of Woman
05. Rapture Of The Deep
06. Fireball
07. Wrong Man
08. Solo do Morse
09. Well Dressed Guitar
10. Kiss Tomorrow Goodbye
11. When A Blind Man Cries
12. Lazy
13. Solo do Airey - incluindo o Canto Alegretense
14. Perfect Strangers
15. Space Truckin´
16. Highway Star
17. Smoke On The Water
18. Hush (com solo do Paice)
19. Solo do Glover
20. Black Night

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Datapurple 2

1904


Foram os shows do Deep Purple entre 1968 e 14 de novembro último. O show número 1905 será neste sábado, no Celeiro de Ases. Eu irei ao show 1907. Estive antes no 1798, no 1605, no 1191 e por pouco não fui ao 954 e ao 1383.

Ao todo, o Deep Purple já fez 38 shows no país até hoje, e o primeiro foi o 948, em 1991. Serão 45 ao final da apresentação em Belo Horizonte, dia 3 de dezembro.

711


foram os shows do Deep Purple em que Ian Gillan cantou ao lado de Ritchie Blackmore

851


foram os shows do Deep Purple em que Ian Gillan cantou ao lado de Steve Morse. A ultrapassagem exata ocorreu em 17 de junho de 2005, na cidade de Ionia, no Minessota (EUA).

1466


vezes o Deep Purple já tocou Smoke on the Water em seus shows até hoje. A primeira foi em 9 de março de 1972, em Londres. Esse show está registrado no disco duplo "In Concert 70-72". Desde então, se eles não tocarem o melô do tam-tam-tam correm o risco de ser linchados antes de sair do palco.

Ritchie Blackmore tocou Smoke on the Water apenas 580 vezes com o Deep Purple. Ian Gillan cantou a música 1297 vezes com o grupo, sem contar seus shows solo.

55


shows do Deep Purple foram cancelados até hoje. Um deles foi no Paraná, na turnê de 2003. Outros sete shows foram cancelados desde então. O mais recente foi no dia 15 de outubro, em Volgogrado (Rússia). A formação atual cancelou apenas 10 de seus 413 shows.

O primeiro show cancelado foi em 13 de agosto de 1969, três dias após a estréia da Mk2, no clube Revolution, em Londres ("Black Cat Woolwich, The Tiger's Head, The Cafe des Artistes, The Revolution and the Bag O' Nails, I'll see you down the Speak"). Salvo engano, isso ocorreu porque Gillan e Glover tinham compromissos contratuais com o Episode Six. Foram cancelados os shows de 13, 15 e 16 de agosto daquele ano por isso. O cancelamento seguinte só viria em 8 de dezembro de 1973, que seria o primeiro show da Mk3, em Arhus, Dinamarca.


A planilha completa dos shows do Deep Purple, até 14 de novembro último, foi feita a partir dos dados do Deep Purple Live Index. O show seguinte é o deste sábado no Gigantinho, em Porto Alegre.

Os cálculos foram feitos por mim no Excel.

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Hughes no estúdio

No início de julho, este blog publicou uma entrevista com Glenn Hughes em que ele dizia que ia participar do processo de remasterização de Stormbringer. Dizia ele: "eu VOU achar algo novo". Pois há pouco tempo o ex-baixista do Deep Purple esteve no estúdio Abbey Road, da EMI, dando uma força. Veja a foto aqui embaixo, diretamente do site da DPAS:



Diz a DPAS:

"O som do material estava fascinante; a qualidade da gravação de estúdio é muito, mas muito, melhor que a de Burn, muito mais definida, e a única coisa que aqueles que foram ao estúdio disseram durante o dia é que era difícil acreditar que o material era de 1974 - soava muito contemporâneo. Glenn queria muito fazer Holy Man e começou com isso, mas logo ele pegou o jeito e no final cinco músicas foram trabalhadas em uma longa sessão. Os resultados soam realmente excelentes, e haverá algumas surpresas para fãs deste álbum em particular, já que Glenn trouxe algumas novas linhas vocais e outros trechos nunca antes ouvidos, assim como uma ênfase em diferentes aspectos do material."

domingo, 15 de outubro de 2006

O martelo dos deuses

Gosto muito do rock inglês do final dos anos 60 e começo dos anos 70. Acho ridículas as competições que o pessoal gosta de fazer entre Deep Purple e Led Zeppelin, por exemplo. Embora prefira Deep Purple, ouço as duas e sou felicíssimo (quando eu era moleque, com uns 15 anos, era outra história). Ultimamente, tenho tentado ouvir um pouco mais de Led Zeppelin e conhecer um pouco mais sobre a banda.

Comprei baratinho o livro Hammer of the Gods: The Led Zeppelin Saga, hoje na Livraria Cultura. Passei boa parte da tarde tomando café e ouvindo Led Zeppelin e iniciando a leitura do jeito que eu mais gosto: pelo índice remissivo, que afinal eu sou um velho curioso.

A única referência ao Deep Purple no livro fala sobre dois queridos e falecidos músicos, cujas mortes a seu tempo marcaram o fim das suas bandas. Com a palavra, Stephen Davis.

"Quando a mixagem do som estava encaminhada, Bonzo ficava à solta, cuidando dos negócios do seu próprio jeito. Numa noite, ele apareceu nos bastidores de um show do Deep Purple no Nassau Coliseum, em Long Island. Bonzo estava bêbado e muito exaltado, e estava bambeando as pernas nas coxias quando percebeu um microfone livre durante uma fase calma da música. Atirando-se para a frente, Bonzo caminhou até o palco antes que os roadies do Deep Purple pudessem pegá-lo. O grupo parou de tocar, estupefato, quando Bonzo agarrou o microfone e gritou:

-- Meu nome é John Bonham do Led Zeppelin, e eu queria dizer pra todo mundo que temos um novo disco saindo chamado Presence e que vai ser bom pra caralho!

Aí, Bonzo fez menção de sair, mas antes disso ele virou para trás e insultou gratuitamente o guitarrista do Deep Purple.

-- E esse tal de Tommy Bolin aí não toca merda nenhuma!"


Tentei identificar esse show no Deep Purple Diary, pra tentar achar o pirata correspondente. Não encontrei nenhum show em Long Island em 1976 - só encontrei menção a um show da Mk3 no Nassau Coliseum, em março de 1974. Ou é lenda ou Nigel Young não conhece esse show. Ou Davis errou de lugar.

EDITADO: Segundo gente que manja de Deep Purple mais do que eu, realmente rolou isso e provavelmente o Deep Purple Diary não tem esse registro na Web. Mas, segundo eles, há várias lacunas no Diary na internet - muitas das quais o Nigel Young já conseguiu completar mas ainda não pôs na rede. Aparentemente, não existe pirataria desse show.

EDITADO 2: Outra versão pro evento surgiu no Deep Purple Hub. "Uma biografia alemã do Deep Purple diz que isso aconteceu em 23 de janeiro de 1976 em Nova York (Radio City Music Hall). Bonzo anunciou que o filme 'The Song Remains the Same' seria lançado em breve e afirmou que Bolin era mais macho que o Blackmore." Existe pirataria desse show, mas não sei se tem a história.

segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Um minuto de silêncio



Sir Malcolm Arnold, o maestro que regeu e ajudou Jon Lord a compor o Concerto for Group and Orchestra e Gemini Suite, morreu neste sábado. Tinha 85 anos de idade. Em 1993, foi coroado cavaleiro.

Arnold era um compositor de mão cheia, especialmente para filmes. Era dele, por exemplo, a trilha assoviada de "A Ponte do Rio Kwai" (ou de "A Ponte do Rio Que Cai", pra quem via o Faustão no começo dos anos 90), com a qual ganhou um Oscar. Ele escreveu trilhas para mais de 80 filmes nos anos 50. Ao todo, escreveu 132 trilhas e mais de 20 concertos. Um livro inglês o classifica como o "compositor mais mal entendido" da Grã-Bretanha.

O obituário de Arnold publicado no The Times o descreve como um gênio visionário que sofria de distúrbios psíquicos: seria esquizofrênico, depressivo e teria tido problemas com álcool.

O texto do Times não especifica a causa da morte. (Tampouco menciona sua colaboração com o Deep Purple.) O Daily Record, porém, diz que ele estava hospitalizado fazia alguns dias.

Em York, na Inglaterra, está em cartaz o balé Os Três Mosqueteiros, cuja música foi composta por Arnold. Na sexta-feira, um dia antes de sua morte, o jornal The York Press descrevia o maestro como "um dos maiores compositores britânicos vivos".

Já estava marcado para outubro deste ano, quando Arnold completaria 85 anos, o Arnold Festival. Sua música será tocada em vários lugares da Europa, da Ásia e da América do Norte, em 21 e 22 de outubro. No Brasil, Arnold é praticamente desconhecido - especialmente a julgar pelo catálogo das lojas online. O Submarino e a Fnac só têm, cada uma, um CD com sua obra. A Laserland tem seis, mas todos só para importação sob encomenda. Assim sendo, não tem Malcolm Arnold's Day no Brasil, a menos que alguém apresente o DVD do Concerto em público.

Conheça também seu website oficial e o da Malcolm Arnold Society.

