
Bom, boa parte da turma aqui deve conhecer a música "Smoke on the water", do Deep Purple. Alguns dentro dessa boa parte devem saber que, além do "duh, duh, duh" do riff clássico, a música conta uma história real. Poucos, pouquíssimos, conhecem os detalhes da história - que nunca, até hoje, tinha sido escrita com tantos detalhes como esta que vocês estão lendo.
Em 4 de dezembro de 1971, o Deep Purple havia chegado a Montreaux com um caminhão de equipamentos dos Rolling Stones, para compor e gravar um disco de estúdio em condições de disco ao vivo. Eles usariam o palco do cassino local, depois de um show do Frank Zappa.

Mas só que o palco começou a pegar fogo antes do final da apresentação. Pelas memórias de Ian Gillan, "foi soberbo: um cara apareceu com um lança-chamas e atirou no teto". Há quem duvide dessa versão: como é que iam deixar alguém entrar com um lança-chamas? O próprio Roger Glover, que estava lá, admite que ninguém viu quem ou como foi. Mas tudo bem.
A energia do lugar é cortada. O pessoal começa a gritar "fogo, fogo!". Alguém da banda do Zappa (não ele) grita "Fogo! Arthur Brown, em pessoa!" (clique para saber o motivo). Zappa pede para as ladies and gentlemen saírem calmamente e em ordem. Todos estavam calmos. "É surpreendente como pessoas que falam só francês podem te entender bem quando é uma questão de vida ou morte", disse Zappa sobre o caso em sua biografia.
Um dos funcionários de Zappa pegou uma caixa de equipamento e quebrou uma janela grande para ajudar a escoar o pessoal. A banda escapou por um túnel subterrâneo, por trás do palco, que acabava em uma garagem. "Não havia pânico, exceto por algumas janelas quebradas e alguns guris presos no porão, felizmente resgatados por Claude", lembra Roger Glover, baixista do Deep Purple. Claude Nobs, que até hoje organiza o Festival de Jazz de Montreaux, era na época o administrador do cassino.
A coisa estava tão calma, no começo, que Glover até se deu ao luxo de aproveitar que não tinha ninguém por lá para verificar os sintetizadores, a novidade usada pelo Zappa --US$ 48 mil perdidos no fogo. Mas logo... "Dentro de minutos, o lugar estava um inferno, e eu não uso essa palavra em vão", afirma o baixista. As chamas alcançaram quase cem metros de altura, segundo a revista Circus. Pela manhã, o prédio não existia mais. Segundo Zappa, o prédio valia US$ 13 milhões. Todos os valores são da época; lembrem-se de que teve muita inflação aí no meio (até em dólar).

A fumaça foi vista no céu, sobre as águas do lago Genebra, por um bom tempo. "Estávamos sentados num bar-restaurante a um quarto de milha do Cassino, e ele estava em chamas. O vento descia as montanhas e levava a fumaça para cima do lago, e a fumaça parecia uma cortina sobre o lago", lembra Gillan. A visão era exatamente aquela que está no começo desta nota.
Destruído o lugar em que eles gravariam o disco que ficou conhecido como Machine Head, eles tentaram vários lugares para gravar até que encontraram um hotel abandonado e frio.
Um dia, o baixista Roger Glover acordou de manhã e disse algo como "sonhei com as palavras 'Smoke on the Water' (fumaça sobre a água)". Gillan teria respondido: "parece uma música sobre drogas; não vamos usar". Um quarto de século depois, Glover brincou: "Já que éramos uma banda devotamente de bêbados, deixamos de lado". Mas no final acabou passando. Foi a última letra a ser escrita, e nem foi pensada para ser o destaque. "Decidimos escrever sobre nossa experiência ao fazer o disco, e justificamos o título pensando na cortina de fumaça sobre o lago no dia em que o cassino foi destruído. Cada linha da letra é verdadeira", diz Glover.
A música que conta a história do cassino queimado virou o maior sucesso do Deep Purple, por acaso. Só em 1973 é que eles foram perceber o sucesso e tentar ganhar em cima, lançando um compacto tendo de um lado a versão de estúdio e do outro a versão ao vivo gravada no Japão em 1972. "Só sei que desde então eu sempre ouvi meus pensamentos aleatórios", escreveu Glover em 1996.
E quer saber duas dessas maluquices e coincidências da história do rock? Uma semana depois, Zappa quebrou a perna depois de levar um soco de um fã e cair. Gillan soube disso quando estava gravando "Smoke on the Water", e tanto na versão remixada dos 25 anos quanto no ao vivo que eles fizeram na BBC em 1972, Gillan grita "Break a leg, Frank!" perto do final da música. A segunda: foi exatamente num 4 de dezembro, 22 anos depois, que Frank Zappa morreu, de câncer na próstata.

O disco Machine Head foi relançado há alguns anos, em versão remasterizada e dupla (a segunda tem as mesmas músicas mas com algumas diferenças nos solos). Smoke on the Water é tocada em todos os shows do Deep Purple desde 1972, e conheço alguns malucos mais malucos que eu que têm mais de 30 versões da música. Eu tenho só 19, contando covers.
Sou super fã do Zappa e realmente nunca vi esse fato tão bem relatado.
ResponderExcluirUm abraço!
Juliana M.