O sexto já era o maestro Paul Mann, desde a gloriosa turnê do Concerto. Agora ele é o sétimo, porque o sexto é o Jon Lord. Dio seria, com muito boa vontade, o oitavo membro do grupo.
Deixa eu falar um pouco do maestro. Paul Mann, além de ser um jovem e talentoso maestro, é gente finíssima --e um dos maiores fãs do Deep Purple neste mundo. Ele conta que começou a se interessar por música clássica quando tinha uns quatro ou cinco anos, ouvindo o disco "Concerto for Group and Orchestra". Adolescente, ele ia a simplesmente todos os shows do Deep Purple que podia --seu tio é ninguém menos que Colin Hart, que por três décadas foi o homem que quase literalmente carregava o piano para o Deep Purple. Hoje, Hart está aposentado.
Aos 37 anos, Mann é um dos mais jovens maestros da Sinfônica de Londres. De vez em quando mando um e-mail para ele, e ele sempre responde numa ótima. Outro dia ele disse que estava louco para que o Deep Purple fosse logo fazer os shows em Londres, para assisti-los ao lado do palco "com um enorme copo de vinho tinto". Admiro muito quem sabe curtir a vida assim.
Lá pelos doze anos de idade, Paul inventou que queria ser tecladista de rock. Don Airey, o atual tecladista do Deep Purple, era na época o cutucador de branquinhas do Rainbow --que Colin Hard produzia. Um dia, nos bastidores de um show, Mann olhou aquela parafernália de coisas para o teclado e foi falar com o Airey. E ele disse: "tudo isso aí é muito legal, mas não chega nem aos pés do som de um grande piano". E o Paul toca piano até hoje. Só que ele reconhece não ter a capacidade de improvisar, necessaríssima para jazz e rock modernos (eu mesmo não tenho essa capacidade, mal e mal toco meu violãozinho; por isso decidi não ser músico).
Mann é formado em música pela Universidade de York, na Inglaterra. Começou sua carreira de maestro em 1988, aos 23 anos (!), na Orquestra Sinfônica de York. No site da YSO, eles mencionam que "seu estilo enérgico de conduzir a orquestra levou um crítico a observar, certa vez, que seus pés saiam do chão em passagens particularmente empolgantes". Vê se não parece que ele está pulando nesta foto ao lado. Em 1992, Mann mudou-se para Manchester para trabalhar como condutor-assistente do Northern Ballet, em Halifax, mas continuou também na YSO por mais um ano. Há um belo perfil dele no site da YSO.
Ele é um dos maestros da London Symphony Orchestra desde 1998. Já tocou no mundo inteiro nessa farra. Mais que isso: tocou com algumas das mais interessantes personalidades do mundo da música, como Wynton Marsalis e o próprio Deep Purple.
Com o Purple, ele girou o mundo para comandar a apresentação da nova e melhorada versão do Concerto para Grupo e Orquestra, composto por Jon Lord, cuja partitura estava perdida havia quase 30 anos e foi reescrita por Lord e um diligente músico húngaro, que fez a maior parte do trabalho duro.
Em julho do ano passado, foi aberto um fórum no site do Deep Purple para que os fãs conversassem com ele sobre o Concerto. As melhores perguntas e respostas foram reunidas em um especial, em outubro. Lá, Paul conta que teve UMA SEMANA entre o convite e o concerto dos 30 anos, em 1999. Entre outras histórias sensacionais que ele conta sobre seus meses como o sexto Purple, está uma frase antológica, que o Ian Paice teria dito a ele:
-- Ei, Mann, cara, como cê faz isso? Você bota 85 músicos no ritmo com um pauzinho branco, e eu, com dois, não consigo nem fazer esses quatro putos trabalharem direito!
Nessa longa turnê, ele regeu orquestras pelo mundo inteiro --incluindo a Jazz Sinfônica de São Paulo, no evento cultural mais subestimado do Brasil. Paul diz que foi um pusta prazer reger o concerto que abriu seus ouvidos para a música clássica, e eu não duvido. No lugar dele, eu ficaria igualmente bobo. Para completar, Mann também foi o cara que regeu a primeira apresentação do Concerto SEM o Deep Purple, na Austrália, em fevereiro. Foi uma colaboração entre uma orquestra local e uma banda da região. Uma vez pendurei aqui umas declarações dele sobre o assunto.
Só para encurtar: o cara é gente finíssima. Ainda quero beber com ele para bater papo e dar umas risadas.
Sobre o Concerto: quem nunca ouviu o CD com a apresentação no Royal Albert Hall deve ouvir. Ou comprar o DVD. Eu fui burro e não comprei o VHS disso, e agora vai ser putamerdalmente difícil de conseguir. (Aliás: quem tiver e quiser vender, mande um e-mail pra mim.)
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