Hoje faz 20 anos do dia do show do Deep Purple no Gigantinho, em Porto Alegre - aquele que eu perdi porque tinha só 14 anos. Separei bastante material aqui pra escrever um bom post sobre a turnê brasileira, mas não consegui tempo ainda. Calhou de o vintenário coincidir com uma mudança importante no trabalho.
Então, pra não deixar a peteca cair enquanto tento arrumar um tempinho, publico aqui os quatro vídeos que estão no YouTube com músicas do segundo show da turnê brasileira. Foi no ginásio do Ibirapuera, em 17 de agosto de 1991. Meus comentários seguem antes de cada um dos vídeos.
A Mk5 foi a única formação que homenageou praticamente todas as anteriores, tendo na média o mais representativo setlist de toda a história do Deep Purple. Faltou uma tiradinha de chapéu para a Mk4, mas o Blackmore não toparia (como o Gillan não topa tirar o chapéu pra Mk3). Turner também é mais respeitoso com as formações anteriores do que Coverdale e Hughes foram com seus antecessores durante a Mk3. Ao vivo, eles eram excelentes com material próprio mas baixavam de qualidade quando tocavam (poucas) músicas de antes do seu tempo.
Em sua crítica dos shows para a Bizz, meu mestre André Forastieri resumiu: "Pô, qualquer show que começa com Burn, acaba com Smoke on the Water e tem no meio Perfect Strangers é maravilhoso", ainda que o Forasta ponderasse que "o novo vocalista Joe Lynn Turner tem menos voz que a Xuxa".
Nos comentários dos vídeos que estão na internet, mesmo fãs de Turner estranham o quanto sua voz está ruim. E, embora seu estilo não feche bem com o do Purple, ao menos em estúdio ele não é um mau cantor. Basta ouvir sua voz no disco "Slaves & Masters".
O show abriu com Burn. Todo mundo nervoso pra testemunhar esse momento histórico enquanto rolava uma gravação e um show de laser. Blackmore e Paice tinham uma combinação: o guitarrista fica sentado atrás dos amps e dá o sinal para o baterista começar a música quando ele, Blackmore, estiver pronto. Nesse show funcionou, embora num dos últimos não tenha funcionado (falo no próximo post). O que não funcionou foi o microfone do Turner.
Repare que os aplausos ao final da primeira música são bem menores do que os aplausos antes de ela começar.
A segunda música foi Black Night, que fazia medley com Child in Time e Long Live Rock'n'Roll. Child in Time empolgou mais antes de Turner efetivamente cantá-la (sem os gritos). Na gravação em áudio do show da noite anterior, dá pra ouvir gente questionando a masculinidade do Turner e chamando o Gillan de volta.
Como Turner não toca congas e tampouco sai do palco, ele fica meio perdido durante os solos dos colegas. Fica na frente da bateria, brinca com o pedestal do microfone.
A seguir, vem a primeira música nova da noite: Truth Hurts. Sério? Sério. Ao vivo tem um arranjo diferente, mais lento, aproveitando mais o feeling do Blackmore. E a música acaba indo por nove minutos. Abstraia a voz e letra sertaneja ("I wanna know who you've been loving in my place") e a experiência é quase hipnótica.
Se você assistiu tudo, deve ter notado a falta de jeito ampliada do Turner aqui. Mas confesso que achei simpática aquela parte lá no final, com o Turner, o Blackmore e o Glover sentados na frente da bateria, Glover quase consolando o Turner, "calma, esse negócio de chifre não existe, é só uma coisa que colocaram na sua cabeça". Aí eles levantam abruptamente, como quem diz "CORRE QUE A CANA VEM VINDO!"
No setlist daquele ano, logo depois vinha Hey Joe. Não encontrei esse vídeo nos shows brasileiros. E na verdade o último vídeo que encontrei é do que vem depois de Hey Joe: um medley entre The Cut Runs Deep (minha segunda favorita daquele disco, depois de Fire in The Basement) com Hush. O engraçado é que o Turner apresenta The Cut Runs Deep como sendo de "um ex-amigo meu", mas nos créditos do disco constam apenas membros da banda. Será que ele está se referindo a Blackmore, de quem até hoje se diz amigo, ou a Jon Lord, com quem nunca se bicou?
