domingo, 9 de novembro de 2003

Haja o inferno ou altas águas



Há dez anos, neste mesmo dia, Ritchie Blackmore fazia seu antepenúltimo show no Deep Purple. Era quase o fim da curta existência da terceira encarnação da Mk2. O show ocorreu no NEC Birmingham, na Inglaterra, e está registrado no vídeo "Come Hell or High Water". O CD também tem grandes pedaços desse show, embora também traga material de um show de 16 de outubro na Alemanha.

Sempre achei esse disco meio deprimente, porque eles parecem meio tristões, burocráticos. O Blackmore, especialmente. Aí eu comprei o vídeo, e o Blackmore realmente me decepcionou. Além da cara amarrada, ele aprontou coisas como chegar ao palco dois versos depois do começo de Highway Star e atirar um copo d'água no câmera (depois soube que também acertou a mulher do Ian, vejam só).

Claro que tem momentos grandiosos, como o Blackmore e o Lord puxando malandramente o riff de Burn no meio de Speed King (no CD), uma apocalíptica interpretação de "Paint it Black", dos Rolling Stones (no vídeo) e o Jon Lord imitando som de sirene de bombeiros quando Gillan canta os versos "they burned down the gambling house/it died with an awful sound" em "Smoke on the Water".

O vídeo intercala entre as músicas trechos de entrevistas com os quatro membros então remanescentes do Purple – eles ainda não sabiam se iam continuar na estrada –, todos eles pessimistas e lembrando episódios malas do Blackmore. O homedepreto tinha um camarote só pra ele (onde passava o tempo com sua namorada, possivelmente Candice Night), enquanto os outros quatro relembravam os velhos tempos compartilhando um camarim. Na noite de 2 de novembro, Blackmore e Gillan quase foram às vias de fato.

Em sua defesa, o homem de preto reclamava que o cantor esquecia versos inteiros e detonava sua voz tomando cerveja. Ele também não curtia a coisa de os câmeras ficarem passando pelo palco. Sim, o cara é um puta guitarrista mas é temperamental.

No dia 30 de outubro, Blackmore havia enviado uma carta aos colegas, por meio do empresário Colin Hart, dizendo que estava de saco cheio e que só iria completar a turnê européia com a banda - que terminaria duas semanas depois, no dia 17 de novembro, em Helsinque, na Finlândia. Depois do show inglês registrado em Come Hell, enquanto os Gillan, Paice e Glover davam entrevistas e o Jon Lord ligava para o Simon Robinson, Blackmore só apareceu pra ir embora. Vestido de pajem medieval e puxado pela coleira por sua namorada (creeedo).

No show, registrado em Come Hell..., Eles tocam várias músicas do disco The Battle Rages On, que já não me empolgava muito na época do lançamento. A turnê também marcou a chegada aos palcos de uma das minhas músicas favoritas do Fireball, "Anyone's Daughter" - pela primeira vez ao vivo desde 1971.

A passagem de Child in Time para Anya me deixou imensamente chateado. Depois de uma performance em que precisou ser ajudado pelos instrumentais para fazer os agudos, no silêncio entre as duas músicas o Ian Gillan dizia a frase "that was then, now is now, and all things return" ("isso foi antes, agora é agora, e tudo volta"). Quando ouvi isso pelas primeiras vezes, achei que ele estava pedindo desculpas. Diz ele que não era.

Come Hell or High Water é bom. É sempre legal ouvir o Blackmore tocando. Mas é essa fase do Purple que me lembra por que eu, particularmente, não faço questão de que o homem de preto volte à banda. Cada vez que passo uma semana ouvindo as delícias dos anos 70 e fico lembrando de como o Blackmore era ducaramba, eu volto a ouvir Slaves & Masters, The Battle Rages On e Come Hell or High Water pra lembrar como o Blackmore já não queria mais nada com o Purple.

Pra saber mais sobre a turnê, vai lá no especial do THS.

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