A Malcolm Arnold Society tem na internet um alentado artigo sobre a colaboração entre Arnold e Jon Lord. Nesse artigo, Vincent Budd descreve a parceria e conclui:

"As colaborações de Jon Lord com Malcolm Arnold, e mais tarde com Eberhard Schoener, à sua própria maneira mostram que delícias musicais podem ser conquistadas quando os músicos têm bravura suficiente para tentar sacudir os grilhões culturais com os quais a humanidade tratou de prender sua vida terrena. O Concerto, Gemini Suite, Windows e Sarabande são trabalhos de valor duradouro e de uma força suprema e formidável. Diversos outros grupos e músicos de rock já tentaram tomar essa veia de exploração musical, alavancando sua linguagem musical com o meio privilegiado da orquestra, muitas vezes com grande efeito e, sim, ocasionalmente menos que isso. Entretanto, a série de álbuns que Jon Lord produziu entre 1969 e 1976 tem poucos rivais, e se constitui num corpo ímpar de entretenimento musical, para ser apreciado por qualquer amante da música pronto para fruí-lo com de coração alegre e menos endurecido."

quinta-feira, 24 de agosto de 2006

Nepotismo

Abaixo, um vídeo de Blackmore's Night tocando Child in Time na TV alemã. Cinco observações:

1) Blackmore continua tocando pra cacete.
2) A patroa dele cantando, porém, é claramente um caso de nepotismo.
3) Que programa bizarro! O que é aquela mulher dançando, a Elke Maravilha?
4) Nos créditos, eles datam a música de 1977. Só que esse glorioso ano foi o ano em que o Gillan lançou o disco Child in Time, com uma versão diferente da música.
5) Versão bizarra de Child in Time por versão bizarra de Child in Time, ainda prefiro aquela em canto gregoriano.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Bombaim chama

Abaixo, o grupo It's a Beautiful Day toca seu maior sucesso, "Bombay Calling". O que tem a ver com o Deep Purple? Ouça. Não, não é plágio de Child in Time. Na verdade, o que ocorre é o exato contrário. Consta que, em um dos ensaios no Hanwell Community Centre em 1969, Jon Lord começou a dedilhar essa música e o Gillan começou a cantar em cima. Gillan não conhecia. Como estava usando uma calça apertada, incluiu uns gritos. O resultado todos conhecemos.

sábado, 19 de agosto de 2006

Parabéns a um mestre

Hoje, 19 de agosto, Ian completa 61 anos. No vídeo abaixo, ele canta o blues "Wasted Sunsets" - gravada em 1984, no álbum Perfect Strangers, e nunca até agora executada ao vivo. Logo abaixo, Knocking At Your Back Door, do mesmo show. A gravação foi feita anteontem, em Toronto, na turnê de Gillan's Inn.



quinta-feira, 17 de agosto de 2006

Pra comparar

Nos EUA, o Ian Gillan aproveita os intervalos da turnê do Purple pra fazer a de Gillan's Inn. Não se sabe se vai rolar a pensão do Gillan no Brasil, mas fico com uma inveja brutal dos americanos só pelo setlist.

Pra comparar, vejam o que é o setlist do Deep Purple e o que é o setlist do Ian Gillan:

Deep Purple, Grécia, 24/7/2006 - Fireball, Hush, Rapture of The Deep, Strange Kind Of Woman, Wrong man, solo de guitarra ~ Kiss Tomorrow Goodbye, When a Blind Man Cries, Lazy, solo de teclado ~ Perfect Strangers, Space Truckin'. Bis: Highway Star, Smoke on the Water, Black Night

Ian Gillan, EUA, 16/8/2006 - No Laughing In Heaven, Into The Fire, Hang Me Out To Dry, Have Love Will Travel, Wasted Sunsets, Not Responsible, jam instrumental,
Unchain Your Brain, Bluesy Blue Sea, Texas State Of Mind, Sugar Plum, When A Blind Man Cries, Men Of War, solo de bateria, Smoke On The Water. Bis: Trouble, Knockin’ At Your Back Door

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

Datas e cidades

O Purple vem aí e já anunciou as datas oficiais. Tem até show ao ar livre, no Espírito Santo. Sensacional.

NOV 25 - Gigantinho - Porto Alegre
NOV 26 - Master Hall - Curitiba
NOV 28 - Tom Brasil - São Paulo
NOV 29 - Tom Brasil - São Paulo
DEZ 01 - Marina Da Glória - Rio de Janeiro
DEZ 02 - Praça Do Papa (show ao ar livre) - Vitória
DEZ 03 - Chevrolet Hall - Belo Horizonte

sábado, 5 de agosto de 2006

O estripador

Achei no YouTube um videozinho de 1965 que mostra o mestre Screaming Lord Sutch cantando seu sucesso "Jack The Ripper". Nada me tira da cabeça que o guitarrista que aparece só de canto e só de costas é aquele nosso amigo que se veste de preto.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Um minuto de silêncio

UM MINUTO DE SILÊNCIO

Um dos primeiros empresários do Deep Purple, John Coletta, morreu anteontem. O C da HEC Enterprises (Hire-Edwards-Coletta) empresariou o Deep Purple de 1967 (quando a banda era apenas uma idéia) a 1976 (quando a banda acabou pela primeira vez), depois cuidou do Whitesnake. Antes de trabalhar com o Deep Purple, ele foi executivo de publicidade. Em 1980, ele e Tony Edwards tiveram a sacada de processar o Deep Purple Tabajara que circulava pelos EUA - o que acabou tirando os direitos de Rod Evans sobre sua parte na renda sobre as músicas que gravou com o Deep Purple.

Nos últimos anos, ele vivia na Espanha e trabalhava com promoção de shows, segundo a DPAS. No ano passado, quando ficou doente, estava trabalhando com Derek Lawrence - o primeiro produtor do Deep Purple - em algumas idéias de discos. Coletta tinha, pelas minhas contas, 74 anos.

sexta-feira, 30 de junho de 2006

A entrevista

Não faz meia hora que eu falei com o Glenn Hughes. Liguei pra casa dele, em Los Angeles. Atendeu a mulher dele, chamou o mestre e começamos a falar. Eu quase não acreditei. Passamos 15 minutos muito agradáveis conversando.

Ele é um grande cara, mas eu tive certeza de que não sirvo pra ser jornalista de rock full-time. Não sei entrevistar direito caras que eu admiro (como eu trabalho normalmente com jornalismo de política, não corro esse risco). Gaguejei, me perdi, elogiei, falei besteira e tudo mais.

Algumas perguntas que eu queria fazer não foram feitas. Outras, sobre a história do Deep Purple, foram. Mas as principais declarações dele seguem abaixo.

“Estamos fechando nas próximas semanas um acordo com uma gravadora brasileira pra lançar Songs for the Divine por aí. Já me sondaram pra ir a um festival em outubro, que vai passar pelo Rio. Adoro o Brasil, sou louco por São Paulo, mas infelizmente ainda não conheço o Rio. Vai ser uma boa chance.”

“Quando eu entrei no Deep Purple, em 1973, a indústria da música era muito diferente de como é hoje. Era mais simples. Tinha mais a ver com grandes bandas e boa música. Nos últimos 20 anos é que mudou bastante. Pra minha carreira, foi um passo natural saltar do Trapeze para o Deep Purple. O Trapeze era muito popular na América, mas ainda não nos conheciam na Europa.”

“Eu entrei no Deep Purple com 21 anos, em junho de 1973. A idéia de ter um dueto de vozes no Deep Purple já andava pela cabeça do Ritchie e do Jon. Desde o começo estavam convidando o Paul Rodgers. Fiquei amigo, individualmente, de todos os colegas da banda.”

“Quando eu cheguei na banda, cheguei trazendo elementos de blues. Eu era um dos poucos caras brancos que entendiam a música dos cantores negros. Eu e o Bolin conhecíamos a fórmula secreta pra misturar o rock com o funk. Todo mundo curtiu, no começo. Especialmente depois da entrada do Bolin, a gente começou a aprofundar isso.”

“O Ritchie é um cara mais difícil, mas até aí todos os grandes guitarristas são difíceis. O Jimmy Page é difícil, o Jeff Beck é. Todos são. O Tony Iommi é mais tranqüilo, mas é exceção.”

“Tommy Bolin era uma figuraça. Gente boa, crianção... só que ele tinha aquele problema muito sério com a heroína. Em 1975, eu comecei a pegar pesado com as drogas. Cocaína, Heroína... nessa época o Bolin já estava começando a experimentar com morfina.”

“Quando o cara é famoso, vive cercado de gente oferecendo drogas, bebida, carros, aviões, mulher. Tudo de graça. Infelizmente, eu era muito jovem, não estava preparado pra tudo isso. Não queria ficar viciado, mas infelizmente depois que a coisa começa o cara fica querendo mais. A coisa foi mais pesada comigo e com o Bolin. Não digo que os outros não viessem junto, mas eles eram mais da bebida. Eu nunca fui de beber, mas acabei pegando pesado com a cocaína. As drogas são uma merda, fodem a vida do cara. Eu estou há 15 anos lutando com elas.”

“O que acabou com o Deep Purple, há 30 anos, foi uma combinação de sexo, drogas e rock’n’roll. Rolava muita doideira. Tinha troca de mulheres, muita droga e o negócio de a música ir numa direção diferente.”

“Agora em agosto ou setembro, devo ir a um estúdio pra ouvir as fitas dos ensaios de Stormbringer pro disco novo. Infelizmente, parece que não sobraram músicas extras. Mas eu vou vasculhar tudo aquilo, todas aquelas fitas dos ensaios. Devo achar alguma coisa nova e diferente. Mas o disco ainda vai demorar um pouco, talvez só saia em janeiro.”

“Diga aos fãs brasileiros que eu vou adorar voltar lá pra cantar minhas músicas. Adoro o país e sua musicalidade.”

quinta-feira, 22 de junho de 2006

Fala Hughes

Glenn Hughes deu uma entrevista à Rock'n'Roll Universe e falou sobre o Purple. Algumas declarações:

"O Blackmore é bem doido. Acho que uma galera foi a nocaute com as guitarras que ele jogou na platéia (em California Jam). Uma vez ele me bateu com a guitarra. Ele disse pra eu nunca ir pro lado dele do palco. Claro, eu queria saber o motivo, então uma noite eu fui. Ele jogou a guitarra pro alto e me deu uma raquetada com ela nas costas. Doideira. Mas isso é parte de quem ele é, e eu o adoro por isso."

(Sobre o fim do Deep Purple, em 1976) "As coisas começaram a ficar malucas. Acho que tinha um monte de coisas rolando. Muita coisa rola nos bastidores que pouca gente percebe. Só digo que foi sexo, drogas e roquenrôu. Todos esses elementos-chave foram as coisas que acabaram com a banda. Tinha coisas fodidas rolando nos bastidores, com drogas, esposas, namoradas (Jon Lord roubou na época a namorada de Hughes e até hoje é casado com ela). Foi por isso que a banda acabou. O David Coverdale e eu estávamos indo pra lados diferentes, mas acho que a banda estava cansada. Acho que precisava de férias, foi uma boa hora pra acabar a banda. Eu mesmo andava meio desiludido. Comecei a me afundar na cocaína, e queria tocar mais funk. (...)"

