MK3


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Em 1973, ainda durante o período de aviso prévio de Ian Gillan, o primeiro convocado para substituí-lo foi o baixista Glenn Hughes, que cantava e tocava baixo no Trapeze. A dupla habilidade empolgou Blackmore e Lord, mas ele não seria deixado sozinho nos vocais.

A hipótese de tocar o grupo com apenas quatro membros até foi cogitada, mas a idéia de ter dois vocalistas falou mais alto.

O plano do Deep Purple era buscar a voz de Paul Rodgers, do Free. Após um primeiro contato, ele pediu um tempo para pensar e recusou pra continuar com sua banda. Enquanto seguia a busca pelo novo vocalista, Blackmore e Hughes iam se conhecendo e tocando juntos.

O que se tornaria o blues "Mistreated", sem a letra, foi composto nessa época. Só seria gravado depois, na voz do quinto membro.


Os empresários do Deep Purple não paravam de receber fitas de novos artistas. Uma delas fora enviada por um rapaz de 21 anos, gordinho e cheio de espinhas, que cantava desde os 15 anos e ganhava a vida vendendo roupas numa boutique: David Coverdale. Sua banda e o Deep Purple já haviam cruzado caminhos em novembro de 1969, num show na universidade de Bradford, quando Gillan e Glover haviam acabado de entrar para o Deep Purple. O teste de Coverdale ocorreu em agosto de 1973. Durante seis horas, eles tocaram material do Deep Purple e rocks mais conhecidos, como "Long Tall Sally" e "Yesterday". Quando Coverdale foi pra casa, o restante do Deep Purple saiu para beber e decidiu: era o gordinho mesmo (nos meses seguintes, os empresários da banda lhe dariam alguns remédios para afinar a aparência). Em 2006, ele deu uma entrevista sobre sua entrada no Purple:



Em 9 de setembro, o novo grupo se trancou por duas semanas no Castelo de Clearwell para compor. Empolgadíssimo, Coverdale - cuja experiência de palco era apenas com a gravação de demos - escreveu quatro letras diferentes para a música que seria "Burn". Uma delas se chamava "The Road". No dia 23, um dia depois de Coverdale completar 22 anos, a nova formação foi apresentada à imprensa inglesa. Em novembro, foi gravado o disco Burn, novamente em Montreux, com a mesma unidade móvel dos Rolling Stones com que foi gravado Machine Head. A nova equipe, a terceira formação, estrearia no palco em 8 de dezembro, na Dinamarca. O disco, Burn, só sairia em 1974.

O som da nova formação era marcado pela maior velocidade e técnica de Blackmore na guitarra e pela tensão entre os dois cantores. No estúdio, os duetos eram perfeitos. No palco, Hughes punha a trabalhar toda a potência de seus pulmões sempre que podia, muitas vezes chegando a intimidar Coverdale. O baixista e cantor também acrescentou à receita do Deep Purple uma boa pitada de tempero funky - que Blackmore aceitou inicialmente a contragosto, por entender que apesar de este estilo estar nas paradas de sucesso da época, não fazia parte, até então, dos elementos constitutivos do som do Deep Purple.

A prova de fogo da Mk3 seria na turnê americana, logo no início do segundo trimestre. Eles chegaram a alugar o avião Starship 1, que foi usado por todas as grandes bandas do rock entre 1973 e 1976. Foi palco e símbolo de toda espécie de excessos por parte das bandas. Entre outros luxos, ele era equipado com uma suíte com cama queen-size e colchão d'água, lareira, telão, bar com teclado, cadeiras com assento de couro e duas aeromoças jeitosas chamadas Suzee e Bianca. Em 2003, o New York Times publicou uma reportagem sobre o Starship e entrevistou Bruce Payne, o empresário, e Ian Paice:

