Vejam a cara de felicidade do ilustre cavalheiro aí do meio. Eu conheço bem essa expressão, porque ela também já esteve no meu rosto. Acontece que esse é o provável próximo presidente russo, Dmitry Medvedev, chefão da Gazprom, privatizada do gás russa e candidato de Vladimir Putin à sua sucessão no comando do país.
Para desgosto da maior parte dos fãs, o Deep Purple tocou ontem na festa dos 15 anos da "Petrobras" russa, na despedida de Medevedev antes de se tornar o candidato oficial.
O show ficou tão pop que levou o New York Times a citar a banda pela primeira vez nos dez anos em que o leio.
Medvedev tem tantos discos do Deep Purple quanto eu, mas sua conta bancária é bem mais gorda. Fã da banda desde o tempo em que ter o Machine Head em casa podia dar cadeia, Medvedev já contratou Joe Lynn Turner e Glenn Hughes em 2004 pra gravar músicas compostas por ele próprio. Turner, ex-vocalista do Deep Purple que hoje parece aceitar convite pra cantar até em churrascaria, cantou pra Medvedev e outros 70 magnatas russos em julho do ano passado. Mas eu não consigo deixar de achar meio incômoda essa coisa toda.
O anúncio foi polêmico na Rússia, por todos os justos motivos. Os fãs de lá ficaram até contentes que os políticos russos tenham bom gosto pra música, "mas pena é que eles não estejam gastando seu próprio dinheiro nisso".
Não se sabe quanto o Purple ganhou por isso, mas a Forbes lembra que o cachê mais alto já pago por ricaços na Rússia foi para George Michael: US$ 3,5 milhões. Como se trata do presidente da "Petrobras" russa, de um cara que parece ser mais fã do Deep Purple do que eu e que ainda por cima pode ser o próximo presidente, acho que temos aí um novo recorde.
Segundo o Pravda, os mestres tocaram oito músicas. A Reuters já publicou um texto a respeito do show de hoje, mas ele me soa a cascata. A única informação é a de que o Purple tocou lá, e todo o resto quase soa a chute:
- A banda britânica Deep Purple fez um show diferente na segunda-feira, tocando no Kremlin para uma platéia de casacos de pele, ternos e medalhas militares em vez de jeans e camisetas. Muita gente da platéia chegou de limusine em vez de ônibus, e na primeira fila estava o provável futuro presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, ex-espião da KGB.
(...)Considerada certa vez a banda mais barulhenta do planeta, segundo o livro Guinness dos Recordes, o Deep Purple parecia meio deslocado em meio à imensidão do Palácio Estatal do Kremlin, que tem um dos maiores palcos do mundo e uma platéia para 6.000 pessoas.
O público, em geral homens de meia-idade vestindo terno e gravata, permaneceu impassível diante dos hits dos anos 1960 e 70, como "Smoke on the Water". Só eventuais balanços de cabeça indicavam que havia alguém escutando. Coube a um pequeno grupo de estudantes e jovens executivos, sentado na lateral do salão, agitar as mãos acima da cabeça e eventualmente assoviar e gritar.
Não é a primeira vez que os mestres me aprontam uma destas. Em dezembro, meu grupo de rock favorito fez um show secreto em Zurique, pra uma platéia de banqueiros.
Ian Gillan nunca cansa de dizer o quanto o espanta saber que, na extinta União Soviética, alguém poderia ser preso se fosse pego ouvindo seus discos. Talvez isso tenha a ver com o motivo de eles terem aceitado. Não justifica, mas explica. Abaixo, a canção "Anya", gravada em 1993, em alusão à Rússia.
Aguardo uma resenha mais consistente do que foi o show do Purple na Festa dos Nets. Talvez, quem sabe, alguma pirataria.
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