(Sobre a intenção de reunir a Mk3) "Acho que David e eu faríamos isso. Falo em nome do David, e o David e eu conversamos sobre isso no natal. Acho que lá pelas tantas começou a rolar na imprensa. Mas, enquanto o Gillan, o Glover e o Paice estiverem lá, acho que não acontece. Acho que se um dia o Deep Purple parar de fazer turnês com os dois Ians e o Roger, que são gente muito boa por sinal, talvez role. Não quero pisar no pé de ninguém e fazer algo errado. Mas acho que, se juntasse Ritchie Blackmore, Glenn Hughes, David Coverdale, Ian Paice e Jon Lord de novo, provavelmente seria uma baita turnê. David e eu já conversamos sobre como seria legal voltarmos a cantar juntos. Mas só rolaria se fosse no Deep Purple. E só se fosse com o Ritchie Blackmore. Na minha idade de agora, 53, as coisas têm que fazer sentido. Não quero fazer uma coisa errada. (...) Nunca falei com o Ritchie a respeito. Não dei nenhum telefonema, ninguém deu. Acho que ele curte o negócio lá com a mulher dele. Só acho que na hora certa, pode rolar. Acho que, se for acontecer, seria nos próximos 2 ou 3 anos."

quarta-feira, 21 de junho de 2006

O Orkut dos famosos

Glenn Hughes está no MySpace. Em seu site, ele convida todos a se tornarem amigos dele no serviço. Entre os amigos do Hughes, estão Steve Vai e Paul Rodgers.

Como era branca minha cobra

Esse é o título da autobiografia que o Coverdale disse que vai escrever, em entrevista à Record Collector. Trocadilhos garantidos. Ou não, visto que a música em que ele criou o nome tinha esta singela letra:

White skin women keep me howlin' for more
Brown skin honey, I love

Got a whitesnake mama
You wanna shake it mama
Got a whitesnake mama
Come an' let it crawl on you,
just enough to see ya through


Tomara que ele também conte a história de como o Wando roubou sua música Fire'n'Passion.

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Motivando a Croávia



O Deep Purple se apresenta hoje perto do hotel onde está hospedada a seleção da Croácia, para motivar o time para o confronto com o Japão, neste domingo. Enquanto isso, a seleção brasileira ataca de pagode.

Fiz bem em torcer pra Croácia na terça. Perdeu, mas incomodou os favoritos. Repito a dose no domingo.

terça-feira, 13 de junho de 2006

Plastic Night Band ou Blackmore's Ono

OK, essa vai ser longa. Eu, se fosse vocês, imprimia. Mas não deixem de comentar.

Pense em um grande artista que se apaixona perdidamente por uma mulher e passa a criar apenas junto com ela, brigando muito mais feio do que o normal com os colegas com os quais mudou sua arte e ainda por cima passando a se comportar diferente. O caso clássico é o de John Lennon e Yoko Ono. Mas pode descrever a recente relação de Hermeto Paschoal com Aline Morena. E pode descrever, certamente, o caso de Blackmore com a sua patroa, vulgo Blackmore's Night.

Blackmore e Gillan, guardadas as proporções, foram Lennon e McCartney no Deep Purple. A Candice não estava lá nas primeiras brigas, mas a Yoko também não. E ambas estavam junto na época do conflito final. Duas mulheres de idéias exóticas, especialmente sobre arte. Se Blackmore e Lennon já tinham alguma tendência temperamental, a parceria com as respectivas só adensou a redoma em torno deles.

Eu nunca tinha pensado nessa história nesses termos até ler a nota do Blackmore sobre Montreux. Eu sabia que ele recusaria, mas foi preciso ler a nota pra cair a ficha. Até ontem, eu interpretava Blackmore's Night como um ato de cavalheirismo do Blackmore - que, coitado, já era meio bolado e não andaria batendo muito bem das idéias. Mas eu achava bonito o fato de um grande artista como ele sair dos holofotes para dar passagem à patroa. Românticos. Estamos em falta no mundo.

Nas últimas duas semanas, alguns fatos surgiram, reforçando a hipótese Yoko Ono. Tem o caso do jornalista sueco, em que a empresária e sogra do Blackmore fez questão de ter um chilique mais explosivo do que aquele que o Blackmore teve no California Jam. Outro dia, fuçando o site de Blackmore's Night, li uma declaração da Candice sobre o episódio do copo d'água do vídeo Come Hell or High Water. Sim, ela estava lá como backing vocal. Sempre achei que fossem maledicências as declarações do Gillan sobre o fato de o Blackmore ter saído do camarim naquela noite puxado pela namorada por uma coleira.

Yoko Ono. Santa ou demônia? Libertadora ou escravizante? Até hoje, não sei direito o que pensar dela. Por conseqüência, não sei direito o que pensar do Blackmore com a patroa. Já disseram que esse tipo de interpretação sobre síndrome de Yoko Ono é bem machista. Faz algum sentido.

Com a pulga atrás da orelha, fiz questão de reler as declarações que o Lennon deu à Playboy na entrevista publicada pouco depois de ele morrer. Nunca li um Lennon tão maduro. Acho que o Blackmore concordaria, se não estivesse tão preocupado em falar com duendes e coisas do gênero.

Obviamente, curto mais os Beatles do que a Plastic Ono Band, mais o Deep Purple do que Blackmore's Night. Acho que faz sentido curtir o Blackmore no Purple apenas por aquilo que está gravado e em que eu sempre descubro coisas novas.

Acho chato que ele esteja incomunicável com os ex-colegas, acho que ele está esquisitão (Lennon também esteve), acho foda esse negócio da sogra. Mas é inegável que Blackmore aparenta estar muito mais feliz hoje do que em qualquer ponto de 13 anos para trás. O artista se escondeu sob um rabo de saia, mas o homem ficou feliz.

Deixemos o Blackmore em paz com seu passado, seu presente e seu futuro. Afinal, depois que chega ao topo, um homem não tem esse direito adquirido?



Para ler e pensar, reproduzo abaixo alguns trechos da famosa entrevista à Playboy.

PLAYBOY: Por que você virou um homem caseiro?

LENNON:
Houve muitas razões. Eu cumpri obrigações e contratos desde que eu tinha 22 anos e até bem depois de fazer 30. Depois de tantos anos, era tudo o que eu conhecia. Eu não era livre. Eu estava preso numa caixa. Meu contrato era a manifestação física de estar na prisão. Era mais importante encarar a mim mesmo e encarar essa realidade do que continuar uma vida de roquenrol - e ficar oscilando conforme sua própria performance ou a opinião do público sobre você. O roquenrol não tinha mais graça. Decidi não aceitar as opções-padrão do meu negócio - ir pra Las Vegas cantar seus grandes sucessos, se tiver sorte, ou ir pro inferno, que é pra onde Elvis foi.

ONO: O John era como um artista que é muito bom em desenhar círculos. Ele se prende a isso e acaba virando sua etiqueta. Ele tem uma galeria pra promover isso. E, no ano seguinte, ele inventa de fazer triângulos, sei lá. Não reflete a vida dele. Quando você continua fazendo a mesma coisa por dez anos, ganha um prêmio por ter feito isso.

LENNON: Ganha o grande prêmio quando pega câncer e passou dez anos desenhando círculos e triângulos. Eu tinha me tornado um artesão, e podia ter continuado sendo um artesão. Eu respeito os artesãos, mas não estou interessado em virar um.

ONO: Só pra provar que consegue deixar as coisas de lado.

PLAYBOY: Vocês estão falando de discos, claro.

LENNON:
É, ficar lançando só porque esperam isso de mim, como tanta gente que faz um disco a cada seis meses porque é o que se espera.

PLAYBOY: Está falando de Paul McCartney?

LENNON:
Não só o Paul. Mas eu tinha perdido a liberdade inicial do artista ao me tornar escravo da imagem do que o artista deve fazer. Muitos artistas se matam por causa disso, seja pela bebida, como o Dylan Thomas, ou por doideira, como o Van Gogh, ou do coração, como o Gauguin.

PLAYBOY: A maior parte das pessoas teria continuado a produzir. Como você conseguiu ver uma saída?

LENNON:
A maior parte das pessoas não vive com Yoko Ono.

PLAYBOY: Ou seja...?

LENNON:
A maior parte das pessoas não tem uma companheira que diga a verdade e que se recuse a viver com um artista de merda, algo que eu sei ser muito bem. Eu sei encher de besteira a mim mesmo e a todo mundo em volta.
YOKO: É a minha resposta.

PLAYBOY: O que ela fez por você?

LENNON:
Ela me mostrou a possibilidade da alternativa. "Não precisa fazer isso". "Não preciso? Mas... mas... mas..." Claro, não foi tão simples e nem rolou da noite pro dia. Precisou de reforço constante. Cair fora é muito mais difícil que seguir em frente. Eu já fiz as duas coisas. Por encomenda e no prazo, eu entreguei discos de 1962 a 1975. Cair fora parece aquilo que os caras fazem aos 65 anos, quando de repente não era pra eles existirem mais e são mandados pra fora do escritório [bate na mesa três vezes]: "Sua vida acabou. Vá jogar golfe."

(...)

PLAYBOY: Por que dizem tanto que a Yoko manda em você?

LENNON:
Eles se apegam a uma coisa que nunca nem sequer existiu. Qualquer um que diga ter algum interesse em mim como um artista individual ou mesmo como parte dos Beatles simplesmente entendeu mal qualquer coisa que eu já disse se não entendem por que estou com a Yoko. E, se não conseguem ver isso, não conseguem ver nada. Estão todos batendo punheta pra... sei lá, podia ser qualquer um. Mick Jagger ou algum outro. Deixa eles baterem punheta pro Mick Jagger, tá bom? Eu não preciso.

PLAYBOY: Ele adoraria.

LENNON:
Eu simplesmente não preciso disso. Deixa eles irem atrás dos Wings. Esqueçam de mim. Se é isso que querem, vão atrás do Paul ou do Mick. Não estou aí pra isso. Se isso não está claro pelo meu passado, estou dizendo em preto e verde, do lado dos peitos e bundas da página 196 da Playboy. Vão brincar com os outros meninos. Não me encham o saco. Vão brincar com os Rolling Wings.

