Esta é a série especial sobre os 20 anos do primeiro show do Deep Purple em solo brasileiro. Que se completam HOJE, aliás, mas o post sobre essa turnê é o próximo. Neste terceiro post da série, vemos como Ian Gillan foi o primeiro ex-membro do Deep Purple a atiçar a sede da brasileirada tocando coisas do Deep Purple.
No final dos anos 80, Gillan estava gordo, bebendo demais... e desempregado. Sua demissão do Deep Purple, em 1988, foi algo muito chato.
O clima não estava bom havia muito tempo. Além das brigas com o Blackmore, que o acusava de viver esquecendo letras (e esquece até hoje, mas com elegância), Gillan chegou a dizer numa coletiva que o empresário deles, Bruce Payne, era um babaca ("dickhead"). Em sua biografia, Gillan diz que sacou que estava tudo indo pro ralo na banda quando o baterista Ian Paice lhe disse que não chegava perto do instrumento quando não tinha show.
Apesar de todo o clima ruim, o estopim da demissão mesmo foi a discussão sobre como gravar um disco para o qual a banda há havia composto algumas coisas - o sucessor de House of Blue Light. Gillan insistiu que a banda fizesse uma baita produção desse disco, num grande estúdio de Nova York. Jon Lord foi o mais vocalmente contra. Então, Gillan pegou a questão dos estúdios pra chamar Bruce Payne de "inútil pra caralho". Silêncio sepulcral. Os membros da banda foram embora, um por um.
"Sobrou Roger. Roger, meu querido amigo de tantos anos, se inclinou sobre a mesa, de punho cerrado, e olhou na minha cara. 'Ian', ele disse, 'desta vez você foi longe demais'." Dias depois, o cantor estava no estúdio de sua casa quando recebeu um telefonema de seu empresário, Phil Banfield, informando formalmente o inevitável.
Com o apoio da sua mulher, Bron ("Gubbins, agora você pode fazer o que realmente quer"), Gillan juntou um grupo de músicos e começou a se apresentar em 1989, sob o nome Garth Rockett and the Moonshiners. O guitarrista, Steve Morris, compunha coisas - e disso veio o disco Naked Thunder, lançado em julho de 1990.
Foi para promover esse disco que Ian descobriu a nova geografia do mundo pós-queda do Muro de Berlim.
Ele começou sua turnê pela ainda União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em maio. Passou pela Armênia, Geórgia e Ucrânia, países do outro lado da Cortina de Ferro que mal estavam conquistando a liberdade de ouvir rock e rezar. Em sua turnê por esses países, Gillan foi anunciado como o cantor que fez o papel de Jesus Cristo (Superstar), o que lhe atraiu narizes torcidos e momentos de reverência indevida. Na Geórgia, celebrou pela segunda vez seu casamento com Bron, numa cerimônia encomendada pela agência de notícias russa Tass.
Foi em agosto que ele chegou ao Brasil, vindo direto da Dinamarca. Tocou em quatro datas, segundo seu site:
03.08.90 Sao Paolo Projeto SP, Brazil - broadcast on radio.
04.08.90 Sao Paolo Projeto SP, Brazil
06.08.90 Rio Teatro Nacional, Brazil
08.08.90 Porto Alegre, Brazil or Curitiba Aluba Pavilion
(Certamente essa foi Curitiba. Porto Alegre não foi.)
Veja, estávamos em pleno Plano Collor. O Brasil estava com os pés afundados numa economia dos diabos. Poucos grandes shows ainda vinham ao Brasil. O do Gillan, no Projeto SP, foi aparentemente o maior show que São Paulo recebeu em 1990.
O jornalista André Forastieri resenhou os shows na Bizz. Diz ele que o Projeto SP ficou "abarrotado" para ouvir pela primeira vez "Strange Kind of Woman", "Knocking at your Back Door" e "Smoke on the Water" na voz original, ainda que com guitarra, baixo e bateria emprestados. "Gillan - recém-chegado de seis semanas excursionando pela URSS - misturou clássicos do Purple, velharias da Ian Gillan Band e novidades do álbum solo Naked Thunder", escreveu.
O vídeo abaixo é de um desses shows. Gillan canta "No Good Luck", do então disco novo.
Em sua passagem pelo Rio, Gillan chegou a gravar imagens muito das canastronas para um clipe da mesma música:
Ian Gillan abriu as comportas, e no ano seguinte viriam os outros quatro quintos da Mk2.
A essas alturas, o Deep Purple estava gravando o primeiro disco da Mk5, entre Orlando (Miami) e Nova York. A banda tinha um novo vocalista, Joe Lynn Turner, que veio cheio de ideias. Segundo o próprio Turner admitiu em entrevista para a biografia de Ritchie Blackmore, Turner já chegou puxando briga com Jon Lord. "Você é o passado, eu sou o futuro", disse o novo cantor no meio de um discurso em defesa da gravação de "power ballads" como Love Conquers All.
Foi com esse "cantor do futuro" que o Deep Purple começou sua turnê mundial pela Hungria, em fevereiro de 1991. Essa turnê começaria por um país ex-comunista e terminaria em meio à Guerra do Golfo. Quase no finzinho, pisou no Brasil - e é essa perna que completa 20 anos hoje e será assunto do próximo post.
Estive nesses shows... Foi dose a fase do Gillan Gordo... E vi no ginásio do Ibirapuera o Turner tentar cantar Child in Time... Lembro de meus amigos e eu comentarmos sobre os olhares de desaprovação entre Lord e Blackmore... Sei que não é mais possível, mas Deep Purple é MKII, querendo ou não.
ResponderExcluirNo próximo post teremos esse vídeo de Child in Time. Ontem à noite vi um terço do segundo show de 1991, no YouTube. Acho que me senti menos mal com o documentário Phoenix Rising. Mas a parte instrumental era fabulosa!
ResponderExcluirQuais são tuas lembranças do show de 1991?
É uma pena que tenha sido com o JLT, mas convenhamos que o repertório da MKV foi o mais perto de um "show dos sonhos" do Deep Purple que poderia nos ser oferecido.
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