O Arthur Dapieve, do No Mínimo, escreveu uma resenha de dois dos últimos DVDs do Purple, Machine Head Live 1972 (com o Blackmore, em Copenhagen, que acaba de sair numa revista de DVDs) e o Perihelion (com Steve Morse). Alguns trechos:
"Um tom é vivo, o outro é desbotado. Quase trinta anos os separam. Nesse período, entre 1972 e 2001, o grupo inglês de hard rock Deep Purple, um dos formatadores do heavy metal, junto com seus conterrâneos Led Zeppelin e Black Sabbath, atingiu o ápice de sua carreira, fragmentou-se, acabou, reagrupou-se, hesitou, aprendeu a suportar-se, como num casamento esticado por conveniência. Dois DVDs recentemente lançados no Brasil dão conta dessa história que, a rigor, é também a de toda banda de rock oprimida pelo seu passado grandioso. Ou seja: uma lasca da história do próprio rock como gênero 'jovem'."
"O show de 1972 dá de mil no de 2001. Ali, naquele momento, Gillan, Blackmore, Glover, Lord e Paice estavam a ponto de se tornar uma das melhores bandas de rock do mundo – muitos diriam, com boa dose de razão, A melhor banda de rock do mundo – por um ano ou um pouco mais. E, melhor ainda, não estavam bem conscientes disso."
"No palco de Copenhague, o quinteto parece estar ainda descobrindo toda a sua potencialidade. Estão todos desavergonhadamente jovens, tocando para uma audiência desavergonhadamente jovem, o que inclui um número surpreendente de crianças. A garganta de Gillan está no ponto, alternando graves, agudos e agudíssimos sem esforço. Blackmore demonstra a personalidade que, exacerbada, iria crescer tanto que não caberia mais no Deep Purple (por causa dela, Gillan e Glover logo pediriam as contas, sendo substituídos por David Coverdale e Glenn Hughes; o próprio Blackmore sairia em seguida para fundar o Rainbow). Glover dá liga à energia gerada pelos outros, com firmeza e senso melódico. Lord puxa o som para o rock progressivo, com seu órgão Hammond citando Bach na sempre bela “Child in time”. Paice faz de “The mule” uma peça solo para bateria interessante, o que não é pouco para um solo de bateria, ainda mais num kit tão singelo, que faria Mike Portnoy, do Dream Theater, ter fa-ni-qui-tos."
"O clima morno [de Perihelion] – em que pesem as declarações entusiasmadas dos fãs após o concerto (afinal, eles são fãs, certo?) – do resultado final não é culpa apenas dos membros da banda. As platéias roqueiras dos anos 2000 já não têm o engajamento das dos anos 70. Se acaso Steve Morse resolvesse emular em “Perihelion” a entrega de Ritchie Blackmore na “Space truckin’” de “Machine head live – 1972”, por exemplo, raspando a guitarra no traseiro ou atirando-a em cima dos amplificadores, acredito piamente que a platéia da Flórida fosse vaiar. O público hoje não está interessado em ouvir, num show, nada diferente do que ouviu antes no disco, tintim por tintim. É muito mais conservador – paradoxo: porque quer rever o que era transgressor trinta anos atrás tal e qual. Como os músicos precisam sobreviver, acabam tornando-se também, com honrosas exceções, conservadores."
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