PLAYBOY: Você já----

LENNON:
Não, peraí um minuto. Vamos continuar por um segundo; às vezes eu não consigo me livrar disso. [Ele está de pé, escalando a geladeira.] Ninguém nunca disse nada sobre o Paul ter me enfeitiçado ou sobre eu ter enfeitiçado o Paul! Ninguém achou que era anormal naquele tempo, dois caras juntos, ou quatro caras juntos! Ninguém disse, "Pô, como é que esses caras não se separam? Tipo, o que será que rola nos camarins? Que papo é esse de Paul e John? Como é que eles ficam tanto tempo juntos?" Passamos mais tempo juntos lá no começo do que John e Yoko; nós quatro, dormindo no mesmo quarto, praticamente na mesma cama, no mesmo caminhão, vivendo juntos noite e dia, comendo, cagando e mijando juntos! Tá bom? Fazendo tudo juntos! E ninguém falava porra nenhuma sobre estarmos enfeitiçados. Talvez dissessem que estávamos enfeitiçados pelo Brian Epstein ou pelo George Martin [primeiro empresário e produtor dos Beatles, respectivamente]. Sempre tem alguém que deve ter feito alguma coisa pra você. Sabe, eles andam parabenizando os Stones por estarem juntos há 112 anos. Uêêêêêpa! Pelo menos o Charlie e o Bill ainda têm suas familias. Nos anos 80, eles vão estar perguntando: "Por que esses caras ainda andam juntos? Não podem se virar sozinhos? Por que eles precisam andar com uma gangue? É o liderzinho que tem medo que alguém possa esfaqueá-lo pelas costas" Essa vai ser a questão. Essa aí é que vai ser a questão! Eles vão olhar pros Beatles e pros Stones e todos esses caras serão relíquias. Os dias em que essas bandas eram feitas só de marmanjos estarão nas fitas de notícias, sabe. Vão mostrar fotos do cara de batom rebolando a bunda e os quatro carinhas com a maquiagem preta nos olhos tentando parecer sacanas. Isso é que vai ser piada no futuro, e não um casal cantando junto, ou vivendo e trabalhando junto. Tudo bem quando você tem 16, 17 ou 18 anos, ter companheiros e ídolos, OK? É tribal, é turma, tudo bem. Mas quando isso continua e você ainda está fazendo a mesma coisa aos 40 anos, quer dizer que ainda tem cabeça de 16.

(...)

PLAYBOY: Você fica dizendo que não quer voltar dez anos atrás, que muita coisa mudou. Você não sente que seria interessante - não precisa ser cósmico, só interessante - se reunir, com tantas experiências novas, e cruzar seus talentos?

LENNON:
Não seria interessante levar o Elvis de volta à fase da Sun Records? Sei lá. Mas fico feliz em ouvir o que ele gravou naquela época. Não quero arrancá-lo do caixão. Os Beatles não existem e nunca existirão de novo. John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Richard Starkey podem até fazer um show -- mas nunca mais serão os Beatles cantando "Strawberry Fields" ou "I am the Walrus" de novo, porque não temos mais vinte e poucos anos. Não podemos ser assim de novo, nem as pessoas que estão ouvindo.

PLAYBOY: Mas não é você que está dando muita importância a tudo? E se fosse só uma diversão nostálgica, tipo reunião da turma do segundo grau?

LENNON:
Nunca fui a essas reuniões. Meu negócio é: fora da vista, fora da cabeça. É essa a minha atitude em relação à vida. Então, não tenho nenhum romantismo quanto a nenhuma parte do meu passado. Penso nisso só até o ponto em que isso me deu prazer ou me ajudou a crescer psicologicamente. É essa a única coisa que me interessa no passado. Aliás, eu não acredito no ontem ("I don't believe in yesterday"). Sabe, eu não acredito no ontem. Só me interessa o que eu faço agora.

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Não vai rolar

Como esta revista eletrônica já suspeitava, o meu gênio genioso favorito não vai tocar com o Deep Purple na homenagem aos 40 anos do Festival de Jazz de Montreux. Vejam lá a nota que Ritchie Blackmore colocou em seu site:

"O boato mais ridículo do mês! A verdade sobre o show que vai acontecer em Montreux é: Ritchie e seus representantes nunca foram sondados pelos membros do Deep Purple, por seus agentes ou pelos organizadores do show de Montreux. A única forma pela qual este escritório ouviu falar sobre o show foi por meio de fãs que aparentemente estão sendo enganados por boatos falsos. Como todos sabem, Ritchie deixou o Deep Purple em 1993 - há 13 anos. Ritchie não fará uma aparição no show de Montreux."

Alguns comentários:

1) Claude Nobs não teria feito a declaração sobre a possível ida de Ritchie a Montreux se não fosse verdade, pelo menos, que os empresários do Deep Purple iriam tentar;

2) Bruce Payne, o empresário do Purple (que trabalhou com Blackmore durante mais de 20 anos e hoje não consegue falar com ele), já passou por problemas terrivelmente chatos com Blackmore antes. Coisa de tentar pagar direitos autorais e além de tudo ser processado. O Blackmore tem uma birra feia com ele e o Purple em geral (vide notícia abaixo, em alemão);

3) A empresária e sogra do Blackmore é biruta. Há poucas semanas, ela tomou de um jornalista sueco a caríssima caixa "Listen, Learn, Read On", que ele tentou pedir para o Blackmore autografar. Fez um fiasco dos diabos e disse que jornalistas suecos nunca mais entrevistariam o genioso gênio. É bem possível que essa senhora tenha feito que não ouviu caso o Payne tenha ligado. Tenho algumas idéias sobre o porquê do comportamento dela, mas deixo isso para um outro post, sobre como me parece que funciona Blackmore's Night;

4) Dona Vânia pode dormir sossegada: não vou mais vender a mãe pra ir a Montreux.

(Meu agradecimento de hoje vai ao amigo Robson Rocco, por avisar que saiu a nota oficial.)

domingo, 11 de junho de 2006

De raiz

DE RAIZ

Muito antes de Child in Time, Ian Gillan já quebrava tudo. Vejam abaixo dois flagrantes dele no Episode Six, em 1967 (o Glover também tocava lá), e o vídeo alemão de Hallellujah, a primeira música que ele gravou com o Deep Purple. Depois de Hallellujah, um vídeo raro de Screaming Lord Sutch. O Blackmore deve ser o guitarrista, mas só aparece o som.







sexta-feira, 9 de junho de 2006

Imagens raras

Na turnê de outubro de 1968 pelos EUA, abrindo a turnê de despedida do Cream, a EMI gravou um vídeo com o Deep Purple, no Inglewood Forum. Era um movimento ousado - era praticamente inviável lançar comercialmente um vídeo de música naquela época pré-VHS e (só agora me caiu a ficha) pré-Woodstock. O vídeo acabou sendo arquivado, mas cópias piratas dele acabaram circulando no mercado negro. A qualidade da imagem é péssima. O som se salva com alguma qualidade - tanto que a Purple Records lançou recentemente um CD com isso.

Deliciem-se com Help (detalhe para a performance "sit-in" do Rod Evans) e Mandrake Root, na versão da Mk1.



quarta-feira, 7 de junho de 2006

Stormbinger coming... time to die!

STORMBRINGER COMING... TIME TO DIE!

Sim, tempo de morrer. Morrer com uns noventa paus no remaster importado, que deve sair neste ano. O Glenn Hughes vai fazer parte da equipe de produção.

Vai ter pérolas, como a versão original do que o Coverdale diz ao contrário no início da faixa-título ("cocksucker, muthafucker, Stormbringer") e uma versão instrumental de Highball Shooter pra qualquer fanático pelo Deep Purple fazer seu purpleoquê em casa se achando o próprio Coverdale ou Hughes. Sem falar em TRÊS VOCAIS DIFERENTES para Soldier of Fortune.

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Meu nome é Gillan

Comprei hoje o CD "Gal Tropical", de 1979. Tava R$ 19 no Submarino. Esse é o mesmo disco que tem a Gal Costa cantando "Força Estranha" e "Balancê". Mas não é isso que me interessa, exatamente.

Na última faixa desse disco, chamada "Meu Nome É Gal", composta por Roberto e Erasmo em 1969, a doce bárbara faz um duelo gillanesco com a guitarra de Robertinho do Recife. A idéia, consta, foi dele. Robertinho é um conhecedor do rock bretão, então provavelmente ele se inspirou no que Blackmore e Gillan fizeram no Made in Japan.

E vocês achavam que Deep Purple não tinha nada a ver com Roberto Carlos, né?

Minha dica: procurem também ouvir o segundo disco da Gal, de 1969, que tem a versão original dessa música. É um disco lindamente experimental. Tem umas guitarras fabulosas, uns barulhinhos sensacionais. Lembra um pouco os Mutantes. Que período glorioso para a música, aquele.

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Acho que não rola

Saiu ontem uma entrevista com o Blackmore numa revista alemã. Ele colocou no site dele uma imagem da página:



Fiz um esforço de reportagem pra traduzir essa frase. Diz ali: "até um gorila podia ter pego meu lugar no Deep Purple".

Bem, amigos do Purpendicular, acho que não vai rolar o reencontro em Montreux.

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Para maníacos

Abaixo, o vídeo do Deep Purple tocando "Burn" na Leeds Polytechnic, em maio de 1974 - um mês depois de California Jam. As vozes ficaram mixadas mais alto que os instrumentos. Confesso que não me agradam os gritinhos do Hughes, tampouco o fato de ele uivar no refrão. Não me agradam porque eu sei que ele sabe fazer melhor do que isso.



E que tal a única gravação em vídeo conhecida que mostra a Mk2 original tocando Smoke on the Water?



E o que vocês diriam de ver Roger Glover e David Coverdale dividindo o palco? É o baile da borboleta. São poucos segundos, eu tenho o vídeo inteiro e de repente um dia eu subo pro YouTube:

Cuidado com o que diz

Trecho de uma entrevista do Gillan a um site grego:

Rockpages.gr: Você acha que a carreira do Deep Purple foi negligenciada em comparação com, digamos, a do Led Zeppelin?

