sábado, 30 de março de 2002

Jon e Don juntos - em 1985

Não, os dois ainda não dividiram as teclas no palco do Deep Purple, embora isso possa acabar acontecendo nos shows britânicos em setembro.

A parceria aconteceu em 1985, num show de Eddie Hardin, e está no CD "Wind in the Willows", que acaba de ser lançado pela Purple Records.

A gravadora também deve lançar, em junho, um CD duplo do Episode Six, a banda de onde vieram Ian Gillan e Roger Glover. O título, "Cornflakes and Crazyfoam", se refere ao que chovia no palco no final dos shows e eles atiravam no público. Sim, muito trash, mas o som é sensacional para quem gosta de rock inglês dos anos 60.

São CINQÜENTA FAIXAS, das quais 40 nunca tinham vindo a público antes. Entre elas estão faixas obscuras de estúdio, singles não-lançados, apresentações no rádio, shows e ensaios. Vão desde o começo da banda, em 1964 (ainda sem Gillan) até o finalzinho, em 1969 --consta que Gillan e Glover fizeram um de seus últimos shows no E6 na noite do dia em que gravaram "Hallellujah", seu teste no Deep Purple.

segunda-feira, 25 de março de 2002

Elemental, meu caro Glover

Conhecem essa raridade aqui do lado?

Como percebem, é um trabalho solo do Roger Glover. O CD foi lançado em 1993, coletando dois discos solo do baixista do Deep Purple: "Elements" (1978) e "The Mask" (1984). Só saiu lá fora, está fora de catálogo e eu consegui comprar em uma loja de raridades aqui em Porto Alegre, onde eu comprava meus vinis há dez anos. Tinham que ver a festa que o cara fez quando me reconheceu.

Musicalmente, o CD é um colosso, especialmente na parte de Elements. The Mask é legal, mas é mais pop. Tem uma musiquinha que acho que ou foi hit de FM em 1984 ou esteve em filme de sessão da tarde e tela quente do final dos anos 80 (a faixa-título, de letra quase genivalacerdesca e refrão pegajoso: "Take it off/Take off the mask...").

The Mask virou uma sombra. Logo depois de seu lançamento o Deep Purple voltou, lançando Perfect Strangers...

Apesar de ser um ótimo produtor, Glover nunca teve nem sucesso relativo na carreira solo (como o que o Gillan teve). O que me faz perguntar: será que o Lord vai obter sucesso em sua promissora carreira de compositor clássico moderno? Talento ele tem.

Mais dados sobre o CD no The Highway Star.

sexta-feira, 22 de março de 2002

Marcada a despedida oficial

Os shows do Deep Purple no Reino Unido, em setembro, serão a despedida oficial do Jon Lord. Ele já não toca nos próximos shows, porque está gravando projetos solo e as viagens não deixariam tempo para que ele gravasse.

A melhor notícia de todas para os fãs do Purple é que ele se ofereceu para contribuir com o próximo disco da banda, que será gravado em agosto. Que tal um Deep Purple com dois tecladistas?

Simon Robinson, o homem por trás da Deep Purple Associated Society e um dos maiores especialistas em Deep Purple no mundo inteiro (manja mais até que eu!), colocou no ar uma nota explicando por que motivo só o site deles publicou as idas e vindas dos indícios da aposentadoria do Lord:

"O motivo foi dar aos fãs como eu e você a chance de ver uma ou duas apresentações extras, sabendo que seriam as últimas de Jon Lord. Pode-se entender que, como o Deep Purple quer continuar, fazer muito alarde em cima disso poderia ter um impacto negativo, daí abordarmos o assunto em um tom mais baixo."

terça-feira, 19 de março de 2002

We all came out to moscow

Sábado ocorreu o primeiro show do Deep Purple com a nova formação, que tem o tecladista Don Airey. Ele já fez shows com a banda, mas apenas substituindo temporariamente Jon Lord.

Quando Gillan foi cantar Child in Time em São Petersburgo, antiga Leningrado, apresentou a música da seguinte forma: "Esta foi escrita especialmente para vocês".

