sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Jon Lord reaparece!

Jon Lord saiu brevemente de seu descanso ontem. Ele reuniu vários músicos no estúdio Abbey Road e gravou aparentemente as partes de banda e voz para o Concerto for Group and Orchestra. Ele já havia anunciado que estava dando uma mexida na partitura e queria gravar em estúdio - mas isso foi antes do seu retiro. Aparentemente, a revista Classic Rock organizou tudo.

Acompanhei pelo Twitter. A coisa começou com os cantores da banda do Jon Lord, Steve Balsamo e Kasia Laska. Kasia contou que estava ansiosa porque viajaria da Polônia para Londres e feliz porque encontraria Balsamo depois de um tempo. Levantei a orelha. Vinha coisa aí - e eu confesso que fiquei apreensivo no começo.

Fiquei tranquilo quando li a manifestação do guitarrista Joe Bonamassa (que toca com o Glenn Hughes na Black Country Communion):

Thank you Scott at Classic Rock for the great hang and the wonderful Jon Lord for allowing me to play on his symphony today. What a thrill !

Steve Balsamo tirou uma foto do mestre gravando, ao lado de Bonamassa e do maestro Paul Mann. Aparenta estar com um pouco menos de cabelo, mas parece bem disposto. Em resposta a um tweet meu, Steve disse que o mestre parecia ótimo. Veja a foto:



Tenho um grande respeito pelos dois cantores do Jon Lord. Além de talentosíssimos, excelentes vozes, também são gente fina e divertidos. Quando eles vieram ao Brasil, fui entrevistar o mestre para a MTV e depois fiquei batendo papo com eles. Acabei ajudando-os a comprar uma camisetinha com patch do Deep Purple para o neto então recém-nascido do Jon Lord, na Galeria do Rock. (Tomara que tenha servido!) Desde então, sempre faço questão de dar um abraço neles no Twitter quando posso.

Que Jon Lord supere logo esses contratempos e traga esse pessoal legal pra cantar no Brasil. São meus sinceros votos.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Deep Purple e a arte de viver

Fui ontem ao show do Deep Purple em São Paulo. Pela primeira vez em nove anos, fui com minha mulher. Embora não seja fã, ela conhece o repertório; afinal, são nove anos me ouvindo ouvi-los. O que ela não conhecia era o efeito que os meus mestres têm no palco. Ela saiu do show, que achou excelente, me entendendo melhor. E, por conta da presença dela, eu acabei curtindo mais as coisas em que eu não costumo prestar atenção.

Em todas as resenhas de shows do Deep Purple que eu escrevi neste blog desde 2003, procurei comentar a performance dos mestres em cada uma das músicas que eles tocaram, na ordem certinha. Desta vez, não farei isto.

Em primeiro lugar porque eu fiz questão de não anotar nada. Não queria que nada, exceto talvez algumas cabeças, estivesse entre meus olhos e o palco.

Em segundo lugar porque neste ano eu fiz questão de não olhar as resenhas dos shows anteriores, não olhar o setlist. Veja: a maior parte das escolhas, e boa parte da ordem das músicas, é possível de prever. O que foge disso é surpresa, e eu queria a surpresa. Queria assistir a um show do Deep Purple curtindo muito mais do que analisando.

Eu queria ser surpreendido. E fui, várias vezes. Entre elas:

* uma música velha - "Hard Loving Man", incrivelmente fiel a todos os solos originais;
* uma vocalização nova - "No One Came", com Ian Gillan praticamente declamando a insegurança de um músico início da carreira
* uma sombra na parede - a de Steve Morse, embaixo do telão que mostrava ele solando
* uma brincadeira de duelo entre Ian Gillan e Steve Morse, com os dois se divertindo demais
* a pachorra do Ian Paice fazendo um solo poderoso de bateria com o rosto apoiado sobre uma das mãos na hora de solar, como quem diz "ah, coisa mais fácil"


Os shows do Deep Purple são calculadamente feitos para atender a todos.

São para a minha mulher, que como a maioria dos presentes lá conhece bem as cinco músicas deles que tocam na Kiss - embora também conheça por alto o que eu ouço em casa.

São para o gurizinho de nove anos que montava na garupa do pai meio metro à minha esquerda e vibrava a cada solo com a mãozinha fazendo gestos de chifrinho.

São para o quase cinquentão gente fina com quem conversei na fila, que estava lá por gostar de música boa, não por ser especialista em Deep Purple. Quarta-feira, ele estará no Eric Clapton.

E também são pra mim, que já vi e ouvi vários shows, de todas as épocas, ao vivo e em DVD e em bootleg, e voltei aos 15 anos de idade ao ouvir "Hard Loving Man".

A única música que eu não cantei junto foi Smoke on the Water. Porque na hora eu estava dividido entre olhar para o palco e olhar para o público à minha volta, descobrindo uma grande verdade sobre a vida.

O Deep Purple faz 70 shows ao ano e essa é a única música que eles não podem deixar de tocar - porque senão o público sai decepcionado.

Ontem, Ian Paice já havia tocado essa música 1899 vezes em shows do Purple, desde primeiro de março de 1972. Roger Glover, 1738 vezes. Ian Gillan, 1681 vezes. Steve Morse, 1239 vezes. Don Airey, 822 vezes. E eles sempre, SEMPRE, tocam com um sorriso no rosto, um gás danado. Questionado se ele não enjoava, certa vez Roger Glover respondeu com outra pergunta: se você pudesse apertar um botão que fizesse milhares de pessoas felizes na hora, cansaria de apertar?

O tesão do Deep Purple em tocar Smoke on the Water toda noite é "o encanto do cotidiano", como escreveu o psicólogo Contardo Calligaris em sua coluna da Folha de semana passada. Leia o texto inteiro.

Isso é saber viver.

Um show, enfim, pode ensinar lições de vida a quem está atento. Esqueça máscaras, explosões, palcos faraônicos e outras firulas. Cinco tiozinhos fazendo o que sabem e o que gostam. Só isso? Não. TUDO isso.