Ian Gillan: Bom, o Led Zeppelin e o Black Sabbath tiveram a vantagem de terem acabado. E quando eles terminam, não são mais ameaça para ninguém. A indústria da música odeia coisas que não pode controlar. Isso são negócios. Se você é um bom empresário, tem que controlar seu produto, e é por isso que há uma relação de amor e ódio entre músicos e empresários. Um não pode existir sem o outro. Tem que entrar no circo. (...) Acho que, aos olhos da mídia também, nós nunca jogamos o jogo. Nunca nos preocupamos com as roupas que usávamos, nem com a nossa imagem. Até certo ponto, estávamos um pouco depois do Led Zeppelin e um pouquinho antes do Black Sabbath, mais ou menos ali no meio. Um dia eu vi um vídeo e pensei "meu deus, esse é o Ritchie Blackmore", mas não era! Não era o Ritchie! Você vê lá um cara vestido de preto fazendo aquilo tudo, mas foi exatamente o Jimmy Page que fez aquilo primeiro! E eu pensei "Meu deus!" E aí eu olho pra mim mesmo: eu copiei o Elvis Presley. Todos nós copiamos. Todos evoluímos... nós discordamos de todo mundo, incluindo nossos empresários, incluindo nós mesmos, incluindo certamente a mídia. Nós não fazemos esse jogo, e você pode chamar isso de respeito se quiser, ou de qualquer outra coisa. Não acho necessariamente que merecíamos porque eles, como um plano de longo prazo, se quiser, não sabíamos na época, mas era uma política de longo prazo, e chegamos perto de morrer como família em uma ou duas ocasiões, mas nós ainda...

(As luzes da sala do hotel piscam.)

Perdoe-me por dizer essas coisas! (rindo)

Rockpages.gr: Deve ter sido aquele comentário sobre o Ritchie Blackmore...

Ian Gillan: Não... ele não é tão poderoso assim! Ele é bom, mas não tanto assim! (rindo)

They all may go to Montreux

Mais notícias: Pete York confirmou que Jon Lord estará em Montreux dia 15 de julho. Por acaso, será o último dia do festival, e está marcado o show do Purple pra esse dia. Na agenda de Blackmore's Night, não há nada marcado até 28 de julho.

Estou batalhando uma entrevista com "Funky" Claude. Vamos ver o que conseguiremos.

Funky Claude, ainda correndo pra cima e pra baixo

"Funky" Claude Nobs, o papa do Festival de Jazz de Montreux, citado na letra de Smoke on the Water, comemora em julho os 40 anos do tradicional festival. Ele já fechou com o Deep Purple (que acaba de lançar um DVD com os shows que fez lá em 1996 e em 2000) para participar. Em entrevista à Billboard, ele afirma: Ritchie Blackmore está sendo convidado pra fazer uma aparição especial no show do Purple. Resta saber se o genioso gênio vai topar. O Lord topa facinho.

No Orkut, previ estes quatro cenários possíveis:

1) Blackmore topa e por uma noite a Mk2 estará de volta. Ele toca mas nem olha na cara do Gillan;

2) Blackmore topa, mas só pra tocar Smoke on the Water e olhe lá. Já tá bom demais;

3) Blackmore topa, mas só por videoconferência. Ele toca de dentro de seu castelo ou em outro palco, e a imagem é transmitida pelo telão;

4) Blackmore não topa, manda todo mundo à merda e processa quem reclamar.

É claro que tem o quinto cenário, o mais absurdo de todos:

Blackmore topa, se comporta durante o show inteiro e, com um sorrisinho, bota fogo no palco no meio de Smoke on the Water - não sem antes dar uma guitarrada na cabeça do Gillan, que desmaia. Com o joelho ferrado, Lord tropeça e cai embaixo do teclado. Ian Paice atira uma baqueta contra a cabeça do Blackmore, que fura seu cérebro. Glover consegue salvar Lord. Mas, com o incêndio, Gillan e Blackmore morrem carbonizados. Ninguém consegue identificar qual é qual e os corpos são trocados no enterro. O Deep Purple acaba, mas seus discos passam a vender feito água.

(Um abraço à Ana Cristina Gomes, que forneceu o link da entrevista do Funky Claude.)

terça-feira, 30 de maio de 2006

Pára tudo

Amigos, pausa para o grande momento da arqueologia purpleana.

É o equivalente na história do Deep Purple ao elo perdido na antropologia.

Respirem fundo.

Respiraram?

Estão prontos?

Sério?

Achei no YouTube o mais antigo vídeo do Deep Purple que existe.

Foi gravado em 20 de abril de 1968, na TV dinamarquesa.

Quando a banda marcou o estúdio, ainda se chamava Roundabout. MINUTOS ANTES de ir ao ar, eles mudaram de nome para Deep Purple - e o Jon Lord EXPLICOU ISSO NO AR.

(A banda se chamava Roundabout por herança do primeiro baterista, Chris Curtis. Com o desaparecimento dele e a substituição por Ian Paice, eles queriam um novo nome. Parte da banda queria "Fire". Blackmore bateu pé no "Deep Purple". Vocês sabem quem venceu.)

O vídeo mostra um trecho do solo de "Help", dublada de uma demo - que saiu em CD no Brasil no remaster de Shades of Deep Purple.

Raridades alemãs

Achei no YouTube umas preciosidades purpleanas, quase todas vindas da Alemanha. É a verdadeira Mk2 da Era de Prata amigos.

A primeira mostra o Deep Purple tocando em Stuttgart, em 16 de fevereiro de 1972. Tem trechos de Highway Star (com o Gillan errando a letra, pois era uma das primeiras apresentações após a gravação de Machine Head), tem imagens da platéia com o bolachão de In Rock e imagens dos mestres relaxando no camarim ao som de Child in Time. Adoraria entender alemão, mas pra mim é grego.



Direto de Paris, do Pop Deux (1970), temos Wring That Neck.



Aqui, um trecho de sete minutos do Purple tocando Mandrake Root no South Bank Summer Festival de 1970, em Londres. Eu nunca canso de ouvir apresentações deles tocando Mandrake Root em 1969-71. Não tem uma versão igual à outra. E em cada uma delas eles fazem tudo o que sabem.



Gonna make it hard for you, you're gonna - INTO THE FIRE!!!! Primeira vez em que eu vejo isso em vídeo, ao vivo. Diz a legenda do YouTube que foi gravado em 1971.



Já que estamos no terreno das novidades alemãs, que tal esta Speed King psicodélica de abril de 1970? O cenário chega a ser macabro. Será que é o mesmo programa que no ano seguinte gravou a primeiríssima versão ao vivo de Highway Star? Infelizmente, a fita original tava meio nhonha.



Este aqui eu mostrei pro Abdalla outro dia aqui em casa e ele ficou de queixo caído. É na TV alemã, em 1971. Os mestres dublam Fireball para uma platéia extasiada. Obviamente, Ritchie Blackmore não curtiu nem um pouco o teatrinho. Percebam como ele toca a guitarra no final da música.



Pra não dizer que só tem Mk2, apesar de pra mim a Mk2 original ser o que de mais perfeito o Purple já fez, que tal um promo alemão de Stormbringer?

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Buenos Aires, tchê

O grande cantor Ronnie James Dio faz turnê sul-americana em julho e vai passar pelo Brasil. Em seu site, constam as seguintes datas:

12 de julho - Belo Horizonte, Brazil (Marista Hall)
14 de julho - Rio de Janiero, Brazil (Claro Hall)
15 de julho - Sao Paulo, Brazil (Credicard Hall)
16 de julho - Buenos Aires, Argentina (Gigantinho)

Acuma? Gigantinho em Buenos Aires?

sábado, 27 de maio de 2006

O Lord, a princesa e o zepelim

Na semana passada, os remanescentes do Led Zeppelin estiveram na Suécia para ganhar o Prêmio Polar, da família real sueca. Quem entregou o prêmio foi Jon Lord. Na foto abaixo, Jon Lord, a princesa Victoria e Jimmy Page.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

Encontro de lendas vivas

Comecei a pôr no YouTube algumas das raridades que tenho em vídeo. Aqui, Blackmore (SORRINDO e de CAMISA DE SEDA AZUL) ensina Hugh Hefner a fazer um acorde de guitarra. Como guitarrista, Hef é um ótimo editor de revista de mulher pelada.



E que tal a Liga da Justiça tocando Black Night na BBC em 1970? Ian Gillan é o Capitão América. Ian Paice é o Super-Homem.

sábado, 13 de maio de 2006

O ataque das guitarras do Purple

Aos 15, 16 anos, meu ídolo absoluto era um certo Richard Hugh Blackmore. Eu estava começando a tocar guitarra, e pra mim nada superava a possibilidade de extrair dos meus dedos um som parecido com o que ele tirava. Acabei desviando de carreira, deixei de aprender a tocar guitarra e hoje em dia só o que eu tenho em casa é um violão fabricado com trabalho escravo na China. O mais barato que achei.

Hoje, passeando pela Teodoro Sampaio, entrei na Matic e brinquei um pouco com uma Fender cor de creme (R$ 3.200) plugada num amplificador Marshall valvulado. Basicamente, brinquei com algumas introduções, como Burn, Mandrake Root, Lay Down Stay Down, Lazy e Strange Kind of Woman. Estou caminhando nas nuvens - pela primeira vez na vida, senti que tocava Deep Purple direito. Ficou igualzinho, pela primeira vez na minha vida, saído diretamente dos meus dedos. Nada substitui essa sensação. Absolutamente nada. Eu me senti realizando o sonho dos meus 15 anos.

Em homenagem a isso, vamos ver em ação cada um dos guitarristas que o Deep Purple já teve em toda sua história. Começando por...

1) O homem de camisa de seda azul, ainda com uma Gibson, tocando Hush no Playboy Late Night Club, em 1968:


Get this video and more at MySpace.com

2) Tommy Bolin, tocando Love Child no Rises Over Japan:


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3) Joe Satriani, com Maybe I'm a Leo, num vídeo pirata:


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4) Steve Morse, com Contact Lost:


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quarta-feira, 10 de maio de 2006

O motora do beco da morte

Se você conhece o Slaves & Masters, vale a pena dar uma olhada neste vídeo do Rainbow, que tem três quintos daquela formação do Deep Purple. Eles tocam "Death Alley Driver".

terça-feira, 9 de maio de 2006

Quando Coverdale era verde

Nesta entrevista abaixo, lindamente editada, David Coverdale conta seus primeiros dias no Deep Purple.

quinta-feira, 4 de maio de 2006

Rolam as pedras

Esta aqui embaixo é a capa do número mil da revista Rolling Stone, lendária bíblia da música pop. Vocês conseguem identificar algum membro do Deep Purple nesse onde-está-Wally? Eu ainda não procurei direito.



