quarta-feira, 15 de janeiro de 2003

Direto do distante ano de 1991

Em 1991, o ano em que eu comecei a curtir o Deep Purple, a banda foi um dos grandes assuntos da imprensa musical brasileira. Gillan estava demitido havia pouco tempo, e eles haviam contratado um novo vocalista - Jue Lynn Turner, que participara com Blackmore e Glover do Rainbow. Eles lançavam um disco novo, o "Slaves & Masters". Gillan também arriscava lançando seu disco solo, "Naked Thunder". Tenho tudo documentado.

A crítica da Bizz sobre os discos:

Se os velhos fãs já ficaram céticos com a volta do Purple em 84, imaginem como estão agora com o grupo tendo como vocalista Joe Lynn Turner (ex-Rainbow e banda de Yingwie Malmsteen), nunca muito bem-visto pelas hordas metálicas. Dizer que este é um LP interessante é muita bondade. Na verdade, só 'King of Dreams' aparece um pouco, graças ao órgão de Jon Lord. Uma desonra ao nome do Deep Purple, que, assim como o desrespeitado Black Sabbath, devia ser melhor preservado. Por sua vez, o ex-vocalista do grupo, Ian Gillan, retoma sua carreira solo com um belo disco, pautado em suas origens musicais (vide o arranjo para o tema tradicional 'No More Cane on the Brazos') e em levadas purpleanas ('Nothing to Lose', 'Gut Reaction' e 'No Good Luck'). L.R."

Será que esse LR é o Lúcio Ribeiro? Não lembro mais. Faz séculos que eu retalhei essas Bizz. Essa aí eu acho que é de janeiro ou fevereiro de 1991. Na edição de março, uma entrevista de duas páginas com Joe Lynn Turner. O melhor trecho:

"Bizz - Falando a respeito do disco novo, Roger Glover disse que houve uma mudança dramática de direção.
JLT - Não concordo, a não ser que isso queira dizer que o Purple tenha voltado ao lugar de onde veio. Essa foi a mudança de direção. E há também um som dos anos 90 que foi por insistência minha. [NM: Ah, bão, isso explica tudo...] Mas acho que as raízes hard rock e r'n'b continuam as mesmas. Faixas como 'Fire in the Basement' soam como 'Lazy', só que modernizadas, com uma atitude mais irônica."

Do alto dos meus 14 anos, eu até achava o disco bonzinho. Relevem, era guri novo.

Em agosto de 1991, os véios vieram ao Brasil. No Fundilho D'Askhalsa, tenho o pôster da turnê. Pois é. Lembro das árduas madrugadas de chuva em que eu ficava arrancando pôsteres na rua! *risos* Era um barato. Tenho aqui o do show do Ian Gillan, em 9 de maio de 1992.

Mas aí os véios vieram a Porto Alegre. O equipamento de som ficou trancado na alfândega, então eles mexeram em todo o calendário. Eles passaram primeiro pelo Olympia, em São Paulo (12 e 13), Ginásio do Ibirapuera (16 e 17), Curitiba (18) e tinham marcado o show de Porto Alegre para o dia 20. Só que, com o problema na aparelhagem de som, eles remarcaram o show para o dia 23. Nos dias anteriores, eles circulavam por Porto Alegre, especialmente pelo centro. Blackmore chegou depois. Diz que o Blackmore ficou apaixonado pelo Gruta Azul. Vi Jon Lord e Roger Glover na loja de instrumentos na frente do hotel Plaza São Rafael (onde, no ano seguinte, acabei bancando o intérprete do Roxette).

Eu fui pra frente do Gigantinho, junto com uma galera. Subindo nas costas de outro Marcelo (que subiu nas minhas), consegui ver o Ritchie Blackmore jogando bola com alguém no Gigantinho vazio. No dia 24, sai a resenha do show na Zero Hora:

"Por mais experiente e competente que seja, o Deep Purple, carismático, cheio de hits cravados na memória da maioria das oito (ou por aí) mil pessoas que estiveram no gigantinho, ontem, sofreu da falta de um som apropriado para o local. O Gigantinho, é bom dizer, não oferece essas condições para ninguém. Mas engenheiros de som mais antenados sabem contorná-lo. Não aconteceu isso com a equipe do Deep Purple. O quinteto inglês tocou todas as músicas que se poderiam esperar, com um punch próximo, mas nem tanto, do passado. Os efeitos do canhão de raio laser são interessantes, mas longe de substituir a verdadeira garra da velha banda. O vocalista sofre das maiores restrições. Coitado, não teve a ajuda nem da equipe técnica. O som foi sofrível. Tire-se esses pontos desfavoráveis, o show do Deep Purple foi intenso. Não poderia ser de outra forma. Quem tenha vivido um pouco dos anos 70 sabe do que se fala. O show teve seus problemas. Mas quem ousaria, destes que sempre enxergaram a banda como uma espécie de paradigma, dizer algo contrário?"

Mas quem deu a real foi o lendário André Forastieri, na Bizz:

"Os bundões bem-pensantes que fiquem com REM e Lenny Kravitz. Deep Purple é para quem tem culhão, sacou? Música de macho, meu - apesar de o novo vocalista, Joe Lynn Turner, ter menos voz que a Xuxa. Pô, qualquer show que começa com 'Burn', acaba com 'Smoke on the Water' e tem no meio 'Perfect Strangers' é maravilhoso. Em que outro show um cara da minha idade pode tocar guitarra no ar sem vergonha de estar sendo ridículo? Ritchie, Ian, Jon, Roger - está tudo perdoado, inclusive os dois últimos discos e a infame e injustificada demissão do Ian Gillan. Long live rock'n'roll."

Depois de Porto Alegre, eles tocaram no Maracanãzinho. O Blackmore já andava de ovos virados e aprontava aquelas birrinhas dele no meio do show. Três shows depois, eles mandaram o Turner embora, em Tel Aviv (Israel).

Nenhum comentário:

Postar um comentário