sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

De volta a 1974

Gently borrowed from the DPAS websitePlaneta: Terra. Cidade: Londres. A EMI pediu e o Roger Glover aceitou supervisar a reedição do disco Burn, ainda que ele estivesse fora do Purple na época. Ian Paice e Jon Lord, que estavam dentro, deram seu OK. O Simon Robinson, da DPAS, conseguiu achar todas as fitas originais ainda no ano passado. Então, é extremamente possível que saia ainda este ano o disco. Já estou preparando minhas burras.

Também em relação a 1974, havia sérias restrições ao CD de California Jam que foi lançado há alguns anos. Além de os últimos 25 minutos não fazerem nenhum sentido sem o vídeo (é aquele show em que o Blackmore quebrou três guitarras e botou fogo no palco), o som era péssimo. Pois a DPAS foi atrás, catou as masters originais do vídeo e recompilou o disco. A nova versão sai entre março e abril deste ano, e deve incluir a faixa Lay Down, Stay Down - que nunca apareceu nem em vídeo e nem em CD.

O novo California Jam vai sair pela série Sonic Zoom, que lança versões perfeitas de piratarias que valem a pena. Esse de California Jam (que vai se chamar "Live at Ontario Motor Speedway") será provavelmente o único que de alguma forma já havia sido lançado oficialmente. A mesma série também vai lançar em breve o título "Perks and Tit", com um show ocorrido três dias depois de California Jam. Diz que no meio do show o Glenn Hughes diz: "é muito legal fazer um show sem se preocupar em estar sendo gravado". Estava para sair este mês.

A série Sonic Zoom promete. Os três primeiros lançamentos (Space 1970, Inglewood 1968 e Denmark 1972) eu já tenho de alguma forma. California Jam também, mas não completo. Agora: Perks and Tit e Kneel and Pray (especialmente este, gravado no infame cassino de Montreaux em 1969 e que inclui uma dificílima versão Mark 2 de "Kentucky Woman") são verdadeiros achados.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2003

Jon Lord com problemas na perna

Em 2000, o Jon Lord se retirou por um tempo das turnês do Deep Purple para resolver um problema no ligamento do joelho. Agora, em Sydney, ele agravou um problema no ligamento do dedão, e isso o impede de tocar peças clássicas no piano. Será que ele sofre de reumatismo?

O dedão não o impede de tocar o bom e velho teclado Hammond. Ele decidiu, então, tocar "Hoochie Coochie Man" nos próximos três shows que estão marcados. Todos os shows até agora tiveram lotação esgotada.

O último?

O Jeogger perguntou, no fórum brasileiro sobre o Purple, se a gente achava que seria o último CD da banda esse que eles estão gravando em Los Angeles. Respondi o seguinte:

Depende.

A Wired está apostando no fim da indústria fonográfica para breve, muito breve. Talvez ainda este ano: as maiores gravadoras pertencem a conglomerados tipo AOL-Time-Warner-Turner-DC Comics-Churrasquinho do Alemão, e esses conglomerados têm pé na internet. Com a ampla difusão da banda larga, que rende pilas pra eles, e a extrema dificuldade de coibir a pirataria, a tendência seria acabar aos poucos com a indústria do disco e passar a algo como a venda de engenhocas para portar música digital.

Viagem pra caralho, mas se rolar é bem provável de esse ser o último disco do Deep Purple. Não arrisco muito ponderar sobre quando será o fim deles. Já tiveram fins demais pra poder dizer ao certo.

Ainda outro dia eu estava futricando meu imenso arquivo de recortes e encontrei as duas revistas-pôster que a finada revista Somtrês fez com o Deep Purple, em 1983 e 1984. A primeira dizia "Deep Purple - a banda que um dia vai voltar". E a outra era de logo após o lançamento de Perfect Strangers. Nada é definitivo em se tratando de Deep Purple. E isso é que é fascinante.

No fórum gringo, há mais de um ano, um cara levantou a idéia de que o Deep Purple segue a idéia de "Roundabout", carrossel. Que, por sinal, era o primeiro nome da banda. Seria um sexteto de músicos, sendo que três seriam fixos e os outros se revezariam em torno deles. Uma idéia do maluco do Chris Curtis, baterista do The Searchers, que dividia apartamento com o Jon Lord e era pirado o bastante para forrar as paredes do apartamento com papel-alumínio.

