sábado, 28 de abril de 2007

Um sonho realizado

Ontem, no tributo ao Deep Purple da Fireball, no bar Blackmore, eu realizei um sonho de 17 anos.

Quando eu tinha 13 anos, minha mãe tinha acabado de comprar um toca-discos novo. Eu queria testar, mas sequer sabia o que eu gostava em música.

Era o dia da "formatura" da minha turma da oitava série. As professoras nos homenagearam com um banquete de salgadinhos com um coquetel de vinho com frutas e refrigerante. Acho que chamavam de "bole", mas já vi chamarem de sangria. Pra nós, as mestras disseram que não havia álcool. (Eu notei que havia porque uma professora com problemas de saúde perguntou pra uma colega, que respondeu no ouvido, e só bebeu água.) Saí alegrinho. Nunca atravessei a Cristóvão Colombo tão feliz.

Achei na estante uns discos empoeirados e com a capa comida pelos cupins. Pertenceram à minha prima, mais velha, que morou lá em casa por um tempo uns anos antes. Eram "A Night at the Opera", do Queen; "Abraxas", do Santana; "Saracura", do Saracura; e "Stormbringer", do Deep Purple.

Peguei primeiro o disco que tinha o Pégaso na capa. Puxei pra fora.

O lado A estava mais ou menos comido pelos cupins, então preferi o lado B.

Quando coloquei a agulha em Lady Double Dealer, aquela bateria já me chamou a atenção. O riff, mais ainda. Os duetos me vidraram. Mas o solo de guitarra me jogou ao chão, com espasmos semelhantes aos do Lacraia, tocando guitarra no ar.

    Get outta my way! I'm getting tired of you! There ain't no chance! Doing what you wanna do! I've been down, down, down, down, down! Got to get my feel back on the ground!

Passei as férias ouvindo aquele disco. No começo do segundo grau, eu ia caminhando pra escola cantando o Stormbringer inteiro. Antes disso, eu fazia pequenos serviços bancários para minha tia, que me dava uns trocos pra comprar gibi, e ia cantando o tempo todo. Adorava isso. E dava especial atenção pra Lady Double Dealer. Só comprei o Made in Europe porque tinha essa música ao vivo. (Depois atualizei com o The Final Concerts.)

    Lady Double Dealer Get outta my way! Lady Double Dealer You got nothing to say!

Logo comecei a trabalhar e a comprar meus discos. Comecei com a fase do Coverdale (Burn), comprei o disco então atual (Slaves & Masters) depois descobri os sebos de Porto Alegre. Descobri a fase do Gillan, descobri os discos do Purple ao vivo, comprei um pôster que ficou 15 anos lá na casa da mãe e hoje adorna o quarto do Abdalla, achei umas revistas-pôster antigas da Somtrês, babei pelo photobook, completei a coleção.

    I ain't satisfied dealin' with second hand goods You wanted somethin' for nothin', taking everything you could You been round - oh - I got the news But you ain't waitin' round for me to lose

De qualquer forma, eu estava perdido pra sempre. Foi naquele dia, alegrinho de sangria, deitado no chão da sala tocando guitarra no ar ao som de Lady Double Dealer, que eu descobri o que me agrada em música.
    Lady Double Dealer get outta my way! Lady Double Dealer you got nothing to say!"

Ontem, o Abdalla - que só não é meu irmão de sangue porque se fosse não tinha graça - me chamou pra cantar os duetos de Lady Double Dealer com ele.
    I gave love to you did what you wanted me to but all you did was bring me down so I just had to try try the reason why you took advantage of my loooooooooove!!!!"

Nunca ensaiamos, mas eu ensaio pra isso desde a adolescência. Subi ao palco do Blackmore, ao lado do André Carvalho e do Márcio Porto, segurando o microfone e olhando pro Abdalla, e mandei ver.

    Two timin' woman, trying to take me for a ride You are a hard lover, honey, but you sure don't keep me satisfied I wanna be there, to try to make you see There ain't no woman gonna make a fool outta me>

Depois de 17 anos, eu me senti de novo um moleque cheio de espinhas.

    Get outta my way! Get outta my way! Get outta my way! Get outta my way!

Agora, se cantei direito ou não é outra história bem diferente...

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Entrevista esclarecedora do Blackmore

Em 1975, quando Ritchie Blackmore saiu do Deep Purple e formou o Ritchie Blackmore's Rainbow, ele deu uma gloriosa entrevista ao jornalista Steven Rosen. Nela, ele abre o coração sobre sua saída do Purple. Deixa de lado alguns fatos, como os detalhes da sua saída no meio da turnê européia de abril daquele ano. Mas vale muito a pena ler.

Clique aqui e saiba de tudo.

Raridade: Demon's Eye em 1971

Tem coisas que só o YouTube traz pra gente.

