quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Nem só de más memórias viveu aquela noite

O show no Birmingham NEC teve um grande ponto alto. Não era uma música exatamente do Deep Purple, e sim dos Rolling Stones: Paint it Black. Em 1970, eles costumavam tocá-la para dar desculpa a um solo de bateria. Em 1993, fizeram uma gloriosa jam como nos bons velhos tempos da verdadeira Mk2 da era de prata que um dia foram.

Blackmore esmerilhando a guitarra. Lord completamente à vontade com seu brinquedo favorito. Gillan sorrindo nas congas. Glover tocando as mesmas duas notas que tocava aos 25 anos pra segurar a piração dos amigos. E Paice colocando os pigmeus pra trabalhar.

Tudo bem, o Blackmore desaparece durante a maior parte do tempo, quando devia trocar solos com o Lord, e volta só no final. Repare no gesto final do Gillan, apresentando o Blackmore como quem diz "senhoras e senhores, EIS O HOMEM!"

Não foi uma noite perfeita. Mas é essa a melhor lembrança que eu tenho da segunda reunião.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Quatro versões

Para entender um fato, é preciso ter acesso ao máximo possível de versões sobre ele. Cada um reage de acordo com o que viu e o que sentiu no calor do momento. Não é inteligente tomar partido acriticamente. Eu, pessoalmente, não dou razão a ninguém - só acho o caso lamentável. Assim, vamos juntar aqui tudo o que se sabe e se falou sobre o caso da água.

Primeiro, o vídeo:



Depois, a versão do palco. Traduzido da biografia de Ian Gillan:

    O grande show ocorreu no NEC, em Birmingham, em 9 de novembro. Ritchie, a essa altura, tinha destruído seu visto, dizendo que ele não iria conosco ao Japão no final do mês, mas ninguém poderia prever o que ocorreria em Birmingham. As coisas andavam ruins entre nós e, em Manchester, nossos roadies tentaram se certificar de que chegaríamos ao palco sem tomar o mesmo caminho. Ainda assim, o show foi legal, assim como o de Brixton, particularmente o segundo, onde Ritchie foi ótimo, e eu encontrei alguns velhos amigos depois, incluindo Dean Howard.

    Mas em Birmingham, estava tudo chegando ao fim. As histórias variam sobre o que exatamente aconteceu, dependendo de sua localização: palco, platéia ou coxias. O que havia sido combinado (e todos concordaram) era que o show seria filmado. (...) A atmosfera nos bastidores era vil, e Ritchie havia se trancado em seu quarto, com uma placa dizendo "O Antro do Texugo". Ele topou a idéia dascâmeras, e assim, não surpreendentemente, havia pilhas de caras caminhando por aí - pra todo lado que você olhasse havia alguém com uma câmera.

    Bom, do meu ponto de vista, os dias em que um artista pode exigir o palco só pra si já foram pela janela há muitos anos. Todo aquele negócio precioso do comportamento - quer dizer, sempre tem alguém por perto, e você tem que aprender a viver com isso. Não existe motivo pra deixar algo assim, algo aliás com que você concordou, estragar sua performance. Mas o Ritchie deixou!

    Assim, as luzes se apagaram, Ian Paice abriu o caminho, Jon e Roger começaram a tocar Highway Star e eu entrei.

    Estava eu no microfone, e percebi que algo não estava certo. Jon estava segurando a onda, e quando eu virei pro lado vi que o Ritchie não estava conosco! Quer dizer, quando um quinto da banda não está lá, o som fica meio ruim, particularmente quando se trata da abertura do show! Então era hora de decidir - ou parávamos o show, ou encarávamos a parada, que foi o que eu fiz. Chegamos ao solo e o guitarrista apareceu, tocou um pouco e sumiu.

    Soube que um jato d'água voou ao meu lado logo atrás das congas, e entramos em Black Night do mesmo jeito - sem guitarrista.

    Nos bastidores, parece que o Ritchie se enfezou com um câmera, e jogou um balde d'água nele. Então, ele achou outro balde e foi atrás de outro cara que estava filmando tudo. Só que o câmera não estava onde o Ritchie achava que estaria, e por isso ele acabou acertando minha senhora, e uma coisa levou a outra.