Também nesse fórum, li a frase de que o Deep Purple é maior do que a soma de suas partes. Sozinho o Gillan faz Dreamcatcher, o Blackmore toca Greensleeves no violão, o Lord compõe concertos de piano, o Glover desenha (e bem pra caralho), o Paice dá oficinas de bateria, o Morse pilota aviões e o Don Airey toca como músico convidado em trocentas bandas. Juntos, sob o nome de Deep Purple, eles fazem chover. Essa é a mágica.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2003

Turner critica The Battle Rages On

A Deep Purple Appreciation Society botou no ar uma entrevista com Joe Lynn Turner. Sim, o próprio. Nela, ele conta que o álbum que eles gravariam depois de Slaves & Masters ia ser um "grande e profundo disco", mas que no fim eles trouxeram o Gillan de volta. The Battle Rages On, pra ele, "parece algo que a Gillan Band teria feito". (Acho que isso é uma vingancinha contra as declarações de Gillan de que S&M parece Rainbow.) Turner diz que teve problemas, no tempo de Purple, para conseguir que Jon Lord e Ian Paice compusessem alguma coisa. Mas que tem um ótimo relacionamento com o Deep Purple, tanto que ele teve um encontro com eles em Las Vegas no ano passado. "Saímos, nos abraçamos e tomamos uns drinques, Ian e eu incluídos."

Image gently borrowed from The Highway Star

sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

O sucesso

Baixei hoje um MP3 de uma gravação de uma propaganda do Hollywood, provavelmente de rádio. Era uma música do Whitesnake. Começava com o Coverdale, macarronicamente, dizendo em português: "Aqui ê David Coverdale, do Whitesnake. Isso ê o sucesso".

Não consegui identificar a música. A letra começava com "Everytime you hear this song, remember me" e terminava com "give me strength to carry on". Aí vinha o coral: "Roliúdi!" e o Coverdale: "Ooooo sucessoooo!". Mico total, claro.

Se quiser, manda um email pra mim que eu te mando essa música. É levinha: 1 MB.

Até onde eu soubesse até o momento, as duas únicas músicas que o homem da Cobra Branca (uêpa) tinha emplacado nas propagandas do cigarro Hollywood eram "Is This Love" e "Love Ain't no Stranger". Essa letra da propaganda do Hollywood, cheia de chavões de letra de balada, é novidade pra mim. Alguém tem mais pistas sobre ela ou vou ter que perguntar para o próprio cantor?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2003

Resgatando a história do Deep Purple

O incansável Simon Robinson está fazendo uma série de entrevistas com gente que trabalhou ligada ao Deep Purple no final dos anos 60. Há coisa de um mês, ele solicitou aos visitantes do site da DPAS que fizessem perguntas para Sheila Carter, que foi vocalista e tecladista do Episode Six, grupo que revelou Gillan e Glover. Mandei oito perguntas para a (hoje) tia. Em breve as respostas vão para o site, e o Simon diz que ela ficou "fascinada e encantada" com todas as perguntas que recebeu. Devem ter feito algum efeito os elogios que fiz à beleza que ela tinha aos 20 anos.

Agora, o entrevistado é Derek Lawrence, o cara que produziu os três primeiros discos do Purple, com Rod Evans nos vocais e Nick Simper no baixo. Mandei 12 perguntas, querendo saber até pra que é que eles usavam aquele cabelo esquisito. Vamos ver o que o velho Derek nos diz.

domingo, 19 de janeiro de 2003

O falso Deep Purple

Image originally from The Highway StarEm 1980, quatro anos após o fim da quarta formação do Deep Purple, o primeiro vocalista da banda foi convidado a participar de um projeto muito picareta: formar uma nova banda, com o nome e o repertório do Deep Purple, com músicos de quinta categoria. Saiba tudo sobre essa picaretagem neste site e nesta feature do The Highway Star.

Por causa disso, Rod Evans perdeu na Justiça o direito de receber royalties pelas vendas de discos do Purple em que apareçam músicas compostas ou interpretadas por ele. A decisão é uma das mais relevantes peças da jurisprudência mundial sobre direitos de marca na música.