Vale a pena ler, no site da Rolling Stone, as resenhas de alguns discos do Deep Purple. Eles começam em Machine Head e resenham todos os principais discos até House of Blue Light (incrivelmente considerado melhor do que Perfect Strangers pela revista).

Como muitos de nós não vivemos a época original do lançamento dos discos (eu nasci uma semana antes da resenha de Made in Europe), ainda mais nos EUA, é sempre uma preciosidade encontrar essas coisas pra ver como os vaivéns do Deep Purple foram recebidos na época. Sente só, no original:

Machine Head - "Now, I can't be that much of a purist, because I'm sure that "Highway Star" and "Space Truckin'" took at least 20 minutes each to compose, but I do know that this very banality is half the fun of rock 'n' roll. And I am confident that I will love the next five Deep Purple albums madly so long as they sound exactly like these last three." (Ele comenta três músicas na resenha. Nenhuma delas é Smoke on the Water.)

Made in Japan - "While Purple refuses to take themselves too seriously, all of the solos on Made In Japan are technically superior to most instrumental melodramatics one hears from supposedly more serious bands."

Who Do We Think We Are - "Jeez, what an unsettling album! For the life of Reilly I can't understand how Deep Purple evidently lost the macho glory which made their In Rock LP such an Owsleyan mindfuck."

Burn - "Deep Purple's first album since last year's departure of vocalist Ian Gillan and bassist/composer Roger Glover is a passable but disappointing effort. On Burn, new lead singer David Coverdale sounds suitably histrionic, like Free's brilliant Paul Rodgers (rumored to have been Purple's first replacement choice). But the new material is largely drab and ordinary, without the runaway locomotive power of the group's best work."

Stormbringer - "While the two newcomers are just as competent as their predecessors (as witnessed on the title cut, one of the few real throwbacks to Machine Head days), the attempts that the band has made at diversifying its sound have been only partly successful. (...) Stormbringer still exhibits a few points of flash—the occasional familiar Blackmore riff or Lord organ wail—but in toto it's a far cry from the band's peak."

Come Taste The Band - "Like Blackmore, Bolin establishes tension between Purple's solid rhythm foundation and his own sustained clarity and agitated upper-fret playing. While Blackmore was largely confined by this style, Bolin employs it as only one of many. His more flexible approach to writing and arranging produces a more melodic and dynamic feel. With him, Purple's music has outgrown the predictability of the past. Textures replace a reliance on volume, and changes in tone and pace more frequently contrast and augment each other. There is evidence of give and take that Deep Purple hasn't shown for some time. (...) A visible attempt to experiment has expanded the group's music beyond the heavy-metal trap, and this could lead them to rediscover the progressive style that somehow vanished after In Rock."

Made in Europe - "Composed of five extended tracks from three European concerts in early 1975, Made in Europe chronicles the last moments of guitarist Ritchie Blackmore's membership in Deep Purple, and the opportunity to glean a few more bucks from Blackmore's currently rising status seems to be the sole reason for its release. (...) The only interesting moments occur on "Burn," the seven-minute opening cut. It's a well-done, solid rocker, but its fascination stems largely from how hard vocalist David Coverdale tries to mimic his popular predecessor Ian Gillan." (Acuma?)

Perfect Strangers - "Excepting the title cut and the rambunctious but less effective "Knocking at Your Back Door," the material consists of hastily knocked-off jams that allow guitar demigod Ritchie Blackmore to whip out his finger exercises in public. The band spent about six to eight weeks recording this comeback. (The current lineup is actually neither the original nor the final Deep Purple but the most successful – of "Smoke on the Water" fame.) It doesn't sound as if they spent much more time thinking about it, either. (...) Then again, did Deep Purple ever have more than one or two really good, concise numbers on an album? Maybe they're just making the kind of record they always did, the only kind they know how to make."

House of Blue Light - "Of the seventies hard-rock dinosaurs that still roam the earth, Deep Purple is one of the few with any credibility left in its crunch. The House of Blue Light – the second album by Purple's classic In Rock lineup since their return to active duty – is certainly a marked improvement over their lukewarm '84 comeback, Perfect Strangers, and, except for a couple of outright duds on side two, is as good as this band has ever been since its "Smoke on the Water" salad days."

O que eles falam de outros discos:

Os primeiros - "Their first two American albums on Tetragrammaton were mostly uninspired, despite some good cover versions of songs like "I'm So Glad" and "Hush." The basic problem seemed to be that the group hadn't really learned to write yet, so the covers were the best way to grow without losing the audience. Except that no self-respecting late-Sixties rock band wants to put out an album with nothing but covers on it, so we were left with a bunch of boring originals, half of them instrumental. When, that is, they weren't indulging in long "improvisational" forays such as their first album's bolero rendition of Hey Joe."

Concerto - "The pretentious side of Deep Purple found its fullest expression in their first album for Warner's, Concerto For Group and Orchestra, written by Lord and performed with the aid of Malcolm Arnold and the "Royal Philharmonic Orchestra." It was an atrocity."

In Rock - Deep Purple in Rock was a dynamic, frenzied piece of work sounding not a little like the MC5 (anybody who thinks that all heavy bands put out thudding slabs of "downer" music just hasn't gotten into Deep Purple).

Quem dá mais?

A Universal está leiloando uma cópia do recém-lançado "Whitesnake: The Definitive Collection", autografada pelo Coverdale. Atualmente, tá em US$ 202, mais US$ 4 de postagem (onde a UPS alcance). Quer bater o martelo? Clica na capa.

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Só para fanáticos

Todo fã sabe que o nome do Deep Purple veio da música favorita da avó do Blackmore. Poucos, hoje em dia, ouviram essa música. Apesar de o original ser de 1939, uma regravação dela ganhou o grammy de melhor rock de 1963 na voz de April Stevens e Nino Tempo. April já tinha sido sucesso em 1959 com "Teach Me Tiger". A graça desta versão é que na vez de o Nino cantar o refrão ele esqueceu a letra. Então, sua irmã começou a ditar linha por linha e isso foi gravado. Ficou bonito.

Tudo sobre a música que batizou nossa banda favorita, inclusive a letra pra você e eu e todo mundo cantar junto, está neste link.

Quer ver os dois cantando?

Fazendo o que sabem

Um colega numa das comunidades do Blackmore no Orkut perguntou se ele já havia tocado uma Les Paul. Já fui melhor em reconhecer tipos de guitarra, mas em "Doing Their Thing" (abaixo, o vídeo de Child in Time) ele certamente toca uma Gibson. Em Speed King é uma Fender preta, provavelmente a que ele ganhou do Eric Clapton em 1968 quando o Purple abriu para o Cream nos EUA.



Acho que a guitarra do vídeo aí de baixo, de quando ele tinha 18 anos, é quase certamente uma Les Paul, né?

domingo, 30 de abril de 2006

Raridade

Apresento-lhes... Ritchie Blackmore.



Sim, ele é o rapaz mais empolgado à esquerda. Isso é em 1963, com os Outlaws.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Desacorrente sua cuca

Acabo de receber o Gillan's Inn, o disco que comemora os 40 anos de carreira do mestre Ian Gillan, com um bilhetinho de cumprimentos. A nova versão de Trashed está a todo volume nos meus ouvidos exatamente neste instante. Melhor do que o original, assim como Hang Me Out to Dry e Unchain your Brain. When a Blind Man Cries ficou bem pessoal, intimista mesmo.

Com o perdão da má palavra, pau no cu de quem diz que o Gillan não canta mais nada. Ele evita gritar como gritava aos 20 anos (embora dê um grito gillanesco em "No Worries"), o que é saudável pra um senhor de 60, mas está cantando melhor do que nunca. Tem um controle muito maior do que faz com a voz e da entonação que dá às palavras. Musicalmente, ele recria as composições do passado de um jeito muito maduro. When a Blind Man Cries mostra bem isso. É diferente do original, mas de um jeito surpreendente, com o Jon Lord no teclado e o Jeff Healey (que é cego como o título da música) na slide guitar. O Gillan saboreia mais as palavras.

Pessoalmente não gostei de Smoke on the Water, achei a guitarra do riff muito crua e o eco da voz muito artificial, muito Rita Lee. (Só curti o coro cantando o refrão e os dois solos.) Mas todo o resto está fabuloso. Do que ouvi até agora, eu fiquei impressionadíssimo com todas as faixas. Algumas, como Hang Me Out to Dry e Trashed, ficaram melhor do que o original. E Loving on Borrowed Time está de arrepiar a espinha.

terça-feira, 18 de abril de 2006

meu maestro soberano foi Antonio Brasileiro

Eu sei que muitos de vocês não devem ser fãs do Tom Jobim. Mas ele tinha algumas idéias muito interessantes sobre a música. Pensem em Deep Purple enquanto lêem:

"Um [sintetizador] DX7 reproduz quase perfeitamente o som de qualquer instrumento. Mas não será jamais o instrumento. Daí que a música que toca no rádio é chata, toca na TV é chata, aqui ou em qualquer parte do mundo: é pasteurizada, repetitiva, sempre igual, sem imaginação. Chata. Hoje, no Brasil, para ser músico, a primeira coisa que você tem de fazer é arranjar um contrabandista que lhe traga estes teclados todos. Isto é revolucionário? Não acho. Beethoven ainda é mais revolucionário do que todas estas novidades. Para mim, a música reflete os movimentos da alma: aquele achado feliz, o sair de uma tonalidade e encontrar um caminho novo para chegar a outra... enquanto se raciocina em termos de decibelagem."

