Em 1974, o rock estava numa fase áurea e o Deep Purple estava entrando com os dois pés na Mk3. Foi um ano em que a indústria de shows de rock estava começando a chegar ao Brasil. Vieram Alice Cooper, Miles Davis e Jackson Five (era considerado rock, não me olhem assim). Na época, a revista Visão classificava aquele ano como "a primeira tentativa brasileira de trabalhar o show business como indústria".
Foi também o ano em que a Folha de S.Paulo inaugurou sua página dedicada ao rock - e o colunista Carlos A.Gouvea também falava no lado "business" do rock ao lado dos lançamentos. Como o acervo da Folha está todo online, pude dar uma olhada no que aconteceu naquele ano - e tive grandes surpresas.
"Burn" foi lançado por aqui em julho de 1974, três meses depois da performance literalmente incendiária do Blackmore no California Jam. A resenha na Folha veio junto com a de "Bang", o disco do James Gang em que Tommy Bolin tocou. E olha que surpresa: para Gouvea, o som do disco "chega a lembrar um pouco o Deep Purple".
Em setembro, os fãs do Deep Purple deviam socar o ar como Pelé ao fazer um gol, ao ler a resenha do show de Jackson 5. Gouvea em certo ponto passou a falar sobre os empresários que os trouxeram, os "capitalistas do rock". A mesma empresa que trouxe Michael Jackson e seus irmãos também prometeu trazer outras grandes bandas da época, inclusive... o Deep Purple. A nossa banda favorita estava marcada para vir em janeiro de 1975, segundo a Folha, trazida por uma joint-venture entre um brasileiro e um francês:
O sócio brasileiro da empreitada era George Ellis, que Gouvea faz questão de dizer que era empresário de espetáculos de primeira viagem e havia vendido sua fazenda para financiar a aventura.
Ellis associou-se ao francês Albert Koski, que segundo a Folha levou os Rolling Stones para a França, e também ao lendário empresário de espetáculos americano Howard Stein. A ideia era trazer artistas gringos para o Brasil e levar artistas brasileiros lá pra fora. A sociedade com o americano foi anunciada na Billboard uma semana antes de o show do Deep Purple ser anunciado:
George Ellis também foi empresário do cantor Ney Matogrosso, mas a parceria foi rompida em 1975. Hoje, ele é o sócio-fundador da empresa IdeiasNet, conceituado no ramo digital. Embora eu tenha deixado recados para ele no Twitter e no LinkedIn, ainda não rolou de conversarmos. Mas espero que role. Será uma satisfação imensa ouvi-lo.
Bom, voltando ao show: a empreitada dos Jacksons deu prejuízo. Imagina a economia brasileira em meio à ditadura militar e em pleno choque internacional do petróleo. Dólar lá em cima e tal. Mesmo assim, a empresa anunciou que traria o Paul McCartney.
Em outubro, quando seria a vez de o Traffic tocar no Brasil, a coisa furou. Na coluna "Traffic: o sonho acabou", Gouvea dizia que não tinha mais chance de o Deep Purple rolar em janeiro. E vai mais além: diz que os empresários anunciavam King Crimson mesmo com a banda tendo acabado dois meses antes. E que Ellis entendia era de fazenda (esta foi golpe baixo, eu diria).
Dia 21 de outubro, Gouvea estava mais de cabeça fria, numa reportagem sobre o fato de o Brasil estar começando a descobrir o mercado do rock. Fala da produção do show do Alice Cooper e diz o seguinte sobre as empreitadas de Ellis:
Ele dá o benefício da dúvida com o "vamos esperar". Mas já não havia esperança. O sonho de ver o Deep Purple no Brasil em janeiro de 1975 já havia caído por terra.
Naquele mês, a Koski Ellis Produções ganhou uma projeção grande na MPB, ao produzir o show Elis & Tom. Ele rendeu um dos melhores discos da história da MPB.
E o Purple?
Por essa época já estava gravado o Stormbringer (que chegaria aqui em fevereiro de 75) e, embora a imprensa daqui não soubesse, o Blackmore já estava cada vez mais distante da banda. No começo de 1975, eles se apresentariam apenas no festival de Sunbury, na Austrália, em 25 de janeiro - pra depois entrar em férias até a turnê europeia em que Blackmore deixou a banda, dia 7 de abril.
O primeiro show do Deep Purple, então, esqueceu de acontecer. Meros 14 meses depois da data marcada, a banda estava acabada e entraria num recesso de 8 anos.
O primeiro pedacinho do Purple a se ouvir em solo brasileiro viria só em 1985, com a chegada de David Coverdale para tocar no Rock in Rio com o Whitesnake. É o assunto do próximo post especial.
ARE YOU READY????
Incrível como a sincronicidade junguiana me persegue.
ResponderExcluirMinutos atrás – eu disse MINUTOS – descobri um blog de um alagoano que escaneia revistas antigas brasileiras que tinham notícias sobre o sacrossanto Rock & Roll.
E, claro, purplemaníaco, fui atrás de notícias da banda. E eis que: http://velhidade.blogspot.com/search/label/Deep%20Purple
That´s incredible, uh?
PAZ!
AMOR!
ALEGRIA!
King Deletado I