Por que eu coloquei isso na rede? Porque hoje (19) é o aniversário de Rod Evans. Ele nasceu em 19 de janeiro de 1945 e está completamente desaparecido. Provavelmente viva lá por Los Angeles, mas não há provas e ninguém conseguiu contato. Todos os coroas mais ou menos da mesma idade que vivem por lá dizem não ser ele.

Preciosidade

Os meses entre julho de 1969 e junho de 1970 foram intensos para o Deep Purple. Eles tinham acabado de trocar de vocalista e baixista, importando Ian Gillan e Roger Glover da banda Episode Six. A troca ocorreu oficialmente em 10 de julho, quando a nova formação do grupo (que se tornaria clássica) estreou num clube chamado Speakeasy. Mas um mês antes eles já andavam numa rotina de ensaiar com os dois novos membros durante o dia e tocar à noite com os dois que seriam chutados.

Desde 7 de junho de 1969, a segunda formação do Deep Purple trabalhava, às escondidas, a música "Hallellujah", que seria lançada em um single junto com a primeira parte de "April", uma longa e variada peça instrumental que é o filé do terceiro disco do grupo. Eles apostavam que Hallellujah seria o próximo grande sucesso nos EUA.

Em 23 de agosto, eles fizeram um memorável show em Amsterdã, num clube chamado Paradiso. Por meio da pirataria, o show se tornou clássico. No dia 25, já estavam na Alemanha, no Beat Club, gravando o vídeo de Hallellujah.

Acabei de baixar esse vídeo na internet. Foi lançado há pouco em DVD, junto com os já clássicos Highway Star e No No No em versões psicodélicas de 1971. Em preto e branco, ele mostra um Ian Paice com cara de guri, sem óculos e com uma camisa cheia de rendinhas. Ritchie Blackmore maltratando a guitarra. Ian Gillan esfolando o gogó. Roger Glover fazendo backing vocals ("Preacher, er, er..... people, oh, oh.... aaaah... Spokesman, an, an... living, eeh, eeh.... ooohh...."), Jon Lord pianeando. Todos deixando o cabelo crescer (o Deep Purple usava o cabelo bufante na primeira fase, e no Episode Six até a Sheila Carter usava o cabelo curto). Infelizmente, é dublado. Em 24 de setembro eles fariam o famoso Concerto para Grupo e Orquestra. Ainda quero comprar esse DVD.

Nessa época em que eles gravaram Hallellujah, Speed King ainda se chamava Kneel and Pray, gravada pela primeira vez na BBC no dia 11 de agosto (tenho aqui). O mais antigo registro que se tem notícia da música ao vivo é naquele show de Amsterdam. Ela foi variando com o tempo, na letra. Em 4 de outubro de 1969, em Montreux, eles já tinham incluído o "Good Golly, said the little miss Molly", mas ainda não tinham inventado o "I'm a speed king, you gotta hear me sing" - partiam de volta para o "kneel down, turn around, tell me what you found". O Speed King só apareceu em 31 de outubro, na BBC. Ainda com um pouco de kneel down. A versão definitiva saiu só no LP. Mas isso eu já contei aqui.

sábado, 18 de janeiro de 2003

Decolou o STS-107

Decolou anteontem o ônibus espacial STS-107, com uma equipe de astronautas que será acordada todo dia com a música "Space Truckin'", do Deep Purple. Agora eles vão poder dançar com a aurora boreal, sacudir a via láctea e contar lá no espaço que tem música no nosso sistema solar. They're space truckin' every day!

Anunciada a primeira turnê do novo Whitesnake

David Coverdale reuniu um novo Whitesnake e está anunciando uma turnê pelos EUA. Conheça a cronologia do grupo Cobra Branca.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2003

Praise the Lord

Às cinco da manhã da madrugada entre 20 e 21 de janeiro, serão seis da tarde em Sydney, na Austrália. Lá naquele antípoda, Jon Lord estará dando uma palestra sobre seu trabalho de compositor na Sydney Opera House, na série "Talking Culture". A entrada é livre. Ele vai falar sobre tudo o que fez, desde o glorioso Concerto for Group and Orchestra.

Ele está na Austrália para uma turnê orquestral, como convidado da Sinfônica de Sydney e da banda George.

E não esqueçam: dia 20 é meu aniversário. Pelo site do David Coverdale, eu mudo de faixa etária. Agora, passo à 26-40. Isso explica meus fios precoces de cabelo branco.