TOM JOBIM, em entrevista ao O Globo em 1987

"Música é um negócio que já é difícil de você falar sobre. Falar sobre música é difícil. Desde o Wagner é que eles estão falando se o robe de chambre do Wagner é púrpura ou é roxo, não sei o quê. Umas conversas que não tem nada a ver com a música. E depois o cara acaba falando mal do próprio compositor, diz que ele é aquilo, aponta defeitos físicos. Ora, a vida de um compositor não é isso absolutamente, né. Eles estão interessados em apontar defeitos e coisa e tal. E dizer que isso é crítica musical. Nem por um instante eles falam de música, nunca."

"Nós só conhecemos as músicas editadas, as músicas inéditas nós não conhecemos. Eu conheço Beethoven, Ravel, Bach, Charlie Parker, George Gershwin, mas são músicas editadas, né. E às vezes eles estão esperando que seja tudo inédito. Perguntaram ao Baden Powell: 'Escuta, o seu novo CD tem músicas inéditas.' Ele disse: 'São dezesseis inéditas de sucesso.' Bem, aqui também você faz a música um ano atrás, dois anos atrás, três, dez anos atrás, e (dizem) 'Música velha!' 'Ih, essa música tava na novela do ano passado ("Querida"), é uma coisa antiguíssima.' É
uma música de uma ano, quer dizer, é um neném. Eu toco música aí nesse piano de trezentos anos."

"A grande coisa do revolucionário do moderno é que ele vira clássico. Como Debussy virou um clássico. O Stravinsky foi dar uma conferência em Harvard, ele já estava meio velho, e ele chegou lá, tinham aqueles alunos jovens. (Um deles disse) 'Maestro, o senhor fez uma revolução completa na música'. Ele pega um objeto na mesa (Tom pega um objeto na mesa) e disse: Ólha, meu filho, uma revolução completa é isso. (girando o objeto em 360 graus) Porque se você fizer meia revolução, aí fica tudo de cabeça pra baixo, é o pau-de-arara. A revolução completa são 360 graus, volta tudo para o mesmo lugar! O cara vai pensar que vai revolucionar botando de ponta-cabeça. Aí fica tudo ao contrário."

"Eu não defino linhas de fronteira entre a música popular e a música erudita. Inclusive Chopin, Villa-Lobos, está cheio de temas populares dentro da música erudita. Essa divisão é falsa, não leva a nada também. Certas pessoas gostam de dar nome às coisas. E dar nome às coisas impede a compreensão. Eu chamo Maria de Maria e aí penso que conheço Maria. Mas Maria é uma outra coisa. É essa coisa de fazer enciclopédia, botar todos os nomezinhos lá. Quando aparecer um nome novo, fazer mais um volume pra completar a teoria. Catalogar, né."

"Mas porque essa obrigação de compor sempre? Eu nunca entendi isso bem. E as músicas inéditas, eu vou mantê-las inéditas pra que ninguém possa saber. Ninguém possa achar nada. Senão eles acabam pondo as músicas obscenas, os hinos do clube de futebol, acabam botando tudo, fazendo disco, você sabe. Os poemas eróticos do Drummond, por exemplo, eu não sei se ele gostaria... Não sei, duvido. E depois só se vê bem com o coração. O que acontece é que fica esse negócio de 'Olha lá ele! Tá com uma barriga! A roupa...O chapéu tem uma aba curta!' Não adianta. O robe de chambre do Wagner se era púrpura ou se era roxo. Fica exatamente o que não é, o que não interessa."


IDEM, em sua última entrevista, de novembro de 1994

quarta-feira, 12 de abril de 2006

Sobre Tommy Bolin

Pra não dizerem que abandonei o Purpendicular, colo aqui um texto que escrevi na comunidade Deep Purple Brasil, do Orkut:

O Bolin era um grande guitarrista que se destruiu cedo demais. Mas o Deep Purple não acabou por causa dele, em si - acabou porque chegou ao topo em 1973/74. Ficou grande demais. Perceba: em cinco anos, a banda passou de pequenos clubes a uma platéia do tamanho absurdo de California Jam. Isso, grana e ego têm tudo a ver.

Os "novos" membros - especialmente o Hughes e o Bolin - eram moleques talentosos de vinte e muito poucos anos que de repente estavam tocando numa das maiores bandas do mundo, uma máquina de chamar dinheiro, mulher e fama. Se o cara não tem o pé MUITO no chão, ele perde o equilíbrio. Imagina o contexto da banda na época com isso.

O Bolin e o Hughes, logo de cara, ficaram amicíssimos de química. O Bolin deu no que deu. O Hughes chegou perto. Só nos últimos 15 anos é que ele conseguiu se livrar de vez das drogas. O Coverdale era gordinho, aí os produtores deram uns remédios pra ele emagrecer, que davam barato. O Blackmore virou estrela chiliquenta nessa fase. O Paice pegava o avião Starship 1, caríssimo, que todas as bandas usavam, pra ir jantar na Califórnia se desse na telha (no caminho, ficava vendo filme pornô). O Jon Lord roubou a namorada do Hughes, irmã gêmea da então namorada do Paice. Ambas hoje são as respectivas mães dos filhos dos dois tiozinhos, mas o Hughes nunca superou isso (não faz dois anos que eu li uma entrevista em que ele se queixava de "wife-swapping" nessa fase do Purple).

O Bolin tinha um agravante: baixa auto-estima. Não importa que fosse um gênio da guitarra (ouça o Spectrum, do Billy Cobham) e fosse comparado ao Hendrix - auto-estima é foda e sem razão. Exatamente por causa dessa genialidade é que ele foi chamado por duas grandes bandas pra substituir seus guitarristas: primeiro a James Gang, depois o Deep Purple. Mas ele não suportava ser comparado pelos fãs. No Purple, ele até xingou gente no palco. Quando o Deep Purple acabou, oito meses antes da morte do Bolin, ele queria mais era fazer projetos-solo. Coisa que não deixa de ser muito mais segura do que encarar as multidões que seguiam o Purple.

É uma fase deprê, mas de uma complexidade humana única. Canso de escutar os shows, mas não de ler sobre essa época. Rendia um filmaço.

(Cá pra nós: em 1975, após a saída do Blackmore, o Deep Purple não tinha como NÃO acabar em muito pouco tempo. Em 1994, o Blackmore contou com isso e quebrou a cara. O que mudou em 19 anos? Todos os quatro remanescentes, mais o substituto, eram muito maduros e não corriam mais o perigo de ficarem embriagados com o sucesso.)

quarta-feira, 5 de abril de 2006

O mestre no estúdio

Que tal o Ian Gillan no estúdio gravando Bluesy Blue Sea pro Gillan's Inn? Não viu? Tá aqui.

segunda-feira, 13 de março de 2006

De babar

Já pensou em comprar velhos ingressos e pôsteres de shows do Deep Purple? Pois é: neste site tem.

quarta-feira, 8 de março de 2006

Gillan's Inn

Saiu a lista exata das faixas do CD que comemora os 40 anos da carreira do mestre, com os devidos convidados de cada faixa. Vem um CD e um DVD. Olha o que são os convidados do mestre. Tá imperdível o negócio.

No CD:

01: Unchain Your Brain – com Joe Satriani (guitarra), Michael Lee (bateria)
02: Bluesy Blue Sea – com Jamick Gers (guitarra), Michael Lee (bateria)
03. A Day Late And A Dollar Short – com Uli Jon Roth (guitarra), Ronnie James Dio (vocal)
04. Hang Me Out To Dry – com Joe Satriani (guitarra), Michael Lee (bateria)
05. Men Of War – com Steve Morse (guitarra), John Rzeznik (guitarra)
06. When A Blind Man Cries – com Jeff Healy (guitarra), Jon Lord (teclado)
07. Sugar Plum – com Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria)
08. Trashed – com Tony Iommi (guitarra), Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria)
09. No Worries (faixa inédita)
10. Smoke On The Water – com Steve Morse (guitarra), John Rzeznik (guitarra), Jon Lord (teclado), Ian Paice (bateria)
11. No Laughing In Heaven – com Roger Glover (baixo), Ian Paice (bateria)
12. Speed King – com Joe Satriani (guitarra), Michael Lee (bateria)
13. Loving On Borrowed Time – com Steve Morse (guitarra), Uli Jon Roth (guitarra)
14. I’ll Be Your Baby Tonight – com Joe Elliott (vocal)

DVD:

• O disco em som surround 5.1
• Vídeo com o Making Of de Gillan's Inn
• Comentários do Gillan, faixa por faixa
• Seção especial "Escolha o solista de Smoke on the Water". Você pode escolher entre Jeff Healey, Joe Satriani, Steve Morse, Tony Iommi, Uli Jon Roth e outros
• Vídeos raros que mostram Gillan cantando no Deep Purple e no Black Sabbath
• Demon’s Eye – só no DVD – com Jeff Healy (guitarra), Jon Lord (teclado)
• Faixa bônus no DVD-ROM – Can I Get A Witness? (Cliff Bennett (cantando), Ronnie James Dio (backing vocals), Mickey Lee Soule (teclado)
• Galeria de fotos
• Letras

quarta-feira, 1 de março de 2006

Confusão

Uruguai foi cancelado. Segundo o site oficial do Deep Purple, nunca houve sequer tratativas para show lá. Argentina (24/3) e Chile (25/3) continuam anunciados no site da DPAS, embora não figurem no site oficial e sequer haja negativas quanto a eles. O The Highway Star continua dando como confirmado o show do Uruguai e o da Argentina, mas não há menção ao Chile.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Comam suas unhas!

Dia 23 de março eles tocam no Uruguai. Dia 24, na Argentina. Nenhum compromisso nos cinco dias anteriores e nem nos sete dias posteriores. Na Argentina eles já tocaram em novembro, pouco antes de vir ao Brasil.

Passem pimenta nas unhas pra não acabar rápido demais com elas!

sábado, 4 de fevereiro de 2006

Tá ficando interessante

Lembra aquela reedição especial do Rapture of the Deep que eu mencionei outro dia, que ia sair na Europa numa caixinha de lata e tinha quatro músicas ao vivo? Essa não valia a pena comprar, mas por pressão da banda a gravadora mudou de idéia.