    Então, eu estava no palco cantando e pensando, "o que será que está rolando lá atrás?", e finalmente larguei o microfone e saí, só pra ver a B em lágrimas. Tendo chegado a algum tipo de compreensão da situação, eu disse: "Eu vou matar esse cara agora - provavelmente com uma bala muito lenta, chamada meu braço direito!"

    A reação da B foi, digamos, brilhantemente compenetrada. Ela disse: "não deixe isso te afetar. Acalme-se e faça um grande show!" E ela disse isso muitas vezes. Na verdade, ela estava me avisando com tanta força que até estava me ameaçando - abençoada seja ela!

    Logo eu estava de volta ao palco com a banda, e o show continuou, com o guitarrista tocando de qualquer jeito, terminando antes, deixando trechos de lado e geralmente me deixando perdido sempre que possível. No final, o Ian Paice jogou couros de bateria autografados para a platéia estupefata e gritou: "devemos pra caralho a vocês!".

    Não consigo sequer começar a explicar o que o Ritchie tinha em mente naquela noite, se ele estava consciente do que estava rolando ou se estava apenas hiperfodido mentalmente e supertenso, como só ele consegue. Será que a visão de algumas pessoas o chatearam tanto assim ou foi premeditado, por suas próprias e inexplicáveis razões? Eu soube (pelo Darker Than Blue) que em torno da meia-noite o Antro do Texugo abriu e ele foi visto sendo carregado por uma garota carregando uma corrente, com uma coleira em torno do pescoço dele! Ele estava vestido com seu longo e negro casaco de couro, e usava a máscara de bruxa que às vezes era usada pelo assistente de palco, mais um chapéu de bruxa! Se for verdade, é triste.


Agora, ao lado do palco. Candice Night, que estava lá no dia do incidente (e provavelmente carregou Blackmore pela coleira), conta seu lado da história:

    Eu estava lá no dia do incidente, e a verdade é que ele jogou a água no câmera. Por três vezes ele pediu ao câmera que saísse do palco pra não ficar na frente do Ritchie. Se você tivesse pago pra ver o Ritchie tocar e só pudesse ver as costas da cabeça de um câmera a noite inteira, não ficaria chateado? Por isso, pediram pro câmera sair. Mas ele não saiu. Então, o que você viu foi o temperamento do Ritchie, mas não pelos motivos que você imagina... sempre existe um método na loucura.


Da platéia, vem a versão do Darker Than Blue, a publicação da Deep Purple Appreciation Society. Richard Whitehead (só pode ser sacanagem):

    Estávamos sentados do lado dele do palco, e vimos mais do que a maioria. Ele apareceu logo depois de os outros já estarem no palco, caminhou até onde o ajudante dele estava esperando atrás dos amplificadores, depois voltou correndo pro vestiário sem tocar nada. Quando ele reapareceu, depois de três quartos de Highway Star, caminhou pro lado do Lordy e atirou o conteúdo de uma vasilha plástica de bebida contra alguém que estava ao lado do palco. No final da música, ele voltou pra trás do amplificador, largou a guitarra e correu pra trás do Paicey, pra área dos bastidores, onde ele atacou alguém e jogou mais água. Tirando isso, o show foi bem curtível, embora o Gillan e o Blackmore não olhassem pra cara um do outro.

Não compre nosso disco, diz Gillan

A BBC está cobrindo hoje um fato inédito na história da música: um artista - Ian Gillan - que recomenda aos fãs que não comprem um disco seu.

Não é qualquer disco: é o mais famoso show da turnê de The Battle Rages On, em 1993 – a versão integral do show editado em Come Hell or High Water. Só tem importado e custa US$ 19 na Amazon.

    "Foi um dos pontos mais baixos da minha vida. De todas as nossas vidas, aliás. De fato, aquela formação só durou cinco ou seis shows depois daquele de Birmingham. Aí, o Ritchie saiu da banda. Desde então, temos 13 anos de estabilidade."