Continua o mesmo

Sabe o David Coverdale? Aquele que apresentava Smoke on the Water no show dizendo "it's a song you all know, so we're gonna go and do it"? Pois é. Ele encontrou o Jon Lord dia desses.

Anteontem ele postou o seguinte no site dele (o estilo de adolescente é do próprio David):

"OOPS!!!... Quase esqueci de contar... Tive o mais MARAVILHOSO encontro casual noite dessas... Tropecei em ninguém menos que o ilustre (música, por favor...) JON LORD!!! (MUITOS aplausos!!!) ... Ele está a caminho da Austrália para tocar com a Sinfônica de Sydney... Cara... foi grande ver ele!!! ...Ele está ótimo... e... escuta só esta... o bobão não me reconheceu de cara... acho que ele pensou que eu era algum coroa cabeludo que vinha assaltar ele!!! ... Rolo de rir só de lembrar... Vamos tentar nos ver esta noite, antes que ele vá para o aeroporto... Bom... pelo menos ir a algum bar... (oh, céus)... Não se preocupem... Vou tentar deixar ele sair a tempo para o vôo... (ouçam a risada maligna heeheeheee!!!)... Podem deixar que eu mando o abraço de vocês... Não lembramos a última vez em que nos vimos 'fisicamente'... Deve fazer uns 15 ou 16 anos... Como o tempo voa.... *** DC"

ESPECULAÇÃO PURPLEANA DO DIA: O homem da cobra branca disse que encontrou o Jon Lord em Los Angeles. Por acaso, Los Angeles é exatamente onde o Deep Purple (do qual Jon Lord se aposentou) está para gravar o novo disco. Quando Lord saiu, o Purple deixou aberta a porta para ele aparecer no estúdio e gravar uma participação no novo disco. É MUITO possível que essa seja a primeira notícia quente sobre o disco, depois do início das gravações. Viva a boquirrotice do David Coverdale.

BALDE D'ÁGUA: O maestro Paul Mann confirmou que o Lord estava só de passagem mesmo.

Purple e Roxette

Recebi um email do Ronaldo, fã do Deep Purple e do Roxette. Ele pergunta o que eu acho do Roxette. Vou desenvolver a idéia contando a história. As linhas abaixo foram primeiro mandadas para o Ronaldo, por email. Presumo a concordância dele com a publicação aqui, até porque a história é engraçada. Depois, prometo que conto a de quando eu apertei a mão do Gillan, três dias depois dessa do Roxette.

Não sou fã do Roxette, mas curto um pouco. Eu ter bancado o intérprete deles foi uma casualidade: eu fui à loja comprar uma palheta e tinha uns caras com cabelo esquisito por lá, se desentendendo com o caixa:

-- Mais alguma coisa?
-- What?
-- Mais... alguma... coisa?
-- What? I cannot understand you.
-- MAIS... ALGUMA... COISA?
-- Wh..?

Aí eu cutuquei o gringo, em inglês:

-- Ele tá perguntando se vocês querem mais alguma coisa.
-- Ah, bom. Não, não queremos.

E para o caixa:

-- Ó, eles não querem mais nada mesmo.
-- Pô, tu caiu do céu. Leva eles até o caixa pra mim!

Levei os três caras até o caixa. Um usava um rabo de cavalo. Outro usava o cabelo comprido espetado, à la The Cure. O outro eu não lembro direito. Conversei mais com o de rabo de cavalo, que era o baterista. Os outros dois eram o baixista e o tecladista. Eles explicaram que eram da banda de apoio do Roxette, e que ficaram extremamente agradecidos pelo meu apoio.

Ia ter show deles no Gigantinho naquela noite (era uma quarta-feira, no começo de maio de 1992; no sábado, dia 9, teria show do Ian Gillan), e eles perguntaram se eu ia. De cabelo comprido, com a calça jeans cuidadosamente rasgada no joelho e jaqueta cheia de patches do Deep Purple, Sepultura, Iron Maiden e Slayer, era mais ou menos claro que eu não ia. Mas fui polido: "tô meio sem grana..." E ele: "não tem problema, a gente te dá o ingresso". Aí é que eu fiquei constrangido. Aceitei; ia guardar como souvenir.