Agora vai ser um CD duplo. O primeiro tem a versão normal do disco de estúdio, com a faixa MTV (que não saiu no Brasil). O segundo é isto:

1) Clearly Quite Absurd (new version)
2) Things I Never Said (Japanese bonus track)
3) The Well Dressed Guitar (unreleased)
4) Rapture Of The Deep (live)
5) Wrong Man (live)
6) Highway Star (live)
7) Smoke On The Water (live)
8) Perfect Strangers (live)

Desta vez, é de checar o orçamento.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Turner grava cover dos Backstreet Boys

Eu juro que até estava numa fase benevolente com a Mk5, inclusive ouvi ontem o pirata de um dos shows deles em São Paulo em 1991. Outro dia até elogiei "Fire in the Basement" no Orkut, vejam só. Nem andava mais lembrando aquela frase antológica do André Forastieri envolvendo Turner, voz e Xuxa.

Mas o sr. Linquito não se ajuda MESMO. Tá no Whiplash que ele acaba de gravar um cover dos BACKSTREET BOYS pra uma propaganda de carro. Certamente deve ter ficado melhor que o original e ele deve ter ganho em poucas horas de gravação mais do que eu ganho em alguns meses de trabalho, mas isso não é desculpa.

Cá pra nós, eu me dei ao trabalho de ler a letra da música que ele coverizou. É melosa, mas não é muito pior do que Fortuneteller ou Love Conquers All. Tem sobre elas a vantagem de não ter sido gravada com quatro dos meus músicos prediletos.

Um show logo ali na Cisplatina

Tá lá na DPAS: o Deep Purple vai tocar no Uruguai dia 23 de março. Não tem nada mais marcado, pelo menos ainda, pros 12 dias anteriores e tampouco para os 30 dias posteriores.

Como a Província Cisplatina é logo aqui do lado, será que rolaria uma visitinha aqui no Bananão, até pra complementar a viabilidade financeira da primeira visita dos mestres à belíssima cidade que é Montevidéu? Encaminhei a pergunta aos canais competentes.

Mas sente o tamanho da confusão: no The Highway Star, consta que eles tocariam em New Caledonia nesse dia. Mas algumas datas italianas de março foram canceladas. No site oficial do Deep Purple, não consta o Uruguai, mas não tem nada no dia 23 de março e New Caledonia passou pra abril.

sábado, 28 de janeiro de 2006

Dream Theater grava Made in Japan

Consta que a banda, que eu conheço só de nome, tocou o Made in Japan inteiro em Tóquio e em Osaka, em 15 e 17 de janeiro. Alguém aí ouviu pirataria disso? Ficou bom?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Butterfly Ball finalmente sai em DVD

Finalmente vai sair lá fora, em 14 de março, um DVD do show de Butterfly Ball, em 16/out/75. A ópera-rock sobre a festa na floresta foi composta por Roger Glover e executada por seus amigos - basicamente, a árvore genealógica do Deep Purple, mais o eterno Drácula Vincent Price fazendo a narração. Fizeram desenho também, para o clipe de "Love is All" - que está no CD remasterizado que saiu há algum tempo.

Originalmente, o cantor principal da ópera era Ronnie James Dio. Ele cantava "Love is All" e "Sitting in a Dream". No dia em que haveria gravação em vídeo, ele ficou doente. Glover resolveu chamar um grande amigo seu, que estava aposentado do rock e vendia motocicletas - um certo Ian Gillan. Foi sua primeira aparição em público depois de sair do Deep Purple. Foi aplaudido de pé.

No vídeo, há algumas cenas antológicas. Por exemplo, Roger Glover e David Coverdale lado a lado em "Behind the Smile".

Cometam esse granicídio que vale a pena.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Deep Purple Hub: uma mina de ouro

Já quis achar piratarias obscuras do Deep Purple? Gosta de colecionar essas coisas? Tanto os shows a que tu foste quanto os shows a que gostarias de ter ido? Tem coisas pra trocar? Seja lá qual destas perguntas rendeu um sim, clica aqui e te diverte.

Depois de baixar o primeiro boot, tire seu chapéu para o Leandro Fiss. A indicação - a melhor do ano até aqui e provavelmente por uns bons meses - foi dele. Sabe esse show aí embaixo? Pois é, já tá lá pra baixar.

O dia em que voltei a ser fã do Deep Purple

Baixei e estou ouvindo o show do Deep Purple no Opinião, em Porto Alegre, em 5 de março de 1997. Foi o primeiro show do Deep Purple a que fui. Em 1991, a falta de grana e os meus 14 anos não me deixaram entrar no Gigantinho. Em 92, cheguei a cumprimentar o Gillan mas não tinha grana pra entrar no Araújo.

Naquele dia terrivelmente quente de março de 97, eu estava trabalhando à noite no telex do Correio do Povo. Estava conformado com a possibilidade de não assistir ao show. Naquela época, eu estava tão empolgado com meu começo de profissão que o Deep Purple era um hobby quase relegado ao esquecimento na minha vida. De mais a mais, meu toca-discos andava estragado e eu não tinha onde ouvir CDs. Fazia dois anos que o Ritchie Blackmore tinha saído do Purple. Eu não tinha ouvido o Purpendicular e nem queria ouvir - Deep Purple sem Blackmore não era Deep Purple, eu pensava.

Mas aí eu chego na redação, depois de o show já ter começado, e vou fuçar no retorno do repórter Paulo Moreira sobre que músicas eles já tinham tocado. A editora de Variedades escreveu "Black In Night". Corrigi.

- Como tu sabes? - ela perguntou.
- Tenho quase todos os discos deles.
- E tá fazendo o quê aqui?
- Tenho que trabalhar, né? E tava sem grana pro ingresso.

Ela me expulsou da redação com um ingresso de cortesia (número 0002) e dez pilas pro táxi. Fiquei por cinco segundos no dilema moral de abandonar o telex. Vai que o Papa morre, ou algo assim. Mas já eram dez e pouco da noite, o jornal já estava bem encaminhado e eu podia escapar um pouco. Fui.

Cheguei ao Opinião naquele calorão portoalegrense e procurei um lugar onde eu conseguisse pelo menos enxergar a cabeça do mestre Ian Gillan. De camisa de manga curta e bermuda. Porra, bermuda? Tudo bem que estivesse calor, mas bermuda? O cara é simplesmente um deus da porra do rock pesado. Bermuda, cacete?

(Aliás, um parêntese: outro dia, ouvindo "Metal is the Law", do Massacration, comecei a raciocinar por que diabos eu estranhei e por que diabos minhas pernas são tão brancas até hoje. Dificilmente uso bermuda. Aos 14/15 anos, metaleiro ferrenho, eu ia para o clube de piscina de jeans e jaqueta. Usar bermuda era coisa pra skatista ou surfista, que era exatamente o tipo de gente que eu deplorava. Depois, por costume, continuei usando calça comprida no verão - até porque nunca tiro férias. Até hoje preciso de aviso da digníssima pra lembrar de pôr bermuda.)

Enfim: cheguei no meio de um solo de guitarra antes de Smoke on the Water. Que não estava no final do show. As luzes sobre o Jon Lord e o velho TOMATO emocionadíssimo. Depois de vê-lo em carne e osso de cabelo branco, confirmando as fotos que eu tinha visto na internet, estranhei em dobro. Aquele, definitivamente, não era o Deep Purple que eu conhecia. Não tinha Blackmore, Gillan usando bermuda, Jon Lord de cabelo branco, Roger Glover de faixa na cabeça e não de chapéu... caralho! Só o Ian Paice que eu não estava vendo direito, mas só faltava ele estar sem óculos.

Parei no meio de uns gringos de Caxias do Sul, que estavam tomando uísque e levantando-se uns aos outros pra enxergar o palco inteiro. Bebi com eles, levantei alguns, fui levantado por outros e todos curtimos muito. Foi numa dessas levantadas que eu vi o Steve Morse tocando. Aquela mão parecia uma aranha escalando o braço da guitarra. E o sujeito tocava MUITO. Não era o Blackmore, mas era muito bom. E é estranho: o som da guitarra parecia sorrir. Sorria tanto quanto aquele caipira americano de cabelo de palha com mãos de aranha.

Simpatizei. Talvez houvesse realmente um futuro para o Deep Purple. No meio dos gringos, participei do coro de "Smoke on the Water, Fire in the Sky". Levantei os dedos pro ar pra cantar When a Blind Man Cries, logo depois de um emocionante solo do Lord. O solo do Morse não lembrava nada o do Blackmore, mas incrivelmente eu não achava isso ruim. E ainda tinha Speed King (com um duelo de guitarra e teclado e outro de guitarra e voz que me deixaram babando) e Highway Star (com a guitarra rugindo feito um motor de carro) pela frente. A voz do Gillan estava claríssima, Glover martelava o baixo como nunca e Paice continuava um trator. Aquele era o Deep Purple, em que pese não ter o baixinho enfezado na guitarra.

Naquela noite, voltei para o jornal todo suado e de camisa aberta. Minha camisa era chinesa, sintética. Reagiu mal ao meu suor. Fedia mesmo. Ainda extasiado pelo show, tive que enfrentar minha culpa por ter largado o telex às moscas. Fui olhar o que tinha chegado de notícia. Nada importante. Nada necessário. O papa, como vocês sabem, não tinha morrido.

Ainda de camisa aberta, entrei na sala do diretor de redação, meu mestre até hoje.

- Mestre, posso te confessar uma coisa feia que eu fiz?
- Diga lá.
- Tô chegando agora do show do Deep Purple.
- Guri, quer levar uma suspensão?
- Não.
- Então eu não ouvi nada -, disse ele, sorrindo.

Quando eu saía da sala, ele diz:

- Ô! Fecha a porta aí e me conta como tava. Também gosto deles.

Mesmo com todas as contraprovas que o Morse tinha dado naquele show, de que ainda existia vida para o Deep Purple após o Blackmore, eu não comprei o Purpendicular. Não tinha onde ouvir CD. Aí comprei um computador. Em 98, saiu o Abandon, que tinha uma versão de Bloodsucker (do In Rock). Comprei o importado, só pra comparar. Fui direto à faixa 12. Quando eu ouvi aquela guitarra sorrindo, voltei a me tornar um grande fã do Deep Purple.

Só em 2003 eu leria a frase que melhor define o que eu saí pensando: "Gillan is god, and in Morse we trust". Pode sair o Blackmore, pode sair o Jon Lord. A gente lamenta. Mas o Deep Purple é maior que a soma de suas partes.