Destaque pra brincadeira entre bateria e guitarra. Turner é competente em chamar a platéia com o "Ô, ooô, ô". Mas eu preferia mais brincadeira entre bateria e guitarra. Até porque depois do ooô entra uma versão meio matada da letra de Hush.
Na biografia do Blackmore, Turner conta que "The Cut Runs Deep" foi a sua primeira colaboração criativa no Purple. Quando ele entrou no estúdio, Blackmore começou a tocar "Hey Joe" (a que vem logo antes no set) e ele agarrou o microfone e saiu cantando. Aí começaram as novidades. Eles começaram a tocar o riff dessa música e ele bolou o refrão na hora, no melhor estilo protoemo: "e quanto à mágoa? E quanto ao vazio por dentro?"
E assim terminam os vídeos do segundo show do Purple no Brasil que encontrei no YouTube. Segundo o The Highway Star, o restante do setlist daquele ano era este:
Perfect Strangers
Fire In The Basement
(incluindo) Bass solo
King Of Dreams
Stand By Me (Ben E King) only occasionally
Love Conquers All
Ritchie's Blues instrumental
Difficult To Cure
(incluindo) Keyboard Solo
Knocking At Your Back Door
(incluindo) Teddy Bear's Picnic instrumental
Tutti Frutti (Little Richard)only occasionally
A Whiter Shade Of Pale (Procol Harum)only occasionally
Yesterday (The Beatles)only occasionally
That'll Be The Day (Buddy Holly)only occasionally
Lazy
Wicked Ways
Highway Star
(incluindo) Bourree from Sarabande (Jon Lord)
Smoke On The Water
(incluindo) Drum Solo
(incluindo) In The Hall Of The Mountain King
(incluindo) Woman From Tokyo
Você conhece mais vídeos de shows do Brasil naquele ano? Mande aqui nos comentários. E conte mais sobre os shows que viu!
Estava lendo outro dia uma entrevista do Blackmore no Highway star ( que cheguei através de um link do wikiPurple) , e pelo que eu entendi ele mencionou o que o Joe Lynn na época do Rainbow começou a usar drogas e se achar .. e juntando com outras coisas, isso o levou a finalizar a banda e voltar com o Deep Purple ( apesar disso ja estar rolando nos bastidores a algum tempo na época ).
ResponderExcluirIncrivel que mesmo com o Turner no vocal, isso nao deixa de ser fabuloso.
Abraço.
Meu, com todo o respeito que este Turner merece, não dá para dizer que foi um show do Purple. A gente tenta engolir mas não dá. Como eu disse em outro comentário, dava para notar claramente o constrangimento do resto da banda em Child in Time... Foi um erro colocá-la no set list... Melhor se tivessem colocado o velho Roger no improviso dos vocais... Pior ainda foi a apresentação no Olympia... O Blackmore surtou quando a platéia pediu Child in Time e o Turner tentou dar uns gritos...
ResponderExcluirDe qualquer maneira, deste show no Olympia eu pouco me lembro... Tava de porre desde a fila da entrada...
Ô cachaça...
Tinha 15 anos nessa época e meu pai também não me deixou ir ao show. Por algum tempo fiquei puto, pensando que perdera provavelmente o melhor show de minha vida... ledo engano, 5 anos depois estava eu e meus amigos na Addler, em Vinhedo, em uma apresentação impecável do Purple, com direito até um sofá no palco em Speed King. Sempre achei o Purple no mesmo nível de um "Allman Brothers da vida", tamanha qualidade de sua obra, mas me desculpem dizer que esse disco/tunê Slaves And Masters é musicalmente pobre, comercial e não lembra nem um pouco as raízes do rock britânico que a banda sempre carregou consigo. Disco horroroso. Além disso, JLT seria um excelente vocalista para uma banda do nível do Warrant, mas não para o Deep Purple. Ainda bem que essa fase pouco durou e que na sequência conseguiram fazer algo infinitamente melhor, que é o Battle Rages On...
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