quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Sobre o Glenn Hughes

O Fernando Gilliatt colocou um comentário muito legal ali na caixinha, cuja resposta demanda mais do que o espaço de um comentário. Foi isto que ele escreveu:

    Só não é perfeito, não que vc deseje isso e nem eu tb espero isso afinal é um blog pessoal com SUAS impressões e tals, acho que exagera com o Hughes. Sempre leio suas críticas ao jeito meio "extravagante" e sem feeling do Hughes me causa um desconforto danado. As excentricidades e birras do Gillan são vistas com humor e como se fossem algo que fazem o personagem se tornar maior, enquanto as do Hughes são molecagens e frescuras de um velho imaturo. Os exageros vocais do Hughes são coisas de menino mimado querendo aparecer enquanto Gillan com qualquer coisa que o faça atualmente, mesmo que sendo apenas um fantasma da voz que foi, é "coisa de gênio" que se reinventou. Enfim, só tenho a agradecer pelo Purpendicular mas não acha que exageras com o Hughes?
Isso já foi verdade em boa parte. Sempre respeitei o Hughes como músico, até porque foi com o Stormbringer que eu comecei a curtir o Purple. Mas durante um bom tempo peguei pesado com a figura dele. Injustamente.

Quando mexi na cara do Purpendicular, antes de retomá-lo, fui atrás de todos os posts antigos para colocar tags sobre os membros. Esta, por exemplo, é a do Hughes. Algumas coisas que eu escrevi sobre ele me deixaram espantado. Apaguei várias, editei outras. Talvez tenha a ver com o fato de que ele andou associado ao Joe Lynn Turner, esse sim um cantor bom mas caricato. Botei os dois no mesmo saco durante um tempo.

Esse tom mordaz deixou de existir nos últimos dois anos. E deixou de existir porque finalmente eu conheci o que o Glenn Hughes fez fora dos discos do Deep Purple. Desde que eu pesquisei muito sobre a vida e a obra do Hughes pra entrevistá-lo, em 2009. E ainda mais especialmente desde que ele supervisou a produção dos remasters de Stormbringer e Come Taste The Band e inventou o Black Country Communion.

Pra mim, Hughes fazia um excelente trabalho no estúdio, mas no palco estragava. Não consigo deixar de ter essa impressão ouvindo os shows e sua performance neles, e tenho pilhas de exemplos concretos. Pra mim, havia muito pouco que diferenciasse isso do que o Joe Lynn Turner fez, em essência.

Outra coisa que me desinteressou do Glenn Hughes por muito tempo foi o fato de ele ter se detonado usando drogas. As únicas substâncias alteradoras de consciência que eu uso são bebida (geralmente com moderação), música e gibis. E durante muito tempo acabei medindo meus músicos favoritos por essa minha régua. Até porque as coisas que Hughes usava o prejudicavam demais. Sendo que ele é um BAITA músico em situações controladas. Excelente baixista, grande cantor. Se mistura soul na sua música, e se isso não é do meu gosto direto geralmente, é o menor dos fatores.

Pesquisando sua vida, porém, descobri o que mais ele gravou depois de limpar a cara. Descobri o quanto ele é gente fina, aberto, bonachão. Ainda não li sua biografia inteira, só trechos, mas estou doido para ler. Do pouco que li, achei bem mais interessante que a do Gillan ou a do Blackmore, as outras duas que já li.

A diferença é basicamente a mesma entre um filme e um documentário. O que é mais interessante nas vidas de Blackmore e Gillan é a música que fizeram. Já a vida de Hughes é turbulenta. Se algum membro do Deep Purple se reinventou várias vezes, foi ele. Perto dos perrengues dele, os dos outros são fichinha.

Ganhei muito respeito pelo Hughes por conta dessa pesquisa. Mas isso não mudou minha avaliação musical sobre sua atuação no Deep Purple.

Não faço segredo de que para mim o melhor do Deep Purple está na Mk2. Ainda acho que ao vivo o Hughes queria tanto mostrar seu talento como cantor que a banda inteira acabava se perdendo sem uma linha de baixo firme na hora do improviso - pra mim, esse improviso é o ponto alto dos shows da Mk2. Tenho como provar, especialmente com o DVD "Phoenix Rising", que os exageros de Hughes foram fatores importantíssimos para o Deep Purple quase acabar em 1975 e acabar no ano seguinte. Ele mesmo diz que achava chato esse negócio de solar por sei lá quanto tempo, que é o que eu mais gosto na Mk2.

