Isso não me espanta, infelizmente. Há anos, o grande vocalista da Mk3 vinha ficando rouco, cada vez mais. Durante muito tempo, porém, ele conseguiu usar a rouquidão musicalmente, como em "Shake My Tree" (Coverdale/Page, 1992). No disco mais recente do Whitesnake (Good to be Bad, 2008), na faixa "All I Want, All I Need", sua rouquidão chega a preocupar, mas ele manda bem.
Parte desses problemas certamente se deve ao cigarro e à cachaça. Outra parte, porém, certamente se deve às mudanças que ele impôs à sua voz ao longo do tempo.
Aos 20 e poucos anos, no Deep Purple e na fase áurea do Whitesnake, o Coverdale tinha uma voz muito própria, poderosa e característica. Era um grave fluido, natural, elegante, que aparentemente não forçava as cordas vocais.
A partir do Whitesnake de laquê, no final dos anos 80, ele começou a forçar uns agudos à la Robert Plant ("Still of the Night", do disco de 1987, mostra bem isso). Quando ele formou banda com o Jimmy Page, abusou disso e especialmente ao cantar Led Zeppelin nem parecia mais o mesmo cara que cantava "Mistreated":
Não tinha muito como não dar nisso, infelizmente. Esta é uma apresentação dele em 14 de junho, no festival Download, em Donnington Park. Ele está bem, mas desafina um tanto e rouqueia:
Torço pela melhora do Coverdale. É um dos meus vocalistas favoritos, e se não fosse um disco com a voz dele (Stormbringer) eu não teria descoberto o Deep Purple.
Outro dos meus favoritos, o Ian Gillan, tem mais sorte do que juízo: perdeu seus agudos característicos da juventude, mas descobriu novos tons pra cantar. Continua fumando e manguaçando. No início dos anos 80, chegou a operar a garganta, mas não sei se foi pelo mesmo problema do Coverdale.
Esses caras são patrimônios culturais da humanidade. Não é qualquer um que constrói o que eles construíram ou abusa como eles abusaram. Não é qualquer edeminha que os derruba, não. É sonho querer o velho Gillan dos agudos de volta, mas acho que o velho Coverdale dos graves tem chances de voltar caso se cuide bem.