Entrei com eles no hotel, pela garagem. Fiquei esperando na recepção enquanto o cara ia buscar o ingresso. Do lado de fora, dezenas e dezenas de fãs (como sói acontecer na frente de hotel nessas épocas de show, e nessas eu tirei uma foto com o Ronnie James Dio e peguei autógrafo do Bruce Dickinson). Os caras me trouxeram o ingresso e perguntaram se eu sabia como ir até o Gigantinho. Disse que sabia, afinal de contas a cidade era minha. "Ué, se quiser uma carona pode ir com a gente", eles disseram. No meu quase-talibanismo metálico, dei uma desculpa simpática e recusei. (Hoje eu aceitaria, mas não espere muito bom senso de um metaleiro de 15 anos.)

Saí com o meu convite dentro da carteira e fui cantar o ovo. Cheguei à Megaforce, a loja de discos e apetrechos heavy metal que Porto Alegre tinha na época. Mostrei para os caras: "olha só o que eu ganhei do Roxette". Era um convite especial, da cota das distribuições da banda. Um dos caras da loja ficou vidrado, porque a noiva dele ia ao show e ele não. Tanto ele me encheu o ouvido que eu troquei com ele por um vinil (na época era o padrão, e eu não tinha aparelho de CD). Do Deep Purple: o grande Machine Head. Até hoje eu guardo esse vinil com o "presente do Roxette" escrito em caneta azul na capa interna.

Se fosse hoje eu não trocaria. Pelo contrário: teria ido ao show de carona com eles. Mas na época me pareceu um bom negócio. Eu não iria ao show, talibã como era. O ingresso ia ficar ocioso na minha carteira, e vai que eles fossem conferir se foi usado. Ficariam chateados de não ter sido usado. A gratidão permaneceu. E pela primeira vez tive em casa aquele clássico do Deep Purple. Hoje tenho a versão em CD duplo, remasterizado, com faixas extras, livreto especial e o escambau. Mas aquele vinil está ali bem guardado, embora eu não tenha mais onde ouvi-lo.

[Vi que tivemos vários acessos de um fórum do Roxette. O pessoal está achando que fui trouxa de trocar por um disco. Hoje em dia, claro que eu escolheria diferente. Mas na época, considerando todas as condições - inclusive e principalmente meu talibanismo metálico -, não achei grande problema. Até porque moro do outro lado da cidade e não tinha grana nem pra voltar de táxi à noite. No show do Iron Maiden, em agosto daquele ano, eu voltei a pé, levei três horas. Mas Iron Maiden era Iron Maiden.]

quarta-feira, 15 de janeiro de 2003

No mínimo

O Arthur Dapieve, do No Mínimo, escreveu uma resenha de dois dos últimos DVDs do Purple, Machine Head Live 1972 (com o Blackmore, em Copenhagen, que acaba de sair numa revista de DVDs) e o Perihelion (com Steve Morse). Alguns trechos:

"Um tom é vivo, o outro é desbotado. Quase trinta anos os separam. Nesse período, entre 1972 e 2001, o grupo inglês de hard rock Deep Purple, um dos formatadores do heavy metal, junto com seus conterrâneos Led Zeppelin e Black Sabbath, atingiu o ápice de sua carreira, fragmentou-se, acabou, reagrupou-se, hesitou, aprendeu a suportar-se, como num casamento esticado por conveniência. Dois DVDs recentemente lançados no Brasil dão conta dessa história que, a rigor, é também a de toda banda de rock oprimida pelo seu passado grandioso. Ou seja: uma lasca da história do próprio rock como gênero 'jovem'."

"O show de 1972 dá de mil no de 2001. Ali, naquele momento, Gillan, Blackmore, Glover, Lord e Paice estavam a ponto de se tornar uma das melhores bandas de rock do mundo – muitos diriam, com boa dose de razão, A melhor banda de rock do mundo – por um ano ou um pouco mais. E, melhor ainda, não estavam bem conscientes disso."

"No palco de Copenhague, o quinteto parece estar ainda descobrindo toda a sua potencialidade. Estão todos desavergonhadamente jovens, tocando para uma audiência desavergonhadamente jovem, o que inclui um número surpreendente de crianças. A garganta de Gillan está no ponto, alternando graves, agudos e agudíssimos sem esforço. Blackmore demonstra a personalidade que, exacerbada, iria crescer tanto que não caberia mais no Deep Purple (por causa dela, Gillan e Glover logo pediriam as contas, sendo substituídos por David Coverdale e Glenn Hughes; o próprio Blackmore sairia em seguida para fundar o Rainbow). Glover dá liga à energia gerada pelos outros, com firmeza e senso melódico. Lord puxa o som para o rock progressivo, com seu órgão Hammond citando Bach na sempre bela “Child in time”. Paice faz de “The mule” uma peça solo para bateria interessante, o que não é pouco para um solo de bateria, ainda mais num kit tão singelo, que faria Mike Portnoy, do Dream Theater, ter fa-ni-qui-tos."

"O clima morno [de Perihelion] – em que pesem as declarações entusiasmadas dos fãs após o concerto (afinal, eles são fãs, certo?) – do resultado final não é culpa apenas dos membros da banda. As platéias roqueiras dos anos 2000 já não têm o engajamento das dos anos 70. Se acaso Steve Morse resolvesse emular em “Perihelion” a entrega de Ritchie Blackmore na “Space truckin’” de “Machine head live – 1972”, por exemplo, raspando a guitarra no traseiro ou atirando-a em cima dos amplificadores, acredito piamente que a platéia da Flórida fosse vaiar. O público hoje não está interessado em ouvir, num show, nada diferente do que ouviu antes no disco, tintim por tintim. É muito mais conservador – paradoxo: porque quer rever o que era transgressor trinta anos atrás tal e qual. Como os músicos precisam sobreviver, acabam tornando-se também, com honrosas exceções, conservadores."

Direto do distante ano de 1991

Em 1991, o ano em que eu comecei a curtir o Deep Purple, a banda foi um dos grandes assuntos da imprensa musical brasileira. Gillan estava demitido havia pouco tempo, e eles haviam contratado um novo vocalista - Jue Lynn Turner, que participara com Blackmore e Glover do Rainbow. Eles lançavam um disco novo, o "Slaves & Masters". Gillan também arriscava lançando seu disco solo, "Naked Thunder". Tenho tudo documentado.

A crítica da Bizz sobre os discos:

Se os velhos fãs já ficaram céticos com a volta do Purple em 84, imaginem como estão agora com o grupo tendo como vocalista Joe Lynn Turner (ex-Rainbow e banda de Yingwie Malmsteen), nunca muito bem-visto pelas hordas metálicas. Dizer que este é um LP interessante é muita bondade. Na verdade, só 'King of Dreams' aparece um pouco, graças ao órgão de Jon Lord. Uma desonra ao nome do Deep Purple, que, assim como o desrespeitado Black Sabbath, devia ser melhor preservado. Por sua vez, o ex-vocalista do grupo, Ian Gillan, retoma sua carreira solo com um belo disco, pautado em suas origens musicais (vide o arranjo para o tema tradicional 'No More Cane on the Brazos') e em levadas purpleanas ('Nothing to Lose', 'Gut Reaction' e 'No Good Luck'). L.R."

Será que esse LR é o Lúcio Ribeiro? Não lembro mais. Faz séculos que eu retalhei essas Bizz. Essa aí eu acho que é de janeiro ou fevereiro de 1991. Na edição de março, uma entrevista de duas páginas com Joe Lynn Turner. O melhor trecho:

"Bizz - Falando a respeito do disco novo, Roger Glover disse que houve uma mudança dramática de direção.
JLT - Não concordo, a não ser que isso queira dizer que o Purple tenha voltado ao lugar de onde veio. Essa foi a mudança de direção. E há também um som dos anos 90 que foi por insistência minha. [NM: Ah, bão, isso explica tudo...] Mas acho que as raízes hard rock e r'n'b continuam as mesmas. Faixas como 'Fire in the Basement' soam como 'Lazy', só que modernizadas, com uma atitude mais irônica."

Do alto dos meus 14 anos, eu até achava o disco bonzinho. Relevem, era guri novo.

Em agosto de 1991, os véios vieram ao Brasil. No Fundilho D'Askhalsa, tenho o pôster da turnê. Pois é. Lembro das árduas madrugadas de chuva em que eu ficava arrancando pôsteres na rua! *risos* Era um barato. Tenho aqui o do show do Ian Gillan, em 9 de maio de 1992.

