Eu sempre tiro um pouco de sarro das manias do Blackmore aqui no blog, mas não me canso de dizer que ele é meu guitarrista favorito. Embora seja meu guitarrista favorito, eu sempre pesquisei muito pouco sobre como ele virou o Homem de Preto que conhecemos. Por isso, comprei o livro "Black Knight", uma biografia não-autorizada. Estou devorando; ainda ontem, esse livro me manteve acordado até as 2 da manhã. Anteontem, até as 4.
Blackmore sempre foi um cara muito tímido, e o encadeamento dos fatos no livro sugere que boa parte das manias dele tem a ver com essa característica - por mais que seja estranho imaginar que um cidadão que põe fogo no palco possa ser tímido. As roupas pretas, o perfeccionismo, o ensimesmismo, a própria bronca com o Gillan (que é um sujeito MUITO expansivo), o laconismo. Blackmore ergue um escudo de estranhices para se defender. E se diverte com isso. Se você é tímido (e eu sou, até demais), deve saber mais ou menos como é a sensação, em outra escala.
Quando eu terminar de ler, posto aqui uma resenha. Já li todos os capítulos sobre o Deep Purple.
Só pra dar um gostinho: o capítulo que fala sobre a Mk5 traz uma revelação interessante sobre o Turner, outro personagem constante em piadinhas neste blog.
Em todos os capítulos, desde os que falam de 1968, vários entrevistados reclamam que Lord pouco contribuía com as composições do Purple - o que eu estranho demais, considerando a importância do teclado na sonoridade da banda. Para Slaves & Masters, calhou de ele ser o primeiro a reclamar de uma música por ser melosa demais para o Deep Purple. Sim, era "Love Conquers All".
A música cabia no contexto da tentativa de fazer um álbum comercial, porque na época era regra todo mundo botar uma baladinha num disco de hard rock, do Twisted Sister ao Cinderella. O argumento do Turner foi exatamente este: "o Motley Crue faz isso". Lord reclamou. Nas palavras do vocalista:
"Eu lembro que o Jon andou dizendo que 'Love Conquers All' era merda e não era uma boa música, e eu disse: 'se você tocar direito, eu vou cantar pra caralho e vai ser uma baita power ballad, então cala essa porra de boca e te mexe'. O Ritchie se virou no banquinho pra rir, e tentou esconder o riso. Ele queria dizer isso pro Jon havia anos. Naquela hora eu acho que me passei da conta, mas eu estava frustrado musicalmente porque olha só... o Jon nunca escrevia, e ficava lá sentado bebendo uma taça de vinho, lendo o livro dele, ouvindo música clássica"
(Parêntese: o "lendo um livro" é uma referência depreciativa que o Blackmore dirige ao Lord diversas vezes ao longo dos capítulos sobre o Purple. Como se fosse má coisa...)
Blackmore lembra que Turner disse ao Jon Lord, naquela explosão, uma outra frase: "Você é o passado, eu sou o futuro". E Blackmore se diverte ao dizer que sempre cumprimenta Lord dizendo "olá, sr. Passado".
Isso explica muita coisa - como, por exemplo, o fato de o tecladista não tocar em faixas feitas fora do álbum, como "Slow Down Sister" e "Fire Ice and Dynamite" (salvo engano), mas isso não aparece no livro.
O que eu recuperei de respeito pelo Blackmore com esse livro é diretamente proporcional ao que eu perdi de respeito pelo Turner com essa briga. Se bem que eles todos brigavam ou ficavam de cara feia um com o outro o tempo todo desde 1968, pelo que entendi.