Acho, porém, que com a idade fui ficando mais propenso a avaliar os outros pelo que são, com suas qualidades e seus defeitos, em vez de avaliá-los pelo que eu gostaria que fossem. E, caramba, eu posso não gostar da performance do Hughes tocando Space Truckin' em 1974, mas hoje sei o quanto ele estava prejudicado.

Mas nunca vou esquecer o quanto eu fiquei grato quando:

1) Ouvi o remaster de Stormbringer, o meu primeiro disco do Purple. Com um sorrisão de orelha a orelha.

2) Eu não conseguia piscar vendo Hughes ensaiar Holy Man acústico em São Paulo, depois de eu entrevistá-lo.

3) Eu estava deprimido numa tarde de sábado, cheio de problemas na cabeça, e casualmente ouvi pela primeira vez o primeiro disco do Black Country Communion. Aquele baixo supersônico da abertura mandou meus problemas pra muito longe. IIIII am a messengeeeer... and this is my prophecyyyy... I'm going baaaaaaack... to the Blaaaaack Country...

Na mesma hora tuitei: "Has @glenn_hughes forgotten he's not a kid anymore? Old men are not supposed to play like this". Ele me mandou uma DM na hora, faceiríssimo.

Hoje, se tem algum ex-membro do Deep Purple fazendo música nova de um jeito que empolgaria o Marcelo que descobriu um Stormbringer empoeirado em 1990, é o Glenn Hughes. Pena, porém, que ele apanhou tanto da vida (e deste blog) até chegar a este ponto. Acho até que é pra compensar isso que eu falei tanto nele aqui nos últimos meses.

Abração, meu grande. Depois diga lá o que achou dos posts recentes sobre ele.

3 comentários:

  1. Bruno4:25 PM

    Não que eu tivesse algo contra o Hughes, mas nem me interessava pelo trabalho dele pelo Deep Purple, pois como o não tinha o Gillan, simplesmente não via motivos em escutar, do Burn por exemplo só escutava a faixa título quando tocava em alguma rádio. Foi então, que não me lembro como, conheci o "Music For The Divine", foi aí que vi o grande artista que ele era e corri atrás do tempo perdido para escutar o Burn direito e todo o resto.

    Parabéns pelo blog !

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  2. Fernando Gilliatt9:34 PM

    Puts, qdo acessei o blog e vi que a resposta ao comentário vinha em forma de post, pensei: Fudeu, cutuquei a onça com vara curta, "vou diminuir e me dirigir para o oeste", hahahaha. Deve ter percebido que escrevi o comentário medindo as palavras pra exatamente nao soar meio mala, acho que acertei na dose. Falando sério agora, no fundo tinha percebido essa tua "boa disposição" com o Hughes nessa volta do blog e achei que era hora pra comentar essa impressao que sempre tive nos teus textos onde ele aparecia. Pra tu ver como ficava irritado com isso, até saí daquela comuna do orkut, PPRR porque lá Glenn Hughes vale menos que papel de bala. Imenso prazer o meu em ter uma bela resposta pra um comentário. E só pra deixar claro, concordo tb que Hughes exagerou em atitudes e malabarismos vocais e ritmicos desnecessários mas sempre reconhecendo que suas qualidades superavam em muito isso. Enfim, legal demais esse teu reconhecimento ao velho Glenn Hughes!!!

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  3. Marcelo, bom ver que vc fez esse mea-culpa. Eu tambem acho esses improvisos dos anos 70 muito chatos, mas note que isso não acontecia só com o MK 2 ou MK 3. Era geral. O Zepp também fazia muito com "Dazed and Confused". Era tedioso, mas na época fazia sentido.

    Agora, vamos reconhecer: de todos os membros do Purple (digo TODOS MESMO), o Hughes é o único que ainda faz música nova e interessante - especialmente o BCC. Não que os outros não estejam fazendo coisas boas, mas é sempre uma arrumação em cima de algo já feito anteriormente.

    PS: a bio do Hughes também está na minha fila

    abs
    Diogo

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