"Para os membros do Deep Purple e seus roadies, a maior vantagem era assistir filmes pornô no monitor de vídeo de último tipo e usar o Starship para atiçar as groupies. 'As meninas entravam no avião e voavam até onde quer que fosse o próximo show', lembra Bruce Payne, o empresário do grupo. 'Pais dentro do perímetro de dois Estados ligavam para a polícia'. Mas o baterista do Deep Purple, Ian Paice, não se arrepende. 'O Starship era um belo lugar para entrar para o Mile High Club [confraria informal dos que já transaram em pleno vôo]', diz. (...) Paice tem boas lembranças de estar em Miami e, de repente, voar para Boston para jantar lagostas. 'Era um tempo em que tudo era factível', diz. 'E não tínhamos vergonha de gastar a grana'. Bruce Payne, o empresário da banda, rugia: 'Esse jantar provavelmente nos custou US$ 11 mil'."

Em 6 de abril de 1974, o grupo se apresentou na Califórnia para uma platéia de 200 mil pessoas - era o festival California Jam, que duraria 12 horas e seria liderado pelo Deep Purple. O show, e particularmente o mau humor de Blackmore com o fato de ter de começar a tocar antes do anoitecer com câmeras em cima do palco, ficou famoso por ser explosivo: o guitarrista destruiu uma câmera em funcionamento com sua guitarra e, não contente, explodiu um amplificador. A silhueta do guitarrista em frente às chamas do amplificador é uma das cenas mais poderosas de toda a iconografia do rock.


Trinta anos depois, Josh White, diretor de filmagens do evento, lembrou de como ele pode tê-lo induzido a isso:

"Eu falei com ele na noite anterior. O Deep Purple fez um ensaio técnico, e eu perguntei se ele ia quebrar a guitarra dele. E Richie disse: 'sim, talvez. Sei lá, que merda'. Ele estava meio puto com várias coisas que não tinham nada a ver comigo. E eu disse: 'Veja, se você for quebrar a guitarra, privilegie a câmera. Vou fazer uma bela filmagem e vai ficar genial'. E ele privilegiou bem a câmera, gerando US$ 8 mil de prejuízo."

Na turnê britânica do mês seguinte (que gerou o disco Live in London), a banda Elf --que gravava pelo selo Purple Records-- abriu os shows do Purple. O vocalista da banda, Ronnie James Dio, atraiu ali o ouvido de Blackmore.

Ainda em 1974, a Mk3 gravaria um segundo disco de estúdio, Stormbringer. Com ainda mais balanço funk, cortesia de Hughes, o disco desagradou bastante a Blackmore, que fez declarações pesadas a respeito dele. Blackmore notou que começava a perder o controle criativo da banda, especialmente quando ela se recusou a gravar um cover de "Black Sheep of the Family", do Quatermass.

Ao mesmo tempo, Jon Lord chamava os colegas Coverdale e Hughes para gravar seu primeiro disco solo, Windows. Ele foi gravado no mesmo prédio em que o Purple gravou Stormbringer, na Alemanha. Ainda deu tempo de gravar para a TV alemã uma missa de Mozart com o piano blues de Lord e as vozes de Coverdale e Hughes:


A terceira formação do Deep Purple acabaria um ano depois de California Jam, em 7 de abril de 1975, uma semana antes de Blackmore completar 30 anos de idade. Era a turnê de lançamento de Stormbringer na Europa. Blackmore já tinha algumas idéias na cabeça, e ao sair já tinha uma nova banda formada: o Ritchie Blackmore's Rainbow, que exceto pelo guitarrista originalmente mantinha toda a formação do Elf. A primeira música do disco da banda: "Black Sheep of the Family".

Restava ao Deep Purple o dilema entre continuar sem Blackmore - o criador de todos os riffs que fizeram a glória da banda - ou partir para outra, aproveitando que o grupo era um dos mais lucrativos de toda a história do rock. Num almoço com o empresário da banda, Jon Lord foi convencido a procurar um novo guitarrista e continuar.