O vocalista chamou a BMG de oportunista pelo lançamento. A gravadora, que não sabia que o Gillan não sabia, tampouco que ele discordava do lançamento, prometeu tirar o disco das lojas. Ou seja: quem comprou, comprou. Quem não comprou, que corra.

A história do show é conhecida por boa parte dos fãs. A Mk2 do Deep Purple havia acabado de voltar pela segunda vez, para um disco e uma turnê comemorando os 25 anos da banda. Blackmore e Gillan mal se falavam. Esse show no NEC, em 9 de novembro, seria gravado, mas Blackmore rodou a baiana com um câmera pelo segundo vídeo de sua vida. Entrou no palco só na metade de Highway Star e jogou um copo d'água no câmera. Consta que teria atingido a mulher do Gillan e deixou o cantor puto. Em sua autobiografia, Gillan conta o caso.

Embora o Deep Purple pudesse impedir a circulação dessas imagens deprimentes logo de cara, não foi o que houve. Menos de um ano após o show, eles lançaram o vídeo "Come Hell or High Water", cuja edição intercala as músicas do show com entrevistas dos quatro membros remanescentes da Mk2 contando causos da banda e descendo a lenha no polêmico guitarrista - que havia deixado a banda algumas semanas depois da gravação.

Gillan tem alguma razão em não gostar desse show. Mas todo mundo já o conhecia. É uma peça de colecionador. Ele ganha tostões com a venda.

A imprensa inglesa deitou e rolou: "Deep Purple faz promoção em estilo bizarro"; ”Deep Purple: Não Comprem Nosso Disco, Por Favor”.

A Deep Purple Appreciation Society não deixou por menos:

    “Foi mesmo o pior show deles? Conte a nós se você discorda e por quê. Nossas glamorosas assistentes estão esperando seu telefonema, e a melhor resposta receberá uma cópia da terrível coletânea Purplexed (duas cópias para a concorrente).”

Tudo isso uma semana depois de uma gloriosa entrevista dada por Gillan e Paice ao The Sun. A melhor entrevista que já vi membros do Deep Purple darem.

Todos podíamos passar sem essa.

Veja a cobertura toda no Google News.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Mudworth

Domingo, às 21h no Brasil, a rádio digital 6 Music da BBC vai passar uma hora de Deep Purple ao vivo num dos shows considerados mais interessantes da reunião da Mk2: Knebworth, 1985. Esse show existe no mercado no CD "In the Absence of Pink".

A rádio pode ser ouvida pela internet, e o link é este: http://www.bbc.co.uk/6music/shows/liveatmidnight/

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Gillan e o Rei - Tudo a ver

Falei brincando outro dia numa comunidade do Orkut sobre o quanto a capa do disco "Mr. Universe", do Gillan, não condiz com o glorioso conteúdo do play. "Parece capa de disco do Roberto Carlos", eu disse, meio que brincando.

Resolvi pagar pra ver o que meu cantor favorito tem a ver com o cantor favorito do meu pai. E tem a ver. Vejam abaixo as capas separadas no nascimento:



Roberto Carlos 1995 x Mr. Universe (1979)



Roberto Carlos 1969 x Naked Thunder (1990)



Roberto Carlos 1994 x Toolbox (1992)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Novo disco em 2008?

Em declaração enterrada lá nos últimos parágrafos de uma entrevista ao jornal inglês Express & Star, o Ian Gillan deu o que me parece ser a primeira indicação até agora de prazo para o próximo disco do Deep Purple:

    "Lá pelo final deste ano, vamos estar malucos de tantas idéias e vamos direto pro estúdio. O Purple nunca chega a fazer planos de verdade - não somos muito profissionais, nesse sentido. É isso que torna tudo emocionante, e é por isso que todos os nossos discos são tão diferentes."

Bananas foi gravado no começo de fevereiro e lançado em meados de agosto de 2003. Rapture of the Deep foi gravado entre março e abril e lançado no final de outubro de 2005. Se eles forem pro estúdio em dezembro de 2007, vai ter aumentado um pouco a demora entre um disco e outro, mas talvez tenha coisa boa nas lojas lá por julho de 2008.