Imagine o Deep Purple tocando Demon's Eye em uma versão tão inicial que o Gillan nem sabia a letra direito. Há quase nenhum registro deles tocando isso ao vivo, então é a raridade da raridade - o pessoal do The Highway Star não sabe nem se chegou a ser transmitida pela TV.

Jon Lord improvisando nos teclados, Ian Paice sem camisa, Roger Glover no bom humor habitual e Ritchie Blackmore saboreando os solos de olhos fechados. E repare só - está lá uma das primeiras versões do... duelo guitarra/voz consagrado em Strange Kind of Woman!!! É isso que tem no vídeo abaixo. Antes, eles tocaram Into the Fire. Clique aqui pra ver o vídeo.

O primeiro semestre de 1971 foi o auge da Mk2, antes de as brigas começarem a corroer a melhor de todas as formações do Deep Purple. Eles estão na ponta dos cascos - tinham acabado de ganhar disco de ouro por In Rock. O Gillan parece meio doente - naquele ano, em que houve uma sucessão monstruosa de shows, eles se revezaram no hospital várias vezes.

Duvido um pouco da data apresentada no YouTube. Ali, diz que o vídeo é de 1º de janeiro de 1971. Acho que não é essa a data - segundo o Deep Purple Diary, nesse dia eles estavam tocando na Holanda. O Nigel Young coloca o setlist desse show numa apresentação em Berlim em algum dia de setembro. Possivelmente no início.

Deixem a controvérsia das datas pra lá - é uma questão menor. Apenas deliciem-se com o Olho do Demônio.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Volta da Mk3 não rola, dizem Coverdale e Hughes



Este blog vem acompanhando há meses o vai-e-vem de declarações do Glenn Hughes sobre seus planos de voltar com a Mk3 para alguma coisa comemorativa. Sempre que Hughes dá uma entrevista, alguém pergunta isso a ele e ele fala otimisticamente sobre sua vontade. Repetidas vezes, este blog demonstrou que não passava de uma vontade. Vontade sincera, de um grande músico, mas ainda assim só vontade.

Na quinta-feira, Hughes deu mais uma entrevista sobre o assunto:

    "antiMUSIC: Do fundo do seu coração, você acha que a tão esperada reunião da Mk3 vai um dia acontecer? Hughes: Acho que todo mundo... menos o Ian Paice... está a fim. Ian ainda está na Mk2. Todos já falamos sobre isso, por meio de terceiros. Todos já conversamos. Quer dizer, David e Jon Lord e eu já conversamos bastante sobre isso. Ritchie já falou com pessoas. Quer dizer... olha, eu gostaria de fazer isso por dois motivos. O primeiro seria simplesmente tocar de novo com meus irmãos e fechar esse capítulo. Mas, sabe, eu acho que seria ótimo tocar com Ritchie de novo, e David e Jon e Ian de novo. Acho que seria muito, muito bom. Acho que seria uma banda realmente ótima. Por uma última vez, sabe?"


No sábado, o Coverdale jogou água na fervura:

    "Por mais que alguns possam ficar desapontados, e eu fico chateado de ter que ficar repetindo isso, eu nunca concordei de nenhuma maneira, jeito ou forma em reformar a Mk3 do Deep Purple, e meu irmão de espírito já devia saber disso depois de nossas várias conversas. Aqueles de vocês que seguiram e apoiaram minha carreira por tantos anos sabem como eu me sinto sobre 'voltar atrás'. A única consideração que eu faço, como já disse repetidas vezes em entrevistas, seria minha vontade de me envolver em um único show de caridade que apresentasse todos os membros sobreviventes do Deep Purple. (...) Se de fato for haver uma reunião, desejo a eles todo sucesso, e talvez o Whitesnake possa chamá-los a algum lugar como 'convidados especiais'!"


Foi aí que o Glenn Hughes se viu forçado a voltar atrás, em seu blog:

    "Estou na Rússia, e quero dar a vocês todas as notícias sobre o boato de uma reunião da Mk3 do Deep Purple. Eu tenho sido constantemente bombardeado com a mesma pergunta, o tempo todo. Minha resposta sempre foi que havia cinco membros, e que em tempo algum tivemos uma discussão da banda inteira sobre uma reunião. Sim, David e eu flertamos com a idéia há 18 meses, e desde então meu irmão se comprometeu completamente com seu amor e cuidados de seu amado Whitesnake. Todos os fãs de GH podem ver que minha carreira solo subiu para outro nível, tocando pra mais gente ao redor do mundo - a popularidade e a demanda por minha atividade subiram... A declaração recente de David finalmente pôs esse boato pra dormir. Embora eu pudesse adorar ver isso acontecer nas certas circunstâncias, fico feliz em deixar o incrível legado da Poderosa Mk3 permanecer intacto..."


Este blog falou. Este blog avisou. Clique aqui para ler textos anteriores a respeito.