Mas aí os véios vieram a Porto Alegre. O equipamento de som ficou trancado na alfândega, então eles mexeram em todo o calendário. Eles passaram primeiro pelo Olympia, em São Paulo (12 e 13), Ginásio do Ibirapuera (16 e 17), Curitiba (18) e tinham marcado o show de Porto Alegre para o dia 20. Só que, com o problema na aparelhagem de som, eles remarcaram o show para o dia 23. Nos dias anteriores, eles circulavam por Porto Alegre, especialmente pelo centro. Blackmore chegou depois. Diz que o Blackmore ficou apaixonado pelo Gruta Azul. Vi Jon Lord e Roger Glover na loja de instrumentos na frente do hotel Plaza São Rafael (onde, no ano seguinte, acabei bancando o intérprete do Roxette).

Eu fui pra frente do Gigantinho, junto com uma galera. Subindo nas costas de outro Marcelo (que subiu nas minhas), consegui ver o Ritchie Blackmore jogando bola com alguém no Gigantinho vazio. No dia 24, sai a resenha do show na Zero Hora:

"Por mais experiente e competente que seja, o Deep Purple, carismático, cheio de hits cravados na memória da maioria das oito (ou por aí) mil pessoas que estiveram no gigantinho, ontem, sofreu da falta de um som apropriado para o local. O Gigantinho, é bom dizer, não oferece essas condições para ninguém. Mas engenheiros de som mais antenados sabem contorná-lo. Não aconteceu isso com a equipe do Deep Purple. O quinteto inglês tocou todas as músicas que se poderiam esperar, com um punch próximo, mas nem tanto, do passado. Os efeitos do canhão de raio laser são interessantes, mas longe de substituir a verdadeira garra da velha banda. O vocalista sofre das maiores restrições. Coitado, não teve a ajuda nem da equipe técnica. O som foi sofrível. Tire-se esses pontos desfavoráveis, o show do Deep Purple foi intenso. Não poderia ser de outra forma. Quem tenha vivido um pouco dos anos 70 sabe do que se fala. O show teve seus problemas. Mas quem ousaria, destes que sempre enxergaram a banda como uma espécie de paradigma, dizer algo contrário?"

Mas quem deu a real foi o lendário André Forastieri, na Bizz:

"Os bundões bem-pensantes que fiquem com REM e Lenny Kravitz. Deep Purple é para quem tem culhão, sacou? Música de macho, meu - apesar de o novo vocalista, Joe Lynn Turner, ter menos voz que a Xuxa. Pô, qualquer show que começa com 'Burn', acaba com 'Smoke on the Water' e tem no meio 'Perfect Strangers' é maravilhoso. Em que outro show um cara da minha idade pode tocar guitarra no ar sem vergonha de estar sendo ridículo? Ritchie, Ian, Jon, Roger - está tudo perdoado, inclusive os dois últimos discos e a infame e injustificada demissão do Ian Gillan. Long live rock'n'roll."

Depois de Porto Alegre, eles tocaram no Maracanãzinho. O Blackmore já andava de ovos virados e aprontava aquelas birrinhas dele no meio do show. Três shows depois, eles mandaram o Turner embora, em Tel Aviv (Israel).

segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

Internacional

O blog Purpendicular está na lista de sites de fãs no Deep Purple Scrap Book, no site da Deep Purple Appreciation Society.

Refreai o consumismo

O Purple acaba de botar no ar a sua Loja Online oficial. Fiquei enamorado de uma camisa pólo, cinza, com um logotipo semelhante ao que apareceu pela primeira vez em Stormbringer, muito discreto, bordado no lado esquerdo do peito. Essa eu usaria até no trabalho. Mas, em dólares, o preço é US$ 36,80. Salgado demais.

Por falar nele...

