sábado, 21 de maio de 2011

Coverdale: o homem que canta o que o marmanjo tem vergonha de falar

ATENÇÃO: este post foi editado - o amigo Diogo Salles, do Tungcast, mandou o original de um pedaço importante do argumento.

David Coverdale foi o primeiro vocalista do Deep Purple em quem prestei atenção, no Stormbringer esquecido pela minha prima. Aquela voz forte, grave, fechava com a minha voz. Eu cantava facilmente as partes dele.

Whitesnake é uma banda que respeito e sempre respeitei. Curto bastante, especialmente os primeiros discos. Adoro o Starkers in Tokyo, que sempre ouço com a patroa.

Dito isso, devo botar o dedo num aspecto da polêmica entre meu ex-colega Borbs e o cantor Tico Santa Cruz. Este ficou irritado quando o Borbs comparou o Whitesnake ao Restart. Na adolescência eu também me irritaria. Mas foi Zezé Di Camargo, o cantor sertanejo, quem me abriu os olhos, há uns quatro anos.

A polêmica começou com um articulista do Jornal da Tarde admitindo gostar de música sertaneja e criticando os ataques dos roqueiros aos sertanejos. Aproveitou o ensejo pra dar uma zoadinha no meu amigo Diogo Salles, chargista de mão cheia que ilustrou o texto. Diogo respondeu: ué, mas o meu Whitesnake também é brega nesse sentido de usar o amor como temática. A diferença é a qualidade musical. "Nóis é brega, mas nóis é bão", escreveu.

Então veio o artigo do Zezé di Camargo, que eu li no RSS.

"Você, como roqueiro e fã de Whitesnake, há de convir que o David Coverdale quando veio do Deep Purple e fundou o Whitesnake, deu um tratamento (como diriam?) brega para as letras da banda. Aliás, em termos de letras, é o grupo que mais fala de amor. Não precisa ir muito. Basta analisar os títulos das músicas (Is This love, Looking for love). Mas uma coisa é certa, e isso prova que, de amor, o Brasil entende bem. Em 1985, substituindo o Def Leppard no Rock In Rio, o Whitesnake passou a se consagrar no nosso país com esta apresentação. Sendo assim, dou a mão à plamatória: Diogo e tantos outros que ainda estampam a camiseta do preconceito, vamos vestir a camiseta dos ‘bregas’, se assim preferirem rotular, ou dos puros, como prefiro chamar"
E é verdade. Zezé puxava a brasa para o seu assado comparando o sertanejo ao Whitesnake. Essa eu não engulo, claro. Há óbvias diferenças musicais, na maior parte do tempo (ainda que no "Into The Light" o Coverdale tenha feito coisas bem zezedicamarguianas).

Mas o aspecto da temática é verdadeiro. O que há de diferente em escrever "É o amor" ou "Is This Love"?

Eu não me espantaria se Coverdale compusesse uma música chamada "Fire'n'Passion", aliás. E que escrevesse os versos "I want to take you on my lap, lay you on the ground and make you a woman". Ou que tal "I will wait for you, wherever I go, wherever I go, I'll take you with me"? Se soa menos cafona em inglês, é só porque não é nossa língua materna.

Coverdale é meloso na temática. Chega a soar canastrão, às vezes. E, não por acaso, foi o ex-membro mais bem-sucedido do Deep Purple.

Quem canta o amor abre o ouvido da mulherada e ajuda marmanjo a dizer o que tem vergonha. Roberto Carlos faz a mesma coisa, mas pega mal porque é som dos nossos pais. Restart faz a mesma coisa, mas pega mal porque é som dos nossos sobrinhos. Já Whitesnake tem todo aquele escudo sonoro pra você não precisar ter vergonha de admitir que ouve. Prometo que o segredo fica só entre eu, você e o Coverdale.

Eu pessoalmente gosto mais das letras do Gillan maduro, mas as do Coverdale já me tiveram serventia. Sejamos claros: eu só conheci o Deep Purple porque um ex-namorado de uma prima deu o Stormbringer a ela. Por quê? Por causa de Soldier of Fortune, com certeza. Com que finalidade? Ora, bolas.

Coverdale tem as manhas. Coverdale é Wando, Amado Batista, Roberto Carlos, Pe Lanza, Frank Sinatra e Serguei numa pessoa só.

E ninguém precisa ter vergonha disso. Ele certamente não tem.

2 comentários:

  1. Jeverson Campos11:20 AM

    Sempre pensei sobre esse respeito, lendo um livro chamado Rock and Roll: uma História Social - PAUL FRIEDLANDER ele diz que 70% das letras de rock falam de amor, e os outrs 30% são os mais variados assuntos, rebeldia, protesto, sexo, drogas, problemas em geral, etc. Realmente concordo com tudo que você disse e acho a discografia do Whitesnake fantástica!! Valeu!!

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  2. Muito bom post. Só a diferença, é que Restart e Zezé de Camargo e Luciano tem uma banda muito meia boca e zero de voz, o problema não é eles falarem sobre amor, é o modo como falam...

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