Sweet child in time
You'll see the line
The line that's drawn between
The good and the bad
See the blind man
Shooting at the world
Bullets flying
Taking toll
If you've been bad
Airey I bet you have (hehehehehehehe)
And you've not been hit
By flying lead
You'd better close your eyes
Bow your head
And wait for the ricochet

segunda-feira, 18 de março de 2002

Editorial do The Highway Star

O Rasmus Heide colocou um editorial no The Highway Star sobre a saída do Jon Lord. Leiam.

domingo, 17 de março de 2002

Confirmada a aposentadoria

CONFIRMADA A APOSENTADORIA

Mestre Lord se aposentou mesmo do Deep Purple. Abaixo, a primeira foto da nova formação da banda, com Don Airey (D) nos teclados.

O bigode deve ser homenagem ao Tomato.

quinta-feira, 14 de março de 2002

Here be friends, here be heroes



Mestre Jon Lord, fundador do Deep Purple e conhecido como TOMATO (The Old Man At The Organ), pode estar se aposentando. Ele fez 60 anos no ano passado. Os rumores estão cada dia mais fortes. O Deep Purple deve lançar um disco este ano. Deverá ser o terceiro da formação atual. Ele participou da primeira parte da turnê britânica, mas deve ser substituído a partir da Rússia por Don Airey. Ninguém sabe dizer se o tecladista de sólida formação clássica que esteve em todas as formações do Deep Purple vai se aposentar de vez agora, sem dizer nem um tchau, ou se ele vai participar ainda da gravação do disco do Purple. O vocalista Ian Gillan foi evasivo quando recebeu uma pergunta sobre isso em seu website. Ele reafirmou a importância de Lord para o grupo mas disse que, mesmo sem ele, o Deep Purple continuaria --nada de "sim" ou "não".

Em agosto do ano passado, Lord pediu licença do grupo por um tempo para fazer uma cirurgia no joelho. Ele foi substituído durante 23 shows por Don Airey, um bom tecladista que fez parte do Rainbow (de Ritchie Blackmore, ex-guitarrista do Purple). Lord também parou de responder e-mails de fãs --só eu mandei três nos últimos meses, e anteriormente ele sempre respondia-- e de participar dos fóruns de discussão sobre o grupo. Mandei mais um email para ele, só para testar.

Jon Lord, para mim, pode ser considerado um gênio da música. E não é por ser fã, não. Seu Concerto para Grupo e Orquestra, que ele começou a compor quando tinha a minha idade e apresentou aos 27 anos, é uma obra-prima. Foi apresentado no mês passado na Austrália, pela primeira vez sem o mestre. É o primeiro passo para que ele se torne um compositor à altura de Beethoven ou Mozart. Quem regeu o concerto foi Paul Mann, da Sinfônica de Londres. Ainda este mês, deve ser lançado o CD duplo com o set completo do Concerto.

Sim, o Concerto é uma obra-prima, mal-falado até hoje por quem não ouviu e não sabe o que está perdendo. Foi o primeiro dos dois trabalhos de banda/orquestra que Lord criou. O segundo foi Gemini Suite, dois anos depois. É bom também. Para vocês terem uma idéia, o Concerto foi uma das inspirações de Paul Mann, o maestro que conduziu a versão recuperada da partitura, para ser maestro. Mann conta que ele era criança e brincava de maestro na frente do espelho quando ouvia o Concerto (seu tio era um dos caras da administração do Purple, o lendário Colin Hart).

Voltando à formação atual do Purple: a banda está no sétimo ano de uma de suas melhores fases. Não há atritos entre seus membros como os que ocorriam durante a gestão de Ritchie Blackmore (também fundador do grupo) na guitarra. Eles fizeram a volta ao mundo várias vezes desde 1995, passando três vezes pelo Brasil, mas gravaram apenas dois discos de estúdio. Ambos muito bons, superiores a toda a produção dos anos 80 e começo dos anos 90. A atual gestão também viu o restauramento da partitura do Concerto para Grupo e Orquestra, reinaugurada no Royal Albert Hall no trigésimo aniversário da primeira apresentação.

Se o Lord realmente se aposentar, vou ficar muito chateado. Não só porque gosto muito de seu trabalho e tenho todos seus discos, mas porque perdi, por be$teira, o último show que ele fez no Brasil, em setembro de 2000, em São Paulo. O ingresso mais barato que achei para a noite em que poderia ir (nas outras eu estava trabalhando) custava R$ 110. Já estava chateado porque era a única turnê na minha vida em que eles tocariam o Concerto --isso cansa os músicos, e eles não pretendem repetir a dose. Posso acabar tendo motivos para ficar ainda mais chateado. Aliás, já estou.

Airey vai substituir o Lord

Jon Lord prepara sua aposentadoria, cada dia mais.

Don Airey, ex-tecladista do Rainbow e que cobriu as férias do bom e velho TOMATO, vai voltar a substituí-lo a partir da turnê russa, daqui a alguns dias. Já foi tirada uma foto promocional da nova banda.

Sim, é Deep Purple Mark 8. E eu ainda não voltei a ver Jon Lord.

Corto os pulsos?

segunda-feira, 11 de março de 2002

O homem de preto

Ritchie Blackmore, o homem mal-humorado e vestido de preto que fundou o Deep Purple e hoje toca música medieval com sua banda Blackmore's Night, vai começar uma turnê pela Europa no dia de seu aniversário (14 de abril). Serão duas noites na Rússia, uma na Finlândia, três na Suécia, uma na Alemanha, uma na Polônia, uma na Holanda e uma na Bélgica.

quarta-feira, 6 de março de 2002

Habeas datas

Argh, péssimo trocadilho.

Mas os shows que ficaram faltando na turnê do Deep Purple pela Inglaterra devem ocorrer em setembro. As datas, direto da Deep Purple Appreciation Society, estão abaixo. Entre 17 e 25 de março, eles vão estar tocando na Rússia. We all came out to Moscow...

Sep 07 Hammersmith Apollo - London, England (unconfirmed)
Sep 08 Barbican Centre (new show) - York, England
Sep 09 St.George's Hall - Bradford, England
Sep 11 City Hall - Newcastle, England
Sep 12 Clyde Auditorium - Glasgow, Scotland
Sep 14 NEC - Birmingham, England
Sep 15 Guildhall (new show) - Portsmouth, England
Sep 17 Plymouth Pavilions - Plymouth, England
Sep 18 Colston Hall - Bristol, England
Sep 19 Regent - Ipswich, England

Antes que eu me esqueça

A Purple Records, selo de propriedade da Deep Purple Appreciation Society, está lançando em breve uma nova edição do disco "Before I Forget" (1982), de Jon Lord. Foi trocada a capa (a nova é a do elefante, sem foto de fundo) e o encarte agora é um livreto de 12 páginas. Em breve, será possível comprá-lo no site da Purple Records.

Em 1982, quando Lord gravou esse disco, o Deep Purple havia acabado já há seis anos. Para sobreviver, o glorioso tecladista tocava teclado no Whitesnake.

segunda-feira, 4 de março de 2002

A turnê do Joe Lynn Turner

O ano é 1991. O dia: 23 de agosto. O lugar: centro de Porto Alegre, na frente do hotel Plaza São Rafael.

À noite, haveria show do Deep Purple no Gigantinho. Era uma formação muito fraca: apesar de ter quatro membros da formação clássica (Blackmore, Lord, Paice e Glover), o vocalista era o Joe Lynn Turner. Na Bizz do mês seguinte, o André Forastieri teve um raro lapso de genialidade e definiu: "Turner, coitado, tem menos voz que a Xuxa". E era a primeira vez em que o Purple vinha ao Brasil. O Gillan já havia vindo em 1990 e voltou em 1992 (em outro show memorável da minha carreira de roqueiro, quando o Araújo Vianna ainda não era coberto); mas o Purple só esteve aqui com uma formação decente a partir de 1997 (10 de março de 1997, no Opinião; grande show). Mas eu estou comentando sobre a fase negra do Purple.

Eu tinha 14 anos na época. Estava no primeiro ano do segundo grau. Na frente do Plaza, encontrei uma turma de outros fãs do Deep Purple (sim, eles existem) --incluindo o Fábio, que morava perto da escola em que eu estudava e apresentou um especial sobre o Purple na rádio Ipanema meses depois, e o Marcelo Gross, de Canoas, que por acaso era amigo de uma amiga minha (a Vanderlise, que está se formando em História na Ufrgs) e outro dia vi que era baterista em uma banda.

Fomos todos para a frente do Gigantinho ainda à tarde, para ouvir a passagem do som. Eu e o Gross começamos a subir um nas costas do outro para espiar pelas janelas, e lá estava o Blackmore jogando futebol com uns caras da equipe enquanto os técnicos montavam o palco. O resto da turma exibia seus discos recém-autografados. Cheguei a ver, na frente do Plaza, um carro com o Lord e o Paice. Cheguei ao requinte de conseguir um pôster da turnê, que era pendurado nas farmácias Panvel (que vendiam os ingressos).

Não pude ir ao show por motivos adolescentes e financeiros: a entrada custava seis mil cruzeiros. Até meados do ano passado eu conseguia calcular exatamente quanto isso valia comparando com o preço do gibi. Mas comparando com a passagem do ônibus (na época era Cr$ 100 e hoje é R$ 1,10), o preço hoje seria equivalente a R$ 66. Provavelmente seria arredondado para R$ 65. Caro demais para um guri que apenas fazia bicos eventuais. E minha mãe não deixou que eu ficasse lá do lado de fora por muito mais tempo (liguei para casa para avisar, era um bom menino).

Na época eu nem era muito fã do Purple. Tinha três discos deles, apenas: Stormbringer, que herdei da minha prima, Slaves and Masters, que era o disco da turnê, e Burn, que comprei num balaião do supermercado.

Toda essa contextualização para dizer que ouvi agora há pouco uma gravação daquela turnê em MP3. Provavelmente feita dois dias antes, em São Paulo, ou na pior das hipóteses cinco apresentações depois, em Israel (no último show daquela formação, em 29 de setembro). A música é The Cut Runs Deep, uma das fraquinhas compostas pelo Turner, em que ele engasga em sua própria letra e intercala Hush e Rat Bat Blue.

O cara simplesmente não tem voz. Não levanta o povo. Falha a torto e a direito.

Mas o melhor de tudo é ver, na seção dele no site dos Voices of Classic Rock, como ele descreve o período:

"Para a turnê mundial de Slaves and Masters, em 1991, a banda mudou a lista de músicas mais do que havia mudado nos 20 anos anteriores. Enquanto favoritas dos fãs como 'Smoke on the Water' e 'Highway Star' permaneceram, a banda abriu com 'Burn', que não era tocada desde que David Coverdale saiu do grupo, em 1975 [Nota do Marcelo: o grupo acabou em 75, voltou só em 1984, com o Gillan --que não canta nada do Coverdale; então, foram só sete anos sem que a bruxa mandasse queimar tudo]. Com a versatilidade vocal de Joe [NM: sim; vai do silêncio aos tons médios, passando pelos tons roucos e uns gritinhos histéricos] e sua habilidade de improvisar [NM: algo como chamar o público para repetir "Say hey, ay, ay, yeah! Oh, oh, oh, oh! Yeah yeah yeah! Oh oh oh! Hey! Oh! Hey! Oh! Hey hey! Oh oh!"], a banda sentiu-se confiante o suficiente para ampliar o repertório e tocar 'Hush' [NM: que eles tocam desde 1968] ou mesmo explodir em covers que vão de 'Whiter Shade of Pale', de Procol Harrum [NM: uma baladinha xumbrega e melosa, que não tem nada a ver com Deep Purple], a 'Hey Joe', do Jimi Hendrix [NM: que também estava no primeiro disco do Purple, então a única inovação foi a baladinha]."

Em outro trecho memorável de seu release autobiográfico, ele afirma que, quando se preparavam para gravar o disco seguinte (que viria a ser "The Battle Rages On"), "o resto dos membros do Purple decidiu que uma mudança na banda era necessária devido à pressão da gravadora e à política interna da banda. Eles decidiram recontratar Ian Gillan..." Em bom português: "fui chutado".

Acho que, se eu tivesse ido àquele show, nunca teria virado fã. E não teria cometido, há alguns meses, os granicídios que cometi com os CDs importados, remasterizados e o diabo a quatro. Quem define esse sentimento muito bem é Doug MacBeath, em seu especial sobre a turnê de 1991 no site do Purple --aquele foi o primeiro show dos velhos a que ele assistiu: "Depois do show, entrei no Bar dos Estudantes, e um amigo comentou que eu parecia ter levado um chute nas bolas, dado pelo meu melhor amigo..."

Frase do dia

"Paul, você deve ser um pusta gênio para manter setenta músicos no tempo certo com um pauzinho. Eu não consigo fazer esses quatro putos entrarem no ritmo com meus dois!"

IAN PAICE, baterista do Deep Purple, em conversa com o maestro Paul Mann durante a turnê do Concerto para Grupo e Orquestra, em 2000

Utilidade pública

Alguém aí com conexões suecas poderia tentar descobrir onde estão as fitas com outtakes do disco Burn, do Deep Purple? Há alguns anos, Glenn Hughes, baixista e vocalista do Purple na época, as teria entregue a um jornalista sueco, que as repassou a outro sueco. (Dizem as más línguas que Hughes as trocou por drogas.)

Sem essas fitas, não sai a edição remasterizada de Burn, a próxima da série Purple Remasters. Sem ela, não saem as seguintes.

O interessante de tudo é que quem tem guardou tão bem que nem no mercado negro de piratarias do Purple essas músicas circulam.

Hughes-Turner Project

Os ex-Deep Purple Glenn Hughes e Joe Lynn Turner, essas tias aí do lado, lançaram juntos um disco. O nome: "Hughes Turner Project". Nada de covers do Deep Purple: só faixas inéditas. Cada um canta uma e o resto eles dividem. Já está no site MelodicRock.com um clipezinho em MP3 da primeira faixa, "Devil's Road". Ao que tudo indica, eles aprenderam no Deep Purple como se faz rock do bom. Aparentemente, as letras não são a melosice do Turner, nem o Hughes tenta aparecer mais que o camarada ególatra. A verificar: para Glenn, este é um "disco definitivamente Classic Rock". Pelo menos vai ser interessante. Hughes é um bom músico, sabe o que faz no palco (fora dele, são outros quinhentos).

Os dois e outros dinossauros que o rock esqueceu estão no projeto Voices of Classic Rock, que andou tocando em São Paulo este ano. A propaganda do show, ao que consta, era suficientemente ambígua para dar a entender que haveria um show do Deep Purple, Black Sabbath, Free e outros (sendo que do Purple só estavam Hughes e Turner, dois ex de fases complicadas; do Sabbath, só o Hughes).

Se alguém tiver dados sobre a propaganda do show, que deve ter ocorrido lá por novembro (de preferência o que saiu em jornais), favor mandar para mim. Estou em contato com um pessoal muito interessado nisso.

Clássicos Purpendicular 4: Smoke on the Water

Baixei no Audiogalaxy e acabei de ouvir um pedaço da história do rock. Um pedaço da história do jazz. Um pedaço da história de Montreaux. É uma gravação pirata do mais famoso fim de show do Frank Zappa.

Bom, boa parte da turma aqui deve conhecer a música "Smoke on the water", do Deep Purple. Alguns dentro dessa boa parte devem saber que, além do "duh, duh, duh" do riff clássico, a música conta uma história real. Poucos, pouquíssimos, conhecem os detalhes da história - que nunca, até hoje, tinha sido escrita com tantos detalhes como esta que vocês estão lendo.

Em 4 de dezembro de 1971, o Deep Purple havia chegado a Montreaux com um caminhão de equipamentos dos Rolling Stones, para compor e gravar um disco de estúdio em condições de disco ao vivo. Eles usariam o palco do cassino local, depois de um show do Frank Zappa.

Frank Zappa, uma das figuras mais malucas da história do rock'n'roll, estava fazendo um show por lá com sua banda (os Mothers of Invention), e depois da apresentação o lugar seria todo do Deep Purple. O lugar estava cheio de gente. Zappa calculava algo entre 2500 e 3000 guris --"bem acima da capacidade do lugar". E tinha mais gente querendo entrar.

Mas só que o palco começou a pegar fogo antes do final da apresentação. Pelas memórias de Ian Gillan, "foi soberbo: um cara apareceu com um lança-chamas e atirou no teto". Há quem duvide dessa versão: como é que iam deixar alguém entrar com um lança-chamas? O próprio Roger Glover, que estava lá, admite que ninguém viu quem ou como foi. Mas tudo bem.

A energia do lugar é cortada. O pessoal começa a gritar "fogo, fogo!". Alguém da banda do Zappa (não ele) grita "Fogo! Arthur Brown, em pessoa!" (clique para saber o motivo). Zappa pede para as ladies and gentlemen saírem calmamente e em ordem. Todos estavam calmos. "É surpreendente como pessoas que falam só francês podem te entender bem quando é uma questão de vida ou morte", disse Zappa sobre o caso em sua biografia.

Um dos funcionários de Zappa pegou uma caixa de equipamento e quebrou uma janela grande para ajudar a escoar o pessoal. A banda escapou por um túnel subterrâneo, por trás do palco, que acabava em uma garagem. "Não havia pânico, exceto por algumas janelas quebradas e alguns guris presos no porão, felizmente resgatados por Claude", lembra Roger Glover, baixista do Deep Purple. Claude Nobs, que até hoje organiza o Festival de Jazz de Montreaux, era na época o administrador do cassino.

A coisa estava tão calma, no começo, que Glover até se deu ao luxo de aproveitar que não tinha ninguém por lá para verificar os sintetizadores, a novidade usada pelo Zappa --US$ 48 mil perdidos no fogo. Mas logo... "Dentro de minutos, o lugar estava um inferno, e eu não uso essa palavra em vão", afirma o baixista. As chamas alcançaram quase cem metros de altura, segundo a revista Circus. Pela manhã, o prédio não existia mais. Segundo Zappa, o prédio valia US$ 13 milhões. Todos os valores são da época; lembrem-se de que teve muita inflação aí no meio (até em dólar).



A fumaça foi vista no céu, sobre as águas do lago Genebra, por um bom tempo. "Estávamos sentados num bar-restaurante a um quarto de milha do Cassino, e ele estava em chamas. O vento descia as montanhas e levava a fumaça para cima do lago, e a fumaça parecia uma cortina sobre o lago", lembra Gillan. A visão era exatamente aquela que está no começo desta nota.

Destruído o lugar em que eles gravariam o disco que ficou conhecido como Machine Head, eles tentaram vários lugares para gravar até que encontraram um hotel abandonado e frio.

Um dia, o baixista Roger Glover acordou de manhã e disse algo como "sonhei com as palavras 'Smoke on the Water' (fumaça sobre a água)". Gillan teria respondido: "parece uma música sobre drogas; não vamos usar". Um quarto de século depois, Glover brincou: "Já que éramos uma banda devotamente de bêbados, deixamos de lado". Mas no final acabou passando. Foi a última letra a ser escrita, e nem foi pensada para ser o destaque. "Decidimos escrever sobre nossa experiência ao fazer o disco, e justificamos o título pensando na cortina de fumaça sobre o lago no dia em que o cassino foi destruído. Cada linha da letra é verdadeira", diz Glover.

A música que conta a história do cassino queimado virou o maior sucesso do Deep Purple, por acaso. Só em 1973 é que eles foram perceber o sucesso e tentar ganhar em cima, lançando um compacto tendo de um lado a versão de estúdio e do outro a versão ao vivo gravada no Japão em 1972. "Só sei que desde então eu sempre ouvi meus pensamentos aleatórios", escreveu Glover em 1996.

E quer saber duas dessas maluquices e coincidências da história do rock? Uma semana depois, Zappa quebrou a perna depois de levar um soco de um fã e cair. Gillan soube disso quando estava gravando "Smoke on the Water", e tanto na versão remixada dos 25 anos quanto no ao vivo que eles fizeram na BBC em 1972, Gillan grita "Break a leg, Frank!" perto do final da música. A segunda: foi exatamente num 4 de dezembro, 22 anos depois, que Frank Zappa morreu, de câncer na próstata.

Utilidade pública: no Audiogalaxy, a faixa que tem TODO o final do show do Zappa, com fogo e tudo, está com o nome "frank zappa - Wino Man, Sharleena, Cruisin For Burgers, King Kong, FIRE! and the crowd evacuates (Live Montreaux)". Para saber mais sobre a influência de Zappa fora do rock, clique aqui. Também achei um site com análises das letras dele.

O disco Machine Head foi relançado há alguns anos, em versão remasterizada e dupla (a segunda tem as mesmas músicas mas com algumas diferenças nos solos). Smoke on the Water é tocada em todos os shows do Deep Purple desde 1972, e conheço alguns malucos mais malucos que eu que têm mais de 30 versões da música. Eu tenho só 19, contando covers.

sábado, 2 de março de 2002

Fala, Steve!

O cavaquinhista de plantão lá no Purple relata em seu site o que andou ocorrendo com a banda. Na expertíssima tradução de Yours Truly:

Eu não devia estar neste vôo. Mas aqui estou eu, vendo o Oceano Atlântico lá embaixo de novo. Desta vez, estou indo para casa. Nossa turnê pelo Reino Unido, que teve lotação esgotada na maioria dos shows, foi colocada de molho devido a problemas de saúde. Começou com a garganta arranhando, febre, calafrios, congestão no meu caso. Como eu não preciso cantar, isso não atrapalhou os shows. Todos menos Ian Paice ficaram doentes com o que quer que estivesse ocorrendo por lá, e todos continuaram tocando. Ian Gillan também, até que ele ficou completamente rouco e não conseguia mais cantar. Então, com só mais oito shows para fazer, vamos ter que esperar e ver quando as turnês vão ocorrer. [Nota do Purpendicular: elas já foram remarcadas. Se te interessa, vai ao The Highway Star.] Estou indo para casa, entretanto, enquanto esperamos.

Esta turnê tem sido realmente boa para todo mundo na banda, já que todos os outros quatro são britânicos de nascença. Eles gostaram de rever sua terra natal e de visitar todas as cidades onde eles costumavam tocar. Então, ninguém fica contente de cancelar um show, nunca, mas principalmente esses. Bem, considerando tudo, a turnê foi incrível em termos de presença e apoio dos fãs. Mas ela foi complicada, sempre com alguém na banda não se sentindo muito bem quase toda noite. E a equipe de apoio também não estava brincando com aquele vírus.

A banda que abriu os shows, The Planets, foi muito bem recebida em todo lugar. Eles são caras e gatas de boa aparência, que são músicos bem-treinados e tocam um mix de material que parece clássico, rock e pop. Com cello, oboé, trompa inglesa, flauta, violão clássico, guitarra elétrica e guitarra flamenca, violino, teclado e bateria, eles tinham muitas texturas interessantes para trabalhar. Eles são todos educados e profissionais, e nunca se atrasaram para o show, evitando estressar nossa equipe. E a audiência, como eu disse, curtiu muito a abordagem diferente que eles têm.

O povo britânico, se você nunca visitou o lugar, é realmente diferente se você vem como americano. Eles são muito polidos e bem falantes em quase todas as conversas que vocês terão. Eles são muito audaciosos e aguentam um monte antes de ficarem putos. Mas eles valorizam um senso de fair play, e foram bastante compreensivos sobre o cancelamento, acho. Outras impressões que os americanos podem ter ao chegar lá, especialmente em Londres, é que seu dinheiro não vai te levar nem perto de onde leva nos States. Mas, em geral, em qualquer loja em que você entre, vai ser bem atendido e eles vão gastar um pouco mais de tempo respondendo suas questões. Na verdade, muitos ingleses voam para Nova York para fazer compras, e voltam tendo economizado, bruto, até a passagem.

Uma das piadas que ouvi muito por aqui é que a Grã-Bretanha e os EUA são duas nações divididas por uma língua em comum... significando que eles acham que a gente fala um pouco diferente. Mas não tão diferente; graças à comunicação global, nossos sotaques americanos não são mais tão difíceis para eles entenderem. Gastar algumas semanas dirigindo nesta grande ilha realmente mostra quantas coisas adotamos deles. Você vai adorar ver os velhos castelos, as paredes de pedra e as amuradas no meio do pasto, e estruturas bem-feitas em todo lugar, também. Choveu bastante durante nossa viagem, mas o sol deve aparecer mais cedo ou mais tarde...

Bem, logo vou para a Rússia ou de volta ao Reino Unido, então esta é uma rápida atualização por enquanto.