Acabei de receber exatamente um email do tio da foto ali embaixo:

"Hi Marcelo,

Thanks for the good words about my art, glad you like it. :-)

Good luck,

RG"


(Era uma resposta à mensagem que mandei elogiando as pinturas dele. Disse que os caras do Deep Purple não cessavam de me surpreender. Depois de anos ouvindo a arte deles, descobri que o baixista/produtor/compositor também fazia arte para os olhos.)

domingo, 12 de janeiro de 2003

Pré-história da internet


Image originally from The Highway Star - www.thehighwaystar.com


Esse é Roger Glover, baixista do Deep Purple. Na foto, tirada pelo alemão Didi Zil em 1984, ele usa um dos primeiros mecanismos de envio de emails. Ele conta a história ao The Highway Star, que publicou a foto:

"Minha mais antiga memória de 'correio eletrônico' é da turnê de Perfect Strangers [NM: o disco que marcou a reunião da fase clássica do Purple depois de 11 anos] na Austrália, em 1984. Todos nós compramos aparelhos Radio Shack modelo 100, o único computador que podia mandar emails na época. O modem era um enorme troço de borracha que se enrolava fisicamente no bocal do telefone, lembrando algo como um filme de ficção científica tipo pesadelo alienígena.

Lembro de ter entendido que quando eu mandava uma mensagem do meu quarto de hotel em Sydney, ela subia para um satélite, dava a volta no mundo e caía em Washington, nos EUA, onde um computador gigante a redirecionava de volta para o satélite e para baixo de novo, segundos depois, para o quarto de Jon Lord, na porta ao lado. Achávamos um barato. Brinquedo de guri, sabe como é!"

quinta-feira, 9 de janeiro de 2003

Anime Purple

Estou baixando aqui um anime (desenho japonês) que é um clipe do Deep Purple: Shameless Rock Video - Speed King. Eu geralmente não gosto de animes e nem de mangás, mas este merece meus parabéns. O único porém: como a música era muito comprida (a versão que ele usou era a que abre o In Rock, com todo aquele caos sonoro no começo), o autor do vídeo retirou "dois versos, meio solo e um refrão". Boa diversão.

domingo, 5 de janeiro de 2003

Isso é que é forma de apresentar uma música

"I'll tell you what we want you to do: if you don't feel too cold we want you to get all your gear off, take all your clothes off, and and let it all hang down to your knees and everything like that. You know, I mean there's no one around, and the fuzz are all at the back, so, so, get it all off and be very rude here's a filthy, rude song, it's a thing ha?, yeah it's very rude it's a diabolically rude song, so if you feel like getting all your diaboliclies out, let's do it, it's a thing called Mandrake Root"

IAN GILLAN, etilicamente alterado, na cidade alemã de Aachen, em 11 de julho de 1970. Ele estava apresentando a mais longa das músicas de um dos melhores shows da melhor fase do Deep Purple. Até o fim, contando todos os solos e brincadeiras sonoras, são 33:37 minutos. Isso foi lançado oficialmente no disco Space Vol 1 & 2, há muito pouco tempo.

Esse é um show fenomenal porque há apenas quatro músicas e 72 minutos de som. O Gillan estava com a voz detonada, e só aparece para apresentar as músicas e cantar Black Night e as estrofes de Mandrake Root. Então, o Jon Lord, o Ritchie Blackmore, o Roger Glover e o Ian Paice abusam dos melhores diálogos de solos que já ouvi na vida.

Eles improvisam muito nesses shows do começo da Mark 2 - geralmente em Mandrake Root e Wring That Neck. Brincam com escalas, fazem duelos, inserem trechos de música clássica, de musiquinhas de natal, sonoridades árabes, temas de programas da TV (teve um tempo em que o Blackmore adorava botar a musiquinha do Popeye).

É nessas longas jams que eles criam as idéias do que mais tarde seriam os riffs e solos. Nesta versão de Mandrake Root, o Jon Lord começa a criar a estrutura musical de Space Truckin', que seria gravada mais de um ano depois.

sábado, 4 de janeiro de 2003

Airey toca o Hammond C3 do Lord

No último Q&A do site do Gillan, o Don Airey afirma: "Quando Jon finalmente tornou oficial que estava deixando a banda, ele deixou o Hammond C3 (o teclado que dá o som clássico do Deep Purple) e os leslies (os amplificadores) com a gente enquanto ele pensava o que faria com eles. Jon e eu acertamos, em princípio, que eu vou comprá-los dele, mantendo assim a continuidade do som rolando. Acertamos que, se um dia Jon achar que tomou uma decisão errada nisso, eu devolveria o instrumento para ele."

O Hammond, de caixa de madeira, é um dos teclados elétricos mais cobiçados entre quem manja do negócio. Diz o Jon Lord que, se tu esqueceres que estás com o dedo numa tecla, o som vai se manter até a companhia elétrica cortar a luz.