O site oficial do Glenn Hughes postou e depois tirou do ar um preview de várias páginas da autobiografia do baixista e segunda voz do Deep Purple entre 1973 e 1976. A edição de luxo do livro custa 500 libras, mas é um troço vistoso pra caramba. Tem fotos raríssimas, incluindo uma do Roger Glover dando um pedala no Coverdale.
Enquanto ela esteve no ar, havia vários trechos interessantes disponíveis. Eles tratam de sexo, drogas e rock'n'roll - a tríade de excessos que acabou com o Deep Purple em 76, como o próprio Hughes admitiu a este blog numa entrevista há algum tempo.
SEXO
Hughes fala do seu namoro com Vicky, gêmea da mulher do Ian Paice e há 35 anos patroa do Jon Lord. O preview não entra no trecho sertanejo da história. Mas tem uma foto das gêmeas na época em que derretiam corações. Sinceramente? Pode ser que eu conheça mais mulheres bonitas do que a média (duvido), mas achei bem normaizinhas.
As aventuras de Hughes na chifrolândia continuam quando ele menciona ter casado posteriormente com a namorada do Tommy Bolin. Não fica claro se é a mesma moça exuberante que vestia quase nada quando o guitarrista chegou pra fazer teste no Purple.
DROGAS
A autobiografia do Hughes é um livro altamente sincero. Hughes não tem motivo pra esconder o que fez ou deixou de fazer. Pelo contrário: ele faz questão de contar, até pra mostrar do que se livrou. E não tem pudor de apontar o dedo pra quem fazia junto.
Segundo ele, até ele e Coverdale entrarem, o Deep Purple não era uma banda chegada a drogas. O negócio da banda era cachaça mesmo. "Remy Martin [o conhaque] era a droga favorita dele [Lord]". Talvez experiências, mas nada de hábito - e certamente não vício.
A coisa começou a mudar lá por 1974, com mais grana e mais viagens pros EUA. Segundo Hughes, seu primeiro acesso fácil à cocaína foi ao lado do Paice e das respectivas namoradas. Também diz que costumava "dar um teco" com Lord e Coverdale, embora os dois não tenham se viciado.
Hughes admite que foi perdendo o limite com a química gradualmente, até que sentia não ter ninguém no Purple que acompanhasse seu pique pra cair na farra. Aí entrou o Tommy Bolin, que tinha menos limite ainda - e a partir deste ponto os trechos se tornam mais espaçados.
ROCK'N'ROLL
Esta parte é a minha favorita. Os trechos pulam muito, então não dá pra ler o Hughes contar como ele e o Coverdale pesaram forte a mão na direção musical do grupo.
Mas é divertido saber finalmente qual foi a música que Coverdale gravou bêbado na fita que mandou pro teste do Deep Purple: "You've Lost That Lovin' Feeling". O teste do Coverdale foi no Scorpio Sound Studios, na Marylebone Road.
Hughes queria ser o principal cantor do Deep Purple ("esta é a verdade, e eu tô cagando se parecer arrogante: eu nasci pra estar no palco com uma banda como essa"). E descreve assim o papel que, segundo ele, Blackmore tinha em mente:
"Ritchie achava que o meu papel seria o de ser a cola entre os membros da banda, unindo as harmonias. Ele me via como um instrumentista-cantor tipo Paul McCartney, trabalhando ao lado de outro cara (...) que seria mais tipo Paul Rodgers, com aquela voz de blues."
Aqui tem o primeiro de dois exageros, ouso dizer. Pode ser que o papel buscado para Hughes fosse esse mesmo. Mas, possivelmente por imaturidade, um tanto também por conta da química, Hughes não conseguiu cumprir bem esse papel.
Isso fica bastante claro quando a gente ouve a Mk3 tocar "Space Truckin" ao vivo. Na Mk2, Glover fica de canto segurando a linha de baixo enquanto seus colegas piram. Um ano depois, na Mk3, Hughes quer mostrar seu talento tanto quanto os outros. Natural, em se tratando de uma banda cheia de gênios. Mas com isso ele perde o pulso no baixo, e como a música se estende os solos degringolam. Pena, mas acaba não sendo a cola.
O segundo exagero é que Hughes força um pouco a barra ao classificar como sempre muito amigável a relação entre ele e Coverdale no palco. Faz sentido se for olhar pelo ponto de vista de hoje, quando são dois tiozinhos sessentões que praticamente "serviram juntos" quando moleques. Coverdale hoje é o ex-membro que mais tem contato com ele. Hughes sempre se refere a ele como "meu irmão".
Eu acho muito legal que eles se dêem bem hoje - e eu adoraria que mais deles se dessem bem entre si. Mas qualquer um que ouça os registros ao vivo de 1974 a 1976 percebe que havia uma clara competição entre os dois - provocada especialmente por Hughes, que às vezes invadia o espaço da voz do Coverdale. Infelizmente, foi o que aconteceu. No estúdio, era perfeito. Ao vivo, a coisa mudava de figura.
Enfim: o livro parece bem interessante, mas vou esperar sair o paperback em outubro para comprar. A edição de luxo custa 500 libras!