LED ZEPPELIN - ENTRE O PASSADO E O FUTURO
Robert Plant, o ex-vocalista do Led Zeppelin, anunciou que vai fazer uma turnê com a cantora Allison Krauss, com quem gravou o belíssimo disco "Raising Sand". Isso de certa forma enterrou as esperanças de uma turnê seguir-se ao show mais concorrido do mundo, ocorrido dia 10 na O2 Arena.
E eu acho que está certo ele.
O show da O2 Arena foi emocionante, pelo pouco que vi. Pelo um pouco mais que ouvi do som, eles tocaram como dignos sessentões que sabem muito bem o que fazem - mais ou menos o mesmo que o Deep Purple faz. Mas é duro mergulhar na rotina do Deep Purple atual. Hoje, a grana de verdade está em fazer turnês mundiais, visitando vários países. O Purple faz hoje muito mais shows e visita muito mais países do que quando seus membros tinham vinte e poucos anos de idade. Há cinco anos, o tecladista Jon Lord não agüentou o tirão e pediu pra sair. Afinal, eles são senhores pra lá da meia-idade. Todos sentimos falta dele, mas eu entendo seus motivos.
Minha grande referência é sempre o Deep Purple. Nos anos 70, Led Zeppelin e Deep Purple (e outros!) representavam facetas da excelência a que o rock poderia chegar.
Sendo um único show, o da O2 Arena só tende a engrossar a mitologia do Led Zeppelin - quem conseguiu estar lá contará aos netos, quem não esteve que compre o DVD. Caso se desenvolva em uma turnê mundial, ou mesmo uma volta da banda, isso corre o risco de tirar a força da volta. Ter acabado em 1980, com uma só formação, foi um fator importante para o Led Zeppelin ter desenvolvido uma mitologia mais enraizada do que o Deep Purple, com suas várias voltas e mudanças de formação.
Quando o Purple esteve no Brasil pela primeira vez, em 1991, com sua quinta formação, foi um sucesso danado - embora o vocalista Joe Lynn Turner não fosse nenhum dos outros gênios que fizeram a glória do grupo e o guitarrista Ritchie Blackmore não estivesse lá em seus melhores dias. Entre 2003 e 2006, já estabelecida a oitava formação e o calendário intenso de turnês, o Deep Purple veio ao Brasil três vezes. Na de 2005, lembro de um amigo ter dito algo como "não vou; ano que vem eles estão aí de novo". E de fato estavam. Eu não me queixo, mas é inegável que isso tira o impacto da novidade.
"Percy" Plant tem mais uma coisa que explica sua posição, e que é o melhor argumento possível: sua carreira solo está num dos momentos mais inspirados. O disco "Raising Sand" lembra muito pouco o velho Led Zeppelin, mas é a melhor coisa nova que ouvi nos últimos tempos. Ao preferir Allison Kraus a Jimmy Page como parceria para uma turnê, Plant acerta em cheio.
Entre apostar no passado e apostar no futuro, é sempre mais sábio apostar no futuro. Especialmente para um homem que já experimentou os louros do sucesso com o Led Zeppelin quando era jovem e magro, gritava sem esforço e nunca tinha ouvido falar em Aids. Se ele deixasse de lado a turnê de seu belo novo disco, deixaria de investir no músico experiente que é hoje para viver pelo menos temporariamente das glórias do rapaz cobiçado que um dia foi, mas que nunca mais vai voltar a ser.
Eu adoraria assistir a um show do Led Zeppelin ao vivo. Não seria a mesma coisa, como os shows do Purple hoje não são a mesma coisa da minha fase favorita deles (de quando eu sequer era nascido). Mantenho meu profundo respeito por eles se não houver. Afinal, passei 15 anos ouvindo o Led sabendo que nunca veria um show do grupo. Agora: se Plant vier ao Brasil com a turnê de seu novo disco, eu não perco de jeito nenhum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário